quinta-feira, 24 de julho de 2014

UMA CAXIAS INVISIVEL




Há na cidade uma cidade que já não se vê. Escondida no passado, apenas alguns de seus rastros podem ser vistos, ou melhor, pressentidos. Um dos maiores vazios é o da metalúrgica Abra mo Hebreu. O prédio continua no mesmo lugar, meio sem janelas, meio sem vida. O relógio parado e a pequena casa no alto do prédio, símbolo do progresso da Hebreu quase desmoronando. Não há dúvidas que essa é a maior lacuna. Houve épocas em o sino da Eberle ,mais do que o da Igreja ,marcava as horas. Da entrada do meio dia e da saída. Dizia-se então:Não vão servir o almoço ? Dizia-se Abramo já tocou como se o dono estivesse batendo o sino, e mais tarde a sirene. .Era a marcação dos passos da pequena cidade aconchegada aos pés da Metalúrgica. Era o símbolo do trabalho e da possibilidade de enriquecimento por meio dele. Era o mito da terra feito prédio.


Gerações se criaram na sombra da Eberle e dezenas de empresas nasceram em decorrência dela, se poderia afirmar que a Eberle é a mãe e matriz do polo metal mecânico de Caixas. Faz anos que a Eberle fechou. Hoje suas vastas instalações estão em compasso de espera, vazias!  Poucos se lembram do tempo que seu nome era a grife da cidade, como hoje é a Marcopolo. E que produtos e que beleza havia na loja no térreo onde eram vendidos no varejo seus produtos. Fragmentada pela força da herança deixou um vazio, que seus prédios vazios apenas revelam, de forma tímida. A falta de movimento é a revelação da perda.
Mas nãoé só ela. Outra empresa que ocupava a minha imaginação infantil  da cidade. Era o Lanifício Gianella, que nas Festas da Uva, expunha bonequinhos aconchegados e tremendo abrigados em seus quentes cobertores de lã natural com listras vermelhas. A fábrica era distante, ficava próximo da Igreja de Santa Catarina, parecia tão distante como em outro estado. È incrível como as distâncias encolhem com o tempo. Eram tempo de poucos produtos .Assim em cada casa da cidade  havia um( ou vários)  cobertor da Gianella.Quem se lembra da tecelagem Tupy e da fábrica de seda Panceri?Eram importantes e davam empregos, uma virou ruína e outra uma secretaria municipal.

Inesquecíveis os produtos do Frigorífico Rizzo, que produzia o melhor patê do mundo. Desvio Rizzo nasceu em 1938 graças a sua fundação. Só uma grande empresa podia se dar ao luxo de ter uma estação férrea com seu nome. Hoje dele só sobram ruínas. Até da pequena estação há só restos
E sem falar das vinícolas. Onde está o Luiz Antunes, a Michelon, a Mosele, a Brasileira de vinhos, a Cooperativa Vinícola Riograndense e a Santo Antônio? Foi-se para lugares esquecidos, de algumas há restos de outras nada restou.
Nem gosto de me lembrar das lojas. Nada restou apenas a Magnobosco as outras como a Prata viera,  a Farmácia  Perreti, a Vetorello entre outras tantas foram para o mundo invisível do era uma vez.Quem se lembra da maravilha que era a Auto Palácio?
E dos maravilhosos cinemas Òpera, Central e Guarani,onde vicejava o futuro e a alegria juvenis?



Basta ler a lista das empresas existentes em 1950 para verificar quantas deixaram de existir. Assim é o mundo e assim é a roda da fortuna que gira para cima e para baixo. Nada é permanente. Permanente apenas as crises do sistema que solapa algumas e ergue outras empresas. Essas poderão deixar de existir em tempos não tão distantes. È bom se prevenir.








Veja  também o blog Afrodescentes na Serra

Nenhum comentário:

Postar um comentário