quarta-feira, 27 de março de 2013


PATRÕES E  OPERÁRIOS 1903-1984


            A organização dos sindicatos patronais e operários em Caxias do Sul guarda entre eles  uma semelhança estrutural. Surgem ambos  da união  da classe empresarial e da operária na defesa de seus interesse classistas.
            A união dos empresários se por meio da Associação Comercial que vai servir de mediadora entre a organização e os problemas comunitários, políticos e patronais. A partir da Revolução de 30 começa um  envolvimento efetivo com a classe operária.
Os problemas eram resolvidos através do apoio da política municipal , com a qual a os patrões   se envolveram diretamente  desde a formação da Associação Comercial. A organização dos sindicatos patronais se deu tardiamente, sua organização não  esvaziou o caráter de mediação  que a Associação Comercial e depois do  Centro de Indústria Fabril  teve. A Assessoria Jurídica partiu sempre da organização maior e os sindicatos patronais limitaram-se a uma posição dependente em relação à organização maior  a que se vinculavam ,ou seja a Associação e o Centro.
            O serviço assistencial dado pela CIC, e antes dela pela Associação Comercial e pela CIF, aos empresários se vincula aos interesses econômicos do grupo, sendo que se resume a uma orientação geral para a ação do empresáriado em relação a política econômica nacional. A Assistência Jurídica é dada tanto aos sindicatos patronais quanto para as empresas associadas a CIC. Não há uma assistência específica para as relações  entre patrões operários
            Os organismos de união patronal, antes da organização sindical, possibilitaram uma ação livre à autônoma dos empresários, sem os freios que caracterizam a legislação sindical. O atraso, em relação à legislação com que foram organizados os sindicatos demonstra esta liberdade de ação que os empresários usufruíram mesmo durante o Estado Novo.
            Os contatos com as autoridades constituídas sempre foram realizados por meio  dos sindicatos patronais. Estes contatos tiveram objetivos de conseguir melhores condições para as empresas, tanto em relação a empréstimos com em relação a isenções ficais. Os contratos para prevenção de situações futuras, não constituem a tônica da ação da organização patronal, ou seja, de uma forma geral são imediatistas.
            Não se observa entre os sindicatos patronais a severa hierarquia que ocorre entre os sindicatos operários. Sua localização espacial dentro da sede da CIC  não revela a posição mais expressiva,pois,  ocupam o mesmo espaço, não havendo espaços maiores ou menores de acordo com o número maior ou menor de associados. Para atender aos sindicatos patronais havia apenas três funcionários excluída assistência jurídica que é comum aos outros departamentos da CIC.
            Os sindicatos operários foram organizados antes da da criação da União Operária. A União ainda assim foi a matriz geradora dos sindicatos dos trabalhadores nas indústrias. Com o advento das medidas repressoras do Estado Novo, a União foi dissolvida de direito. Mas permaneceu de fato, visto que a administração geral da sede e  das Caixas de Pecúlio estavam ainda ligadas a “extinta” entidade. A organização dos sindicatos operários não acabaram com a União, que aparece com outras denominações,  permanecendo  como ponto de ligação entre os vários  sindicatos. A força que a União sindical propiciou aos operários, dada a ligação direta entre seus líderes, nunca foi utilizada devidamente. Os operários parecem desconhecer o  que representa sua união real, já que legalmente estes laços são apenas assistências e administrativos.
            Patrões e operários possuíram ao longo do tempo  organizações especulares, a Comunidade Assistencial e a Câmara de Industria e Comércio tiveram idênticas finalidades assistências  em setores diversos, a primeira oferece assistência médica, odontologia e jurídica e segunda apresenta uma assistência jurídica e fiscal.
            A organização dos patrões, sob o ponto de vista sindical, foi instituída quando a força da união dos operários passou a se fazer sentir diretamente no período da redemocratização. Os sindicatos patronais foram criados em reação a organização dos operários, não antes, pois a Associação e a CIF os representavam de forma conveniente.
            Os sindicatos operários tem apresentado uma relação com o poder bastante semelhante ao dos sindicatos patronais. A atitude de  subserviência e bajulação para os órgãos importantes para o setor constituem um ponto comum entre a organização patronal e operária. A imprevidência na tomada de medidas preventivas para a melhoria das associações da classe é outro ponto comum entre as duas organizações.




quinta-feira, 21 de março de 2013


O MOVIMENTO SINDICAL APÓS 1964



            Após a Revolução de 1964 a atuação dos sindicatos atingiu o mesmo nível do período anterior a 1945. Neste período aconteceu uma acomodação geral do movimento sindical. A acomodação ocorreu tanto nas bases como nas lideranças.
            As bases deixaram de participar das Assembleias Gerais dos sindicatos. Não houve renovação de lideranças, nem possibilidade de formação de mais de uma chapa para concorrer às eleições sindicais. Com exceção do sindicato dos metalúrgicos, onde sempre houve  mais de uma chapa, os demais tiveram dificuldade em formar uma única chapa completa.O  esvaziamento do movimento sindical de base  foi conseguido pelas medidas repressoras,entre elas   a intervenção federal nos Sindicatos Reunidos tomadas pela ditadura .
            Muitas das  lideranças sindicais que participavam das diretorias por ocasião da Revolução de 1964, foram  presas como o caso dos metalúrgicos ,deixando assim de haver  uma atuação efetiva na luta dos trabalhadores.
            As diretorias, que assumiram após o movimento de março, preocuparam-se em manter boas relações como poder. Essas relações  se manifestaram através de brindes, contatos telefônicos e bons ofícios. Os sindicatos associaram-se ao poder.
            Outra espécie de acomodação ocorre – bem  mais antiga - em relação aos líderes dos sindicatos patronais.Foram estabelecidas relações recíprocas de boa-vontade, realizaram-se reuniões entre os representantes dos patrões e dos operários. Os líderes sindicais faziam questão de demonstrar a integração existente entre eles e os representantes patronais.
            É possível afirmar que os sindicatos tornaram-se de fato, o que eram de direito - organizações assistências burocráticas. Nelas  os vínculos existentes com o Ministério do Trabalho passaram a ser  consideradas como fato normal e até desejável.
            O tipo de atuação adotada pelos sindicatos pode ser resumida no assistencialismo - é possível detectar dois grandes grupos entre os líderes sindicais de Caxias do Sul. Esta divisão torna-se possível não pelo tipo de ação diferente, mas pela forma como pensam e encaram o movimento sindical. A divisão é mais ideológica do  prática.Os dois grandes grupos dos sindicatos dos operários na indústria de Caxias do Sul - sob o ponto de vista das ideias - são: os dos assistencialistas e o dos reivindicatórios.
O grupo dos assistencialistas era composto pelos líderes dos sindicatos dos metalúrgicos, da construção e mobiliário, do vestuário, vidros e cristais. Esse grupo acreditava  que a organização sindical devia funcionar da forma como fora  constituída. Sua ação consistia  em realizar a mediação entre operários e patrões, entre operários e entidades assistências.O  grupo acreditava que a greve deveria ser a última arma a ser utilizada pelo trabalhador. As greves só deveriam ser realizadas em última instância e com garantia de vitória. Só a greve vitoriosa era valida. O motivo do fracasso das greves é atribuída à infiltração “comunista” que passaram a ser considerados pelo grupo como elementos altamente perniciosos. Deve-se salientar que eram considerados “comunistas” tanto sacerdotes das comunidades eclesiais de base - como os sindicalistas mais atuantes em termos de reivindicações.
            O sindicato passou a ser considerado uma empresa, e, como tal deveria racionalizar as despesas. A citação dos benefícios concedidos passou a ser  considerada como um favor concedido e não como um direito que os trabalhadores possuíam.
            A política salarial governamental e  a de auxílio aos trabalhadores era  bem aceita. A lei que determinou o desconto previdenciário  ao aposentado para a Previdência foi considerada  justa, visto que o aposentado recebia tantos benefícios que deveria dar contrapartida ao Ministério . O Fundo de Garantia por tempo de serviço é considerado como uma das maiores conquistas dos trabalhadores. A única inconveniência que o Fundo na opinião das lideranças deve-se ao fato que os trabalhadores deveriam  deixar de trabalhar para recebê-los .Não percebiam que a nova política havia retirados velhos direitos e que   seria  causa da alta rotatividade da mão de obra.
            A longa permanência no poder das diretorias dos sindicatos sempre foi  atribuída ao trabalho realizado por elas.Assim a manutenção de um mesmo grupo no poder sindical seria o  reconhecimento de seu trabalho,sendo garantido pelo  voto da maioria das suas bases.
            O grupo reivindicatório poderia ser subdividido em dois  subgrupos:o do polo combativo e o dos ideologicamente posicionados pró-trabalhadores. Desse grupo fazem parte os sindicatos dos oficiais gráficos, da alimentação, da fiação e tecelagem, da joalheria e pedras preciosas. Segundo os líderes desses sindicatos o sindicato assistencialista estaria  de acordo com os interesses do poder. Julgavam ainda que se os sindicatos fossem realmente bons os governos não teriam permitido sua manutenção. O grupo tinha consciência de classe e percebia  as contradições do sistema. Sabiam que na disputa entre patrões e operários os primeiros sempre levavam vantagem.Acreditavam que a não participação dos operários nas Assembleias seria  devida a ausência de consciência de classe. Um dos líderes deste grupo que não atua junto à Comunidade, pois permanecia trabalhando na empresa, julgava  que esta permanência permite um maior contato com as bases,portanto,  realizando um trabalho melhor. Uma posição geral  do grupo  era que os sindicatos deveriam ser livres, desatrelados do Ministério, deveria ser abandonado o assistencialismo e assumido o papel de órgão classista e reivindicatório.Julgavam que os operários não tomavam atitudes mais positivas quanto aos movimentos grevistas por medo de represálias tanto por parte das autoridade, como por parte dos patrões. Porém, a  ação desse grupo não correspondia aos pontos de vista por eles expressos. Havia  assim uma longa distância entre a teoria e a prática sindicais.
            Além desta divisão ideológica  e interna, existia outra de caráter econômico. A divisão econômica  hierarquizada os sindicatos, segundo a qual o sindicato mais forte é o mais rico. O sindicato “mais rico”, na época, não o mais forte - pois a expressão utilizada essa- era dos metalúrgicos. Seus líderes consideravam que mantinham  a Comunidade Sindical. Os Sindicatos da Alimentação e da Construção e do Mobiliário eram  também considerados ricos – porém menos que o dos metalúrgicos. A seguir vinham os sindicatos “médios”  como  o da Fiação e Tecelagem e do Vestuário. Pobres eram considerados  os demais sindicatos.
            A divisão espacial do prédio da Comunidade Sindical foi realizada de acordo com essa hierarquia. O Sindicato dos Metalúrgicos construiu - para seu uso exclusivo um prédio de três pavimentos. Já o Sindicato da Construção e do Mobiliário ocupava metade de um pavimento do , o mesmo ocorrendo com o da Alimentação e o do Vestuário. O Sindicato da Tecelagem ocupava três salas, o dos Vidros e dos oficiais Gráficos duas salas, e os demais possuiam apenas uma sala para cada um.Foca claro que o sistema capitalista era então a bese da divisão espacial dos sindicatos no prédio de propriedade comum.Segundo um dos líderes sindicais o “ sindicato é como uma sociedade e apresenta os mesmos contrastes e posições”. A divisão espacial a partir da hierarquia econômica vem demonstrar a validade da afirmação.
            As diferenças ideológicas e as diferenças econômicas distanciaram os líderes das duas facções. As opiniões de uns sobre os outros revelavam  a falta de  uma união do grupo.
            Os componentes do grupo assistencialista julgava que os dos grupos reivindicatório não eram  tão combativos” pois estavam  distantes das bases e nunca realizavam greves. Já os componentes do grupo reivindicatório julgava que os assistencialistas eram  “ alienados, distantes das bases e não representam os interesses da categoria”. Julgavam ainda que eram  favoráveis ao poder constituído e completamente integrados ao sistema ditatorial
            Apesar da diferença de opiniões diferentes , reinava entre os sindicatos  uma certa harmonia. Nas atas dos Sindicatos Reunidos e da Comunidade Assistencial não havia vozes discordantes quando eram  propostos brindes para as autoridades ou jantares com elas ou ainda, na recepção do conhecido líder Ari Campista para fazer discurso em comemoração do dia 1º de maio.Apesar das diferenças ideológicas dos líderes sindicais não houve qualquer recusa em participar das viagens promovidas pelos sindicatos norte-americanos. A única diferença foi que alguns perceberam o sentido e os objetivos das viagens e outros não.
            As bases de acordo segundo levantamento realizado as bases não estavam satisfeitas com o trabalho realizado pelas lideranças sindicais. Julgavam que os sindicatos não tinham força de pressão e que o trabalho realizado pelas diretorias seria  apenas regular. Apenas a categoria dos metalúrgicos julga que o seu sindicato tem sido forte e atuante.
            Ao que tudo indica havia  poucas relações entre os líderes e suas categorias. Os problemas da categoria não eram acompanhados de forma direta pelos líderes. A falta de contato das lideranças com as bases permitia que essas fossem  envolvidas por outro tipo de influência mais dinâmica e direta, como a da Igreja e da União das  Associações  de Bairros.
            Entre os entrevistados das bases sindicais observou-se que apenas 30% estavam associados aos respectivos sindicatos, enquanto 70% não estavam. O baixo número de sindicalizados dentro das várias categorias não preocupava  as lideranças,pois julgavam que este fato se devia a alta rotatividade dq mão de obra, o que não possibilitava a permanência de operários na mesma categoria pelo prazo exigido em lei.
            O levantamento realizado nas bases não conferou com os dados apresentados pelas diretorias dos sindicatos, os dados fornecidos por esses  revelava  que o número de sindicalizados é de 44% no total das categorias pesquisadas.
            A explicação para o fenômeno dado pelas lideranças parece demasiado simplista, as causas da não associação aos sindicatos deveriam ser procuradas na ação desenvolvida pelos respectivos sindicatos e não somente os problemas atuais e atípicos das bases,que dependiam da ação governamental.






domingo, 10 de março de 2013



MOVIMENTO OPERÁRIO DURANTE O PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇÃO (1946-1964)



            O período da chamada redemocratização, compreendido entre 1946 e 1964, não vai modificar as condições de atrelamento dos sindicatos à estrutura do poder. Mesmo assim, a constituição de 1946 vai permitir uma maior liberdade de expressão e de organização de toda população. Esta abertura política vai permitir a expansão dos sindicatos operários.
            O sindicalismo nesse período vai ganhar novas dimensões. A ampliação da ação sindical deve-se a abertura política garantida pela nova Carta Constitucional, bem como a tomada do poder, nos sindicatos de elementos ideologicamente preparados para levar a frente a luta sindical.
            O grupo que assumiu o poder - no Sindicato da Alimentação e dos Metalúrgicos – estava vinculado à ação do Partido Comunista. Esta organização formou líderes e de suas fileiras nasceu uma nova concepção sindicalista.
            Os Sindicatos Reunidos ganham novo impulso. Reuniões se realizam diariamente entre os líderes de todos os sindicatos que compunham a organização.
            As assembleias gerais reuniam  milhares de associados, em geral , realizavam-se no cinema Apolo visto que o auditório dos sindicatos reunidos tornou-se pequeno para abrigar tão número de associados.
            Para fazer frente ao movimento sindical mobiliza-se a Igreja. A criação do Círculo Operário Caxiense, ocorrida em 1934, que  tinha como objetivo  suprir os trabalhadores de assistência médica, dentária e mesmo judiciária, ao mesmo tempo que concorreria com os sindicatos. Segundo alguns líderes que conviveram com a instituição - que perdura até hoje - esta desejava se apropriar dos sindicatos, colocando  a frente de  suas  diretorias líderes cristãos.Os sace4rdotes que dirigiam a organização eram agressivos com as lideranças sindicais comunistas.  Não foi apenas esta a ação da Igreja.
            Durante o período em que o movimento sindical ganhou maiores proporções, lideres sindical eram atacados por púlpitos das igrejas, sendo acusados de agentes de Moscou.
            Os sindicatos - especialmente o dos Metalúrgicos - deixaram os gabinetes burocráticos e foram às vilas populares. Ouviam   as reivindicações da população, levando as ao executivo e ao legislativo municipais.
            Passeatas seguiam-se aos comícios, que eram  encerradas na frente da Estátua da Liberdade, no lado norte da Praça central de Caxias (  então chamada de Rui Barbosa) logradouro público principal da cidade.
            Muros amanheciam pintados, as reivindicações que não eram atendidas ofereciam nas aos olhos da população. Aos poucos, as resoluções das Assembleias Gerais passaram a ser atendidas pelos patrões. O tempo de obedecer, de reivindicar e  de retroceder,parecia definitivamente morto.
            Líderes sindicais participavam de Congressos Nacionais e Internacionais. A sua participação não era  passiva, agiam  e se congregavam com grupos de outras regiões brasileiras. Derrubaram também líderes sindicais que dominavam a confederação dos Metalúrgicos. Foram  convidados pelo governo da União Soviética e da Alemanha Oriental a visitar aqueles  países.
            A participação no movimento sindical não se restringia só a “negrada”, (1)como a burguesia caracterizava  a liderança sindical,os de origem italiana começaram a participar das diretorias ,o que garantia  novo status a elas ,entre eles Bruno Segalla no Sindicato dos metalúrgicos e Ernesto Bernardi no da Alimentação.
            Apesar disso o movimento não parece ter conseguido modificar as bases, foram necessários dez anos de lutas para que ocorresse a primeira greve geral da categoria dos metalúrgicos. A realização desta greve constitui o máximo resultado da ação sindical operária no período da redemocratização, sendo a última ação antes da revolução de 1964.
            Líderes foram forjados no movimento sindical, sua palavra torna-se decisiva para a categoria que representavam. Formara-se uma verdadeira elite sindical com transito livre junto às autoridades constituintes. As bases, porém, não foram preparadas para agir por suas próprias forças. Quando a Revolução de 64 realizou a intervenção nos Sindicatos Reunidos, foram poupados os líderes mais cordatos com o sistema, os outros mais atuantes foram destituídos de seus cargos.
            As bases abandonadas não conseguiram refazer seu próprio caminho. A ação sindical do período não plantava frutos, apenas ensinava a colhê-los. A ação de sua  liderança formada durante a democratização revelou-se demasiado personalista e, ao que tudo leva a crer, centralizadora. De qualquer forma possibilitaram ao movimento sindical local  que se sobrepunha ação  assistencialista. Os sindicatos ocuparam por quase duas décadas o espaço que lhe cabia junto aos operários locais.
            Alguns de seus líderes começaram a ser eleitos para cargos políticos. Bruno Segalla foi eleito vereador por duas legislaturas, e o mesmo ocorreu com Ernesto Bernardi. O primeiro inclusive foi eleito primeiro suplente de Deputado Estadual pelo PSP
            Após a Revolução de 1964 ficou demonstrada a fragilidade da estrutura sindical que havia sido montada. A ação sindical limitou-se a se fazer presente quando as condições políticas assim o permitiram.

Referências Bibliográficas


1.  Para utilizar a expressão empregada por Segalla ao se referia aos operários sindicalizados, tal como eram considerados na cidade, em depoimento às autoras.
2.  Testemunhas citaram m inclusive o nome dos sacerdotes, (omitidos no texto) eram eles Orestes Valetta,  Ângelo Tronca e Ernesto Brandalise.


quinta-feira, 7 de março de 2013



AÇÃO DOS SINDICATOS NA ERA DE VARGAS (1930-1945)  




            Em 1925 o número de empresas industriais era inferior a 300 no município. A maior parte era constituída por artesãos, possuidores de pequenas oficinas. O número de operários era reduzido, não sendo superior a 500.
           
Quadro nº.1


Evolução da População e empresas comerciais e industriais de Caxias do Sul 1980-1925
Indicador/Ano
1890
1910
1925
Número de indústrias
120
200
280
Número de casas comerciais
25
98
235
População
10.000
18.000
32.000
                                Fontes: Recenseamento - Arquivo do Museu Municipal de Caxias do Sul

            Não há dados sobre o número de operários, mas o estudo realizado nas empresas revela que as mesmas eram  pouco mais do que oficinas artesanais, , possuindo poucos operários, em geral formados pelo  artesão e seus familiares. As empresas maiores não possuíam mais do que cem operários, e, estas não ultrapassavam o número de três.
            Outro dado importante é que se localizavam distantes umas das outras. Em cada distrito havia uma ou outra empresa. O pequeno número de operários e a dispersão de empresas unido ao fato característico da região de serem os operários filhos de produtores (donos da terra e do  trabalho) impediu a formação de uma consciência de classe, considerada como poder de organização.
            Os tanoeiros que haviam se organizado em sindicato eram estrangeiros em sua maioria, não possuindo nem eles nem suas famílias terras na região. Os habitantes do município que exerciam o trabalho como operários não haviam se dado conta da mudança da situação, já não eram proprietários, mas apenas operários.
            Levantamentos realizados junto aos sindicatos da Tecelagem e da Construção e do Mobiliário demonstra que os associados registrados eram em sua maioria provenientes de outras regiões do estado e do país. Estes elementos parecem decisivos para a organização do movimento após 1930.
            Outro dado interessante é que a maioria dos associados tinha idade entre 29 e 52 anos, eram homens com família constituída, e tinham tido experiências anteriores em outros locais de trabalho, situados em outras regiões.



QUADRO Nº2

PROVENIÊNCIA DOS ASSOCIADOS DOS SINDICATOS DOS TECELÕES - 1942

Proveniência
Número
Percentual
Caxias do Sul
53
36 %
Cidades da região colonial Italiana
22
16%
Região dos Campos de cima da serra
34
24%
Região Colonial Alemã
19
12%
Outras cidades do estado
7
4,5%
Estado de Santa Catarina
5
3%
Estrangeiros:


Italianos
5

Russo
1
4,5%
Polonês
1

Total
147
100%
Fonte: Livro registro dos operários tecelões

            A Sociedade União Operária fundada em 1931 só se tornou possível graças a adesão do grupo de trabalhadores locais ao movimento de união da classe desencadeado pelos tanoeiros.
            A criação da Sociedade reunindo trabalhadores de várias categorias demonstra a fragilidade que estas representavam em termos locais. A manutenção desta união através dos tempos tem demonstrado que tornou os diversos sindicatos possuidores não só de maior número de bens, como também de maior poder de barganha em suas reivindicações.
            A Sociedade União Operária nasceu forte, e a criação dos diversos sindicatos e a morosidade de sua legalização esvaziou o movimento operário caxiense.
            Não foi apenas a organização da sociedade em sindicatos o fator que ocasionou o enfraquecimento gradativo do impulso inicial. Este fator é o surgimento da Legislação Trabalhista da Revolução de 30, mais ter de consolidada na CLT e do Ministério do Trabalho.
            A legislação trabalhista determinou o esvaziamento do sentido reivindicatório do movimento local. Sendo asseguradas as condições mínimas legais para os trabalhadores estes não tiveram a capacidade de ver além do que propunham os legisladores.
            Para líderes sindicais que vivenciaram a adoção desta legislação o período foi considerado como plena garantia das necessidades da classe operária.
            Observa-se que o movimento controlado pelos órgãos públicos, que apoiavam as reivindicações dos operários, garantindo sua submissão ao poder constituído. “Reivindicar dentro do espírito da lei e da ordem” tornou-se a bandeira dos operários locais.
            À medida que cresciam as categorias de operários, pelo aumento natural do número de indústrias ocasionado pelo esforço de guerra, ocorreu uma integração maior com os movimentos nacionais dos trabalhadores.
            A região colonial, em geral e Caxias em particular   tornaram-se forte em relação à economia estadual. Os trabalhadores locais passaram a ser percentualmente importantes no contexto regional, como se pode observar no quadro seguinte:



QUADRO Nº3

PARTICIPAÇÃO DA REGIÃO COLONIAL ITALIANA
NA ECONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL
1942 - 1946


Indicadores
Þ
número de empresas
capital em CR$
nº de operários
anoß
RS
Região
%
RS
Região
%
RS
região
%
1942
16.000
2.341
13,77
1.626.131
172.121
10,58
88.925
8.898
10.000
1944
18.973
2.599
13,69
1.948.514
208.103
10,68
105.476
11.526
10,92
1946
22.235
3.252
14,62
2.520.987
343.678
13.63
106.707
13.126
12,30
Fonte: A Economia Gaúcha e a Regional

            Se o número de empresas e como conseqüência torna a região mais forte, como possibilidade de reivindicação as condições nacionais de atrelamento ao movimento sindical aos organismos estatais, impede qualquer movimento durante o período analisado.
            Os tanoeiros que tiveram haviam tido maior importância na exigência de  melhores condições de trabalho , ao se tornarem  sindicato de classe perderam o impulso reivindicatório inicial. Ao ser o a união dos tanoeiros absorvido pelo   Sindicato da Construção e  do Mobiliário o núcleo  mais atuante  ficou diluído pelo grande grupo de elementos não posicionados ideologicamente.
            Observa-se que todas as diretorias de sindicatos que se organizarem durante o período de Vargas, não aguentam as pressões políticas - dentro da própria empresa da qual são demitidas e do grupo social onde se inserem.
            Ao que tudo indica a pressão do grupo impediu que os líderes sindicais permanecessem á testa do sindicato de classe, tanto ou mais do que o grupo dos patrões. Exemplo característico é o de Adelino Tronca (primeiro presidente da Sociedade União Operária) que permaneceu no cargo de 12 de novembro de 1931 a 17 de julho de 1932. Pertencendo a uma família “tradicional” (entenda-se como de imigrantes italianos) essa lhe forneceu capital para que abrisse sua própria oficina,não sendo exemplo único, a própria leitura da história factual do movimento revela que o abandono de cargos na direção do sindicato tornou-se  fato comum.
            O aumento do número de operários no período da 2º guerra mundial deve-se ao aumento da produção local. As indústrias metalúrgicas locais como Abramo Eberle e Gazola aumentaram sua produção para abastecer o mercado de armas e munições que a Guerra exigia. Com o aumento da produção tornou-se necessário à absorção de maior número de mão de obra. Essa vem de vários locais, especialmente dos Campos de Cima da Serra. O advento da nova mão de obra vai mudar a população antes de origem exclusivamente italiana. Elementos de outras etnias começam a participar dos sindicatos entre os quais negros e mulatos .
            A população passou a se referir aos participantes do movimento sindical como “negrada”,o que  revela uma dupla segregação, por parte da população de origem italiana, a segregação de cor e de origem.Chamados de  “brasileiros”  o termo utilizado para designar os não originários italianos de origem. Para os não sindicalizados os movimentos reivindicatórios eram chamados de “anarquia” .
            A predominância de elementos de outras regiões na condução dos sindicatos e de origem lusa (brasileiros) pode ser explicada em parte pela pressão do grupo local de descendentes de imigrantes e pela segregação a qual os líderes sindicais eram submetidos. Outra explicação possível é a que sendo produtores de origem, não tinham uma ideologia de classe.
            Com o passar do tempo e a fragmentação das propriedades ocorrendo, (por força de heranças e partilhas), a situação  vai modificar. As propriedades concedidas aos colonos eram minifúndios, sendo que o módulo médio era de 25 a 30 hectares. Já na terceira geração as terras não puderam mais ser divididas e os jovens colonos, após o serviço militar, passaram a integrar o exército de reserva de mão de obra urbana.
            Não deve ser esquecido o fato de que o movimento sindical do grupo dos tecelões quando se tornou mais reivindicatório o Lanifício São Pedro no distrito da Galópolis, iniciou um sindicato paralelo, comandado pela empresa, o que contrariava a legislação em vigor.
            Tanto a divisão quanto a aglutinação de vários  sindicatos  em um  só serviu para arrefecer o movimento sindical durante a Era de Vargas.Quando o Governo através do Ministério do Trabalho vai legalizar os sindicatos submetendo-os aos poder constituído.

RELAÇÃO DOS TANOEIROS PORTUGUESES:

  1. Florindo F. da Silva
  2. Manoel G. Monteiro
  3. Domingos G. Rezende
  4. Joaquim Manoel dos Santos
  5. Sebastião F. Fonseca
  6. Antonio L. Soares
  7. Eudeiro de Souza
  8. Manoel Marques
  9. Alfredo dos Santos Neves
  10. Américo P. de Souza
  11. João da Silva
  12. Maneol de Assunção
  13. Domingos da Costa
  14. Manoel R. de Oliveira
  15. Angelo de souza
  16. Antonio Pinto de Sá
  17. Joaquim de Oliveira Granja
  18. Francisco de Sá Ruivo
  19. Adelino D. Mano
  20. Valentim R. P. da Silva
  21. Victorino José Dalmeida
  22. José Ricardo Fernandes da Silva
  23. Manoel da Silva Pinto
  24. Otacílio Alves
  25. Francisco Marques de Oliveira
  26. Manoel da Rocha Moreira
  27. Francisco de Sá Moron
  28. Manoel R. da Costa
  29. Antonio Joaquim dos Reis
  30. Manoe J. M. de Oliveira
  31. Angelo Pinto Reis

32.   Relação dos tanoeiros italianos:

  1. Nicola de Luca
  2. Victor Scalabrin
  3. Girolamo Furlan
  4. Emilio Siminiato
  5. Pedro Felipini
                  FONTES
Livro de Registros dos associados dos operários tecelões 1942
Livro de matriculas dos operários carpinteiros e artes correlativas -1936GIRON L.S. A Economia Gaúcha e a Regional in Enfoque, Bento Gonçalves, ano 4 nr. 19 outubro de 1976 - pagina 8
Depoimento de Agenor da Silva, que participou da fundação da Sociedade.