Os imigrantes italianos que povoaram o nordeste do estado do Rio Grande
do Sul eram pacíficos, ordeiros, conservadores e pouco politizados, e apenas os
moradores dos núcleos urbanos tinham algum envolvimento político, segundo o
senso comum Tal visão é errônea e deriva em parte do preconceito que atribui
conservadorismo político aos camponeses em geral e aos imigrantes italianos em
particular. Os imigrantes trouxeram sua
cultura.
Não se deve esquecer que os imigrantes eram homens do século XIX filhos
da recente Revolução Industrial e dos movimentos liberais de 1848, que marcavam
a cena política da Itália. Os camponeses europeus nos meses de inverno quando
não podiam trabalhar na lavoura procuravam trabalho nas minas, no assentamento
das estradas de ferro e nas
nascentes indústrias da Itália, da
Suíça e dos estados alemães.Além de
cosmopolitas eram politizados ,estando
vinculados à organizações políticas e sindicais italianas.Benito
Mussolini era de família camponesa e da mesma época que eles.
Tais vínculos encaminham desde os primeiros tempos do povoamento das
colônias Caxias, Conde D’ Eu e Dona Isabel para
intensa movimentação política, com os imigrantes como participantes. Ainda assim, sua participação na política estadual foi
periférica, pois viviam em regiões
distantes dos centros de decisões política, além disso eram muito controlados pelos governos das colônias.
Como região politicamente dependente da capital chamada a “colônia
italiana” mais sofreu do que promoveu as
reviravoltas políticas que movimentaram o Rio Grande do Sul, na última década
do século XIX. As revoltas regionais por sua vez decorreram dtanto das
condições provinciais e nacionais. Alguns eventos políticos locais estão
relacionados com a situação política da
Itália., como os
ocorridos em 1898..
Deve-se destacar que existem relativamente poucos estudos sobre a
política e a imigração italiana. Na época da comemoração do cinqüentenário em
1925, os estudos apresentados no álbum comemorativo referem-se aos italianos em
relação as suas obras e realizações. As ações políticas referem-se à Itália, então no apogeu do
nacionalismo fascista, que teimava em considerar os imigrantes “italianos no
exterior”.Tal modo de ver os colonos apresentava-os sempre como estrangeiros
vivendo no Brasil, portanto infensos ou imunes à política brasileira.
Quando da publicação do álbum de comemoração aniversário de setenta e
cinco anos da imigração, em 1950, vivia-se os tempos delicados de pós- guerra.
A Segunda Guerra (1939-45) abalara as relações entre a região colonial italiana
e o governo nacional , agredida que foi
pela “nacionalização forçada” ocasionada pela posição brasileira ligada aos
Aliados. Os habitantes das antigas colônias imperiais habitadas por italianos,
alemães ou japoneses aparentemente estariam do lado do Eixo. O Brasil
tratava-os seus como estrangeiros.,mesmos
endo brasileiros de duas ou três gerações.
No álbum do centenário publicado em 1975, há um artigo de Fay da Fonseca1 que apresenta os principais vultos de origem italiana que atuaram na política gaúcha. Destaca os
vultos de Raul Pila, Alberto Pasqualini e Fernando Ferrari como os principais
políticos .Citando ainda Ildo Menegheti, Leonel Brizola, Euclides Triches
e Sinval Guazzelli possuidores de
sobrenome e origem itálicos e que ocuparam o governo gaúcho. Se o texto
fosse escrito hoje, seriam citados também Germano Rigotto e Sergio Zambiasi entre
outros.
Dante de Laytano 2em texto
elaborado na mesma data, destaca a histórica presença de Américo Vespucci,
Garibaldi , Rossetti e outras figuras
italianas que tiveram participação importante na vida nacional. Esses trabalhos
abordam ações individuais de italianos ou “oriundi”importantes para a
história nacional. Os textos tratam o
tema como se os políticos fossem italianos no Brasil, ou que neste caso a etnia
fosse fator político, e que e se os políticos por terem origem italiana fossem alheios à política
nacional.
O processo de formação política é mais importante que ações e presenças
individuais de italianos no contexto histórico
regional.A questão da imigração constitui parte do processo histórico
nacional e não um ato fundante regional.
O Brasil não começou com os imigrantes italianos foram estes que se integraram
e com lentidão à política nacional. Recuperar e “incorporar a grande massa dos
anônimos, daqueles que não aparecem nominalmente na história” 3 e as instituições que nortearam e
norteiam a política regional é o propósito o deste texto.
Os imigrantes e seus filhos adotaram posições políticas diante dos
acontecimentos que a pátria adotiva lhes apresentava. Ainda assim, durante
muito tempo, possivelmente mais de cinquenta anos, oscilaram entre as posições
nacionais do Brasil e as da Itália.
A maçonaria e suas
relações iniciais com os párocos católicos e com os imigrantes italianos
católicos em sua maioria foi a questão
que apaixonou e inflamou a região. No
imaginário popular o mal passou a ser por ela representado, mais tarde
substituído pelo comunismo. Isto aparece inclusive nas obras literárias escritas
em dialeto( como em Naneto Pipeta). A
Igreja teve papel decisivo na política
regional.
A NOVA TERRA
Nos primeiros anos da ocupação dos lotes coloniais pelos imigrantes
italianos, não se têm noticias de movimentação política. As comissões de terra
apresentavam alta rotatividade nos cargos, especialmente nos de
diretor das colônias. A troca de diretores estava relacionada mais a
inconformidade dos funcionários públicos de carreira em permanecerem
embrenhados nas matas serranas sujeitos a doenças e a falta de conforto da
civilização, do que as dificuldades com os imigrantes. Alguns funcionários por
outro lado apreciavam as amenidades do clima e a vida agreste das colônias.
Compraram lotes e trouxeram suas famílias e permaneceram na região. Logo após a
chegada dos primeiros colonos não há notícias de reações coletivas dos recém-chegados,
há muitas de caráter individual. As
reações individuais podem ser acompanhadas através dos requerimentos enviados à
Comissão de Terras. São pedidos para a localização de bagagens e de filhas
levadas por lusos para o trabalho doméstico e desviadas para outras funções. Há
ainda os pedidos dirigidos as autoridades italianas para serem recambiados para
ao local de origem Enfim, problemas
comuns de uma região em vias de ocupação por estrangeiros .
O primeiro movimento regional que se tem notícia parece ser o dos carreteiros.Corria o ano de 1883 as
colônias enfrentavam problemas com as condições das estradas. Tendo iniciado em
1875 o povoamento, em 1877 foram colhidas safras de trigo, milho, batata e de
feijão, entre outras.As primeiras safras foram abundantes, pois as terras
virgens ainda eram férteis.O trânsito pela estrada Rio Branco que ligava a
colônia Caxias a São Sebastião de Caí era intenso. Por ela passavam carretas
levando os produtos colônias para serem vendidos na capital e trazendo produtos
industriais da capital para as colônias. Havia ainda o transporte constante de
imigrantes com suas bagagens e filhos que da capital demandavam às colônias. As
péssimas condições das estradas levam os carreteiros a se revoltar, decidindo
interromper o transporte que realizavam. A greve dos carreteiros interrompia o
fluxo econômico regional, parando assim a distribuição dos produtos regionais.
Dele participaram vários imigrantes entre os quais : Carlos Pisani, Domingos Tronca, Ambrósio e
Alexandre Maggi, Paulo e Antônio Rossato4.alguns
dos quais comerciantes da região .O governo atende a reivindicação dos carreteiros,
providenciando a melhoria da
estrada.
O associativismo esteve presente entre os imigrantes, pois da sua união
dependia a sua sobrevivência, como na a criação das capelas e nas sociedades de
mútuo socorro são exemplos de associação.Houve ainda as cooperativas de
produção como a de Galópolis ,entre outras importantes para industrialização
regional
As capelas começaram a ser organizadas logo após a ocupação de
determinada linha ou travessão,os registros são posteriores desta forma as mais
antigas datam de 1882. Os colonos reúnem
e criam uma sociedade para a construção de pequenas igrejas e cemitérios em
lotes particulares, que passam a servir de local de culto e de reunião da
comunidade. As capelas constituem a forma que encontraram para enterras seus
mortos e realizarem seus cultos religiosos. A capela foi o modo camponês de auxílio recíproco.
Nos núcleos coloniais são criadas as “sociedades operárias” que reuniam
os moradores das vilas, que através de cotas asseguravam aos associados,
auxílio funeral em caso de morte ou pecúlios para as viúvas. Em Bento foi
organizada a primeira a Sociedade
Rainha Margarida, em 1883.Mais de
cinqüenta sociedades de mútuo foram
organizadas até 1925. Tais organizações mostram o grau politização dos
colonos,pois dentro delas era também traçada política local.
Outras
associações importantes para a política regional foram as lojas maçônicas. Em
Caxias em 28 de janeiro de 1886, foi organizada a Loja Maçônica “Força e
Fraternidade”, 5 a primeira da região.
Anos mais tarde, em 1894, em Bento Gonçalves passou a funcionar a Loja Concórdia.”Grande número de
imigrantes fazia parte desta sociedade; em Caxias havia 103 membros e, em Bento
Gonçalves, 69”.3.A criação e a existência
de lojas maçônicas nas colônias consideradas redutos exclusivamente católicos,
revela que a hegemonia da Igreja tinha contestadores.
Nas lojas maçônicas reuniam-se fazendeiros lusos, funcionários públicos,
comerciantes e colonos italianos e alemães. Nelas não havia racismo, alguns de
seus membros eram mulatos como o venerável José Cândido de Campos. Em Caxias o
número de associados na loja Força e Fraternidade chegou a 152,
no período entre 1887 e 1903.6
Com a proclamação da república, em 15 de novembro de 1889, que a política
brasileira mudou de forma radical, enquanto os habitantes das vilas coloniais
se organizavam em busca de melhores condições de vida.
As lojas tiveram então papel fundamental na vida política das colônias,
em momentos de crise como o da passagem do império para a república. Nos seus
templos foram definidas as ações e a política regional. As lojas também atuaram nas emancipações municipais, em 1890,
devido a força que tinham seus membros junto ao governo estadual, especialmente
os de Caxias e de Bento Gonçalves.
O período imperial não fora
traumático para as colônias. Com o advento da república evidenciaram-se os
problemas sociais e políticos que não haviam sido solucionados pelo império. Já
na convocação da Assembleia Constituinte revelam-se os problemas regionais de representação.
As mudanças da legislação e do sistema burocrático proporcionaram novos
impasses que repercutiram diretamente nos municípios recém emancipadas, cujas
leis orgânicas ainda deveriam ser definidas.
ANOS SANGRENTOS
Os primeiros governantes dos novos municípios eram nomeados pelo governo
estadual, seguindo a constituição castilhista. Os edis nomeados em sua maioria
eram lusos e maçons. A maçonaria desejava a paz e a Loja Força e Fraternidade:" recomenda prudência e moderação aos seus
associados Apesar de seus esforços as
lutas políticas nos novos municípios tornou-se
violenta. Segundo Gardelin a
lutas foram devidas ao “grupo dos
‘carbonários’, foram estes que incendiaram”7
a política regional.
Os carbonários não foram os únicos responsáveis pelas lutas regionais. Figuras importantes da política municipal que estiveram a frente das lutas eram maçons Entre eles, Felice Laner próspero comerciante era da diretoria da Loja era republicano convicto; Belisário Batista Soares rico fazendeiro, que se tornou comandante dos maragatos e Francisco Salerno pertenciam à irmandade Força e Fraternidade. Apenas Afonso Amabile e Cesare Porta ao que tudo indica eram carbonários, mas seguindo-os havia mais de trezentos homens . A maioria deles eram colonos,católicos e maragatos.
Os carbonários não foram os únicos responsáveis pelas lutas regionais. Figuras importantes da política municipal que estiveram a frente das lutas eram maçons Entre eles, Felice Laner próspero comerciante era da diretoria da Loja era republicano convicto; Belisário Batista Soares rico fazendeiro, que se tornou comandante dos maragatos e Francisco Salerno pertenciam à irmandade Força e Fraternidade. Apenas Afonso Amabile e Cesare Porta ao que tudo indica eram carbonários, mas seguindo-os havia mais de trezentos homens . A maioria deles eram colonos,católicos e maragatos.
Na capital do Rio Grande do Sul, após a proclamação da república,
ocorreram enfrentamentos entre os republicanos que eram minoritários no estado
e o liberais, membros do antigo partido liberal, que organizaram a união
federalista. Os primeiros representados por Júlio de Castilhos os segundos pelo
General Câmara e seus numerosos seguidores, que logo se rearticulam sob o nome
de federalistas.
A instabilidade política se
instalou no Rio Grande, em pouco menos de dois anos o governo do estado mudou
de mãos dezenove vezes.8 As lutas
entre os republicanos (pica-paus) e os federalistas (maragatos) prepararam os
ânimos tanto para a Revolução Federalista.
(1893-95) como de 1823.
Segundo Adami7na
colônia Caxias aconteceram duas revoltas, que parecem a primeira vista simples lutas pelo poder municipal.Ambas
lideradas por Afonso Amabile. e Cesare Porta. As revoltas caxiense decorrem da
deposição do governador eleito Júlio de Castilhos, em 12 de novembro, por
ter apoiado o golpe de Estado do
presidente Marechal Deodoro da Fonseca, contra a Constituinte .O Conselho Municipal
eleito em 20 de novembro não pode ser empossado. A Junta reassumiu o poder
municipal, empossando o Conselho em 15 de dezembro. Novo golpe foi dado no
ano seguinte, no dia 25 de junho de 1892
quando o Conselho recém empossado foi
deposto por Amabile e seus homens que exigiam o poder em nome do Vice Governador General
José Bonifácio da Silva Tavares., ou seja os dois golpes eram federalistas. Nos
dois golpes havia maçons e não maçons. A questão não era religiosa, mas luta
pelo poder travada entre federalistas e republicanos. Os colonos envolvidos
pela liderança federalista estavam prontos e armados para a luta, conforme é
possível acompanhar nas fotos da época.
No período compreendido entre 1890 e 1894, em Caxias, a Loja Força e
Fraternidade ficou adormecida, nas atas não são revelados os motivos de seu
fechamento. Parece evidente, porém, que nem os irmãos conseguiram se manter
neutros. A mesma questão que dividia sociedade brasileira o estado e os
municípios fragmentou também a irmandade
As revoltas caxienses podem ser
entendidas também como reação dos imigrantes pobres e oprimidos pelos novos
impostos municipais,aos quais se somavam a cobrança das chamadas dividas
coloniais,ou seja o débito que os colonos ainda tinham com o governo
nacional.Sem esta motivação dificilmente teriam aderido ao movimento.
A pacificação municipal se deu pela tomada do
poder municipal por Luiz Pieruccini, Doningos Maineri e Vicente Rovea. Bons maçons republicanos que entregaram o
poder ao intendente Antônio Xavier da Luz, em 1º de agosto de 1892, nomeado por
Júlio de Castilhos após a retomada do
poder estadual ocorrida no dia 17
de junho deste ano.
Em 1893 irrompe a Revolução federalista,
cujas causas estão na própria instabilidade política da nova ordenação
republicana A região mão ficou imune aos combates, cercada pelos campos de cima
da serra tornou-se ponto de passagem das tropas republicanas e federalistas, em
busca de abastecimento de suas tropas na produção agrícola e
pecuária..
A Revolução Federalista acarretou
mortes e prejuízos entre os colonos
italianos da região, foram assediados pelos litigantes de ambos os lados,tendo passado por maus
momentos. Os dados referentes às perdas sofridas são fragmentários, decorrentes
dos vagos os pedidos de indenização.
Como os danos materiais também o número de vítimas é incerto. Há indícios
de que foram numerosas. Em 6 de dezembro de 1893 9foram encontrados dois corpos, amarrados
e degolados encontrados no fundo de um barranco na estrada que leva de Nova Trento( Flores da Cunha) à Antônio
Prado, por Giovanni Piazza. Outras mortes
ocorreram em Alfredo Chaves, segundo
lembranças de Helena Amantéa houve pelo
menos três mortos cujos sobrenomes eram Bacin, Pegoraro e Dalponte.10 Não há registro da ação policial na
solução dos assassinatos.
A invasão de Caxias pelas tropas federalistas deu-se em 30 de junho de 1894.
A invasão foi anotada no diário de Francisco da Silva Tavares, no dia 31 de
julho “os jornais do Rio Grande confirmam
a tomada da colônia Caxias no dia 30 de junho pelos federalistas “e
prossegue “ fugindo destroçados os
governistas para Nova Palmira em direção a Picada Feliz “11
O general estava mal informado.Foram os federalistas e não os republicanos que fugiram da vila após quinze horas de ocupação.
. Segundo Axt :“a bibliografia em geral ainda se refere
pouco ao impacto da revolução Federalista sobre as zonas de colonização.” 12 Não há dúvida que poucos são os estudos sobre a revolução e rara a
documentação. Adami 13em seu
relato sobre a invasão da sede da Vila de Santa Teresa de Caxias apresenta
alguns documentos. Sobre a luta , há
entre os moradores lembranças eivadas de distorções e exageros Há incidentes que envolvem a luta que precisam ser ainda pesquisados.
Caxias foi invadida por cerca de 500 federalistas divididos em duas
colunas, uma liderada por Belizário Batista ,proveniente da fazenda do Raposo e
a outra liderada por José Nicoletti .proveniente de São Marcos.Desta última
faziam parte dezenas de “polacos”. Os federalistas invadiram, saquearam e
incendiaram algumas casas de comércio de republicanos caxienses, como as de
Felice Laner e Luís Dalcanalle.Porém é
desconhecido o número exato tanto das forças rebeldes como das legalistas.
Também é desconhecido o número dos que morreram durante o ataque à Vila
de Santa Teresa .Segundo o coveiro municipal Felice Rossi no “mese de luglio(1º), 9 cadaveri racolti nel
circondario della Vila.” Nove seriam os corpos recolhidos nos arredores da Vila e
enterrados no cemitério público municipal. Adami informa que outros
corpos e teriam sido atirados em um charco situado na Rua Pinheiro Machado
entre a Moreira César e a Coronel Flores. Mas sobre este fato só existe esta informação.14Há ainda a notícia de polacos mortos
cujos corpos teriam sido jogados no charco
situado no local do atual estádio
do Juventude.
Na ordem do dia Nº 56, de 1º de
julho de 1894, os comandantes das tropas legalistas capitão Francisco Alves dos
Santos informa que ”tendo os bandidos
deixado em diversas ruas dominadas pelas nossas posições 20 cadáveres, sendo um
capitão, um tenente, um alferes, um sargento e dois cabos.” E ainda que “
tivemos a lamentar a morte do distinto Miguel Antônio Dutra Neto, apunhalado e
massacrado covardemente pelos miseráveis”. 15
Segundo Adami a defesa da Vila foi feita pelo 44º Batalhão da Guarda Nacional composto por
meia centena de homens liderada pelo capitão Francisco Alves dos Santos,acrescida
de alguns republicanos locais. Os
federalistas permaneceram na cidade, num prédio existente na esquina das ruas
Garibaldi e Júlio de Castilhos, combateram na Rua Visconde de Pelotas, próximo
à Intendência Municipal. Retirando-se no final do dia, pois havia notícia da
chegada de três mil homens liderados por
Gumercindo Saraiva, provenientes de Vacaria,o que acabou não ocorrendo.
Em 1894 ocorre a reabertura da
Loja as atas informam que Salerno
“escondeu muitos profanos ameaçados de morte “16em sua casa, salvando suas vidas .As reuniões da Loja clamavam por paz
e concórdia, mas elas estavam longe de ser conseguidas
O conflito deixou além das mortes as perdas sofridas pelos colonos. Grande foi o
terror da população regional, cujas lembranças foram transmitidas através das gerações. Na luta morreram italianos que participaram da refrega, alguns dos quais
brutalmente mortos pelas forças legais.
Os casos mais graves foram os de Afonso Amabile, enfermeiro, e Cesare
Porta, seleiro, ambos imigrantes italianos, domiciliados em Caxias. As
autoridades brasileiras ao serem questionadas (pelas italianas) sobre a morte
dos dois declararam que ambos eram eleitores e, portanto, brasileiros.Tendo o
assunto sido encerrado de forma sumária. Os seus assassinos nunca foram
descobertos.
Como em relação a essas mortes, o governo italiano pouco fez em
relação às perdas sofridas pelos imigrantes italianos. O professor Ancarini informou
que“ sobre os pedidos de
indenização feitos pelos colonos”17
foram aceitos apenas os casos de indivíduos que não estivessem comprometidos politicamente. Foi uma forma hábil
de fugir do problema, já que muitos dos imigrantes italianos eram maragatos e
alguns poucos pica- paus, poucos eram neutros.
Inconteste era a neutralidade da
hoteleira Luigia Grossi, dona do melhor hotel da vila de Caxias, possuía as
duas bandeiras uma branca e outra
vermelha.As bandeiras eram hasteadas
de acordo com as cores políticas do grupo que vinha comer ou se hospedar
no seu estabelecimento. Para o bom andamento dos negócios muitas vezes era
conveniente servir a dois senhores.
LOJAS E COMITÊS
Vários foram os incidentes entre maçons e católicos, durante o período de
1888 a 1893, durante o qual os padres
palotinos dirigiram eclesiasticamente a
região há registro de vários pequenos incidentes
envolvendo o clero e a maçonaria.As agressões eram mútuas, em 20 de setembro de
1889,os maçons prepararam uma festa e para alegra-la o disparo de morteiros e
canhão.O pároco de Santa Teresa”com a cooperação de pessoas fiéis frustraram a festa “18 Roubaram os morteiros e o canhão
jogando em uma valeta .O padre não contente com o ato instou que os fiéis não
comprassem nas lojas dos maçons.Muitos outros incidentes ocorrem e alguns estão
registrados nos livros tombos das
paróquias, nos quais “carbonário” é
usado como sinônimo de maçom.
Se das primeiras lutas políticas
restam poucos registros, as ocorridas
a partir de 1897 podem ser acompanhadas através dos jornais locais. O primeiro jornal a circular em 15 de
outubro de 1897 foi O Caxiense, defensor das colonias italianas e orgam
republicano, ligado ao Partido Republicano
seus proprietários eram os brasileiros.
O padre Pedro Nosadini pároco de Caxias de 1896 a 1898 teve ação determinante na organização
política dos imigrantes italianos
católicos contra a Maçonaria na
região.O padre utilizou o espaço do jornal O
Caxiense para acusar os maçons de ataques aos católicos. A paróquia de
Santa Teresa de Caxias foi das
associações chamadas de Comitês Católicosm tais associações na Itália onde
surgiram havia sido denunciadas pelo governo socialista de políticas e fanáticas. Nas atas da Loja esta
informação anotada. Nosadini
desconhecendo a conturbada política brasileira responsabilizava a Maçonaria,
tanto pela anexação dos Estados Pontifícios ao novo Reino da Itália quanto
pelos problemas políticos da região.O padre criou comitês em.”:Santo
Antônio (7ºlégua):N.Sra das Neves (9ºLégua); Círculo São Tarcísio(São Marcos da
Linha Feijó ) na sede “Santa Teresa” e o círculo São Luís Gonzaga , para os
jovens”.Segundo o padre Brandalise as suas finalidades eram apostólicas,
os maçons com inveja do sucesso
destas organizações, passou atacar o
padre. Seu craidor.A reunião festiva dos comitês realizada em 14 de outubro
de1897 reuniu mais de 800 pessoas.19
Fontes da maçonaria dão como certo o papel político os comitês. Assim em
oito de abril de 1897 foi denunciada pelo intendente venerável Campos Júnior em
reunião da Loja .uma sedição de colonos”capitaneada por um certo Antônio
Michelon “20
que como os demais são católicos fanáticos, visa promover desordens contra a
Loja e os irmãos O movimento é atribuído aos comitês de Nosadini. Na ata do dia
quatro de outubro Nosadini é citado por
ter falado contra a”nossa nobre
instituição” ,o padre foi chamado de”garoto, um cafajeste,um vil de batina.”.
Nas reuniões a direção da Loja pede calma, pois
a ação do padre aumentara a procura pela
irmandade”pois como é sabido que
desde que ele principiou a falar contra a Ordem foi quando mais profanos tem
aparecido para iniciar-se.” 21
Ocorrem vários incidentes, o mais importante ocorre em sete de fevereiro
de 1898 quando o padre foi retirado à força da casa canônica e expulso da cidade, por um grupo de 22
indivíduos,que .segundo o padre
Brandalise seriam maçons “acompanhados por 24 soldados e que no
assalto disparam “ uns 400 tiros” e após “lhe puseram um cabresto na cabeça
como se fosse um animal”. 22Atentando contra sua vida e o
ferindo.Sobre o ataque ao padre a maçonaria nega seu envolvimento afirmando que apenas dois
dos envolvidos eram maçons. Culpados ou não os maçons levaram
a culpa pelo incidente.
Em junho do mesmo ano o padre voltou à sua
paróquia acompanhado de mais de setecentos homens vindo de Nova Pádua onde se
havia abrigado. Voltou prometendo ficar em paz. Ao contrário “retornando o Padre Nosadini do exílio
imposto pelos maçons caxienses e reconduzido ao seu antigo lugar de Vigário,
sob grande regozijo dos fiéis, fundou, alguns meses depois, ou seja, a 1º de
janeiro de 1898 o jornal mensal ‘Il Colono Italiano’, entrando logo em polêmica com ‘O Caxiense”, o primeiro jornal fundado
em Caxias” Il Colono Italiano’, “Bollettino cattolico mensile” (Boletim
católico mensal)tinha como objetivos
defender os interesses e as causas
dos católicos italianos imigrantes
da região.Após acusações recíprocas de católicos e maçons, através da
imprensa.O possível o atentado contra o
intendente Campos Neto,não por acaso venerável da irmandade , dói feito pelos seguidores de Nosadini .Farta
documentação sobre o incidente resulta das cartas enviadas ao governo do estado e ao bispado.A solução
encontrada pelas autoridades apostólicas
foi a de transferir o padre.
Poucos meses depois do ocorrido o
padre foi mandado” para Rondinha. Depois
voltou para a Itália .Lá trocou de nome e nem sequer contou aos parentes que
estivera no Brasil por medo da maçonaria”,
e acrescenta que os maçons “que
chefiaram tão nefando insulto contra o ministro do Senhor. Morreram todos de
morte trágica.” 24 Desta forma o trágico fim dos maçons foi atribuída por Brandalise a maldição do padre Nosadini.
Data desta época uma série de
maldições atribuídas a padres maltratados por fiéis,entre os quais o de Antônio
Prado, que teria determinado a estagnação do município e o da Caipora (Bairro
de Lourdes) Para os imigrantes os padres tinham mais força nas maldições do que nas bênçãos.
Foi durante os primeiros 25 anos
de povoamento da região da serra,que a influência da religião atingiu níveis
agudos de controle e repressão , contra os não católicos ,ou contra os
católicos que não agissem de acordo com as determinações dos sacerdotes Foi nesta época que os bailes foram proibidos
e até a música de acordeão foi desaconselhada.”Credetelo che anche per la buona
pace ed armonia nelle Colonie,non avete bisogno di queste musiche(...)Alla
stessa maniera vi dito del cante” 25Alerta o
padre Pietro Colbachini no Guia espiritual do emigrado italiano na América.
Em Bento Gonçalves ,ao que tudo indica, a situação não foi tão
extrema. O jornal Bento Gonçalves, foi fundado em 1900, reunia entre seus
colaboradores associados do .Partido
Republicano e da loja Concórdia. 26O
primeiro número saiu em 20 de Setembro, que
marca o equinócio da primavera
sendo data importante para a Irmandade pois nela foi iniciada a
Revolução Farroupilha e proclamada a unificação da Itália Mas em Bento não
houve um padre como Nosadini e as
intrigas entre católicos e maçons não prosperaram.
Em 1901 foi fundada a Associação de Comerciantes de Caxias, da qual
participaram grande número de maçons, mas pouco depois a Loja Força e
Fraternidade adormeceu. Aos problemas
externos somavam-se os internos, a solução encontrada foi o seu fechamento .Mais tarde o terreno que havia
sido comprado para a instalação do templo foi cedido pela irmandade às Damas de
Caridade.para a construção do Hospital Nossa Sra. de Pompéia.
.
ITALIANOS OU
BRASILEIROS?
A Constituição brasileira
promulgada em 1891, tornou brasileiros.os estrangeiros que nesta data vivessem no Brasil.Para continuar tendo
a sua nacionalidade havia prazo para a manifestação
dos que não quisessem ser
brasileiro.Desta forma muitos mudaram de nacionalidade sem saber, mas não existe lei que mude a identidade cultural.Os poucos direitos
concedidos aos estrangeiros pela naturalização como o de voto e a participação
política não conseguiram mudar a cultura e a política regionais.No Brasil país povoado por imigrantes forçados ou
livres a
nacionalidade é questão delicada..A república desejava estimular o
nacionalismo e o patriotismo tendo desencadeado a partir de 1914, campanha
civilista, liderada pelo poeta Olavo Bilac. .Entre os atos concretos propostos
na campanha estava o do serviço militar
obrigatório..
Na
Primeira.Guerra (1914-1918) o Brasil e a
Itália estiveram em campos opostos . As
questões políticas européias ainda apaixonavam os imigrantes Em Bento Gonçalves
o jornal em língua italiana Il Corriere
d’Italia “até 1915, isto é, antes da
Itália entrar na 1ª Guerra Mundial, os seus editoriais defendiam a manutenção e
vigência da Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália.
Aconteceu porém, que a Península denunciou o tratado e participou do conflito
com os aliados.” “27Quando a
Itália mudou de lado o jornal acompanhou-a passando a defender a sua nova posição. Esta posição tão amarrada à política oficial da
Itália é combatida no jornal Il
Colono Italiano ,de Garibaldi .O
articulista do Il Corriere d’Italia em resposta descreve que o jornal deveria
mudar de nome para Il Colono Austríaco, pois seu diretor
padre D. João Froncetti, era tirolês e
defensor obstinado dos impérios
centrais.
A força
da Europa ainda pesava sobre a colônia italiana A prova desta influência se dá
durante a Grande Guerra(1914-18) quando
392 voluntários “italianos”
muitos nascidos no Brasil, .de várias
regiões do estado inclusive de Porto Alegre , partiram em defesa da pátria
italiana. Catorze deles morreram em batalhas na Itália, tendo sido erguidos
monumentos em sua homenagem e placas
comemorativas.Em Garibaldi , na Sociedade Stella d’Italia foi colocada uma
placa lembrando os soldados Pietro
Brunello e Guerino Gobbi mortos em combate na Itália. Em Caxias foi colocada
uma placa na base da estátua de Dante
Alighieri,em homenagem aos combatentes mortos
Raffaele Zambelli e Ângelo
Bracagioli. 28 Estas placas sumiram
durante a Segunda Guerra. Como naqueles tempos ainda não havia muitos ladrões
na região.o roubo foi atribuído à política.
A
Itália parecia ser ainda a pátria dos italianos nascidos no Brasil.,mas na
então 2º Região Policial do Rio Grande do Sul não aconteceram problemas entre as autoridades brasileiras e os
italianos,nem deixaram de circular os jornais locais em italiano.As
empresas regionais durante a Guerra apresentaram crescimento econômico, dedicando-se à
produção de peças e de máquinas e de máquinas para reposição, que durante o
conflito não podiam ser importadas, dando inicio encaminhando
ao futuro de Caxias no setor metal mecânico.
.Em
1922 a população as regiões colônias tinha nada menos que 924.000 habitantes, o que correspondia a 41,5% do total da população do Estado que
era de 2.226.000 habitantes.. Do total de estrangeiros 295.000
eram italianos de origem, ou seja, cerca de 32% do total da população
estadual, 29Tais números eram
decorrentes não só do crescimento
vegetativo da população como também pela
entrada grande de imigrantes europeus
após a Grande Guerra, temerosos com a possibilidade de novos conflitos.
Industriais e intendentes buscavam ainda mão-de-obra especializada na Itália.
Os responsáveis pela entrada de novos imigrantes foram Abramo Eberle e Celeste
Gobatto. Os novos imigrantes italianos serão importantes para a política
regional.
Outra questão merece reparos nos municípios
originários de antiga colônias, em seus anos iniciais houve prefeitos italianos ou de origem. No
inicio foram apenas lusos de origem e pouquíssimos intendentes italianos de
nascimento, entre eles Tal fato chama a atenção das autoridades italianas que
visitam a região que observam o fato.Outro fato merece atenção na região há
preferência por candidatos nascidos fora das cidades onde se candidatam.Prefeitos
nativos só passam a ser eleitos a partir de 1946.
. As mazelas políticas
determinadas pela política positivista e as fraudes eleitorais geram as
condições para a revolução de 1923.A antiga divisão das elites gaúchas em pica
paus e maragatos é renomeada passando a
chamar-se de “borgistas” e”
assisistas”. Borges de Medeiros, presidente do estado, ao ser eleito de forma
fraudulenta pela quinta vez consecutiva, provocou a revolta
dos antigos federalistas liderados por
Francisco de Assis Brasil,que
exigem mudanças políticas ,
como o voto secreto e a moralização das eleições.
O conflito teve inicio em
janeiro de 1923, quando Borges de Medeiros assume o quinto
mandato no governo estadual .As lutas
duraram dez meses e foram lideradas
pelas mesmas figuras de 1893, o comando foi das tropas revolucionárias
foi assumido pelo general Joca Tavares .A repetição também ocorreu na região
colonial italiana, são reeditadas as invasões de propriedades em busca de
alimentos e munições para as tropas.Como em 1893 a maior parte da população das
antigas colônias continuava simpatizante
dos antigos maragatos (“assisistas”), mas as suas autoridades constituídas eram pica paus (“borgistas.)Como se o tempo e a
revolução anterior não tivessem passado.
Os
antigos chefes regionais de 1893
reaparecem .Belisário Batista mais uma vez organizou uma tropa de pouco menos
de 200 homens, para deter as tropas de Firmino Paim, que comandava as tropas
legalistas no Norte do estado. Segundo as lembranças regionais Belizário tinha
como tarefa distrair Paim enquanto entravam armas para os rebeldes, vindos de
Santa Catarina. Segundo os jornais da época durante a revolução de 1923 e a região viveu momento de tensão,pois, era temida
a reedição dos combates de 1893. Especialmente quando da visita a
região do general Zeca Neto.
O
grande palco das lutas foi
São Marcos devido sua proximidade
com os campos e as lideranças federalistas de cima da serra, nesta região se
travaram vários combates.Também as perdas de vidas foram grandes nesta
revolução. A mais famosa foi a dos irmãos Biondo assassinados em Ana Rech pelas
forças da brigada e a do jovem Quintino Biazus de Nova Trento, que morreu em
Caxias Seu enterro reuniu a população
caxiense a .brigada não conseguiu dispersar a multidão. 30
No
Álbum comemorativo do cinqüentenário da Imigração, os italianos são
apresentados “como espectadores
imparciais do conflito “e a comunidade
estrangeira que mais danos morais e materiais sofreu. “31 São citados os casos dos irmãos Biondo e o heroísmo de Rosa Togo,
que matou um federalista em defesa de seu velho
sogro. Não resta dúvida que muitos inocentes foram envolvidos na revolta
de 23,mas muitos “italianos “que lutaram
nesta nova revolução entre eles : Antônio Segalla, Luìs Ceconello, Quintino
Biazus,Virgílio Fabris,Américo Martini,Alfredo Bacichet, José Mandelli. 32 Só a morte impediu a retomada da luta pelos antigos líderes
maragatos retornar a luta.Apenas José Nicoletti
voltou à luta mas do lado dos
legalistas.
A
região mantinha sua fidelidade aos “assisistas” Os números da eleição de 1923
no 1º distrito eleitoral evidenciam a
sua posição política “a oposição
venceu com larga diferença: os republicanos obtiveram 1023 votos e os
‘ba-ta-clans’, como eram chamados os oposicionistas, 1790 votos. Os municípios
onde a oposição venceu são: Caxias, 756 votos a favor da oposição; Alfredo
Chaves, 234; Garibaldi, 8333
Pela
região foram eleitos três deputados
estaduais” assisistas.”Os borgistas para impedir nova derrota em Caxias
lançaram a candidatura do Dr.
Celeste Gobatto, italiano, unindo as
duas facções pela primeira vez em
coligação. Assim o agrônomo italiano foi eleito prefeito com 1.119 votos. 34A vitória de Gobatto se deu ao arrepio
da lei que exigia a cidadania brasileira e residência de um ano no município, condições que o
candidato não possuía.
BRASILEIROS X ITALIANOS
Enquanto ocorriam as lutas políticas, a economia não estacionava. E as
emancipações se sucediam.Em 1924 novos municípios são criados na região e os nomes revelam que algo está mudando
.Capoeiras distrito de Alfredo Chaves se emancipa com nome de Prata, Nova Trento se emancipa de Caxias, no mesmo ano, mais tarde mudou
seu nome para Flores da Cunha
Nova Vicenza, em 1934 distrito de
Caxias se emancipar com o nome de
Farroupilha, em homenagem à Revolução de 1835.
Na região ocorrem
alguns fatos curiosos como a manutenção nos novos municípios do nome de velhos
oligarcas do Império como Alfredo Chaves e Antônio Prado Estranhamente a região
ficou dividida entre Caxias, cujo nome homenageava o herói legalista e Garibaldi
de Bento Gonçalves homenageando os
rebeldes e dividindo as duas facções a
cidade Farroupilha.
Em 1930 irrompe no Brasil, a Revolução de 30.
O grupo de industriais da chamada região colonial italiana contribui com
doações polpudas para o movimento.No álbum alusivo ao evento expressivas
figuras da então chamadas forças vivas
aparecem como apoiadores de
Getúlio Vargas. Seguidor fiel de Borges de Medeiros, Vargas era positivista e nacionalista. Como
presidente do Estado que participara das comemorações do cinquentenário da
imigração italiana. Conhecia a região e suas posições políticas.
Nesta época ocorre a organização dos sindicatos de
trabalhadores metalúrgicos, de
alimentação e vestuário, dos bancários entre outros que se unificaram nos
Sindicatos Reunidos, que uniram os
trabalhadores, promovendo lutas por melhores salários ,greves e
ações semelhantes aos do pais. Nas lideranças do movimento muitos
nomes italianos como os de Ernesto Bernardi, e mais tarde por o de Bruno
Segalla. O sindicalismo regional começou com a organização anarquista da
Associação dos Tanoeiros mas de 1930 a 1964
a direção do movimento passou
para o Partido Comunista Brasileiro.
Enquanto os trabalhadores
se organizavam os comerciantes e industrias e imigrantes italianos recém
chegados apoiavam o nacionalismo. Muitos envolvem-se ao mesmo tempo com o fascismo e com o “borgismo”associado-se
tanto ao Partido Nacional Fascista
Italiano (PNFI) como ao Partido Republicano Riograndesnse, O
exemplo de Luigia Grossi fez escola, servir
dois senhores fazia bem aos
negócios.
Neste mesmo período em 12 de novembro de 1931, foi criada a Loja
Fraternidade Terceira foi fundada pelos irmãos: Alberto Custet de
Machevile,francês nascido em
Valença,José Moreira Alves ,médico,Dinis Burdepe francês, viajante, Leo de
Machevile,engenheiro Mauricio Dela Nei, engenheiro Civil ,Gentil Alencar
Viajante.
Na nova fase da maçonaria
local poucos são os italianos de origem que a elas associam ,ao contrário do que acontecera nos
primeiros tempos. A fundação da loja Marechal Deodoro 31, sob os auspícios das
lojas simbólicas,inicialmente teve
poucos associados 36.Deve-se
lembrar que Mussolini unido a Igreja após 1929, movia dura batalha contra a
Maçonaria, motivo pelo qual apenas os não italianos a ela se associavam
Na região foram criados fasci
ligados ao PNFI. A expansão dos
camisas negras faz com na região ocorram alguns enfrentamentos entre as
facções. Nacionalistas italianas e brasileiras. 37
Com a criação do movimento
integralistas a ele se reúne expressivo número de descendentes de imigrantes
italianos Na região, o grupo
integralista foi muito forte
politicamente.Em seus quadros militavam políticos influentes como Mansueto
Bernardi, natural de Alfredo Chaves, que ocupou
cargos de relevo no governo de Vargas antes de 1938. O integralismo teve
papel na nacionalização da região.Fato destacado tanto por Oswaldo Ártico e
Arthur Rech em entrevistas concedidas à
autora na década de 1980.O culto à pátria brasileira e aos valores da família e da pequena
propriedade calaram fundo no grupo, e este teve papel fundamental no
reordenamento político da região.
A expansão do movimento
fascista e sua respectiva propaganda, por outro lado, ocasionou a revolta entre
os habitantes da região que já se consideravam ( e eram) brasileiros. Reação se fez sentir na criação
das Ligas de Defesa nacional, nos
centros cívicos e através da imprensa
regional . Os centros cívicos no período
da guerra também propagavam o
nacionalismo .Na defesa do nacionalismo uniam-se integralistas e comunistas
carregando a mesma bandeira contra
os fascistas, que defendiam os mesmos
princípios, só quem em relação à outra nação, ou seja a Itália. Estranhamente
fascismo e nacionalismo dividem as famílias e a política regional ,na qual
soberana impera a intransigência.
A ação dos nacionalistas brasileiros teve
inicio após o Estado Novo (1937-1945), quando os estrangeiros passam a ser
considerados perigosos pela recém promulgada Lei da Segurança Nacional (1935).
São mudados nomes de ruas, logradouros e cidades e distritos como Nova
Milano cujo foi mudado para Caruara , a avenida Itália para Avenida
Brasil e até a praça Dante Alighieri transformou-se em Rui Barbosa. Os nacionalistas dos dois
blocos brigavam entre si enquanto isto o
governo estava vigilante.
Os relatórios do
Departamento de Ordem Pública e Social revelam que este sempre esteve de olhos voltados para a
região, anotando e registrando nomes de
nacionais e de estrangeiros adeptos do comunismo e dos italianos proprietários de terras e de
indústrias.
A Segunda Guerra (1939-45) estimulou ainda mais as campanhas de
nacionalização. Foram proibidos de circular os jornais escritos em língua
italiana e de falar em italiano em público . Casas foram invadidas
em busca de armas, colonos presos e o terror instalado, as festas da uva
interrompidas. Desta vez não houve voluntários para a defesa da Itália e a
região ofereceu grande contingente de pracinhas para a defesa do Brasil. Com a
Guerra só havia brasileiros na região, através do terror.
Após a Guerra a maçonaria se expande sendo criada em 1945 a loja Marechal
Deodoro 31, que passa a reunir a elite intelectual local.De seus quadros nascem
vários líderes políticos regionais.
BRASILEIROS?
Não é possível negar que a Guerra e o nacionalismo de Vargas estimularam a
participação dos italianos e
de seus descendentes na política estadual.Por outro lado a derrota dos integralistas e mais tarde
a de Mussolini encaminharam à uma nova
ordenação política regional
O fim da Guerra e a
redemocratização(1946-1964) foi marcado pela ampliação do ensino técnico e o advento dos cursos superiores que preparam
melhor os habitantes da colônia para a prática política. Por outro lado
muitos estudantes passam a procurar cursos superiores na capital ,formando-se assim um grupo intelectual de
origem italiana.
A Revolução de 1964 determina o avanço do parque industrial regional,
através de polpudos investimentos no aumento do seu parque industrial, com a
ampliação de industrias já existentes e a construção de empresas modernas,
dotadas de tecnologia de ponta.Com o aumento da capacidade produtiva
regional houve crescimento da população devido a vinda de
mão de obra não qualificada, de operários especializados e de técnicos
Não se pode esquecer que este crescimento econômico passou a exigir maior
participação política regional na defesa dos interesses das grandes empresas
.Por outro lado a melhoria do
ensino, da economia e aumento da população
tornou possível a eleição de seus
representantes tanto na Assembléia,como
na Câmara e até no Senado da República.
O
crescimento econômico e o aumento da população regional determinam o avanço da
maçonaria, com a construção de novas lojas e templos aumentando o número associados e a sua participação política regional. .Em 1968
foi fundada a Loja Duque de Caxias
terceiro milênio ,foi acordada a Força e Fraternidade todas com templos
próprios Sua influência a partir de então é decisiva na criação de cursos superiores e no encaminhamento dos resultados das eleições Na Câmaras de
Indústria e Comércio segundo Cruz a maior parte dos associados são irmãos ,39
ao serem comparado os nomes dos maçons associados às diversas lojas e a dos a
relação dos empresários a relação fica
evidenciada.
Na criação dos cursos superiores da região a Igreja e maçonaria unidas
através da Mitra Diocesana e da Sociedade Hospitalar Nossa Senhora de Fátima entre
outras criam a Universidade de Caxias
do Sul.
A maçonaria passou a ter papel
decisivo também nos rumos da política regional. Se o pensamento hegemônico
regional foi traçado pela Igreja no poder dirigente a mão da maçonaria está
presente.Os representantes dos dois grupos apresentam profundas ligações com a
classe produtiva regional, visto que durante muito tempo tiveram um inimigo
comum: o comunismo. Morto o comunismo sobram os interesses comuns do mercado e
o temor mútuo das mudanças sociais, com a perda das prerrogativas de classe.
Hoje os caminhos e os descaminhos da política e das lutas sociais da região
são mesmos do Brasil. Após 1946 as lutas políticas e as divisões sociais se dão
entre brasileiros, os vínculos da região com a Itália, suas glórias e seus
problemas, estão recuando no tempo.O morador da região em seus gesto, nas
explosões de sentimentos, no gosto pela
comida, pelo vinho, enfim no modo de ser
e de fazer lembra o da velha
Península. Uma delas parece ser a
política.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Centenário da Imigração Italiana. Porto Alegre: Edel,1975.p.325 a 327
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econômicos da imigração italiana. IN:Imigração Italiana:Estudos. Caxias do
Sul ,Educs,1979.p.20
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Organizador.Porto Alegre:EST/Fondazione Giovanni Agnelli, 1987,p.523
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Eresp.Loja Força e Fraternidade de Santa Tereza de Caxias do Sul, 1887 –1903.
.Monografia não publicada, eleborada em Caxias do sul ,1977
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Eliane L. A maçonaria gaúcha. Passo
Fundo: EDIUPF, 1998, p.570.
6 COLUSSI,
Eliane L. A maçonaria gaúcha. Passo
Fundo: EDIUPF, 1998, p.570.
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8 BORGES FORTES, Amyr. Compêndio de História do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre:Sulina, 1965 p150 a 152
7 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 –
1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971, p.321 e 342
9 ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 –
1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971, p.321 e 342
10 COSTA
Rovílio e BATTISTEL, Arlindo..Assim
Vivem os italianos.Vida, história,cantos,comidas e estórias. Porto
Alegre:est,1984..p.341.
11 TAVARES,
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,Coralio B.Pardo e outros. Porto Alegre: ProcuradoriaGeral de Justiça ,2004
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AXT,Gunter. Os diários e a
revolução>IN: TAVARES, Francisco da Silva. Diários da Revolução de 1893.
Tomo I Organização de Cabeda ,Coralio B.Pardo e outros. Porto Alegre:
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13 ADAMI,
João Spadari. História de Caxias do Sul
1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.386
14 ADAMI,
João Spadari. História de Caxias do Sul
1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.375 a 38
15 ANTUNES, Dumiense
Paranhos.Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul.1875-1950.São
Leopoldo:ARTEGRÁFICA.1950.P.51
16 Ata do
dia 14dejulho de 1894. Livro de Atas nº 3
de 7 de novembro de 1894 a 17 de outubro de 1897 p15
17
ANCARINI,Humberto, A colônia Italiana de Caxias. IN:A Itália e o Brasil..
Organizador Luís Alberto de Boni,Caxias do Sul:Est/Educs,1983 p.28
18
BRANDALISE, .Ernesto ªParóquia de Santa
tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.27
19
BRANDALISE, .Ernesto ªParóquia de Santa
tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.32
20 Livro de
Atas nº 4 de 27 de setembro de 1896 a 30 de setembro de 1897 p.13
21 Idem p.1
21
BRANDALISE, .Ernesto ªParóquia de Santa
tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.33
22
BRANDALISE, .Ernesto ªParóquia de Santa
tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.33
24
BRANDALISE, .Ernesto ªParóquia de Santa
tersa.Cem anos de fé edehistória 1884-1984.Edição do autor.p.33
25
COLBALCCHIHI,Pietro .Guida Spiruali per l”emigrato italiano nella América.
Milano:Bereterlli:1890.p.204
26 CAPRARA, Andréa. Bento Gonçalves – jornalismo opinativo. Monografia do Curso de
Comunicação Social – Habilitação Jornalismo. São Leopoldo, UNISINOS, julho de
1991, p. 56.
27 25dem, p. 56.
28 Cinquantanario della colonizzazione
italaina nello Stato del Rio Grande del Sud:1875-1925.Porto Alegre/ Roma:
Globo/ Ministero degli Affari Esteri , 1925. p.429 a 426
29 Mensagem de Borges de Medeiros. In:
DUCATTI Neto, Antônio. O Grande Erechim e sua história. Porto Alegre: EST,
1981. pp. 83 e seguintes
30 ADAMI,
João Spadari. História de Caxias do Sul
1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.400 e seguintes
31 Cinquantanario della colonizzazione
italaina nello Stato del Rio Grande del Sud:1875-1925.Porto Alegre/ Roma:
Globo/ Ministero degli Affari Esteri , 1925. p.452
32 ADAMI,
João Spadari. História de Caxias do Sul
1864 – 1962. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1967, p.400 e seguintes
33 MONTEIRO, Katani Maria Nascimento. Um italiano
irrequieto em contexto revolucionário: um estudo sobre a atuação de Celeste
Gobatto no Rio Grande do sul – 1912-1924. Dissertação de Mestrado defendida na
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em setembro de 2001, pp.
154-155.
34 Idem.164
36 Jornal de Caxias 17 dezembro de 1984
p.11Ano II n 617
37 Sobre o
tema a fonte principal é GIRON,Loriane Slomp.As sombras do littorio.O fascismo
no Rio Grande do Sul.Porto Alegre:Parlenda,1994
ResponderExcluirOlá, bom dia,
Sou escritor especializado em transformar histórias pessoais,
familiares e corporativas em livros, atividade pioneira iniciada há
33 anos. Assim essas trajetórias serão resgatadas e preservadas
da melhor forma, através de textos e imagens emocionantes,
evitando que sejam apagadas gradativamente pela ação do tempo.
Vale lembrar que o livro corporativo poderá ter patrocinadores,
sendo também uma eficiente ferramenta para fidelizar clientes,
gerar vendas e abrir novos mercados.
Vamos trocar algumas ideias a respeito?
Abraços, obrigado e até breve!
www.vidaescrita.com.br
Muito obrigado professora Loraine! Suas informações foram importantes para o nosso trabalho!
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