sexta-feira, 20 de setembro de 2013

IMIGRANTES ITALIANOS E A POLÍTICA



Os imigrantes italianos que povoaram o nordeste do estado do Rio Grande do Sul eram pacíficos, ordeiros, conservadores e pouco politizados, e apenas os moradores dos núcleos urbanos tinham algum envolvimento político, segundo o senso comum Tal visão é errônea e deriva em parte do preconceito que atribui conservadorismo político aos camponeses em geral e aos imigrantes italianos em particular. Os imigrantes trouxeram  sua cultura.
Não se deve esquecer que os imigrantes eram homens do século XIX filhos da recente Revolução Industrial e dos movimentos liberais de 1848, que marcavam a cena política da Itália. Os camponeses europeus nos meses de inverno quando não podiam trabalhar na lavoura procuravam trabalho nas minas, no assentamento das estradas  de ferro e nas nascentes  indústrias da Itália, da Suíça  e dos estados alemães.Além de cosmopolitas eram politizados ,estando  vinculados à organizações políticas e sindicais italianas.Benito Mussolini era de família camponesa e da mesma época que eles.
Tais vínculos encaminham desde os primeiros tempos do povoamento das colônias Caxias, Conde D’ Eu e Dona Isabel para  intensa movimentação política, com os imigrantes  como participantes. Ainda assim, sua  participação na política estadual foi periférica, pois viviam  em regiões distantes dos centros de decisões política, além disso eram muito  controlados pelos governos  das colônias.
Como região politicamente dependente da capital chamada a “colônia italiana” mais sofreu do que promoveu  as reviravoltas políticas que movimentaram o Rio Grande do Sul, na última década do século XIX. As revoltas regionais por sua vez decorreram dtanto das condições provinciais e nacionais. Alguns eventos políticos locais estão relacionados com a situação política  da Itália.,  como  os   ocorridos em 1898..
Deve-se destacar que existem relativamente poucos estudos sobre a política e a imigração italiana. Na época da comemoração do cinqüentenário em 1925, os estudos apresentados no álbum comemorativo referem-se aos italianos em relação as suas obras e realizações. As ações políticas  referem-se à Itália, então no apogeu do nacionalismo fascista, que teimava em considerar os imigrantes “italianos no exterior”.Tal modo de ver os colonos apresentava-os sempre como estrangeiros vivendo no Brasil, portanto infensos ou imunes à política brasileira.
Quando da publicação do álbum de comemoração aniversário de setenta e cinco anos da imigração, em 1950, vivia-se os tempos delicados de pós- guerra. A Segunda Guerra (1939-45) abalara as relações entre a região colonial italiana e o governo nacional , agredida  que foi pela “nacionalização forçada” ocasionada pela posição brasileira ligada  aos  Aliados. Os habitantes das antigas colônias imperiais habitadas por italianos, alemães ou japoneses aparentemente estariam do lado do Eixo. O Brasil tratava-os seus  como estrangeiros.,mesmos endo brasileiros de duas ou três gerações.
No álbum do centenário publicado em 1975, há um artigo de Fay da Fonseca1 que apresenta  os principais vultos  de origem italiana  que atuaram na política gaúcha. Destaca os vultos de Raul Pila, Alberto Pasqualini e Fernando Ferrari como os principais políticos .Citando ainda Ildo Menegheti, Leonel Brizola, Euclides Triches e  Sinval Guazzelli possuidores de sobrenome e origem itálicos  e   que ocuparam o governo gaúcho. Se o texto fosse escrito hoje, seriam citados também  Germano Rigotto e Sergio Zambiasi entre outros.
Dante de Laytano 2em texto elaborado na mesma data, destaca a histórica presença de Américo Vespucci, Garibaldi , Rossetti  e outras figuras italianas que tiveram participação importante na vida nacional. Esses trabalhos abordam ações  individuais  de italianos ou “oriundi”importantes para a história  nacional. Os textos tratam o tema como se os políticos fossem italianos no Brasil, ou que neste caso a etnia fosse fator político, e que e se os políticos por terem   origem italiana fossem alheios à política nacional.
O processo de formação política é mais importante que ações e presenças individuais de italianos no contexto histórico  regional.A questão da imigração constitui parte do processo histórico nacional e não um  ato fundante regional. O Brasil não começou com os imigrantes italianos foram estes que se integraram e com lentidão à política nacional. Recuperar e “incorporar a grande massa dos anônimos, daqueles que não aparecem nominalmente na história” 3 e as instituições que nortearam e norteiam a política regional é o propósito o deste texto.
Os imigrantes e seus filhos adotaram posições políticas diante dos acontecimentos que a pátria adotiva lhes apresentava. Ainda assim, durante muito tempo, possivelmente mais de cinquenta anos, oscilaram entre as posições nacionais do Brasil e as da Itália.
 A maçonaria  e  suas relações iniciais com os párocos católicos e com os imigrantes italianos católicos em sua maioria foi a  questão que apaixonou  e inflamou a região. No imaginário popular o mal passou a ser por ela representado, mais tarde substituído pelo comunismo. Isto aparece inclusive nas obras literárias escritas em dialeto( como em Naneto Pipeta).  A Igreja teve papel decisivo na política  regional.

A NOVA TERRA

Nos primeiros anos da ocupação dos lotes coloniais pelos imigrantes italianos, não se têm noticias de movimentação política. As comissões de terra apresentavam alta rotatividade nos cargos, especialmente  nos  de diretor das colônias. A troca de diretores estava relacionada mais a inconformidade dos funcionários públicos de carreira em permanecerem embrenhados nas matas serranas sujeitos a doenças e a falta de conforto da civilização, do que as dificuldades com os imigrantes. Alguns funcionários por outro lado apreciavam as amenidades do clima e a vida agreste das colônias. Compraram lotes e trouxeram suas famílias e permaneceram na região. Logo após a chegada dos primeiros colonos não há notícias de reações coletivas dos recém-chegados, há  muitas de caráter individual. As reações individuais podem ser acompanhadas através dos requerimentos enviados à Comissão de Terras. São pedidos para a localização de bagagens e de filhas levadas por lusos para o trabalho doméstico e desviadas para outras funções. Há ainda os pedidos dirigidos as autoridades italianas para serem recambiados para ao local de origem Enfim,  problemas comuns de uma região  em vias de  ocupação por estrangeiros .
O primeiro movimento regional que se tem notícia parece ser  o dos carreteiros.Corria o ano de 1883 as colônias enfrentavam problemas com as condições das estradas. Tendo iniciado em 1875 o povoamento, em 1877 foram colhidas safras de trigo, milho, batata e de feijão, entre outras.As primeiras safras foram abundantes, pois as terras virgens ainda eram férteis.O trânsito pela estrada Rio Branco que ligava a colônia Caxias a São Sebastião de Caí era intenso. Por ela passavam carretas levando os produtos colônias para serem vendidos na capital e trazendo produtos industriais da capital para as colônias. Havia ainda o transporte constante de imigrantes com suas bagagens e filhos que da capital demandavam às colônias. As péssimas condições das estradas levam os carreteiros a se revoltar, decidindo interromper o transporte que realizavam. A greve dos carreteiros interrompia o fluxo econômico regional, parando assim a distribuição dos produtos regionais. Dele participaram vários  imigrantes  entre os quais  : Carlos Pisani, Domingos Tronca, Ambrósio e Alexandre Maggi, Paulo e Antônio Rossato4.alguns dos quais comerciantes da região .O governo atende a reivindicação dos  carreteiros,  providenciando   a melhoria da estrada.
O associativismo esteve presente entre os imigrantes, pois da sua união dependia a sua sobrevivência, como na a criação das capelas e nas sociedades de mútuo socorro são exemplos de associação.Houve ainda as cooperativas de produção como a de Galópolis ,entre outras importantes para industrialização regional
As capelas começaram a ser organizadas logo após a ocupação de determinada linha ou travessão,os registros são posteriores desta forma as mais antigas  datam de 1882. Os colonos reúnem e criam uma sociedade para a construção de pequenas igrejas e cemitérios em lotes particulares, que passam a servir de local de culto e de reunião da comunidade. As capelas constituem a forma que encontraram para enterras seus mortos e realizarem seus cultos religiosos. A capela foi  o modo camponês de auxílio recíproco.
Nos núcleos coloniais são criadas as “sociedades operárias” que reuniam os moradores das vilas, que através de cotas asseguravam aos associados, auxílio funeral  em caso de morte ou  pecúlios para as viúvas. Em Bento foi organizada a primeira  a  Sociedade   Rainha Margarida,  em 1883.Mais de cinqüenta sociedades de mútuo  foram organizadas até 1925. Tais organizações mostram o grau politização dos colonos,pois   dentro delas era também traçada  política local.
Outras associações importantes para a política regional foram as lojas maçônicas. Em Caxias em 28 de janeiro de 1886, foi organizada a Loja Maçônica “Força e Fraternidade”, 5 a primeira da região. Anos mais tarde, em 1894, em Bento Gonçalves passou a  funcionar a Loja Concórdia.”Grande número de imigrantes fazia parte desta sociedade; em Caxias havia 103 membros e, em Bento Gonçalves, 69”.3.A criação e a existência de lojas maçônicas nas colônias consideradas redutos exclusivamente católicos, revela que a hegemonia da Igreja tinha contestadores.
Nas lojas maçônicas reuniam-se fazendeiros lusos, funcionários públicos, comerciantes e colonos italianos e alemães. Nelas não havia racismo, alguns de seus membros eram mulatos como o venerável José Cândido de Campos. Em Caxias o número de associados na loja Força e Fraternidade  chegou a 152,  no período  entre 1887 e 1903.6
Com a proclamação da república, em 15 de novembro de 1889, que a política brasileira mudou de forma radical, enquanto os habitantes das vilas coloniais se organizavam em busca de melhores condições de vida.
As lojas tiveram então papel fundamental na vida política das colônias, em momentos de crise como o da passagem do império para a república. Nos seus templos foram definidas as ações e a política regional. As lojas também  atuaram nas emancipações municipais, em 1890, devido a força que tinham seus membros junto ao governo estadual, especialmente os de Caxias  e de Bento Gonçalves.
 O período imperial não fora traumático para as colônias. Com o advento da república evidenciaram-se os problemas sociais e políticos que não haviam sido solucionados pelo império. Já na convocação da Assembleia Constituinte revelam-se os problemas regionais de representação. As mudanças da legislação e do sistema burocrático proporcionaram novos impasses que repercutiram diretamente nos municípios recém emancipadas, cujas leis orgânicas ainda deveriam ser definidas.







ANOS SANGRENTOS


Os primeiros governantes dos novos municípios eram nomeados pelo governo estadual, seguindo a constituição castilhista. Os edis nomeados em sua maioria eram lusos e maçons. A maçonaria desejava a paz e  a Loja Força e Fraternidade:" recomenda prudência e moderação aos seus associados Apesar de seus  esforços as lutas políticas nos novos municípios tornou-se  violenta. Segundo Gardelin  a lutas foram devidas ao “grupo dos ‘carbonários’, foram estes que incendiaram”7  a política regional.
            Os carbonários  não foram  os únicos responsáveis pelas lutas regionais. Figuras importantes da  política municipal   que estiveram a frente das lutas  eram maçons Entre eles,  Felice Laner próspero comerciante era da diretoria da Loja era republicano convicto;  Belisário Batista Soares  rico fazendeiro,  que se tornou comandante dos maragatos e Francisco Salerno  pertenciam à irmandade Força e Fraternidade. Apenas Afonso Amabile e Cesare Porta ao que tudo indica eram carbonários, mas seguindo-os  havia mais de trezentos homens  . A maioria deles eram colonos,católicos e  maragatos.
Na capital do Rio Grande do Sul, após a proclamação da república, ocorreram enfrentamentos entre os republicanos que eram minoritários no estado e o liberais, membros do antigo partido liberal, que organizaram a união federalista. Os primeiros representados por Júlio de Castilhos os segundos pelo General Câmara e seus numerosos seguidores, que logo se rearticulam sob o nome de federalistas.
 A instabilidade política se instalou no Rio Grande, em pouco menos de dois anos o governo do estado mudou de mãos dezenove vezes.8 As lutas entre os republicanos (pica-paus) e os federalistas (maragatos) prepararam os ânimos tanto para a Revolução Federalista.  (1893-95) como de 1823.
Segundo Adami7na colônia Caxias aconteceram duas revoltas, que parecem a  primeira vista  simples lutas pelo poder municipal.Ambas lideradas por Afonso Amabile. e Cesare Porta. As revoltas caxiense decorrem da deposição do governador eleito Júlio de Castilhos, em 12 de novembro, por ter  apoiado o golpe de Estado do presidente Marechal  Deodoro da Fonseca,  contra a Constituinte .O Conselho Municipal eleito em 20 de novembro não pode ser empossado. A Junta reassumiu o poder municipal, empossando o Conselho em 15 de dezembro. Novo golpe foi  dado no  ano seguinte, no dia 25 de junho de 1892  quando o Conselho recém empossado foi  deposto por  Amabile   e seus homens que exigiam  o poder em nome do Vice Governador General José Bonifácio da Silva Tavares., ou seja os dois golpes eram federalistas. Nos dois golpes havia maçons e não maçons. A questão não era religiosa, mas luta pelo poder travada entre federalistas e republicanos. Os colonos envolvidos pela liderança federalista estavam prontos e armados para a luta, conforme é possível acompanhar nas fotos da época.
No período compreendido entre 1890 e 1894, em Caxias, a Loja Força e Fraternidade ficou adormecida, nas atas não são revelados os motivos de seu fechamento. Parece evidente, porém, que nem os irmãos conseguiram se manter neutros. A mesma questão que dividia sociedade brasileira o estado e os municípios fragmentou  também a irmandade
As revoltas caxienses podem  ser entendidas também como reação dos imigrantes pobres e oprimidos pelos novos impostos municipais,aos quais se somavam a cobrança das chamadas dividas coloniais,ou seja o débito que os colonos ainda tinham com o governo nacional.Sem esta motivação dificilmente teriam aderido ao movimento.
 A pacificação municipal se deu pela tomada do poder municipal por Luiz Pieruccini, Doningos Maineri e Vicente Rovea.  Bons maçons republicanos que entregaram o poder ao intendente Antônio Xavier da Luz, em 1º de agosto de 1892, nomeado por Júlio de Castilhos  após a retomada do poder estadual ocorrida  no  dia  17 de junho deste ano.
       Em 1893 irrompe a Revolução federalista, cujas causas estão na própria instabilidade política da nova ordenação republicana A região mão ficou imune aos combates, cercada pelos campos de cima da serra tornou-se ponto de passagem das tropas republicanas e federalistas, em busca de abastecimento de suas tropas na produção agrícola  e   pecuária..
 A Revolução Federalista acarretou mortes e prejuízos entre os  colonos italianos da região, foram assediados pelos litigantes  de ambos os lados,tendo passado por maus momentos. Os dados referentes às perdas sofridas são fragmentários, decorrentes dos vagos os pedidos de indenização.
Como os danos materiais também o número de vítimas é incerto. Há indícios de que foram numerosas. Em 6 de dezembro de 1893 9foram encontrados dois corpos, amarrados e degolados encontrados no fundo de um barranco na estrada que leva de  Nova Trento( Flores da Cunha) à Antônio Prado, por Giovanni Piazza. Outras mortes  ocorreram   em Alfredo Chaves, segundo lembranças de Helena Amantéa  houve pelo menos três mortos cujos sobrenomes eram Bacin, Pegoraro e Dalponte.10 Não há registro da ação policial na solução dos  assassinatos.
A invasão de Caxias pelas tropas federalistas deu-se em 30 de junho de 1894. A invasão foi anotada no diário de Francisco da Silva Tavares, no dia 31 de julho “os jornais do Rio Grande confirmam a tomada da colônia Caxias no dia 30 de junho pelos federalistas “e prossegue “ fugindo destroçados os governistas para Nova Palmira em direção a Picada Feliz 11   O general estava mal informado.Foram os federalistas  e não os republicanos que fugiram  da vila após quinze horas de ocupação.
.  Segundo Axt :“a bibliografia em geral ainda se refere pouco ao impacto da revolução Federalista sobre as zonas de colonização.12 Não há dúvida que poucos são os  estudos sobre a revolução e  rara a   documentação. Adami 13em seu relato sobre a invasão da sede da Vila de Santa Teresa de Caxias apresenta alguns documentos. Sobre a luta ,  há entre os moradores lembranças eivadas de distorções e exageros Há  incidentes que envolvem a luta que  precisam ser ainda  pesquisados.
Caxias foi invadida por cerca de 500 federalistas divididos em duas colunas, uma liderada por Belizário Batista ,proveniente da fazenda do Raposo e a outra liderada por José Nicoletti .proveniente de São Marcos.Desta última faziam parte dezenas de “polacos”. Os federalistas invadiram, saquearam e incendiaram algumas casas de comércio de republicanos caxienses, como as de Felice Laner e Luís Dalcanalle.Porém  é desconhecido o número exato tanto das forças rebeldes como das legalistas.
Também é desconhecido o número dos que morreram durante o ataque à Vila de Santa Teresa .Segundo o coveiro municipal Felice Rossi no “mese de luglio(1º), 9 cadaveri racolti nel circondario della Vila.” Nove seriam os corpos recolhidos   nos arredores  da Vila e  enterrados no cemitério público municipal. Adami informa que outros corpos e teriam sido atirados em um charco situado na Rua Pinheiro Machado entre  a Moreira César e a  Coronel Flores. Mas sobre este fato  só existe esta informação.14Há ainda a notícia de polacos mortos cujos corpos teriam sido jogados no charco  situado  no local do atual estádio do Juventude.
 Na ordem do dia Nº 56, de 1º de julho de 1894, os comandantes das tropas legalistas capitão Francisco Alves dos Santos informa que ”tendo os bandidos deixado em diversas ruas dominadas pelas nossas posições 20 cadáveres, sendo um capitão, um tenente, um alferes, um sargento e dois cabos.” E ainda que  “ tivemos a lamentar a morte do distinto Miguel Antônio Dutra Neto, apunhalado e massacrado covardemente pelos miseráveis”. 15
Segundo Adami a defesa da Vila foi feita pelo  44º Batalhão da Guarda Nacional composto por meia centena de homens liderada pelo capitão Francisco Alves dos Santos,acrescida de alguns  republicanos locais. Os federalistas permaneceram na cidade, num prédio existente na esquina das ruas Garibaldi e Júlio de Castilhos, combateram na Rua Visconde de Pelotas, próximo à Intendência Municipal. Retirando-se no final do dia, pois havia notícia da chegada de três  mil homens liderados por Gumercindo Saraiva, provenientes de Vacaria,o que acabou não ocorrendo.
Em 1894 ocorre a reabertura da  Loja   as atas informam que  Salerno  “escondeu  muitos profanos ameaçados de morte “16em sua casa, salvando suas  vidas .As reuniões da Loja  clamavam  por  paz e concórdia, mas elas estavam longe de ser conseguidas
O conflito deixou  além das mortes  as perdas sofridas pelos colonos. Grande foi o terror da população regional, cujas lembranças foram  transmitidas através das  gerações. Na luta morreram italianos  que participaram da refrega, alguns dos quais brutalmente mortos pelas forças legais.
Os casos mais graves foram os de Afonso Amabile, enfermeiro, e Cesare Porta, seleiro, ambos imigrantes italianos, domiciliados em Caxias. As autoridades brasileiras ao serem questionadas (pelas italianas) sobre a morte dos dois declararam que ambos eram eleitores e, portanto, brasileiros.Tendo o assunto sido encerrado de forma sumária. Os seus assassinos nunca foram descobertos.
Como em relação  a essas  mortes, o governo italiano pouco fez em relação às perdas sofridas pelos imigrantes italianos. O professor Ancarini  informou  que“ sobre os pedidos de indenização feitos pelos colonos”17 foram aceitos apenas  os  casos de indivíduos que não estivessem  comprometidos politicamente. Foi uma forma hábil de fugir do problema, já que muitos dos imigrantes italianos eram maragatos e alguns poucos  pica- paus,  poucos eram neutros.
 Inconteste era a neutralidade da hoteleira Luigia Grossi, dona do melhor hotel da vila de Caxias, possuía as duas bandeiras uma branca e outra  vermelha.As bandeiras eram hasteadas  de acordo com as cores políticas do grupo que vinha comer ou se hospedar no seu estabelecimento. Para o bom andamento dos negócios muitas vezes era conveniente servir a dois senhores.



LOJAS E COMITÊS

Vários foram os incidentes entre maçons e católicos, durante o período de 1888 a 1893, durante  o qual os padres palotinos dirigiram eclesiasticamente  a região  há  registro de vários pequenos incidentes envolvendo o clero e a maçonaria.As agressões eram mútuas, em 20 de setembro de 1889,os maçons prepararam uma festa e para alegra-la o disparo de morteiros e canhão.O pároco de Santa Teresa”com a cooperação de pessoas  fiéis frustraram a festa “18 Roubaram os morteiros e o canhão jogando em uma valeta .O padre não contente com o ato instou que os fiéis não comprassem nas lojas dos maçons.Muitos outros incidentes ocorrem e alguns estão registrados  nos livros tombos das paróquias, nos quais  “carbonário” é usado como sinônimo de maçom.
            Se das primeiras lutas políticas restam poucos registros, as ocorridas  a  partir de 1897  podem ser acompanhadas   através dos jornais  locais. O primeiro jornal a circular em 15 de outubro de 1897 foi O Caxiense, defensor das colonias italianas e orgam republicano, ligado ao Partido Republicano  seus proprietários eram os brasileiros.
O padre Pedro Nosadini pároco de Caxias de 1896 a 1898  teve ação determinante na organização política dos imigrantes italianos   católicos  contra a Maçonaria na região.O padre utilizou o espaço do jornal O Caxiense para acusar os maçons de ataques aos católicos. A paróquia de Santa Teresa de Caxias foi  das associações chamadas de Comitês Católicosm tais associações na Itália onde surgiram havia sido denunciadas pelo governo socialista de  políticas e fanáticas. Nas atas da Loja esta informação anotada.  Nosadini desconhecendo a conturbada política brasileira responsabilizava a Maçonaria, tanto pela anexação dos Estados Pontifícios ao novo Reino da Itália quanto pelos problemas políticos da região.O padre criou comitês  em.”:Santo Antônio (7ºlégua):N.Sra das Neves (9ºLégua); Círculo São Tarcísio(São Marcos da Linha Feijó ) na sede “Santa Teresa” e o círculo São Luís Gonzaga , para os jovens”.Segundo o padre Brandalise as suas finalidades eram  apostólicas,  os  maçons com inveja do sucesso destas  organizações, passou atacar o padre. Seu craidor.A reunião festiva dos comitês realizada em 14 de outubro de1897 reuniu mais de 800 pessoas.19
Fontes da maçonaria dão como certo o papel político os comitês. Assim em oito de abril de 1897 foi denunciada pelo intendente venerável Campos Júnior em reunião da Loja .uma sedição de colonos”capitaneada por um certo Antônio Michelon  “20 que como os demais são católicos fanáticos, visa promover desordens contra a Loja e os irmãos O movimento é atribuído aos comitês de Nosadini. Na ata do dia quatro de outubro  Nosadini é citado por ter falado  contra a”nossa nobre instituição” ,o padre foi chamado de”garoto, um cafajeste,um vil de batina.”. Nas reuniões a direção da Loja pede calma, pois  a ação do padre aumentara a procura pela  irmandade”pois como é sabido que desde que ele principiou a falar contra a Ordem foi quando mais profanos tem aparecido para iniciar-se.” 21
Ocorrem vários incidentes, o mais importante ocorre em sete de fevereiro de 1898 quando o padre foi retirado à força da casa canônica e  expulso da cidade, por um grupo de 22 indivíduos,que .segundo o padre  Brandalise  seriam  maçons “acompanhados por 24 soldados e que no assalto disparam “ uns 400 tiros” e após “lhe puseram um cabresto na cabeça como se fosse um animal”. 22Atentando contra sua  vida e o  ferindo.Sobre o ataque ao padre a maçonaria nega  seu envolvimento afirmando que apenas dois dos envolvidos eram maçons. Culpados ou não os maçons  levaram  a culpa pelo incidente.
    Em junho do mesmo ano o padre voltou à sua paróquia acompanhado de mais de setecentos homens vindo de Nova Pádua onde se havia abrigado. Voltou prometendo ficar em paz. Ao contrário “retornando o Padre Nosadini do exílio imposto pelos maçons caxienses e reconduzido ao seu antigo lugar de Vigário, sob grande regozijo dos fiéis, fundou, alguns meses depois, ou seja, a 1º de janeiro de 1898 o jornal mensal ‘Il Colono Italiano’, entrando logo em polêmica com ‘O Caxiense”, o primeiro jornal fundado em Caxias” Il Colono Italiano’,  “Bollettino cattolico mensile” (Boletim católico mensal)tinha como objetivos  defender os interesses e as causas  dos católicos italianos imigrantes   da região.Após acusações recíprocas de católicos e maçons, através da imprensa.O possível  o atentado contra o intendente Campos Neto,não por acaso venerável da irmandade , dói  feito pelos seguidores de Nosadini .Farta documentação sobre o incidente resulta das cartas enviadas  ao governo do estado e ao bispado.A solução encontrada pelas autoridades apostólicas  foi a de transferir o padre.
Poucos meses  depois do ocorrido o padre foi mandado” para Rondinha. Depois voltou para a Itália .Lá trocou de nome e nem sequer contou aos parentes que estivera no Brasil por medo da maçonaria”,  e acrescenta que  os maçons   “que chefiaram tão nefando insulto contra o ministro do Senhor. Morreram todos de morte trágica. 24 Desta forma  o trágico fim dos maçons foi  atribuída por Brandalise a  maldição do padre Nosadini.
Data desta época uma  série de maldições atribuídas a padres maltratados por fiéis,entre os quais o de Antônio Prado, que teria determinado a estagnação do município e o da Caipora (Bairro de Lourdes) Para os imigrantes os padres tinham mais força  nas maldições do que nas bênçãos.
 Foi durante os primeiros 25 anos de povoamento da região da serra,que a influência da religião atingiu níveis agudos de controle e repressão , contra os não católicos ,ou contra os católicos que não agissem de acordo com as determinações dos sacerdotes  Foi nesta época que os bailes foram proibidos e até a música de acordeão foi desaconselhada.”Credetelo che anche per la buona pace ed armonia nelle Colonie,non avete bisogno di queste musiche(...)Alla stessa maniera vi dito del cante” 25Alerta o padre Pietro Colbachini no Guia espiritual do emigrado italiano na América.
Em Bento Gonçalves ,ao que tudo indica, a situação não foi tão extrema.  O jornal Bento Gonçalves, foi fundado em 1900, reunia entre seus colaboradores associados do  .Partido Republicano e da loja Concórdia. 26O primeiro número saiu em 20 de Setembro, que  marca o equinócio da primavera  sendo data importante para a Irmandade pois nela foi iniciada a Revolução Farroupilha e proclamada a unificação da Itália Mas em Bento não houve um padre como  Nosadini e as intrigas entre católicos e maçons não prosperaram.
Em 1901 foi fundada a Associação de Comerciantes de Caxias, da qual participaram grande número de maçons, mas pouco depois a Loja Força e Fraternidade  adormeceu. Aos problemas externos somavam-se os internos, a solução encontrada foi o seu  fechamento .Mais tarde o terreno que havia sido comprado para a instalação do templo foi cedido pela irmandade às Damas de Caridade.para a construção do Hospital Nossa Sra. de Pompéia.

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ITALIANOS OU BRASILEIROS?

A Constituição brasileira promulgada em 1891, tornou brasileiros.os estrangeiros que nesta data  vivessem no Brasil.Para continuar tendo a  sua nacionalidade havia prazo para a manifestação dos  que não quisessem ser brasileiro.Desta forma muitos mudaram de nacionalidade sem saber, mas  não existe lei que  mude a identidade cultural.Os poucos direitos concedidos aos estrangeiros pela naturalização como o de voto e a participação política não conseguiram mudar a cultura e a política regionais.No Brasil  país povoado por imigrantes forçados ou livres  a  nacionalidade é questão delicada..A república desejava estimular o nacionalismo e o patriotismo tendo desencadeado a partir de 1914, campanha civilista, liderada pelo poeta Olavo Bilac. .Entre os atos concretos propostos na campanha estava  o do serviço militar obrigatório..
Na Primeira.Guerra (1914-1918) o Brasil  e a Itália estiveram em campos  opostos . As questões políticas européias ainda apaixonavam os imigrantes Em Bento Gonçalves o jornal em língua italiana Il Corriere d’Italia até 1915, isto é, antes da Itália entrar na 1ª Guerra Mundial, os seus editoriais defendiam a manutenção e vigência da Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. Aconteceu porém, que a Península denunciou o tratado e participou do conflito com os aliados.” “27Quando a Itália mudou de lado o jornal acompanhou-a passando a  defender a sua nova posição. Esta  posição tão amarrada à política oficial da Itália é  combatida  no jornal Il Colono Italiano ,de Garibaldi .O articulista do  Il Corriere d’Italia  em resposta descreve que o jornal deveria mudar de nome para   Il Colono Austríaco, pois seu diretor padre D. João Froncetti, era tirolês e  defensor obstinado  dos impérios centrais.
A força da Europa ainda pesava sobre a colônia italiana A prova desta influência se dá durante a Grande Guerra(1914-18) quando  392 voluntários  “italianos” muitos  nascidos no Brasil, .de várias regiões do estado inclusive de Porto Alegre , partiram em defesa da pátria italiana. Catorze deles morreram em batalhas na Itália, tendo sido erguidos monumentos em sua homenagem  e placas comemorativas.Em Garibaldi , na Sociedade Stella d’Italia foi colocada uma placa lembrando os soldados  Pietro Brunello e Guerino Gobbi mortos em combate na Itália. Em Caxias foi colocada uma placa  na base da estátua de Dante Alighieri,em homenagem aos combatentes mortos  Raffaele Zambelli e  Ângelo Bracagioli. 28 Estas placas sumiram durante a Segunda Guerra. Como naqueles tempos ainda não havia muitos ladrões na região.o roubo foi atribuído à política.
A Itália parecia ser ainda a pátria dos italianos nascidos no Brasil.,mas na então 2º Região Policial do Rio Grande do Sul não aconteceram problemas  entre as autoridades brasileiras e  os  italianos,nem deixaram de circular os jornais locais em italiano.As empresas regionais durante a Guerra apresentaram  crescimento econômico, dedicando-se à produção de peças  e de máquinas  e de máquinas para reposição, que durante o conflito não podiam ser importadas, dando inicio  encaminhando  ao futuro de Caxias no setor metal mecânico.
.Em 1922 a população as regiões colônias tinha nada menos que  924.000 habitantes,  o que correspondia  a 41,5% do total da população do Estado que era de 2.226.000 habitantes.. Do total de estrangeiros  295.000  eram italianos de origem, ou seja, cerca de 32% do total da população estadual, 29Tais números eram decorrentes  não só do crescimento vegetativo da população como também  pela entrada grande de imigrantes  europeus após a Grande Guerra, temerosos com a possibilidade de novos conflitos. Industriais e intendentes buscavam ainda mão-de-obra especializada na Itália. Os responsáveis pela entrada de novos imigrantes foram Abramo Eberle e Celeste Gobatto. Os novos imigrantes italianos serão importantes para a política regional.
Outra  questão merece reparos nos municípios originários de  antiga colônias,  em seus anos iniciais  houve prefeitos italianos ou de origem. No inicio foram apenas lusos de origem e pouquíssimos intendentes italianos de nascimento, entre eles Tal fato chama a atenção das autoridades italianas que visitam a região que observam o fato.Outro fato merece atenção na região há preferência por candidatos nascidos fora das cidades onde se candidatam.Prefeitos nativos só passam a ser eleitos a partir de 1946.
. As mazelas políticas determinadas pela política positivista e as fraudes eleitorais geram as condições para a revolução de 1923.A antiga divisão das elites gaúchas em pica paus e maragatos  é renomeada passando a chamar-se de   “borgistas” e” assisistas”. Borges de Medeiros, presidente do estado, ao ser eleito de forma fraudulenta pela quinta vez consecutiva, provocou  a revolta  dos antigos federalistas liderados por   Francisco de Assis Brasil,que  exigem  mudanças políticas , como  o voto secreto e  a moralização das eleições.
O conflito teve inicio em janeiro de 1923, quando Borges de Medeiros assume  o quinto  mandato no governo estadual .As lutas  duraram dez meses e foram lideradas  pelas mesmas figuras de 1893, o comando foi das tropas revolucionárias foi assumido pelo general Joca Tavares .A repetição também ocorreu na região colonial italiana, são reeditadas as invasões de propriedades em busca de alimentos e munições para as tropas.Como em 1893 a maior parte da população das antigas colônias continuava  simpatizante dos antigos maragatos (“assisistas”), mas as suas  autoridades constituídas eram  pica paus (“borgistas.)Como se o tempo e a revolução anterior não tivessem passado.
Os antigos chefes regionais de  1893 reaparecem .Belisário Batista mais uma vez organizou uma tropa de pouco menos de 200 homens, para deter as tropas de Firmino Paim, que comandava as tropas legalistas no Norte do estado. Segundo as lembranças regionais Belizário tinha como tarefa distrair Paim enquanto entravam armas para os rebeldes, vindos de Santa Catarina. Segundo os jornais da época durante a revolução de 1923  e a região viveu momento de tensão,pois, era  temida  a reedição dos combates de 1893. Especialmente quando da visita a região  do general Zeca Neto.
O grande palco  das lutas  foi   São Marcos  devido sua proximidade com os campos e as lideranças federalistas de cima da serra, nesta região se travaram vários combates.Também as perdas de vidas foram grandes nesta revolução. A mais famosa foi a dos irmãos Biondo assassinados em Ana Rech pelas forças da brigada e a do jovem Quintino Biazus de Nova Trento, que morreu em Caxias Seu enterro reuniu a população  caxiense a .brigada não conseguiu dispersar a multidão. 30
No Álbum comemorativo do cinqüentenário da Imigração, os italianos são apresentados “como espectadores imparciais do conflito “e a comunidade estrangeira que mais danos morais e materiais sofreu. “31 São citados os casos   dos irmãos Biondo e o heroísmo de Rosa Togo, que matou um federalista em defesa de seu velho  sogro. Não resta dúvida que muitos inocentes foram envolvidos na revolta de 23,mas muitos  “italianos “que lutaram nesta nova revolução entre eles : Antônio Segalla, Luìs Ceconello, Quintino Biazus,Virgílio Fabris,Américo Martini,Alfredo Bacichet, José Mandelli. 32 Só a morte impediu  a retomada da luta pelos antigos líderes maragatos retornar a luta.Apenas José Nicoletti  voltou à luta mas do lado  dos legalistas.
A região mantinha sua fidelidade aos “assisistas” Os números da eleição de 1923 no 1º distrito eleitoral  evidenciam a sua  posição política   “a oposição venceu com larga diferença: os republicanos obtiveram 1023 votos e os ‘ba-ta-clans’, como eram chamados os oposicionistas, 1790 votos. Os municípios onde a oposição venceu são: Caxias, 756 votos a favor da oposição; Alfredo Chaves, 234; Garibaldi, 8333
Pela região foram eleitos três  deputados estaduais” assisistas.”Os borgistas para impedir nova derrota  em Caxias  lançaram  a candidatura do Dr. Celeste Gobatto, italiano, unindo  as duas facções pela primeira vez  em coligação. Assim o agrônomo italiano foi eleito prefeito  com 1.119 votos. 34A vitória de Gobatto se deu ao arrepio da lei que exigia a cidadania brasileira e residência de  um ano no município, condições que o candidato não  possuía.

BRASILEIROS X ITALIANOS

Enquanto ocorriam as lutas políticas, a economia não estacionava. E as emancipações se sucediam.Em 1924 novos municípios são criados na região  e os nomes revelam que algo está mudando .Capoeiras distrito de Alfredo Chaves se emancipa com  nome de Prata, Nova Trento se   emancipa de Caxias,  no mesmo ano, mais tarde   mudou  seu nome para Flores da Cunha   Nova Vicenza, em 1934  distrito de Caxias se emancipar com o nome de  Farroupilha, em homenagem à Revolução de 1835.
 Na região ocorrem alguns fatos curiosos como a manutenção nos novos municípios do nome de velhos oligarcas do Império como Alfredo Chaves e Antônio Prado Estranhamente a região ficou dividida entre Caxias, cujo nome homenageava o herói legalista e Garibaldi de Bento  Gonçalves homenageando os rebeldes   e dividindo as duas facções a cidade Farroupilha.
 Em 1930 irrompe no Brasil, a Revolução de 30. O grupo de industriais da chamada região colonial italiana contribui com doações polpudas para o movimento.No álbum alusivo ao evento expressivas figuras da então chamadas forças vivas  aparecem como apoiadores de  Getúlio Vargas. Seguidor fiel de Borges de Medeiros, Vargas  era positivista e nacionalista. Como presidente do Estado que participara das comemorações do cinquentenário da imigração italiana. Conhecia a região e suas posições políticas.
Nesta época  ocorre a organização dos sindicatos de trabalhadores  metalúrgicos, de alimentação e vestuário, dos bancários entre outros que se unificaram nos Sindicatos Reunidos, que  uniram os trabalhadores, promovendo lutas por melhores salários  ,greves e  ações  semelhantes aos do  pais. Nas lideranças do movimento muitos nomes italianos como os de Ernesto Bernardi, e mais tarde por o de Bruno Segalla. O sindicalismo regional começou com a organização anarquista da Associação dos Tanoeiros mas de 1930 a 1964  a direção do movimento  passou para o Partido Comunista Brasileiro.
Enquanto os trabalhadores se organizavam os comerciantes e industrias e imigrantes italianos recém chegados apoiavam o nacionalismo. Muitos envolvem-se ao mesmo tempo  com o fascismo e com o “borgismo”associado-se tanto  ao Partido Nacional Fascista Italiano (PNFI)  como  ao Partido Republicano Riograndesnse, O exemplo de Luigia Grossi fez escola, servir  dois  senhores fazia bem aos negócios.
Neste mesmo período em 12 de novembro de 1931, foi criada a Loja Fraternidade Terceira foi fundada pelos irmãos: Alberto Custet de Machevile,francês nascido  em Valença,José Moreira Alves ,médico,Dinis Burdepe francês, viajante, Leo de Machevile,engenheiro Mauricio Dela Nei, engenheiro Civil ,Gentil Alencar Viajante.
Na nova fase da maçonaria local poucos são os italianos de origem que a elas  associam ,ao contrário do que acontecera nos primeiros tempos. A fundação da loja Marechal Deodoro 31, sob os auspícios das lojas simbólicas,inicialmente  teve poucos associados 36.Deve-se lembrar que Mussolini unido a Igreja após 1929, movia dura batalha contra a Maçonaria, motivo pelo qual apenas os não italianos a ela se associavam
Na região foram  criados fasci  ligados ao PNFI. A expansão dos camisas negras faz com na região ocorram alguns enfrentamentos entre as facções. Nacionalistas italianas e brasileiras. 37
Com a criação do movimento integralistas a ele se reúne expressivo número de descendentes de imigrantes italianos  Na região, o grupo integralista  foi muito forte politicamente.Em seus quadros militavam políticos influentes como Mansueto Bernardi, natural de Alfredo Chaves, que ocupou  cargos de relevo no governo de Vargas antes de 1938. O integralismo teve papel na nacionalização da região.Fato destacado tanto por Oswaldo Ártico e Arthur Rech em entrevistas concedidas  à autora na década de 1980.O culto à pátria brasileira  e aos valores da família e da pequena propriedade calaram fundo no grupo, e este teve papel fundamental no reordenamento político  da região.
A expansão do movimento fascista e sua respectiva propaganda, por outro lado, ocasionou a revolta entre os habitantes da região que já se consideravam ( e eram)   brasileiros. Reação se fez sentir na criação das Ligas  de Defesa nacional, nos centros cívicos e  através da imprensa regional . Os centros cívicos  no período da guerra  também propagavam o nacionalismo .Na defesa do nacionalismo uniam-se integralistas e comunistas carregando a mesma bandeira  contra os  fascistas, que defendiam os mesmos princípios, só quem em relação à outra nação, ou seja a Itália. Estranhamente fascismo e nacionalismo dividem as famílias e a política regional ,na qual soberana  impera a intransigência.
 A ação dos nacionalistas brasileiros teve inicio após o Estado Novo (1937-1945), quando os estrangeiros passam a ser considerados perigosos pela recém promulgada Lei da Segurança Nacional (1935). São mudados nomes de ruas, logradouros e cidades e distritos como Nova Milano  cujo foi mudado para  Caruara , a avenida Itália para Avenida Brasil e até a praça Dante Alighieri transformou-se em  Rui Barbosa. Os nacionalistas dos dois blocos  brigavam entre si enquanto isto o governo estava vigilante.
Os relatórios do Departamento de Ordem Pública e Social revelam que este  sempre esteve de olhos voltados para a região, anotando  e registrando  nomes de  nacionais  e de  estrangeiros adeptos do comunismo e  dos italianos proprietários de terras e de indústrias.
A Segunda Guerra (1939-45) estimulou ainda mais as campanhas de nacionalização. Foram  proibidos  de circular os jornais escritos em língua italiana e   de falar em  italiano em público . Casas foram invadidas em busca de armas, colonos presos e o terror instalado, as festas da uva interrompidas. Desta vez não houve voluntários para a defesa da Itália e a região ofereceu grande contingente de pracinhas para a defesa do Brasil. Com a Guerra só havia brasileiros na região, através do terror.
Após a Guerra a maçonaria se expande sendo criada em 1945 a loja Marechal Deodoro 31, que passa a reunir a elite intelectual local.De seus quadros nascem vários líderes políticos regionais.

BRASILEIROS?

Não é possível negar que a Guerra e o nacionalismo de Vargas  estimularam a  participação dos italianos  e de  seus descendentes  na política estadual.Por outro lado   a derrota dos integralistas e mais tarde a  de Mussolini encaminharam à uma nova ordenação política regional
O fim da Guerra  e a redemocratização(1946-1964) foi marcado pela ampliação do ensino técnico e  o advento dos cursos superiores que  preparam  melhor os habitantes da colônia para a prática política. Por outro lado muitos estudantes passam a procurar cursos superiores na capital  ,formando-se assim um grupo intelectual de origem italiana.
A Revolução de 1964 determina o avanço do parque industrial regional, através de polpudos investimentos no aumento do seu parque industrial, com a ampliação de industrias já existentes e a construção de empresas modernas, dotadas de tecnologia de ponta.Com o aumento da capacidade produtiva regional  houve   crescimento da população devido a vinda de mão de obra não qualificada, de operários especializados e de técnicos
Não se pode esquecer que este crescimento econômico passou a exigir maior participação política regional na defesa dos interesses das grandes empresas .Por outro lado   a melhoria do ensino,  da economia e aumento da  população  tornou possível a eleição de  seus representantes   tanto na Assembléia,como na Câmara e até no Senado da República.
O crescimento econômico e o aumento da população regional determinam o avanço da maçonaria, com a construção de novas lojas e templos aumentando o número  associados e a  sua participação política regional. .Em 1968 foi fundada a Loja Duque de Caxias  terceiro milênio ,foi acordada a Força e Fraternidade todas com templos próprios Sua influência a partir de então é decisiva na criação  de cursos superiores e no encaminhamento dos  resultados das eleições Na Câmaras de Indústria e Comércio segundo Cruz a maior parte dos associados são  irmãos ,39 ao serem comparado os nomes dos maçons associados às diversas lojas e a  dos  a relação dos empresários a relação  fica evidenciada.
Na criação dos cursos superiores da região a Igreja e maçonaria unidas através da  Mitra Diocesana   e da Sociedade  Hospitalar Nossa Senhora de Fátima entre outras   criam a Universidade de Caxias do Sul.
 A maçonaria passou a ter papel decisivo também nos rumos da política regional. Se o pensamento hegemônico regional foi traçado pela Igreja no poder dirigente a mão da maçonaria está presente.Os representantes dos dois grupos apresentam profundas ligações com a classe produtiva regional, visto que durante muito tempo tiveram um inimigo comum: o comunismo. Morto o comunismo sobram os interesses comuns do mercado e o temor mútuo das mudanças sociais, com a perda das prerrogativas de classe.     
Hoje os caminhos e os descaminhos da política e das lutas sociais da região são mesmos do Brasil. Após 1946 as lutas políticas e as divisões sociais se dão entre brasileiros, os vínculos da região com a Itália, suas glórias e seus problemas, estão recuando no tempo.O morador da região em seus gesto, nas explosões  de sentimentos, no gosto pela comida, pelo vinho, enfim no modo de ser  e de fazer  lembra o da velha Península. Uma delas parece ser  a política.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 FONSECA,Fay. Italianos na política e administração.IN: Centenário da Imigração Italiana. Porto Alegre: Edel,1975.p.325 a 327

2 LAYTANO ,Dante. Notas históricas sobre as relações  Brasil e Itália.IN:Imigração Italiana:Estudos. Caxias do Sul ,Educs,1979.p.75 a 84
3 IANNI,Octavio Aspectos políticos e econômicos da imigração italiana. IN:Imigração Italiana:Estudos. Caxias do Sul ,Educs,1979.p.20

4 MOLON, Floriano.O significado dos carreteiros na economia da imigração italiana no rio Grande do Sul. IN:A presença itaalina no Brasil.DE BONI, Luis ª Organizador.Porto Alegre:EST/Fondazione Giovanni  Agnelli, 1987,p.523
5 CRUZ, João  da Neto. Sinopse Históricada Aug. Eresp.Loja Força e Fraternidade de Santa Tereza de Caxias do Sul, 1887 –1903. .Monografia não publicada, eleborada em Caxias do sul ,1977
3 COLUSSI, Eliane L. A maçonaria gaúcha. Passo Fundo: EDIUPF, 1998, p.570.
6 COLUSSI, Eliane L. A maçonaria gaúcha. Passo Fundo: EDIUPF, 1998, p.570.
7 GARDELIN, Mário. In: HENRICHS, Liliana Alberti (org.). Histórias da imprensa em Caxias do Sul. Museu Municipal/Arquivo Histórico de Caxias do Sul/Pioneiro, 1988, p. 24.

8  BORGES FORTES, Amyr. Compêndio de História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre:Sulina, 1965 p150 a 152

7 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 – 1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971, p.321 e 342

9 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 – 1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971, p.321 e 342


10 COSTA Rovílio  e BATTISTEL, Arlindo..Assim Vivem os italianos.Vida, história,cantos,comidas e estórias. Porto Alegre:est,1984..p.341.


11 TAVARES, Francisco da Silva. Diários da Revolução de 1893. Tomo I Organização de Cabeda ,Coralio B.Pardo e outros. Porto Alegre: ProcuradoriaGeral de Justiça ,2004 .p.46


12 AXT,Gunter.  Os diários e a revolução>IN: TAVARES, Francisco da Silva. Diários da Revolução de 1893. Tomo I Organização de Cabeda ,Coralio B.Pardo e outros. Porto Alegre: ProcuradoriaGeral de Justiça ,2004 .p.174
13 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul 1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.386

14 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul 1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.375 a 38
15 ANTUNES, Dumiense Paranhos.Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul.1875-1950.São Leopoldo:ARTEGRÁFICA.1950.P.51

16   Ata do dia 14dejulho de 1894. Livro de Atas nº 3  de 7 de novembro de 1894 a 17 de outubro de 1897 p15


17 ANCARINI,Humberto, A colônia Italiana de Caxias. IN:A Itália e o Brasil.. Organizador Luís Alberto de Boni,Caxias do Sul:Est/Educs,1983 p.28


18 BRANDALISE, .Ernesto  ªParóquia de Santa tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.27


19 BRANDALISE, .Ernesto  ªParóquia de Santa tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.32

20 Livro de Atas nº 4 de 27 de setembro de 1896 a 30 de setembro de 1897  p.13
21 Idem p.1
21 BRANDALISE, .Ernesto  ªParóquia de Santa tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.33

22 BRANDALISE, .Ernesto  ªParóquia de Santa tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.33


24 BRANDALISE, .Ernesto  ªParóquia de Santa tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.33
25 COLBALCCHIHI,Pietro .Guida Spiruali per l”emigrato italiano nella América. Milano:Bereterlli:1890.p.204
26 CAPRARA, Andréa. Bento Gonçalves – jornalismo opinativo. Monografia do Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo. São Leopoldo, UNISINOS, julho de 1991, p. 56.


27 25dem, p. 56.
28 Cinquantanario della colonizzazione italaina nello Stato del Rio Grande del Sud:1875-1925.Porto Alegre/ Roma: Globo/ Ministero degli Affari Esteri , 1925. p.429 a 426


29 Mensagem de Borges de Medeiros. In: DUCATTI Neto, Antônio. O Grande Erechim e sua história. Porto Alegre: EST, 1981. pp. 83 e seguintes
30 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul 1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.400 e seguintes
31 Cinquantanario della colonizzazione italaina nello Stato del Rio Grande del Sud:1875-1925.Porto Alegre/ Roma: Globo/ Ministero degli Affari Esteri , 1925. p.452



32 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul 1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.400 e seguintes


33 MONTEIRO, Katani Maria Nascimento. Um italiano irrequieto em contexto revolucionário: um estudo sobre a atuação de Celeste Gobatto no Rio Grande do sul – 1912-1924. Dissertação de Mestrado defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em setembro de 2001, pp. 154-155.

34 Idem.164

36 Jornal de Caxias 17 dezembro de 1984 p.11Ano II n 617
37 Sobre o tema a fonte principal é GIRON,Loriane Slomp.As sombras do littorio.O fascismo no Rio Grande do Sul.Porto Alegre:Parlenda,1994
39 Jornal de Caxias 17 dezembro de 1984 p.11Ano II n 617


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O RIO GRANDE NAS VÉSPERAS DA IMIGRAÇÃO


Em 1873, nas vésperas do inicio da imigração, que teve inicio, quando o Aviso Real de demarcação dos lotes das colônias Conde D’Eu e Dona Isabel já havia sido editado por Dom Pedro II, em 1870. Joaquim José de Macedo publicou um texto sobre a formação da Província de acordo com o qual já existiam algumas cidades importantes como:  Porto Alegre: cidade e capital da província, que possuía  industrias e  fábricas bem montadas; belos edifícios melhores como o Liceu, o palácio do governo, o paço da Assembléia,  a igreja Nossa Senhora das Dores, um belo teatro, uma  igreja Gótica do Menino Deus, uma casa de  caridade,  e o Arsenal de Guerra e Alfândega .Esta cidade tinha então as ruas bem traçadas e grande  importância mercantil.[1]
Outro porto importante era o da cidade do Rio Grande, que passara por melhorias, sendo o  primeiro entreposto comercial da província  e  sede das relações com o estrangeiro. Possuía  alfândega e bons edifícios. Pelotas  outra cidade situada na Lagoa dos Patos contava com linha diária de vapores que a ligavam ao Rio Grande era  uma das principais povoações. Destacavam-se ainda outras cidades como Jaguarão  assentada na fronteira com Artigas; Bagé- fronteira com o estado do Uruguai; Alegrete margem esquerda do Ibirapuitã; São Gabriel  no rio Vacacai : São Leopoldo cidade moderna na margem do  rio dos Sinos e as de Rio Pardo e Cachoeira situadas ambas  nas margens do rio Jacuí. Caçapava alcantilada sobre uma  elevação era a mais estratégica da província; Uruguaiana na margem do rio Uruguai, fronteira com a Argentina e ainda São Borja no Rio Uruguai  e São  José do Norte vila sobre o canal do Rio Grande. As cidades eram pequenas apesar de algumas serem centenárias. Segundo Macedo eram modernas e progressistas. [2]
Chama atenção o fato de que todas estejam  situadas nas proximidades de rios navegáveis  e duas delas Rio Grande e Porto Alegre constituíam  passagem obrigatória dos imigrantes que começam a chegar em grande levas a partir de 1875. Quando os imigrantes começaram a chegar ao Rio Grande do Sul, a população da Província era de 440 mil habitantes, sendo composta por 360 mil homens  livres e 80 mil escravos.



COLÔNIAS EXISTENTES EM 1873

COLÔNIA
ÁREA: (EM  LÉGUAS
QUADRADAS)
POPULAÇÃO
Santa Cruz
18
4474
Santo Ângelo
4
1436
Nova Petrópolis
15
1420
Mont’Alverne
1 ½
389
Conde d’Eu
16
50
Dona Isabel
16
50
São Feliciano
3 ½
50
Total
64
7869
Fonte[3]


Havia ainda a colônia militar de Caseros, fundada em 1859. E havia 690 gentios localizados em Nonoai,   Passo Fundo e Cruz Alta. A representação nacional era de três  senadores,  seis deputados na assembléia federal e trinta deputados na Assembléia Provincial deputados. Os 566 eleitores estavam divididos entre dois distritos eleitorais que contavam com  39 671 eleitores votantes.[4]
A força pública era composta de 17 comandantes  e 5 batalhões Com 1833 guardas da guarda nacional, e ainda com   duas seções de batalhões infantaria e um de cavalaria e um corpo policial com 356 praças da ativa e 10 da reserva totalizando uma força  23 mil homens.
A instrução na província era composta na Primária pública por 156  aulas do sexo masculino com 4715 alunos e 90 do sexo feminino, com 2878 alunas. Já a instrução Secundária pública contava com três aulas 3 masculinas com 47 alunos 3 femininos com 97 alunas ,  destacando-se o Liceu riograndenses e Escola Normal
Pelotas  Praça Central  Fim do ´seculo XIX

A economia provincial  poderia se “igualar e quantidade e exceder em variedade as produções mais ricas do império; porque seu solo fertilíssimo se presta admiravelmente ao cultivo de todas as plantas m que a lavoura explora em outras províncias”[5]
A agricultura que é de pouca monta na campanha, ”floresce com os habitantes das serras pelo vivificante concurso da colonização. “  Cana de açúcar, cevada, centeio, batatas, algodão, cânhamo e fumo. Colhem-se  frutos indígenas  Mas o que o ocupa a  maior parte da população é a pecuária criação de gado em estancias e charqueadas. Havendo exportação de carne, couros e de derivados do gado etc.
A riqueza mineral abre novos e horizontes como o carvão explorado por companhia inglesa nos arroio  dos Ratos e outra da mesma nacionalidade em Candiota. Há outras minas de sulfato de cobre em Quaraí. Possui ainda fábricas de vinhos  tinto e branco nas colônias, diversos, de aguardente d e sabão, de rapé, de charutos, de tecidos e muitas outras. Na época estavam sendo contratadas várias estradas de ferros com companhia a do Rio Grande a Candiota, Santa Catarina, de Porto Alegre a Hamburger Berg. Contava ainda com vários bancos entre eles o  inglês e o  italiano.[6]
     Segundo Alfredo Varela [7]o inicio da indústria fabril rio-grandense deu-se 1794 com a charqueadas. Lança ele as bases para a eterna repetição de que a ferrugem teria liquidado com o trigo e a indústria da carne A ferrugem que a assaltou o s trigos e empobreceu as colheitas, coincidindo com a procura de carnes ao norte do Brasil,pela diminuição dos gados do Ceará ,deu lugar a que a iniciativa Riograndense   habilmente aproveitasse a conjuntura que nos salvava  de uma crise econômica, entregando-se todos com a maior fervor à fabricação de carne-seca. Multiplicaram-se as charqueadas, produzindo em vasta escala.

A exportação gaúcha em 1816 atingiu a 24 878.243 quilos ,crescimento que vinha crescendo desde 125551.080 quilos  No período   da Guerra dos Farrapos(1835-1845) houve uma redução nas exportações ,baixando em 1838 para 2 310 815 quilos, voltando aos níveis de 1816 apenas em 1850. A revolução Farroupilha atrasou a economia regional.  A exportação do charque volta subir com a proclamação da República, após um período de entrave econômico entre 1857 e 1864, quando foi liberada entrada no país do charque uruguaio e argentino, que tinham preços menores devido a melhor tecnologia e mão de obra livre(idem 464). Além do charque eram exportados, graxa, cabelos, chifres, couros, ossos e unha . E ,mais a partir de 1856, passaram a exportar  óleo de mocotó e azeite de égua ..[8]
 Segundo Lígia Gomes Carneiro:
 A única referência existente sobre a forma de funcionamento dos curtumes antes da chegada dos imigrantes alemães, diz respeito a um estabelecimento localizado na estância de José Egydio, Barão de Santo Amaro, nas proximidades de Porto Alegre. por volta de 1820, e o relato feito na época dava conta apenas de um técnico francês, o "Sr. Gavet, antigo curtidor em Paris", que seria o responsável pela instalação do curtume. Já na Revista do Archivo Publico, nº 8, de 1922, citavam-se "operários franceses", que trabalhavam sob a orientação do Sr. Gavet. O mais certo é que sob as ordens de operários especializados franceses, trabalhassem escravos de propriedade do dono do curtume. [9],

  Os couros foram exportados em número de 38 mil  nos anos de  1885-86, baixando para 11097 em  média nos anos seguintes ,com república passou-se a produzir lombilhos que entes eram  importados.(p.471) A partir de 1890 foi iniciada a industria da selaria ,com a fabricação de arreios e  de selins em 1892 começou sua exportação.(p.471) Outra industria que teve crescimento foi a dos calçados , três fábricas em Porto Alegre e uma em Pelotas. Da marca Ferry , de qualidade similar à européia. Há ainda os calçados  feitos sob medida em  pequenas oficinas (472)Havia 21 curtumes em Pelotas e seis  na capital, porém a ação de Silveira Martins taxando os produtos inviabilizou o empreendimento que só voltou acrescer com república(463)[10]
Havia um só fábrica de tecidos de algodão e de  aniagem  em Rio Grande em 1890.Em Porto Alegre alegra funcionava a fábrica  Fiação e Tecidos com modernas máquina e a Fabril Portalegrense ,que tecia meias e camisetas. A marcenaria antes inexistente a partir de 1890  a produzir móveis  finos com máquinas modernas além do sem número de pequenas  marcenarias .Havia duas de vidro uma em Porto Alegre e outra em Pelotas (474) .Contava ainda com   fábricas de banha de porco  exportando o produto para o restante do Brasil após 1884.,em 1890 foram exportados cerca de 2 milhões de quilos (p475).Outras fábricas existiam de chapéus de feltro de copa mole, já os de montar eram feitos em chapelarias  de “sela” chamados de cartola , são armados em chapelarias com telas vindas da Europa[11]
   O consumo de cerveja importada reduzia-se em função existência das nove  fábricas nacionais de  Porto Alegre como a Chistofel & Cia ,Becker & Cia e das oito de Pelotas como a de Carlos Ritter & Irmão. E “fabrica-se ainda esta bebida  com especialidade na região colonial” .(476) O vinho era fabricado em Jaguarão ,Bomjardim e colônias de Santa Maria, Pelotas e ilha dos Marinheiros. Em Porto Alegre há três fábricas de vinho artificial, cinco de água gasosa, além de uma de vinho natural, duas de artificial em Pelotas e três de Licores e gasosas.(476)[12]
Há laboratórios farmacêuticos em Rio Grande como a companhia Phamaceutica e Industrial e o laboratório homeopático Souza Soares de Pelotas, o mais popular do Brasil ,em porto Alegre o Leal & Daudt e o de Landell de Moura e o Pasqzier. Exportaram em 1885-1886 19 mil  vidros passando para 58 mil em 1889. O estado carecia de fábricas de queijos e de manteiga apesar do bom queijo serrano feito pelas senhoras [13](p.477)
Segundo  a mesma fonte  há ainda; as seguintes fábricas:
De gravatas; de beneficiar arroz; de bolachas e bolachinhas ,de fundir ferro e cobre; de cofres de ferro; de luvas(duas) e de camisas(duas); de escovas e vassouras(duas)de beneficiar erva mate, de manteiga, situadas em porto Alegre; de cartonagem em Porto Alegre e Rio Grande e Pelotas ; de barbatanas e botões Porto Alegre e Rio Grande;. de louça de barro uma em Porto Alegre outra em São Leopoldo e três em Pelotas; de malas, cinco na capital e cinco em Pelotas; de beneficiar fumos, duas na capital e cinco em Pelotas .de gelo duas em Porto Alegre  uma em Rio Grande.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL DO ESTADO 1895


Indústrias
Produto
Porto Alegre
Pelotas
Rio Grande
São Leopoldo
Vestuário
Gravatas
 1



camisas
1



tecidos
1



Espartilhos
3
3


malas
5
2


Chapéus de sol
5
1



Luvas
2



Pentes Barbatanas
botões
1

1

Alimentícia
Óleos
1
1


 Beneficiar arroz




Manteiga
1



cerveja




moinhos




Massas alimentícias
1
5


bolachas




Vinagre
1
1


Erva mate
2



manteiga

1



cartonagem
1
1


Uso
Móveis de vime
1
1


Louça de barro
1
3

1
fumo
2
5


Consumo
Sabonetes
2
1


De vassouras
2
3


 guano

1


charutos

1


cartonagens
1
1
1

gelo
2
1


Transporte
Gaiolas
1
1


seges

7


Metalúrgica
De cofres de ferro
1



Fundição de ferro
1



Total
40
48
2
1
Fonte VARELA, Alfredo.Riogrande do Sul .Descrição phisica, histórica e ecoômica.Vol I Pelotas e Porto Alegre: Livraria Universal ,1897 .p. 478



Não é de estranhar a importância econômica de Pelotas, pois já em m 1835, Wolfgang Harnish descrevia a cidade de Pelotas como um local de opulência extrema: "... já funcionam 35 charqueadas nos arredores da cidade E completa “Esses milionários pelotenses bem que poderiam ter vivido no Rio ou em Nice ou ainda em Paris, poderiam ter concorrido com os fidalgos russos no luxo e na dissipação de Monte Carlo".[14]



Durante a Revolução Farroupilha as importações exportações não foram interrompidas,ficando  uma média de 2 milhões de contos de réis nas exportações e 2 600 milhões nas importações, cifras superiores ao período da época da emancipação política que atingiu no período de 1816a 1818 foi de 18844 milhões  na exportação e 1028 milhões a importação.
Assim na época da revolução se importou mais do que nas épocas de paz.




Porto Alegre fimn do século XIX




[1]     MACEDO, Joaquim M. de. Corografia do Brasil. Rio de Janeiro ,1873p. 322
[2]     Idem p.316
[3]     Idem p.389
[4]     Idem p.317
[5]     idemp.14
[6]     Idem 316
[7]     VARELA, Alfredo.Riogrande do Sul .Descrição phisica, histórica e ecoômica.Vol I Pelotas e Porto Alegre: Livraria Universal ,1897 p.261
[8]     VARELA, Alfredo.Riogrande do Sul .Descrição phisica, histórica e ecoômica.Vol I Pelotas Porto Alegre: Livraria Universal ,1897 .p264 270
      [9]     PorLígia Gomes Carneiro, em "Trabalhando o couro - Do serigote ao calçado 'made in Brazil'" - Editora L&PM, 1986)
[10]   VARELA, p.261 Alfredo.Riogrande do Sul .Descrição phisica, histórica e ecoômica.Vol I Pelotas Proto Alegre: Livraria Universal ,1897 p.261
       
[11]   VARELA,p 274 
[12]   VARELA, 276 A

[13]  Idem  

[14]   http://www.riogrande.com.br/historia/temas_charqueadas.htm