Jornal Il colono com as assinaturas de Nosadini
Os
jornais antigos de Caxias foram recolhidos por João Spadari Adami e entregues à
Júlio João Eberle , que foi o seu mecenas, e que os conservou em seu acervo
particular. Foi graças à J.J. Eberle que
os antigos jornais foram preservados e que hoje podem ser consultados ,mo
Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. J.S. Adami,durante algum tempo cuidou do arquivo da Prefeitura de
Caxias , e mais tarde, tornou-se
barbeiro.Ele vivia de seu trabalho
, sem o auxilio financeiro de Eberle não poderia ter viajado ( deixando seu
trabalho) aos arquivos do Porto Alegre e do Rio de Janeiro onde ‘recolheu”
muitos documentos que hoje estão preservados no Arquivo que leva seu nome.
O
primeiro Jornal de Caxias foi O Caxiense,fundado
em 15 de outrubro de 1897que se apresentava como defensor das colônias e órgão do Partido
Republicano, gerenciado por Julio Campos e cujo
fundador e redator era o Dr. Augusto Diana
Terra, que exercia a advocacia na cidade. Como maioria dos brasileiros que se
destacaram na colônia Caxias,não tinha
nascido aqui. Terra era de Jaguarão ,nascido em 1867 e falecido em
Canoas em 1925.De Júlio Campos não se tem maiores informações. O Caxiense também afirma ser jornal de
Santa Teresa de Caxias.
O
jornal Il colono Italiano fundado pelo
Padre Pietro Nosadini, foi o segundo a circular
em 1898, em Caxias.Dele restam apenas
quatro números no arquivo Histórico JS de Caxias do Sul,é possível que existam outros,perdidos em
bibliotecas particulares. Mas de certo são apenas os quatro números os que
sobraram do primeiro jornal do município.
O
padre Pedro Nosadini nasceu em Bassano (Itália ) em 1862 e assumiu a Paróquia
de Santa Teresa em 1896,tendo fundado vários Comitês católicos em Santo Santo
Antônio , da VII Légua .Nossa Senhora das Neves IX Légua,Circulo de São
Tarcísio, em São Marcos da Linha Feijó,e
o Circulo São Luiz Gonzaga na Sede Santa Teresa.Voltado pra a Itália em
1899,onde falecendo.
O
jornal apresenta varias surpresas ao leitor atento. No primeiro número datado
de 1º de janeiro de 1898 há a primeira surpresa. O nome da cidade aparece como Santa Teresa di Caxias, nome da paróquia
que Nosadini ampliou para toda a cidade. Na correspondência dos imigrantes (numerosa
que se encontra no Museu de Belluno ) o nome Santa Teresa não apareceu nenhuma
vez. As cartas enviadas de Caxias para a Itália, em geral, trazem como lugar de
origem Campi dei Bulgheri di Casias.(após 1884). Algumas vezes a sede
ou núcleo colonial era chamado de sede Dante, inclusive pelos diretores da
colônia Caxias.
Outro
dado surpreendente é o relativo à fundação dos Comitês Católicos. Nosadini
obedecia as ordens de Roma e não do clero brasileiro, foi de lá que partiu a
ordem de organizar os Comitatos com o
objetivo de controlar a política na antiga colônia Caxias .A inferência da
Igreja não foi bem aceita pelos maçons locais , que viam nos vínculos com Roma
uma quebra da soberania nacional brasileira. Os conflitos entre católicos e
maçons já foram tratados em outras matérias publicadas nesse blog e na minha
tese de doutorado O fascismo no Rio Grande do Sul(Parlenda, 1994A Surpresa é ainda maior, o jornal traz o nome
do padre fundador Nozadini escrito em
tinta azul de duas formas diferentes : Padre Pietro Nosadini e Padre Pedro
Nozadini .É possível imaginar o momento em que recebeu o primeiro número do
Jornal por ele idealizado no qual assinou seu nome na forma italiana e na forma
portuguesa.
O
que importa é verificar a retórica dos jornais.O Caxiense tinha uma retórica
nacionalista e conservadora ,defendendo o governo de Júlio de Castilhos e
seu poder centralizado. Nosadini tinha um discurso de clara defesa ao
Papa, então prisioneiro do Vaticano ,defendendo os direitos papais sobre os
territórios pontifícios que haviam sido incorporados ao Reino da Itália em 1871.Seu discurso é duplamente
subversivo que a um tempo ataca o Reino da Itália( do qual é súdito) e como estrangeiro se manifesta politicamente
, o que era proibido .
No
primeiro número de O Caxiense a maior
surpresa.Encartado nele como se fosse uma sua parte,se encontra a carta de
despedida do Padre Nosadini.O folheto de duas páginas é documento inédito .Adami que recolheu o
material disponível de e sobre Nosadini
não parece ter encontrado sua carta de
despedida. O documento que foi reprografado está em péssimo estado de conservação,faltando
alguns trechos.A carta detalha o final
do período de Nosadini na região.O discurso da carta de despedida cheio de agradecimentos
remetendo pelo estilo a outros de seus
textos .
Nosadini agradece os fiéis de Nova Pádua,Alfredo Chaves e Caxias .Aforma que perdoa seus inimigos e que eles ( os maçons) foram vitoriosos ,mas o tempo dirá quem estava certo. Diz ele
:
Uma palavra para o meus
adversários. Vós triunfastes , porque quando menos esperáveis ganhastes ue eu também quero dirigir uma saudação a vós. Eu parto , mas eu não guardo rancor de ninguém, apenas
meu coração sangra ao pensar que andais por
um caminho falso e vós italianos, que
abandonastes as práticas
religiosas ,que de fato virastes as costas a sua religião, eu lhe digo:
Pela memória de vossa mãe que em vós incutiu as santas máximas da religião andastes um passo para trás,voltai um passo a frente como anos atrás.
Lembrai-se daquele dia solene, quando pela primeira vez
comestes do Pão, lembre-se seu propósito
naquele dia e, em seguida, jogar-se nos braços do
Crucifixo, pois não há verdadeira felicidade longe dele
Eu não creio de vos
haver ofendido ,mas se o fiz foi contra
minha vontade e vos peço perdão .Cuidadoso se não o faço direta e abertamente ,repetirei ao menos no vosso coração que não desejava outra coisa que
a prosperidade e o progresso de Caxias.
Portanto adeus, meus
queridos amigos,desapontados em vossas
justas esperanças! Obrigado e agradeço de coração o carinho que sempre me
demonstrastes e que eu nunca vou esquecer. Perdoai-me se eu não
correspondi de todo sua expectativa, se
eu fiz pouco por vós e acredite, isso não dependeu de má vontade,
mas da minha decepção .
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