quarta-feira, 28 de março de 2012

MAÇONARIA :UMA NOVA ORDEM

               Há em relação à Maçonaria há  fatos que mereceriam estudos aprofundados  um das quais é a inexistência de lojas nos Campos de Cima da Serra. Na verdade  a primeira só parece ter sido fundada no século XXI. Isso constitui um enigma já que muitos dos irmãos de Caxias eram fazendeiros daquela região.
Alguns dos nomes que constam das Lojas regionais ocuparam cargos importantes na administração regional, e estão  listados nas tabelas abaixo.

DIRIGENTES DA   LOJA FORÇA E FRATERNIDADE CAXIAS 1888-1902
Nome
Profissão
Francisco J. Salerno
Dentista?delegado
Alexandre Canalli
Empresário
Ângelo Chitolina
Empresário
Antonio Pieruccini
Empresário
Cristiano  Horn
Fazendeiro
Felice Gavioli
Agricultor
João Muratori
Funcionário público
José Domingues de Almeida
Funcionário publico

          Salerno foi delegado na região e líder das revoltas que abalaram Caxias quando da instalação do município.em 1890.José Domingues de Almeida foi secretário do município durante muitos anos .Ângelo Chitolina era empresário e membro da primeira  da Junta Governativa, da qual o líder católico Nicolau Sartori também fazia  parte.  Fazia parte da política de Júlio de Castilhos unir dirigentes de cores políticas diversas nos novos municípios Nada como dividir para reinar.. 
Em relação a Bento Gonçalves digno de nota é o fato que a grande maioria dos dirigentes  maçons eram de origem lusa,ao contrário de Caixas onde a maioria era italianos. 
Mas nos dois municípios  os maçons eram liberais ao contrário da maioria da  conservadora população .O domínio da Igreja prevaleceu nos primeiros anos da República!O que levou (ao menos aparentemente)  ao adormecimento das lojas. As fontes sobre o tema  não são conhecidas. Mas, podem existir!



DIRIGENTES DA LOJA CONCORDIA
BENTO GONÇALVES 1891-1894
João Pereira Leite
Alfredo Lima Bento
Domingos Mincarone
Antenore  Zanoni
Ataliba Emilio Inácio Rossler
Antonio Gomes Ferreira filho
Antonio Joaquim Marques de Carvalho Jr
Artur Job
Augusto Goellern
Aureliano Jaime Ferreira Bastos
João Carlos Rodrigues da Silva
João Mariano Pimentel Sobrinho
João Marques da Silva Pinto



O renascimento da Maçonaria na região foi difícil.  Em 12 de novembro de 1931, foi fundada a Loja Fraternidade Terceira pelos irmãos Custet. Os irmãos Custet mereceriam estudos históricos, pois deles não restou nem lembranças.
 Nesta nova fase, poucos são os irmãos de nomes italianos. O pequeno número de italianos nas lojas  pode estar ligado à posição antimaçônica de Mussolini.,que gozava da simpatia de grande parte da população. O movimento fascista regional foi forte e envolveu praticamente toda a burguesia. Os conflitos não se dão   mais entre maçons e católico, dessa vez é entre fascistas e nacionalistas. A reação dos brasileiros contra o fascismo na região foi organizada pelas  Ligas de Defesa Nacional.Foram  criados nos Centros Cívicos,que constituíram-se  numa forma de  resistência nacional. Foi um momento confuso da vida nacional no qual o nacionalismo era a bandeira dos integralistas, dos comunistas e até dos fascistas, inimigos políticos  portavam o mesmo ideário nacionalista.Nesse impasse  foi importante foi o papel dos maçons tanto nas Ligas como na organização política regional,como sempre estavam adiante de seu tempo.
Com o fim da Guerra a Maçonaria se expande na região . Em 1945, surgiu   a loja Marechal Deodoro 31,  sob os auspícios das lojas simbólicas, nela se reuniu a elite intelectual local. De seus quadros nasceram vários líderes políticos importantes.Foram  mais discretos em sua atuação que os do final do século XIX, e  mais efetivos em suas ações.A irmandade havia passado por uma fase de perseguição e de contra-propaganda durante o Estado Novo. Vargas como seu colega italiano não apreciava outras irmandades senão aquelas  que seguiam a sua politica .

Uma das figuras importantes dessa fase do  movimento foi  Joaquim Pedro Lisboa, nascido em Rio Pardo(1887)  e que se fixou em Caxias após 1910. Funcionário Público exerceu várias atividades, sendo o idealizador das Festas da Uva. Entre suas outras realizações com Luiz Napolitano e Arnaldo Balvé em 27 de abril de 1946, a criação da rádio Caxias, a primeira da região.A ação da Maçonaria em sua nova fase estava apenas começando.


As fotos são de Adami ,na História de Caxias do Sul  e do Ábum do Cinquentenario da Imigração Italiana no RS de 1925.



quarta-feira, 21 de março de 2012

MAÇONARIA X IGREJA :LUTA PELA HEGEMONIA(2)

Padre Nosadini e e os jovens alunos  da Escola Paroquial de Caxias  .Ca. 1898
IN: Adami

O padre Pedro Nosadini foi  pároco de Caxias de 1896 a 1898.Ele  organizou os Comitês Católicos, associação religiosa  com fins políticos ,que tinha por objetivo  unir os imigrantes italianos católicos. O pároco pouco conhecia da conturbada cena política brasileira pós-proclamação da República, marcada por revoltas internas como a  da Armada (1891),ocorrida no Rio de Janeiroa  Revolução Federalista(1893-1895)no Rio Grande do Sul  e a de Canudos (1896-1898) na Bahia.. As revoltas eram resultado da cisão nacional ocasionada pela adesão à  República que não contava com a simpatia   popular. A monarquia continuava sendo o regime político  preferido por grande parte da população brasileira.
Por outro lado na Itália por ocasião da Unificação  a Maçonaria representada por Garibaldi tinha se voltado contra  a Igreja na figura do Papa Pio IX  e na invasão dos Estados Pontifícios Os imigrantes em sua maioria eram católicos e   industriados pelos párocos voltavam-se contra a Maçonaria como organização satânica divulgadora do mal .A visão distorcida  sobre a Ordem tornou-se lugar comum entre os católicos. Mais tarde (após 1917) foi escolhido um novo demônio: A Rússia e o comunismo.
As revoltas internas constituíam um fato novo no Brasil que só tiveram  precedentes no período regencial. Desta forma os ânimos estavam exaltados  e a ação do Pároco tinha tudo para dar errado.Mas nem tudo que ele fez foi errado; conseguiu  unir os católicos , criou uma escola e um jornal
 A Casa Canônica  situada à esquerda da Igreja ,
lugar onde se deu a expulsão do Padre Nosadini , em 1898.IN: Brandalise
    O padre Nosadini defensor ferrenho do Papa , de certa forma pôs fogo nas relações entre maçonaria e igreja na  colônia italiana gaúcha .Em oito de abril de 1897 foi denunciada pelo Intendente  Campos Júnior  ‘uma sedição’ de colonos que seria ‘capitaneada por um certo Antônio Michelon’  O Intendente  afirmava  que os membros dos Comitês Católicos  eram    fanáticos,  promovendo desordens contra os irmãos.Para ele era quem difamava   a ‘nossa nobre instituição’  como  um’ garoto, um cafajeste e  um vil de batina.’
Ainda assim a  direção da Loja pedia calma aos associados . O venerável deu-se conta que quanto mais o padre falava  contra a Ordem  ‘mais profanos tem aparecido para iniciar-se.’ A luta do padre contra a irmandade rendia  à ela novos membros..
Uma reunião festiva dos comitês foi  realizada em 14 de outubro de 1897 reuniu mais de 800 pessoas na Praça  central de Caxias .Marcou o encontro uma série de palestras  sobre educação comitês e associações.  O movimento católico ganhava força  e passou a ser temido .No dia seguinte circulou  o segundo   número do primeiro jornal regional O Caxiense, ligado a maçonaria e ao  Partido Republicano Riograndense. Nele aparece o telegrama do Marquês de Rudini alertando os intendentes do caráter anarquista e de propaganda papista dos comitês
Com ataques de ambos os lados os antigos núcleos coloniais viviam clima de guerra. Ora uma manifestação maçônica era boicotada, ora uma solenidade católica era dispersa. Poucos períodos foram mais atribulados para a pobre população de imigrantes.
Em 7 de fevereiro de 1898, Nosadini  foi retirado à força da Casa Canônica e  expulso da cidade, por um grupo de 22 pessoas , supostamente maçons e “acompanhados por 24 soldados , que teriam disparado” uns 400 tiros” e após “lhe puseram um cabresto na cabeça como se fosse um animal”. A maçonaria negou o envolvimento no episódio,  pois apenas dois dos envolvidos eram  maçons.
    No mês de junho o Padre voltou “do exílio imposto pelos maçons caxienses e reconduzido ao seu antigo lugar de Vigário, sob grande regozijo dos fiéis, fundou, alguns meses depois, ou seja, a 1º de janeiro de 1898 o jornal mensal ‘Il Colono Italiano’, que se propunha defender os interesses e as causas  dos católicos italianos imigrantes.
Logo os dois órgãos de imprensa O Caxiense  e Il Colono Italiano divulgam    acusações recíprocas .Ocorreu ainda   um atentado contra Campos Jr..Os seguidores do Padre teriam disparado contra a residência do Venerável.  .Poucos meses depois o padre foi transferido para Rondinha.  E logo “depois voltou para a Itália.Lá trocou de nome e nem sequer contou aos parentes que estivera no Brasil por medo da maçonaria.”.
Em Bento Gonçalves  a situação não  foi tão séria .O jornal Bento Gonçalves,  fundado em 1900, reunia entre seus colaboradores associados do  .Partido Republicano e da loja Concórdia. O primeiro número saiu em 20 de Setembro  de 1900 , data importante para a Irmandade.
 Incidente grave ocorreu em Antônio Prado em 11 de dezembro de 1903  quando o  padre Carmine Fasulo ,  a pretexto  dar a extrema unção a um moribundo, sofreu um assalto  perto  de um mato ,quando um grupo de encapuzados o expulsou da vila. Em 1901 foi fundada a Associação de Comerciantes em Caxias, da qual faziam parte muitos maçons. Pouco tempo depois a Loja Força e Fraternidade adormeceu. Aos problemas externos somavam-se os internos, a solução encontrada foi o seu fechamento, desta forma o terreno que havia sido comprado para a instalação do templo foi cedido para irmandade às Damas de Caridade para que fosse construído um hospital. No local foi erigido o Hospital Nossa Senhora. de Pompéia.
Intendência de Caxias ,de 1900 a 1919. Praça Dante Alighieri.Ca. 1910
.Nela se reuniam o Conselho Municipal 



Adicionar legenda

Antigo Hospital Pompéia .Esquina da Avenida Júlio de Castilhos com a Garibaldi 
.Doação da Maçonaria às Damas de Caridade. IN: Brandalise. 

quarta-feira, 14 de março de 2012

MAÇONARIA X IGREJA :LUTA PELA HEGEMONIA


Caxias no fim do século XIX ,por ocasião dos acontecimentos políticos  entre maçons e católicos.
Entre 1875 e 1883 a chamada   colônia italiana mantém o cordão umbilical com a pátria de origem. Os imigrantes permanecem ligados  aos interesses do outro lado do mundo como se o novo fosse só um lugar de  passagem.  Não há  ações coletivas, salvo melhor juízo. O caráter individual das ações  se expressa nos requerimentos enviados à Comissão de Terras e mais tarde às intendências municipais  São pedidos reiterados pela  busca de bagagens ou auxílios para  retornar  à Itália.Está longe o tempo dos periódicos regionais e da busca de nova  identidade .
Uma das primeiras organizações dos imigrantes foram as caixas de auxílio mútuo ou sociedades operárias. Tais organizações surgidas nos últimos anos do século XIX foram fundamentais para a sobrevivência do grupo em terra estranha e sem condições econômicas. Auxílios para enterros, pequenos empréstimos apenas as Caixas  propiciavam .
           A Igreja que seguiu a Imigração tinha seus vínculos com o poder imperial, os colonos eram apenas mais uma de suas obrigações. A organização das capelas foi de iniciativa privada dos colonos sem a interferência da Igreja. As capela e os cemitérios  e as bodegas foram os primeiros espaços sociais das colônias,muitos anos mais tarde seguidos pelos salões de festa.è possível afirmar que os colonos serviam mais a Igreja do que ela os servia, pois todos os  sacramentos eram pagos .Não havia trabalho de apoio aos pobres ,tal serviço cabia ( como sempre ) ao Estado.
Outra  organização que veio apoiar os  imigração foi a Maçonaria.  A Loja Maçônica Força e Fraternidade foi a primeira a ser criada na  região. Suas atividades tiveram inicio em Caxias  em 28 de janeiro de 1886. Anos mais tarde, em 1894, em Bento Gonçalves foi fundada a Loja Concórdia.” Em Caxias o número de irmãos  chegou  a 152, no período entre 1886 e 1903. Nos primeiros tempos, segundo Colussi , em Caxias havia 103 e em Bento Gonçalves, 69 membros.
Campos Júnior venerável da Loja Maçônica Força e Fraternidade
 e primeiro Intendente eleito de Caxias , 1902. 
 As lojas eram espaços democráticos nelas se reuniam  fazendeiros lusos, funcionários públicos, comerciantes e colonos italianos e alemães.Entre os companheiros não havia diferença de classe ou de cor. O mais notável dos mulatos foi o  venerável José Cândido de Campos Júnior ,mais tarde primeiro intendente eleito de Caxias.
A Igreja e Maçonaria tiveram papel importante  na política  regional. Na região,  os párocos    e os maçons suas  marcaram posições absolutamente divergentes . Não houve na região, salvo melhor juízo, sacerdotes maçons. A chegada tardia dos imigrantes, após Unificação Italiana, quando já  havia sido   rompido qualquer laço entre irmãos e fiéis..Na região , muitos foram os enfrentamentos  e as agressões entre os membros das duas instituições.Apesar da violência e da intransigência  das autoridades eclesiásticas locais  algumas das  iniciativas da Maçonaria  mudaram a cena da colônia. As lojas  prestavam ainda  auxílios aos familiares dos  irmãos em caso de morte ou de invalidez .

A  proclamação da república, em 15 de novembro de 1889 , deslocou o centro do poder . A Igreja perdera sua força política com a consequente separação da Igreja do Estado.Os padres deixaram sua função pública e  a  função cartorial passou da Igreja  à iniciativa privada. Enquanto que as Lojas ganharam poder político definindo muitas vezes  os rumos políticos  dos municípios derivados das antigas  colônias, quando da transição entre o império a república. As mudanças da legislação e do sistema burocrático republicano causaram impasses nos municípios recém-emancipados, cujas leis orgânicas ainda deveriam ser definidas.
. A constituição castilhista promulgada em 14 de julho de 1891 outorgava  ao Presidente do Estado a prerrogativa de editar as leis,ou seja o executivo subsumia o legislativo que passava a cuidar apenas do orçamento do Estado e de seus  tributos, terminando com qualquer traços  de democracia.Tal fato repercutiu no Estado ,já que os administradores dos  novos municípios seriam nomeados pelo governo, era o caso de Caxias e Bento Gonçalves, cujos  intendentes eram lusos e maçons.
 A Loja Força e Fraternidade recomendava  prudência e moderação aos seus associados. Os párocos locais destituídos de seu poder antes assegurado pelas freguesias   lutam para garantir pela  hegemonia .A desordem se instala.
 Muitos imigrantes eram maçons, entre eles Felice Laner, próspero comerciante. e Francisco Salerno,  delegado de polícia  e ainda  Belisário Batista Soares fazendeiro e maragato.. Os maçons como os imigrantes estavam divididos entre republicanos, monarquistas. Havia ainda os carbonários( membros de uma organização específica com fins políticos com semelhanças com a Maçonaria ) que foram  responsabilizados  pelos   conflitos regionais. Entre 1890 e 1894  a Loja Força e Fraternidade foi adormecida, há um relação entre as lutas políticas estaduais e seu fechamento.

Após 1890, na capital do Estado ocorre o  enfrentamento entre os republicanos e os antigos monarquistas ,agora chamados de liberais .. Os primeiros liderados por Júlio de Castilhos , os segundos pelo General Câmara As lutas dos dois grupos pelo poder estadual ocasionam a instabilidade políticas .Em  menos de dois anos o governo  do Estado mudou de mãos dezenove vezes. A política estadual repercutiu profundamente nas antigas  colônias. .A reação contra a posição do governador eleito Júlio de Castilhos que  apoiou o golpe do Presidente contra a Constituinte Afonso Amabile e Cesare Porta  com trezentos homens  armados, em sua maioria colonos, católicos e  maragatos depõem a Junta Municipal , em 26 de novembro de 1891. O  delegado Salerno  impediu  a posse do Conselho Municipal. Poucos dias depois, em dezembro a Junta caxiense reassume o poder e empossa o Conselho Municipal.
Outra revolta dá-se no dia 25 de junho de 1892, quando o Conselho mais uma vez é deposto por Amabile   e seus homens   que exigem   o poder municipal  em nome do Vice Governador General Joca. Tavares. As intervenções municipais correspondem às estaduais
.  Em 1893 irrompe a Revolução federalista  contra o governo republicano .A região  sofreu com os combates, cercada pelos campos de cima da serra era ponto de passagem e de abastecimento das tropas litigantes.. Grande foram os prejuízos dos colonos , alguns dos quais  haviam aderido à luta devido os altos impostos municipais e às dividas coloniais
Os federalistas tomaram a Vila  de Caxias com duas colunas uma  liderada por   Belizário Batista ,proveniente da fazenda do Raposo e outra por   José Nicoletti , de São Marcos, da qual faziam parte dezenas de “polacos”.A defesa da Vila foi feita pelo 44º Batalhão da Guarda Nacional com meia centena de homens, menor  que  as forças federalistas que ocuparam a Vila .Os federalistas invadiram, saquearam e incendiaram algumas casas de republicanos , lutando nas ruas À tardinha as tropas rebeldes se retiram., pois era esperada uma tropa legalista, o que não  aconteceu.
O total do prejuízo  sofrido é   desconhecido bem como  o número  de mortos. Em Nova Trento em 6 de dezembro de 1893, Giovanni Piazza  encontrou dois corpos, amarrados e degolados, na estrada de  Alfredo Chaves houve mortes nas famílias Bacin, Pegoraro e Dalponte. Segundo o coveiro de Caxias Felice Rossi no no mês de julho foram recolhidos nove cadáveres nos arredores  da povoação e  enterrados no cemitério público municipal.Outros corpos  foram atirados em  charcos próximos da  vila. Entre eles estariam os polacos  que segundo populares foram jogados na  várzea,no atual estádio do Juventude.
Foto de Caxias de 1910 , vendo-se ao fundo o hotel de Luigia Grossi, no qual eram desfraldadas as bandeiras tanto de maragatos como de periquitos. 
Da luta restaram na cidade sobraram  20 cadáveres, sendo um capitão, um tenente, um alferes, um sargento e dois cabo e de Miguel Antônio Dutra Neto, apunhalado e massacrado covardemente pelos miseráveis. Morreram ainda  Afonso Amabile, enfermeiro, e Cesare Porta, seleiro, ambos imigrantes italianos, domiciliados em Caxias As autoridades brasileiras ao serem questionadas pelas italianas sobre a morte dos dois italianos imigrantes  declaram  que ambos eram  brasileiros,já que tinham título de  eleitores
O governo italiano promete ajudar os que não tivessem  vinculação política,ou seja nenhum . A maior parte dos colonos tinha posições políticas, ou eram maragatos ou    pica paus. .Neutra era parece ter sido  a hoteleira Luigia Grossi, dona do melhor hotel da Vila., que usava  duas bandeiras. As bandeiras eram hasteadas de acordo com as cores políticas do grupo que vinha comer ou se hospedar no seu estabelecimento. Para o bom andamento dos negócios muitas vezes era conveniente servir a dois senhores.
Entre 1888 a 1893 vários incidentes ocorrem  entre maçons e católico. Em 1889 os maçons organizaram uma festa abrilhantada pelo disparo de foguetes.  O pároco de Santa Teresa “com a cooperação de fiéis frustra a festa maçônica  roubando  os morteiros e o canhão jogando-os em uma valeta .O mesmo padre instava  para que os católicos não comprassem  nas  lojas dos maçons. Os pequenos incidentes que escondiam  grandes diferenças entre os dois grupos.São pequenas coisas com grandes efeitos !
 Em 1894 quando da reabertura da Loja, Salerno,  Delegado de Polícia. Salerno informou aos irmãos na Loja  que escondeu muitos profanos ameaçados de morte em sua casa, salvando suas  vidas.  Os incidentes entre Paróquia e  e Loja com passar do tempo  tendem a se agravar.
Grande parte do texto é baseado no Livro nº 1 de  Atas da Loja  Força e Fraternidade de 1886 
Ao centro da foto de 1910 ,  Luigia Grossi com a sombrinha  ,famosa por sua "neutralidade "política AHMJSA

 Leitura recomendada 
ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 – 1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971,

quarta-feira, 7 de março de 2012

O RACISMO SE APRENDE!

Nos primeiros tempos da imigração, no final do século XIX. , os colonos se identificavam com os negros pelo trabalho e deles se separavam pela ideologia. Não parece  haver então graves conflitos entre os dois grupos. Os colonos italianos nunca foram donos de escravos e entre eles havia, nos primeiros tempos de Brasil  a discriminação era feita em relação a todos os brasileiros . Os brasileiros brancos ou negros eram chamados de neri (negri) pelos colonos italianos .
Negros e brancos  na Banda de Ana Rech
.Fim do século XIXI; IN:Dall'Alba
     
  Os abolicionistas propagandistas principais da imigração europeia acreditavam na superioridade de seu trabalho. Os colonos brancos segundo eles eram trabalhadores assíduos, industriosos, empreendedores e pacientes, amigos do lar doméstico e afeiçoados ao sossego da vida em família; enfim, respeitadores das leis, trabalhadores pacíficos e moralizados  Em outras palavra os europeus portadores das qualidades que faltariam aos africanos.
                                                                                                                                           Madame van Langendonk era belga e viveu no Brasil entre 1857 e 1875  na colônia  Santa Maria da Soledade( hoje  município de São Vendelino ) .Em seu livro de memórias apresenta as mesmas posições semelhantes às dos abolicionistas . Os escravos para ela tinham “maus instintos” não possuindo “probidade, pudor e moral” concluindo que  “ a escravidão é menos funesta aos negros do que aos brancos .
            Os imigrantes tinham   as mesmas posições que os demais europeus, que colonizaram a África e destruíram culturas e civilizações. Por outro a sua grande maioria desconheciam até a existência dos negros. São muitas as expressões de surpresa e de repúdio  pela existência de negros escravos no Brasil Desconhecer não significa discriminar. Os imigrantes europeus desconheciam o Brasil e seus habitantes, sua política, sua natureza, seus animais, seus nativos. O Brasil parecia aos imigrantes  a negação do mundo civilizado europeus.. Os negros e os indígenas faziam parte desse mundo não civilizado e desconhecido.
Não é de estranhar que os colonos. ainda que pequenos produtores  tenham adotado a  ideologia da classe dominante      A classe dominante impunha seu modo de ver aos dominados, enquanto os dominados ao que tudo indica  pareciam se entender.  A classe dominante era racista seguindo as teorias da época que acreditavam na superioridade racial. Até a própria imigração europeia era uma decorrência do racismo visto que acreditavam na superioridade  dos brancos ,pensamento adotado até  pelos aboliconistas.

Segundo Dall’Alba No século XIX  todas as autoridades eram “brasileiras” e a maioria dos imigrantes sentia-se cidadãos de segunda categoria,sem direitos civis e  trabalhadores braçais Por outro lado, Os imigrantes se reconheciam superiores , comparados  a outras raças ou nacionalidades. Para eles”Todos os brasileiros eram “negri”, gente que não sabia trabalhar, gente que nem podia pensar em casar com filhos ou filhas de outras raças. Estamos falando dos brancos. Nem é preciso dizer dos negros de verdade. Casar com um negro, com negra? Impensável.”
Mesmo com a chegada dos imigrantes  os trabalhos pesados da charqueadas e no serviços domésticos ainda dominava o trabalho servil. Negros e brancos imigrantes trabalharam lado a lado muitos anos, conviveram ,unindo-se em uniões estáveis e separando-se em conflitos  decorrentes de prejulgamento ou  de preconceito .Segundo Rovílio Costa :a” ideia de que o negro não trabalha ou de que não tem organização perpassa  a cultura dos imigrantes italianos. Fica evidente na obra de Bernardi(1937) Nanetto Pipetta que retrata a vida e o pensar dos primeiros imigrantes italianos. A situação de escravidão tornou o negro sujeito a outra experiência cultural para a qual o conceito de trabalho e de economia difere do italiano. Nesta diferença cultural, os descendentes italianos fundamentam seus preconceitos em relação ao negro  (COSTA,1982, p.108)
Negros brancos imagens de Bernardi ,1937.

    Em Nanetto Pipetta  a  saga do anti herói imigrante  a figura do negro é uma constante que se relaciona tanto  com os imigrantes  como com os brasileiros. O primeiro negro que aparece na aventura é descrito como bel negro de nariz achatado, olhos brancos armado de faca e pistola.Mas é eles que   mata  a fome de Nanetto,dando-lhe de comer  pinhão  e insistindo para que tome  chimarrão.. “Nanetto passa a noite no casebre da família na manhã seguinte vai embora como diz Beranrdi ” el ze  scampá de tuta carrera” Apesar do convite feito pela família para que viva com eles  e trance os cestos de vime. .Seguem-se outros encontros,quando perdido no mato encontra um moreno o convida para beber, e outro lhe  pede dinheiro. Há ainda o sonho com um negro armado que o olha fixo para o desprotegido imigrante.E a benzedeira  que faz uma série de rezas e simpatias, benze as sua pernas ,mas quando pede pagamento é expulsa à pancada.
            As relações entre imigrantes e negros encontram Nanetto  sua imagem especular .  Na ficção são focalizados os mesmos tipos de relações que são estabelecidas que nos testemunhos e nas histórias de família. As relações em geral amistosas  podem  acabar em briga sob  ação do álcool,  da mesma maneira o uso do conhecimento das ervas e das curas que é aproveitado em momentos de necessidade. È importante destacar que a igreja católica através de suas congregações desestimulou a união matrimonial  entre imigrantes italianos e outros grupos. Colbacchini informa mais de uma vez que vê  ‘ que sempre vejo com  muito desprazer os matrimônios mistos,já que seriam meio seguro  de  acabar  com a língua e os costumes do grupo.
Os imigrantes italianos repetem o modo de pensar dos nacionais  e apresentam os preconceitos que os outros brasileiros. Os imigrantes afinal de contas estavam se tornando brasileiros.
Brancos e negros em escola Pública em Antônio Prado.Buccelli, 1906