quarta-feira, 29 de agosto de 2012


 FIM DA UNIÃO OPERÁRIA 

Local onde se refugiaram os grevistas tanoeiros de 1930.Relatório de Celeste Gobatto

Entre 1982 e 1984, a professora Heloisa Bergamaschi e eu desenvolvemos uma pesquisa  na Universidade de Caxias do Sul sobre o poder político regional .A pesquisa acabou se centralizando nas relações patrões e operários  e, portanto nas suas organizações sindicais.si
 Durante dois anos  falamos com os  principais lideres  da região  que haviam encabeçado os movimentos paredistas regionais( então raros ).Ainda hoje, passados tantos , Cada vez que eu passo na frente das casas dos entrevistados  lembro do dia em que com eles falamos e o que foi dito . Infelizmente a grande maioria já morreu. Em geral as pesquisas não deixam marcas tão profundas, mas,  aquelas deixaram
As entrevistas então eram feitas com gravadores com fita cassete.As gravações ,por causa das mudanças tecnológicas foram superadas,por outro lado, naquele tempo não se contava com bolsistas para o trabalho de degravação .Assim, as fitas foram ouvidas e seu conteúdo apenas sintetizado.Passado o tempo,  as fitas ficaram sem proveito e o rico material que continham se perdeu.Por outro lado então não se contava com as máquinas digitais de fotografia ,nem com os recursos hoje existentes para a reprodução de imagem e som. Assim sobra a memória , que nem sempre é fiel , as lembranças reproduzem de forma fiel as palavras  dos entrevistados.
Conseguimos entrevistar dois dos antigos tanoeiros uma deles era  Ernesto Gobato.Ele morava numa confortável residência na Avenida Itália .Já entrado em anos ,tendo mais de oitenta deu um comovido depoimento sobre a União Operária dos Tanoeiros  Quando jovem ,começou como aprendiz,  logo aprendeu a profissão de tanoeiro,foi então que entrou  para a União.Mais tarde abriu apropria tanoaria e se tornou patrão. Mas ao recordar os tempos de União lembrou-se de detalhes que nãoconstam das atas daquele sindicato. Ao lembrar se daqueles tempos da greve falou da amizade que unia o grupo, todos vivendo o  ideal de “sem pátria  e de patrão” dos anarquistas Lembrou  se da ajuda  mútua que entre eles existia  e da beleza que era viver com tais companheiros sob tais princípios.Sob a face do velho industrial apareceram em seus olhos lágrimas de saudade  e de dentro dele surgiu  o jovem tanoeiro  que fizera a sua primeira greve . Disse nos ele “Ai nesse parque disse ele nós nos refugiamos da polícia, que veio da capital para nos atacar.” Contou também que o Parque inaugurado por ocasião do cinquentenário da chegada dos imigrantes italianos na região era o fim da cidade, lugar sem luz e deserto ,pois, era o fim da cidade , atrás dele havia só havia mata e  perau.


Cada vez que eu passo pela Avenida Itália me lembro das palavras de Gobato :”então sim seguíamos os ensinamentos de Cristo..Éramos verdadeiros cristãos e acreditávamos realmente  e vivíamos a igualdade “ Incrível como Cristo serviu a muitos propósitos e  a muitas bandeiras.
Outro entrevistado foi Evangelista Pires,ele fizera parte da União tendo ocupado o cargo de presidente. Depois do fim da União ele ingressou em outro ramo de atividade passando para os metalúrgicos,onde se aposentou .Evangelista não teve a mesma experiência que Gobatto  em relação à União .e era ligado aos patrões  Contou-nos como do medo que  sentiu na noite da greve escondido da Brigada no Parque Cinquentenário.
O Parque Cinquentenário em 1925 marcava o fim da cidade no lado Oeste,Foi construído pelo Intendente Dr. Celeste Gobatto ,para marcar as comemorações dos cinquenta anos da chegada dos imigrantes italianos em Caxias. Foi inclusive construído um monumento para marcar a efeméride.
           
Em cada cantina dos  trinta havia  a obra dos tanoeiros Foto àlbum

            No dia 15 de julho de 1931 a situação era grave, os tanoeiros não podiam pagar o aluguel da casa na qual estava sua sede. Um camarada que estava com as mensalidades atrasadas propõe-se a paga-las e justifica o não pagamento afirmando que “não pagou suas mensalidades, por motivo de uns dizerem que  a associação viria abaixo, e também por ver uns pagar e outros não”
Em  1932,foi comemorada  na União,  o segundo aniversário da greve de 1930.A entidade já  havia sido modificada internamente, devido  a pressões externas. A comemoração contou com a presença de autoridades civis e militares.
            No dia primeiro de maio  o Prefeito Coronel Miguel Muratore quem  presidiu os trabalhos comemorativos. A paz, a ordem e harmonia com as autoridades foram  destacados pelos oradores tanoeiros. Manoel da Rocha Moreira afirmou: “que dentro desta sociedade nunca se pregou num se pregará ideias que arrastem a desgraça aos nossos lares, como estava sendo afixado nos ouvidos das autoridades”. Estas declarações demonstram o temor que os tanoeiros sentiam, obrigados que foram  a ceder seus ideais  ao poder constituído.Nesse mês mês ,foi empossada a nova diretoria  que ficou  composta por:
Presidente: Manoel da Rocha Moreira
Secretário: Eugenio Boff
Tesoureiro: Frederico Tonietto
             No mês de agosto do mesmo ano,  foi  formada uma comissão para tratar com o representante do Ministério do Trabalho. O código do trabalho foi discutido em  Assembleia Os tanoeiros deveriam adequar-se as novas normas do sindicalismo oficial Em setembro de 1932  tentam uma nova paralisação, mas  a   Intendência  interfere e a questão de preços deixa de ser resolvida .
 Em 8 de janeiro de 1933 a União se reúne, nesta data para eleger a  nova diretoria, cujo presidente é Eugenio Boff, secretário Adelino Mano e tesoureiro Alfredo Milani.
            O trabalho da organização do sindicato foi a principal  ação da nova diretoria, que passa a fazer uma campanha para que os associados da União se vinculem  ao novo organismo. No mês de fevereiro os tanoeiros votam favoravelmente ao ingresso no sindicato. (ata nº. 48). Os tanoeiros aplaudem a um companheiro que “mostrou que estamos bastante atrasados e com isto, achava que acarretava prejuízos à classe”
Pipas de todo o tamanho eram obras dos artífices.Foto Álbum

            O primeiro de maio de 1933 já comemorado no Teatro Central, com os demais sindicatos, sendo  nomeado um orador oficial para  a ocasião, este foi  o advogado do sindicato, Dr. Paulo Rache.  Neste mesmo  mês ficou decidida nova mudança de sede que  será a mesma dos demais sindicatos, União Sindicalista. A nova sede estava situada  na rua Pinheiro Machado 1756. No mês de outubro as mensalidades  foram reduzidas de três mil réis para um mil réis, pois, os associados tinham de contribuir para três associações: a União dos Tanoeiros, a Cooperativa da União Sindical e para o Sindicato.
            No ano de 1934 a União não  reúne sua  Assembléia Geral. Só no dia 14 de agosto de 1935 foi  convocada  a eleição de diretoria, sendo a presidência assumida por Gildo Luciano, a secretaria por Marcelino Stalivieri e a tesouraria por Alberto Nichele .No ano de 1936 só ocorre uma reunião no dia 30 de julho e nesta assembleia é decidido que os associados não mais pagariam as mensalidades para a União, a transcrição desta ata é essencial.
Abertos os trabalhos, pelo sr. Presidente, este com a palavra, declarou que convocou  presente reunião, atendendo ao pedido de muitos associados, em vista, de existir agora um sindicato dos operários tanoeiros, já devidamente oficializado e com os seus estatutos registrados no Departamento Nacional do Trabalho, no Rio de Janeiro, tendo portanto plenos e amplos poderes de pessoa jurídica e assim perfeitamente apto para defender os direitos e interesses de seus associados perante a legislação vigente. Considerando que todos os sócios da União dos Tanoeiros são simultaneamente sócios do Sindicato. Considerando que a União dos Tanoeiros, já não tem mais maior utilidade, por não ter faculdade de fazer defesa das questões enquadradas nas leis sociais, que passou a ser exclusividade do Sindicato, considerando mais que foi fundado o consórcio profissional-cooperativa e neste todos os associados  da União e do Sindicato terem ingressado neste Consórcio”.

            A mensalidade da União foi  transferida para o consórcio, mas a União não deverá ser extinta “em vista de ela possuir um patrimônio” (ata nr. 54). A última ata da União data de 8 de janeiro de 1937, a Assembléia foi convocada para decidir sobre a manutenção ou retirada de um empréstimo de um conto de réis, com juros anuais de 6%, à União Sindicalista, “destinado este dinheiro para a compra da sede desta entidade, ficando assim sendo esta a sede comum de todos os sindicatos filiados à União Sindicalista .Até os hoje parte dos antigos sindicatos reunidos ainda   lá se encontram.
           

quarta-feira, 22 de agosto de 2012


A Greve da União Operária


O Duri trabalho dos tanoeiros .1930

Logo tem inicio as primeiras vitórias da União já se fazem sentir. Conseguem um horário de co de 9 horas de trabalho diário.Os patrões se comprometeram a pagar , o trabalho de rebater os barris, que antes era realizado de forma gratuita pelos tanoeiros. No mês de julho a União passa a atuar em Bento Gonçalves, entregando às cadernetas e  atendendo as primeiras reivindicações dos tanoeiros daquela cidade.
            Os tanoeiros, ao menos um grupo deles, tinham consciência de classe, a declaração feita por Vigílio Frizzo, na reunião do dia 5 de julho revela que  devem aderir  “ à União, pois sem ela nada fazemos, aconselhando entretanto a agirmos com calma e perseverança, e no dia, quando formos conscientes da força que dispomos, será do dia de nossas mais belas aspirações e aí podemos impor a burguesia a nossa vontade.”
As atas revelam que a situação dos tanoeiros não era nada segura. Empresas como Oliva, Gavioli e  Sassi e Cia não pagavam o preço exigido por unidade de barril  fabricada. A empresa de Domingos Rezende obrigava os tanoeiros a pagarem a luz que era consumida durante o trabalho Os patrões procuravam diminuir os salários dos empregados para“concorrer uns com os outros usurpando-nos o nosso suor “, como declara o camarada José Rodrigues Vinhas.
Praça de Caxias em festa .Ano de 1933. época da maior efervescência do movimento dos  tanpeiros. 
            No mês de agosto a União já possuía representantes em Bento Gonçalves, Carlos Barbosa e Nova Vicenza (Farroupilha). Representantes destas regiões passam a comparecer às reuniões da União. Problemas ligados ao pagamento dos salários levam o presidente da União para Bento Gonçalves. Naquele município os patrões recusavam o pagamento pela tarefa de “bater os arcos”, que constitui a fase final da construção dos barris.

            A situação, apesar da ação da União, se agrava. Demissões sem causa ou por  motivos irrelevantes (como a queima acidental de uma aduela), o não cumprimento das exigências da União quanto ao preço mínimo  a ser pago por barril , o desconto de 200 réis no feitio dos barris, levou o grupo a entrar em greve.
            A primeira greve, registrada na Região Colonial Italiana eclodiu em 5 de novembro de 1930, numa terça-feira.  Quando no Brasil ocorria a consolidação da Revolução de 30.
            Alguns testemunhos .dão conta que  teriam ocorrido movimentos grevistas nos anos de 1928 e 1929, dos quais não foram encontrados registros. Segundo as mesmas fintes para conter o movimento vieram tropas da Brigada Militar, que chegaram a esta cidade por via ferroviária, provenientes de Porto Alegre. Estas greves  também teriam sido foram promovidas pelos tanoeiros.
            A Assembleia reunida nesta data  se declarou  permanente, ficando reunida enquanto durasse o movimento. Para conduzir o movimento paredista foi  designada uma diretoria provisória composta pelos camaradas:
Presidente: Alfredo dos Santos Neves
2º Presidente: Manoel Marques Cardão
Secretário: Noé Alves Oliveira
2º Secretário: Jacob Longhi
Tesoureiro: Manoel Guedes Rezende
2º Tesoureiro: Alfredo Milani
            Não constam das atas os motivos da escolha de uma diretoria,mas,   é possível que a anterior não tivesse  aceito o movimento grevista.
            Os grevistas utilizavam a Intendência Municipal como mediadora da questão. Para ela dirigem-se as comissões que portam as tabelas de preços exigidas pelos grevistas. As mesmas comissões dirigem-se aos industriais da tanoaria levando as mesmas tabelas.
            Segundo os registros os grevistas foram bem recebidos tanto pela Intendência como pelos industriais.
            Uma comissão encarregou-se de impedir que os companheiros trabalhassem. É interessante observar que os industriais, a pedido da comissão grevista, impediram que os tanoeiros, que não aderiram a greve, entrassem em suas oficinas.
            Nesta reunião permanente usou da palavra o camarada Manoel da Rocha Moreira que afirmou que “para podermos vencer o mais breve possível e que nossa causa é por poucos dias  sendo meus companheiros leais e fiéis como um só. Estar preparado para quando for necessário (...) para defender a santa causa e justa dos trabalhadores.
            Com a greve o número de associados aumentou, em dois dias, entraram para a União seis novos sócios.
            As conversações intermediadas pelo Intendente Coronel Miguel Muratore continuavam. Os trabalhadores conseguiram que os industriais aceitassem o horário de oito horas diárias para a jornada de trabalho. Não satisfeitos os tanoeiros aumentavam suas exigências.
            No dia 10 de novembro de 1930 os tanoeiros resolveram retornar ao trabalho, na segunda-feira seguinte, dia 17, diante da aceitação dos patrões das condições impostas pelos trabalhadores ficou decidido que as novas exigências deveriam ser no mês de janeiro de 1931.
            Ficou acertado na assembleia do dia 28 de novembro que nenhum tanoeiro poderia trabalhar sem estar de posse da caderneta da associação, salvo aquelas que viessem de outros estados ou da Europa .
            No dia 13 de dezembro de 1930 foram aprovados os estatutos da União (16). No dia 29 de dezembro de 1930 foi eleita uma nova diretoria,  sendo presidente Casimiro Dal Piva, que renuncia no dia 15 de janeiro de 1931.  A comissão designada pela Assembléia vai a intendência para negociar com os patrões, conseguindo  “aumento na obra velha e na raspagem da obra nova não sendo possível aumentar o feitio da mesma”.
             A renúncia de Dal Piva se dá no mesmo dia em que tem início o novo movimento de reivindicação. Foram designados provisoriamente Joaquim Mano para a presidência e Manoel Guedes para secretário, estes também não desejam permanecer no cargo, deixando-os no dia 7 de março.
            No dia 11 de março o impasse foi resolvido, como nenhum dos associados desejasse assumir a presidência, o camarada Vinhas nomeou Ricardo Colísse para ocupar este cargo, a assembleia aprovou a indicação.
            A situação financeira da União não era das melhores. Os problemas internos da instituição passaram a merecer mais atenção do que as relações entre os operários tanoeiros e patrões.
            No dia 15 de julho de 1931 a situação era grave, os tanoeiros não podiam pagar o aluguel da casa na qual estava sua sede. Um camarada que estava com as mensalidades atrasadas  e justifica o não pagamento afirmando que “não pagou suas mensalidades, por motivo de uns dizerem que  a associação viria abaixo, e também por ver uns pagar e outros não”
            A comissão designada para a cobrança de mensalidades em atraso não obtém o desejado, por este motivo é decidido em Assembleia que os operários serão perdoados dos débitos passados, sendo então as mensalidades pagas de julho em diante.No mês de agosto é realizada a mudança para novo endereço, a sede passa a funcionar em São Pelegrino.Nos meses subsequentes não ocorrem reuniões, a seguinte será realizada em 7 de novembro para comemorar o primeiro aniversário da greve.
Reclamações contra o preço de raspagem de quartos e bordalezas, levam a associação a intervir na questão junto a firma Oliva, Gavioli & Cia.
            O movimento iniciado em novembro de 1931 não teve o mesmo êxito do ano anterior. As reuniões  que congregavam mais de sessenta associados agregam apenas os membros da diretoria.
            .

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


PARA UMA HISTÓRIA DO PROLETARIADO CAXIENSE: A UNIÃO OPERÁRIA



Sociedade Operarias de Garibaldi Foto de 1925.

Os movimentos associacionistas eram comuns entre os imigrantes italianos. Típicas da região são as Caixas de Socorro Mútuo ou uniões operárias. Tais organizações visavam a proteção dos associados e levavam no título sua origem operaria. Mais antigas que os círculos operários as uniões parecem ter relação com as organizações anarquistas.
A primeira organização operaria chamada Vittorio Emanuel II, data de 1877, foi criada em Porto Alegre Outras organizações surgiram na capital a Princesa  Elena (1890)  e  a Giuseppe Mazzini . Algumas das associações não são de operários,como   a  Principi de Napoli de Caxias(1887) que era a maior do estado contando em 1925 com quatrocentos  associados .Havia  ainda outras como  a Conde d’Eu(1883) e a Stella d’Italia(1882) em Garibaldi ,a Regina Margheritta (1882)  e a Umberto I (1908) em Bento Gonçalves;   Sociedade Principe de Piemonte (1893) em Alfredo Chaves; a Giuseppe Garibaldi(1896) e a Cristoforo Colombo( 1910) em Nova Trento.
O fato de existirem duas sociedades numa mesma localidade sugere uma diferença de orientação ideológica entre elas, o que fica evidente pelos nomes adotados. As que que levam nomes da família real italiana é possível que sejam conservadores enquanto as que levam nomes como Giuseppe Garibaldi não sejam.
De qualquer forma  faltam  pesquisas sobre o assunto, o que é uma boa sugestão para os futuros historiadores. Cabe ressaltar que sobre os temas operários,  excluídos ou marginais, o interesse é pequeno. A academia de um modo geral não se interessa pelos pobres, eles não dão visibilidade nem verbas. A pobreza e sua organização são menosprezadas. Estranhas são as coisas de um  Brasil que se julga pensante e esquece a participação da maioria esquecida  da população .

Não há como negar que muitos dos imigrantes eram pobres e que parte deles tinham ideias sociais. De uma forma geral o movimento classista dos tanoeiros retoma a luta operária na região colonial. O estudo desta organização  constitui  a síntese da trajetória do movimento sindical brasileiro, que tem início com os sindicatos livre,que são absorvidos pelo sindicatos institucionalizados.
Sociedade Conde'Eu Garibaldi.Junto as sociedades operárias funcionavam uma   Escola Italiana.(foto de 1904)
            O crescimento da indústria vinícola, que em 1926 atingira 10% do total da produção gaúcha que determinou o aumento da produção de barris, indispensável para a produção, estocagem e transporte do vinho.
 A tanoaria, inicialmente, era parte da indústria de vinhos. Nas cantinas foram instaladas oficinas de onde eram fabricados os barris  indispensáveis para o fabrico do vinho. A fabricação de barris não exigia equipamentos técnicos sofisticados, mas necessitava de técnicos com especialização.A tanoaria  era então  uma industria essencial...

A classe dos tanoeiros era grande e na medida em que aumentava a produção de vinho aumentava a categoria. Assim no dia 15 de junho de 1930, quatro meses antes da eclosão da revolução de 1930, reúnem-se 68 operários tanoeiros e fundam a União dos Operários Tanoeiros de Caxias.  
            A profissão  de tanoeiro era antiga e alguns dos imigrantes italianos tinham essa profissão.. O registro de dois aparece nos Mapas Estatísticos da Colônia Caxias, um deles possuía sua própria oficina na Itália 
            É interessante observar que pelo lançamento de impostos de indústrias e profissões de 1899  não há qualquer registro de tanoarias,o que revela sua  associação com  a indústria vinícola.
            O desenvolvimento da indústria vinícola exigia maior número de tanoeiros. A mão de obra especializada era insuficiente para suprir as necessidades de mercado vinícola. Esta carência foi suprida com a importação de mão de obra europeia.
            A análise do registro dos associados do sindicato dos tanoeiros, de 1937, revela que entre eles havia italianos e portugueses. Como nãoos operários não  estavam naturalizados na época, que maior parte destes participou do movimento operário da década de trinta, é possível deduzir  que tenham chegado ao Brasil durante a década anterior.
            Neste período em Portugal estava em curso à contra revolução portuguesa que levou à ditadura Salazarista. As ideias expressas nas atas da União dos Tanoeiros revela um claro posicionamento socialista. É possível que a necessidade de mão de obra na indústria da tanoaria  na região colônia, tenha correspondido a necessidade do grupo de deixar Portugal.
            O grupo deve ter se organizado no período de sua chegada à região, pois, a reunião de 15 de julho de 1930, realizada na Rua Marques do Erval, nº 672,onde funcionou a primeira sede da entidade - tinha como finalidade o reerguimento da  União dos Tanoeiros. Da organização  sindical anterior há   breve notícia sobre a  greve de 1917. Não foram encontrado registros das atas  anteriores.
            Após a reunião  de 15 de julho a União passou a atuar de forma  constante . No dia 29 do mesmo mês a assembleia geral deliberou que nenhum camarada (este é o termo utilizado para designar o associado) poderia trabalhar sem  a possuir a  caderneta fornecida pela associação.
            Nesta mesma assembleia ficou decidido que a bandeira da União seria branca e vermelha. Esta proposta foi feita por José Rodrigues Vinhas. Ele alertou os tanoeiros a serem unidos, e, guardar sigilo  sobre assuntos tratados nas sessões , especialmente dos patrões. Informou que “agissem dessa maneira os patrões ficarão ao corrente de todos os  interesses de nossa classe”. Por outro lado os  associados deveriam  encaminhar suas  queixas e reivindicações à União que defenderia os seus  interesses. Foi estipulada  uma mensalidade ( valor  montante não está  nas atas). As mensalidades seriam cobradas por uma comissão designada pela Assembleia.
            A primeira diretoria ficou  assim constituída.
Presidente: Manoel da Rocha Moreira
Vice-presidente: Virgílio Frizzo
1º Secretário: Manoel Gonçalves Monteiro
2º Secretário: Sylvestre Cassini,
1º Tesoureiro: Angelo Fazolli
Conselho Fiscal: Manoel Marques Cardão, Gildo Luciano, Joaquim Ferreira Ramos, Euclydes Pasini, João Dalla Rosa, Manoel Marques.
Observa-se que da diretoria faziam parte tanto tanoeiros de origem lusa(54%) quanto de origem italiana.45%).
Os heróicos tanoeiros posam para a posteridade .Foto de 1925

            Foi designada também uma comissão para tratar com os chefes das tanoarias. Tinha como finalidade exigir o cumprimento das determinações da associação (ata n . 3). O presidente concitou os camaradas para “que permanecessem unidos e não trabalhassem mais do que nove horas diárias. A grande bandeira dos operários era então a jornada de 8 horas diárias,que já tinha sido conquistada pelos trabalhadores de outros países. A1ª grande  do Brasil de 1907 tinha como bandeira a jornada de 8 horas m 1907,fora liderada pelos gráficos, pedreiros, chapeleiros, carvoeiros e sapateiros.
Em Caxias , com os tanoeiros eram dados os primeiros passos para da luta operária local.

 As enormes pipas era um dos mais difíceis trabalhos dos tanoeiros( foto de 1925)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


            PARA UMA HISTÓRIA DO PROLETARIADO CAXIENSE:
OS PRIMEIROS TEMPOS
Trabalhadores da estrada de rodagem 1906



Não é possível escrever a história dos operários de Caxias sem que se conheça a história nacional e internacional do movimento. O sindicalismo brasileiro teve duas matrizes:os tipógrafos e os ferroviários.As duas categorias dispunham de meios que as outras não possuíam ou seja a facilidade na comunicação e a possibilidade de deslocamentos indispensáveis para o movimento da classe, separada entre si por imensas distâncias.
O fim da  escravidão  no Brasil   data de 13 de maio de 1888. Já havia então no mundo do trabalho, especialmente na Inglaterra movimentos classistas que visavam estabelecer um legislação clara entre o capital.Mas no Brasil foi a partir da República ( 1889 que os trabalhadores começaram a se organizar no Brasil .Ainda assim antes disso havia alguma organização dos operários, que se acelerou com o ingresso da mão de obra  livre europeia no final do século XIX.
            Até esta data predominava  o trabalho escravo mas, já a partir da extinção do tráfico ,em 1850,   ideias que estavam em voga na Europa começam a ser introduzidas  t pelos trabalhadores livres. .Mas até 1888 era pequeno o número de operários assalariados, até as empresas siderúrgicas como as de Mauá tinham operários escravos.  A vinda de trabalhadores livres europeus aumentou o número de assalariados. As colônias povoadas por imigrantes italianos constituíram no dizer de Petrone “um viveiro de braços” para o trabalho  assalariado.
As manufaturas necessitavam de grande número de operários. Os lucros da cafeicultura em São Paulo e o comércio no Sul Sudeste deram  origem ao capital necessário para a industrialização brasileira desestimulada no período imperial(1822-1889) Com o capital nacional resultou em processo social do qual surgem as primeiras associações de trabalhadores e as primeiras lutas operárias no Brasil, e um novo mundo que se abre para os  trabalhadores assalariados, com as fábricas, os aglomerados urbanos e pela primeira vez  mercado consumidor interno.
          Marco da história sindical brasileira o I Congresso Operário Brasileiro, que foi realizado de  15 a 20 de abril de 1906, no Rio de Janeiro.Contou com  o com 43 delegados representando  das 28 organizações operárias. então existentes no Brasil. O Congresso propõe a formação de uma organização sindical nacional, a Confederação Operária Brasileira (COB).Já estão presentes as  duas correntes ideológicas que marcaram o sindicalismo brasileiro : os socialistas e os anarco-sindicalistas.
            Os anarco-sindicalistas propunham o sindicato seria a forma social ideal de organização que deveria a substituir o Estado. As greves e a violência contra os patrões eram por eles consideradas válidas para enfraquecer o capitalismo. Sem pátria e sem patrão  era seu lema ,já que viam  no Estado a causa dos males da sociedade. Já a outra corrente, os socialistas buscavam uma transformação gradativa para uma sociedade mais justa através da luta parlamentar através da participação política, com a manutenção do Estado de direito que deveria mudar para atender suas reivindicações dos trabalhadores.
            Em novembro de 1912 realizou-se  no Rio de Janeiro, no Palácio  Monroe, o IV Congresso Operário Brasileiro assim chamado.O Congresso não foi reconhecido pela COB,tendo sido organizado  pelo Deputado Mario Hermes da Fonseca( filho do Presidente Hermes da Fonseca). Estavam presentes 187 delegados representando sindicatos como o dos ferroviários e dos marítimos,tendo sido fundado  então o partido político operário: A criação da  confederação Brasileira do Trabalho. Sindicatos garantia a subordinação dos operários ao governo,  fase conhecida “reformismo amarelo” ou “sindicatos pelegos”.
            No período de 1917 a 1920 ocorreram as greves nos centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Porto Alegre, Salvador.Estas greves tiveram a adesão de milhares de trabalhadores que reivindicavam melhores salários, liberdade aos grevistas presos, direito de associação e dos trabalhadores, a garantia de emprego ao trabalhador grevista, trabalho de oito horas diárias,  e proteção ao menor e a mulher.
Em Caxias os primeiros trabalhos conseguidos pelos imigrantes foi na abertura de estradas.Tal trabalho assalariado era pago por jornada.Outro trabalho conseguido fora das atividades da propriedade era o trabalho na abertura da estrada de ferro.Trabalhos sem direitos .Sem direitos eram também os trabalhos prestados à Intendência municipal na abertura de ruas e na construçãod eobras de drenagem ou de barragems.

Obras da  barragem hidráulica de Caxias 1910 . Foto Mancuso.  AHMJSACX

Em Caxias em 1917 ocorre uma greve cujo registro está nos jornais de então, mas as informações são poucas. Os jornais do começo do século XX eram mais opinativos que informativos. Por eles se poderia saber que para o articulista a greve era algo mau  que se entendia sobre a sobre Caxias. Assim não é possível conhecer as empresas e os empregados envolvidos no movimento paredista ,apenas que este existiu.
Uma das primeiras indústrias têxteis da região foi criada por trabalhadores grevistas , expulsos da fábrica do Lanifício Rossi de Schio (Vicenza Itália) .Os operários em 1894 . se reuniram e criada como empresa cooperativista funcionou dessa forma  1904 quando foi comprada por Ercole Galló que a transformou em empresa de Capital privado. Em 1901 os comerciantes locais  se organizam em Associação adiantando-se aos operários.
            Como desde o início de seu povoamento  a região era constituída, por pequenos  produtores agrícolas é natural que a organização classista tenha iniciado entre eles .A primeira organização  O movimento cooperativista iniciado por Paternó (1914-1916), que tentou congregar os produtores vinícolas da zona rural, pressionados pelos grupos urbanos e autoridades locais, não teve êxito.
            O mais antigo documento escrito, sobre o movimento operário em Caxias , é o da União dos Operários Tanoeiros, que  existiu entre 1930 e 1937. Como não há registros anteriores, sobre outros movimentos operários, a União pode ser primeira organização classista da região colonial. É possível que existam outras mas que ainda que não foram, encontrados.