terça-feira, 19 de agosto de 2014

O VALE DA DESILUSÃO IMIGRANTES ITALIANOS NO VALE DAS ANTAS


                                       
  

A BARREIRA INTRANSPONÍVEL


 Os homens da montanha conhecem a importância das águas. Sabem as dificuldades para a abertura de poços, sabem da importância da água corrente e próximas  .Os imigrantes italianos, em sua maioria, eram homens da montanha, amavam as águas  e julgavam que de seu curso brotava o fruto da terra e a riqueza almejada
Nas plantas das colônias elaboradas pela      Diretoria de Terras o Rio das Antas parece ser o caminho natural  para o progresso ,via de acesso a capital, via de transporte para os produtos.
Os imigrantes que escolheram seus lotes próximos do rio viveram o fim de  suas esperanças .O vale em garganta mais do que um caminho revelou-se barreira intransponível . O rio com suas escarpas ,.torrentes e desfiladeiros mais   separava que unia  os colonos .Ao rio somava-se a floresta  úmida e cerrada ,o lodo tornava intransitável as picadas abertas .O vale das Antas foi cenário da desilusão, da morte e da  fuga de  muitos colonos .A história do vale está para ser escrita .As sedes municipais e seu sucesso econômico  encontrou seus escribas , a  dos vales espera para ser reconstruída.
A imigração italiana não foi obra do acaso, para nortea-la havia um projeto de colonização O plano traçado pela Diretoria de Terras era clora . O centro das colônias não seria o rio das Antas ou qualquer outro rio. O centro da colonização se localizava na Sede Dante  , situada na colônia Caxias .
A política imigratória e de colonização , a fundação das colônias e a chegada dos colonos italianos nas antigas colônias  e o projeto de colônia traçado pela administração  constituem o objeto do presente trabalho que não esgota questão ,  mas encaminha algumas novas questões ,que merecem ser estudadas .



UM PROJETO À  BRASILEIRA

A vinda dos imigrantes dos imigrantes italianos para  trabalhar na agricultura faz parte do projeto de colonização do Império para povoar o Brasil .O projeto  que visava substituir  a mão de obra escrava pela livre sem ônus para o tesouro nacional, propunha  também colocar a venda terras  das quais não tinha sido provada a posses.
A mudança da política de terras e a de mão de obra eram complementares e  deveriam modificar profundamente a  fisionomia do país .A Lei de Terras de 1850 introduz  a terra no mercado. Pela Lei  608 as terras são sujeitas a compra e venda . As concessões imperiais são mantidas, o imperador pode oferecer as terras do Império aos brasileiros que as mereçam .Pobres, escravos  mesmo libertos , mulatos e mestiços não merecem a concessão de  terras ,para eles não vigorava  a lei do mercado.
A vinda de europeus pobres, agricultores e casados  de preferência para habitar e comprar as terras devolutas era uma necessidade do mercado de terras .Os italianos buscavam terra para si e seus filhos .Eram  brancos .Os  europeus pobres serão os compradores das terras que os brasileiros  ricos não querem e que não foram postas a venda para os brasileiros pobres. A opção pelo  europeu em detrimento dos brasileiros não brancos  revela o preconceito que o Império tinha contra seus súditos desvalidos.
A vinda dos italianos pobres faz parte do projeto .A  grande  empresa imigratória brasileira, que contrata companhias comerciais para importar estrangeiros .São os imigrantes ao comprarem as terras que não foram legalizadas por seus antigos proprietários, que vão  fornecer  os meios monetários  para movimentar  a empresa  colonizadora. As terras destinadas aos imigrantes são as refutadas pelas elites brasileiras.

AS TERRAS RECUSADAS

Os viajantes que percorreram o RS nos primeiros séculos após o povoamento ,não se atreviam  a visitar  a zona das matas. Ocupadas as Missões ,a Campanha e o Litoral  a zona da  então chamada Serra Geral continuava a espera de povoadores .A zona das matas continuava a ser um perfil distante, de belo e irregular a recorte  que fechava os limites do horizonte conhecido. São os contornos da Serra Geral que Saint   Hilaire avista e cita  nove   vezes[1], “a esquerda vêem-se ao  longe ,as montanhas da Serra geral ,começando, já ,a serem mais altas.”[2]
            Em  1858 [3]a observação arguta de Avé-Lallemant ,percebe  a  região “mais  como planalto do que como serra”. Com ele a encosta do planalto  recebe sua primeira descrição  . A Província para ele  não é “aquela terra uniforme ,de planícies imensas ,como algumas vezes se tem tentado descrever. Possui belas  serras, magníficas, por vezes de um selvagem romantismo ,com ásperos  desfiladeiros ,sombrias encostas, torrentes impetuosas e imponentes  cascatas...”[4]

A     Serra Geral não era bem conhecida no  final  do século XIX ,não fora habitada pelos sesmeiros que tinham recebido terras dos monarcas .A posse da terra  não se efetivara
.As matas despertam  terror, são supostos domínios dos perigosos selvagens. Nas matas não se cria o gado. Aos poucos as lendas substituem a  ocupação. Muitos são os mortos conhecidos pelos atrevimento de correr as matas.
Os jesuítas mais  afeitos  aos índios e as matas conhecem antes de todos a região, que é percorrida  a partir de   1717 no caminho que  leva o gado das Missões  para as Vacarias do Pinhais .Nas matas perdem alguns  jesuítas  morrem .Mas o gado deixado livre nos campos se reproduz e se  torna atrativo aos lagunistas e bandeirantes que ocupam o Planalto meridional em busca de terras  férteis e de  lucro fácil..
A região serrana que propiciou de forma indireta a ocupação do planalto foi a última  a ser  explorada ,  .a última a ser conhecida e a última a ser ocupada. A província tinha outras preocupações do que a ocupação da Serra.

A PROVÍNCIA E SEUS PROBLEMAS


No início do século XIX a Província apresenta  um período de prosperidade econômica, ligada especialmente às atividades agropecuárias e charqueadoras. O cultivo do trigo é uma de suas maiores riquezas ,a sua produção está ligada a  colonização realizada pela política pombalina que trouxe os açorianos para a capitania a partir de 1747.
A produção do trigo  aumenta  até 1814 , a partir desta data a produção entra em declínio devido ao abandono das lavouras, motivada pelas guerras e pela pragas que dizimam  as plantações.
 As  charqueadas gaúchas que durante décadas fornecem a alimentação para os escravos paulistas , não conseguem de enfrentar a concorrência das charqueadas do Prata A produção platina é de melhor qualidade e tem  melhor preço que a gaúcha ,devido a adoção de técnicas modernas na produção. Os produtores tinham pesados impostos a pagar na compra do sal, que não ocorre com seus concorrentes.
            Alem dos problemas econômicos ocasionados pela redução da produção tritícola e a crise da produção do charque  a Província  enfrenta ainda graves problemas políticos .As guerras platinas e a Revolução Farroupilha (1835-1845) demonstram a fragilidade dos laços que unem a província ao  governo imperial .A  fragilidade  é constatada tanto pela  possibilidade de invasão  da Província pelas repúblicas do Prata, como pela possibilidade da província  tornar-se independente cansada de esperar soluções de seus  problemas pelo omisso governo imperial.
            Após o término da Revolução a  população é  de  cerca de 180.000 habitantes, insuficiente para aumentar a produtividade agrícola.  A população de 1820 é  composta de 32.000 brancos, 5.399 homens de cor livres, 20.611 homens de cor escravizados e 8.655 índios ,segundo Saint Hilaire.[5] A partir de 1824 a  população é acrescida dos imigrantes alemães  que são localizados nos vales dos rios dos Sinos e Caí são poucos colonos que chegados nas véspera da   Revolução. A imigração de alemães é sustada  entre 1827 a 1846.
O governo toma providências para a defesa do território sulino , adoção do sistema de colonização e a introdução de  imigrantes ,especialmente italianos,  são parte da solução. A colonização deve  garantir a posse do território gaúcho para o Império  e ainda aumentar a produção  agrícola ,através do  cultivo das  terras  desocupadas.
Em 1872, quando é  reiniciado o movimento imigratório, a população da Província era de 446.926, dos quais 41.406 eram estrangeiros, 1/6 do território era ocupado por germânicos.[6]  
O Governo Imperial  em 9 de fevereiro de 1870, o Governo Imperial concede à Província dois territórios de quatro léguas em quadro, cada um, em terras devolutas entre o rio Caí, os campos de Vacaria e o município de Triunfo, para serem convenientemente colonizados."[7] Com a concessão da gleba tem início então a última etapa do povoamento da Província, que se inicia  no século XVIII, com a criação das primeiras fortificações militares.
Aos italianos cabe  a zona das matas, a zona da Serra Geral ,que havia sido relegada pelos campos nos quais os portugueses  podem  criar   gado. A  região se situa estrategicamente entre a região dos Campos de Cima da Serra, onde habitam  os lusos ocupados na pecuária,  e a Depressão Central, onde os alemães se ocupam da agricultura. A  colônia separa  os gaúchos da Campanha e os dos Campos de Cima da Serra, colocando um anteparo estrangeiro entre os gaúchos rebeldes das duas regiões.

Selecionada a  terra para a colonização trata-se de buscar imigrantes para compra-las e m 1872, pela Lei n.º 749, de 29 de abril,39 são contratadas as companhias Caetano Pinto e Irmão e Holtzweissig e Caetano Pinto   para  a introdução dos colonos. O governo para receber os colonos europeus, monta  a infra-estrutura   a terra e a   administração colonial.





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UMA TERRA DE COLONOS

O Rio Grande tem longa tradição em sediar colônias, tem pouca em administra-las. Dada a sua posição estratégica situada, na região de disputa entre Espanha e Portugal, foi  a região que mais colônias imperiais abrigou imperiais .A razão para as formação de colônias imperiais em território gaúcho  deve-se de um lado ao histórico litígio entre os países do Prata e o Império brasileiro pela posse das fronteiras sulinas e  de outro lado a rebeldia sulina.
            Mais de 160  colônias oficiais e particulares são  criadas no período compreendido entre 1822 e 1914. Do total das colônias  oficiais criadas pelo império em todo o Brasil  ,cerca de 48 % do total  situa-se no Rio Grande do Sul.[9]
 A criação de colônias particulares apresenta percentuais  semelhantes  as oficiais ,aproximadamente 34 % do total  estão no RS .Os proprietários particulares reproduzem o sistema colonial do império redesenham o mapa provincial fragmentando-o em colônias agrícolas .
Colonos em busca de terras para o cultivo aumentam a demanda por lotes, tornando a província o centro da especulação imobiliária brasileira. Se o número de colônias  do RS é o mais elevado do Brasil os dados não se repetem em relação ao número de imigrantes entrados na província meridional. Ao que tudo indica cerca de 16 % do total de imigrantes italianos chegados no Brasil fixaram-se no Rio Grande.[10] O Governo imperial vendo que a província não agiliza a colonização retoma as terras  que havia cedido dando inicio a colonização.




O MERCADO DE TERRAS

            A organização de uma grande empresa colonial envolve gastos. Necessita ainda de um sistema complexo de adminstração  regionalizada sob a coordenação geral do Ministério da Agricultura e das Inspetoria Geral de Terras. Todo o trabalho deve ser planejado .Todos os passos devem ser medidos.
            Numa época em que o planejamento  até como palavra  era inexistente o projeto imperial para vender terras e importar compradores de  terras  é extraordinário. Exige um complexo de medidas envolvendo a iniciativa privada e a pública.
             São necessários  contratos com companhias particulares  para buscar colonos na Europa .São elas que  vão se responsabilizar pelo seu transporte dos colonos europeus  até o local da colônia. Os vultosos contratos prevêem no inicio o pagamento das passagens pelo Império.
 No plano público são formadas comissões para gerenciar as Colônias e nomeados os responsáveis pelo empreendimento a nível nacional e regional. .No Rio Grande do Sul são nomeadas comissões de terras ,compostas de número variável de integrantes. Geralmente tem um diretor nomeado pelo governo e ainda e .engenheiros ,topógrafos e oficiais administrativos ,completam o pessoal técnico e administrativo.
   São construídas barracas para abrigar os colonos nas regiões desabitadas e aproveitados antigos quartéis nas  zonas urbanas. são medidos os lotes e contratados comerciantes para receber os vales para alimentação que os imigrantes tinham direito até colher a primeira safra. São organizados os registros nos portos e os livros de registro de  assentamentos das dívidas dos colono para cada colônia criada. Há   a necessidade de escriturários competentes par acompanhar a operação de venda das terras e do pagamento das dívidas.
Há a necessidade de agrimensores para a demarcação de lotes, há  a necessidade de engenheiros para a elaboração das plantas coloniais. Há a necessidade de administradores para as colônias ,que servem de ligação entre os imigrantes e o Ministério da Agricultura .São eles responsáveis pela receita das colônias e pela aplicação das verbas  geradas pela venda das terras.
Enquanto de estrutura a empresa começam a chegar os imigrantes. Os que chegaram nas primeiras levas passaram a ser empregados pela comissão local  na abertura das picadas e na limpeza  de parte dos lotes .Na demarcação das terras e no transporte dos outros imigrantes. Trabalho era o que não faltava nas colônias , as vezes faltava o pagamento do trabalho realizado.
Os imigrantes são essenciais para a empresa , tanto  como trabalhadores braçais para as tarefas de abertura de picadas e queima da mata  ,  como os compradores da mercadoria  que devem ser vendida :  a terra. Sem os colonos  não há possibilidade de venda das terras para as quais não há outros compradores.



COMPRADORES DAS TERRAS

A maior parte dos imigrantes  veio do Norte da Itália, da Venécia, da Lombardia e de Trento, com eles vieram em número menores imigrantes das regiões  da Europa Poucos  eram  da Itália meridional.
            Na realidade, se o norte da Itália foi um corredor por onde transitaram todos os e povos e tribos desde a antigüidade. Os imigrantes que vieram  como súditos italianos ou austríacos, tanto poderiam ser eslavos, germanos ou judeus.
            Os italianos eram súditos de um reino recém  criado. Eram camponeses que viviam em pequenas povoações  com características e línguas  próprias Unificação foi traumática para os moradores do norte da Itália .Guerras  continuas assolam a  região do Vêneto a partir de 1860 . A convocação de jovens  para ao exército  faziam tremer  a família  de agricultores que precisavam de todos braços para a lavoura.
            O novo Reino ,por outra lado exige impostos sobre a terra ,o que torna insustentável a situação dos  pequenos agricultores .Safras insuficientes  e fome endêmica empurraram os agricultores para fora de sua pátria. Pequenas vilas  ficaram despovoadas e os melhores agricultores da Itália vieram para a América.

Não é de estranhar que o maior contingente de imigrantes entrados no Brasil , no último quartel do século XIX e primeira década do XX , seja  o de italianos Segundo dados oficiais dos 2 633 460 imigrantes entrados no Brasil entre 1884 e 1913 , nada menos que 1 272 989  ou seja 48,3% do total eram provenientes do reino da Itália[11]

No Rio Grande do Sul  no citado período entraram cerca de 100 000 imigrantes ,destes 55 217  eram italianos, ou seja 54,7% do total ,conforme pode ser observado na tabela  .O número corresponde a pouco mais de 4,35 do total de imigrantes italianos entrados no Brasil ,entre  1885 e    1906.O baixo percentual é enganoso já que a o  Rio Grande do Sul era parcamente povoado .A região da Serra Geral desconhecida e desabitada foi tomada de assalto pelos imigrantes ,que isolados criam uma nova cultura e uma nova economia regionais.


IMIGRANTES ENTRADOS NO RS 1885-1906         

Ano
Imigrantes italianos
total imigrantes
percentual de italianos
1885
7 260
8 296
87,5
1886
2 352
3 354
70,1
1887
4 360
5 328
81,9
1888
4 241
4 927
86,0
1889
7 578
9 187
82,4
1890
2 701
19 485
13,9
1891
9 440
20 739
45,5
1892
8 496             
7 525
88,5
1893
1 503
2 795
53,7
1894
4 240
855
49,5
1895
1 978
2 469
39,6
1896
917
3 095
29,6
1897
690
1 451
47,5
1898
980
1 606
61,0
1899
1 070
1 956
54,7
1900
745
1 503            
49,5
1901
631
1 255
50,2
1902
359
847
42,3
1903
305          
743
41,0
1904
293             
834
35,1
1905
247               
963
25,6
1906
316               
685
46,1
total
55 217
100 869
54,7

Fonte :Pesciolini ,Ranieri Venerosi.






AS  COLÔNIAS DAS ANTAS


A região  colonial italiana  no Rio Grande do Sul é  estabelecida na encosta superior do Planalto, entre os vales do rio Caí e do rio das Antas . A área  destinada à  colonização era de cerca de 337 440 hectares ,o que pressupõe a disponibilidade  de
13 500 lotes rurais ,de 25 hectares cada .[12]
Os  seus limites naturais são   a Leste e Norte   os Campos de Cima da Serra ,  Oeste a continuação da  então chamada Serra Geral e ao  Sul  o vale do rio  Caí e a  Depressão Central. Os colonos italianos sob o ponto de vista  de etnias estão cercados ao Sul pelos alemães, ao Norte , Oeste  e Leste  pelas brasileiros de origem lusa.
A região faz  parte das terras devolutas que o Império possuía na Província , terras cuja posse não havia sido reclamada  e legalizada  pelos antigos sesmeiros
 A divisão de terras, nas colônias, obedece ao sistema de glebas contínuas denominadas léguas. Cada légua era formada por um quadrilátero de 5.500 metros de lado. As léguas esão divididas no sentido longitudinal por linhas denominadas de travessões, em algumas léguas são demarcados dois ou três travessões, no sentido vertical. A partir do travessão em ambos os lados são demarcados os lotes. O número de lotes por travessão não era fixo, em média, havia 32 lotes por travessão. O número médio de lotes por légua era de 132.[13]

.Entre as seis  colônias demarcadas ao longo das Antas  são  concedidas  terras à particulares pelo governo imperial e provincial .As glebas de terras doadas pelo governo a nacionais,servem de anteparo entre as colônias povoadas por estrangeiros.Tal sistema faz  parte da política imperial de colonização.Os ricos recebem as terras enquanto os pobres as compram. Para os legisladores do império os proprietários particulares representam  uma salvaguarda da paz  e da  nacionalidade diante dos  colonos estrangeiros  ,que somam sua  a pobreza  a ignorância .
Correspondem a  9  sesmarias as terras dadas pelo governo aos particulares em áreas limítrofes àquelas destinadas a colonização.Os  proprietários tem para si e suas famílias tantas terras disponíveis quanto as destinadas aos mais de  cinquenta mil colonos e suas famílias



Proprietários de terras particulares na zona  colonial-1897

Proprietários
localização
Eduardo Palassim
Rio Guaporé
Trajano V. de Medeiros
Rio Carreiro
Antônio Fialho deVargas
Rio Carreiro
Amália Fialho e Dutra
Margem direita do rio.das Antas
Trajano Medeiros
Martgem esquerda do rio das Antas
Silvero de Araújo
Norte da C. de Alfredo Cahves
Luís Antônio Feijó Jr
Entre a C. Caxias e a D.Isabel
Dr. Coutinho
Arroio Jaboticabal
José Baptista
Rio Carreiro
Fonte :Diretoria de Obras públicas


No perído compreendido entre 1875 e 1908  foram demarcadas  e vendid os de 11 colônias :Conde D’Eu , Dona Isabel, Caxias  ,Silveira Martins, Encantado ,Antônio Prado ,AlfredoChaves, Jaguarí, Guaraní,Guaporé e Erechim. Conforme tabela abaixo

Colônias oficiais do RS 1875-1908
Colônia
fundação
tipo
Conde’Eu
1875
oficial
Dona Isabel
1875
oficial
Caxias
1875
oficial
Silveira Martins
1877
oficial
Encantado
1878
oficial
Alfredo Chaves
1885
oficial
Antônio Prado
1886
oficial
Jaguarí
1889
oficial
Guaraní
1890
oficial
Guaporé
1898
oficial
Erechim
1908
oficial
Fonte:Pesciolini,Ranieri Venerosi.p.38
Le colonie italiane nel Brasile Meridionale

As colônias criadas nas décadas de setenta e oitenta são povoadas por italianos .As criadas na década de noventa são formadas por europeus de várias  origens, já não se pode falar em colônias italianas após 1890 .A república por precaução prefere misturar os imigrantes o que  acelera a aculturação e a adoção da língua nacional como única para a comunicação entre os   vários falares dos vários povos.


LEITURAS DA PLANTA

São 5 as colônias e um núcleo  colonial que tem o vale do rio  das Antas como centro geográfico .Criadas entre 1875 e 1886 são   povoadas  por italianos,que constituem maioria absoluta  Trentinos  e brasileiros completam o total dos colonos.
A planta das colônias italianas  elaborada pela Diretoria de Obras em 1897 oferece dados importantes para o conhecimento da situação sócio econômica regional.A primeira constatação é que as colônias correspondem a um retângulo com pouco mais de 100  km de largura, na direção Leste-Oeste  e pouco mais de 90 km de altura,na direção Sul-Norte.
A leitura da planta demonstra que ainda o traçado das colônias lembra a forma de ocupação do Oeste dos Estados Unidos, onde a divisão dos territórios e das propriedades, não segue a linha tradicional das fronteiras naturais,como as utlizadas no continente europeu.. São traçados  colônias  e lotes a partir dos paralelos e meridianos.[14]
O mesmo traçado geométrico é   usado na demarcação dos futuros sítios urbanos das colônias. Quadras  de 90m de lado, ladeiam  a rua principal, que corta a povoação no sentido Leste-Oeste. A escolha dos sítios urbanos não previa condições para o crescimento demográfico.Os engenheiros  parecem desenhar para o presente.  O  local escolhido para os núcleos  urbanos   é o centro  geográfico da de cada uma das colônias .A escolha geográfica segue o projeto   governamental .Tal escolha acarreta problemas  para as  cidades colonias como : terrenos impróprios para a expansão urbana  , falta de água potável e dificuldade  da instalação de esgotos cloacais .
A  semelhança  existente entre as cidades da região colonial é devida ao modelo comum  utilizado na colonização oficial ..
.A localização das   sedes colonias   da região é simétrica  .Marcadas  nos vértices  de um paralelogramo No lado   Sul os vértices são ocupados pelas sedes das colônias Caxias e Dona Isabel   distantes uma da outra 48 quilômetros . No lado Norte os vértices são ocupados pelas sedes de Alfredo Chaves e Antõnio Prado separadas por 43 quilômetros. Os lados do paralegramo  tem   cerca de 45 km  .
As sedes não se situam nas margens do rio das Antas . O rio das Antas corta o  quadrângulo em diagonal em cerca de 100  km ,O centro   gográfico da região   colonial ao que tudo  situa-se no meandro que marca  confluência dos   rio Turvo e Antas. 
Os vales dos rios ,pelo Regulamento de 1854[15] da Lei de Terras ,são considerados reservas florestais .Os  engenheiros do império tem conhecimentos para entender a importância da preservação   florestal ,em época que nem a palavra ecologia havia sido criada.  O  vale rio das Antas no   coração da região colonial tem    seu destino traçado para se tornar  a  zona mais despovoada e pobre  de todas.
O fator que leva ao o Vale a se tornar pouco povoado não está ligado nem a suas margens altas e escarapadas nem a preservação das matas previstas na legislação.O  seu  esvaziamento é devido ao papel que os núcleos urbanos desempenham na zona colonial
As sedes  colonias são o centro administrativo regional .O centro   geográfico da colônia é o centro  do controle do  estado brasileiro sobre os estrangeiros è o local para opnde afluem os colonos para o pagamento de impostos e de suas dívidas .É o onde se estabelece o comércio .O comércio que gera o capital para a industrialização, e com ela ocorre a urbanização.


.A CRIAÇÃO DAS COLÔNIAS

Por Ato de 24 de maio de 1870, foram criadas as colônias de Dona Isabel e Conde D'Eu, situadas nos atuais municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi. Em 1871, havia apenas 37 lotes ocupados; para acelerar o processo, que se mostrava muito lento, foram assinados contratos, com companhias colonizadoras, pelo governo   da província , para a introdução de 4.000 colonos por ano,  pelo espaço de dez anos. Tendo a província se mostrado incapaz de conduzir o processo o Império passa  a dirigi-lo .
          A Colônia Caxias, com o nome de “Colônia situada aos fundos de Nova Palmira”, o aviso do governo, datado de 09 de fevereiro de 1870, que cede à Província as terras devolutas situadas na região das matas. A partir deste aviso do governo imperial é iniciada a demarcação das terras. É a região colonial que surge.
          A Colônia aos fundos de Nova Palmira tem seu início ao norte da Picada Feliz, indo até a margem do rio das Antas, ocupando 144.000,00 braças quadradas  o que equivale a 16 léguas quadradas.
 Alfredo Chaves é criada em 1885 ,distante 42 km. de Dona Isabel pela via Buarque de Macedo .Seus limites são : a Leste o rio Turvo a separa de de Antonio Prado,ao Sul o Rio das Antas a separa de Bento a Oeste o rio Carreiro o separa  de Guaporé  .A àrea é de  112 600 hectares  e os lotes coloniais são 2 100 .
 Antônio Prado situado a noroeste de Caxias é fundada em 1886 O território é de 40000 hectares, a populaçãoq uase  todos italiano.Outrora havia pequeno número de poloneses,hoje são poucos estão indo embora vendendo seus lotes aos italianos.A vila está situada a 770 metros acima do nível do mar, em vale fechado entre montes ,numa localidade  muito distante dos outros povoados. Duas estradas  a unem aos centros de comércio ,uma que vai a Caxias, passando por Nova Trento e outra que vai Nova Vicenza.,A estrada Júlio de Castilhos é boa .
                    As estradas são péssimas, o rio das Antas é atravessado por uma balsa, pagando 100 reis a pé e 200 réis a cavalo As condições do município são más por se encontrar no extremo Norte da zona de colonização. è a colônia mais próxima das zona dos Campos da Vacaria, vasto altiplano onde os estancieiros  criam gado. Em Antônio Prado há 2 pequenoas povoações Nova Treviso e Nova Roma. Na primeira há poucas casas e na segunda há uma dúzia de casas de madeira, dista trinta quilômetros e  vivem 250 famílias.São locais pobres e isolados  onde a população se conservou tal como veio da Itália,poucos falam português.
Alfredo Chaves distante 43 km de Antônio Prado criada em1885 ,tem uma área de   93.500 hectares .A Colônia está  dividida em 53 linhas ,com um total de 3644 lotes. Está situada a 856 m. acima do nível do mar.[16]
O  mais novo núcleo é Guaporé   dista 50 km  ,de  Alfredo Chaves o caminho é péssimo , tão barrento que só pode ser percorrido por mulas .Criada pelo engenheiro José Montaury , em 1892 ,Só começou a ser povoada em 1898 depois do fim da revolução Federalista.[17]


BALANÇO PARCIAL

Poucos anos após o inicio da colonização a região colonial havia progredido, em 1897 os 337.154 hestares de lotes havia sido vendido,nel viviam então cerca de 83 552 habitantes .Os italianos haviam construido uma nova região para o Rio Grande, próspera e produtiva.


COLÔNIAS DAS ANTAS-1897

Colônia
área/hectares
população
altitude
distância do porto/km
latitude S
/em graus
Alfredo Chaves
93 500
19 449
858
118
28 58 10
Antônio Prado
38 780
6 550
770
161
28 54 30
Caxias
100 000
21 927
920
110
29 10 15
Conde D’Eu
50 000
13 054
580
64
29 17 05
Dona Isabel
50 000
19 983
540
78
29 10 15
 N.São Marcos
4 874
2 589
830
81
28 59 00
total /média
337 154
83 552
750
102
 28,5  34 11
Fonte:Pesciolini,Ranieri Venerosi. Le colonie italiane nel Brasile Meridionale
         
A população do estado do Rio Grande do Sul crescera sob o impacto da imigração,as terras através da colonização estavam habitadas e  parte delas cultivadas.
A população encontra-se em continuo crescimento,mas não tenhodados
 para precisar a quanto monta atualmente.Em 1819 habitavam o Rio
 Grande do Sul 29 .000 pessoas,em 1863  392 .720 ,em 1872  652 .231
,e em  1894   1.075 000   “  .[18]
Os dados apresentados em  1899 pelo  Ministro  Real Conde P. Antonelli revelam mais do que as palavras.Em 22 anos,  de  1872 e 1894 ,a população gaúcha  praticamente  dobrou entre 1872 e 1894 .Em  75 anos  aumentou 137 000%. Tal aumento se deve fundamentalmente a imigração  italiana.
As condições para o povoamento das colônias oficiais situadas no Vale  não poderiam ser mais desfavoráveis as distâcias aos portos mais próximos de rios navegáveis era enorme dadas as condições da estradas e dos meios de transportes.Conde D’Eu estava a 64  km de distância e é a região mais próxima do vale do rio Cai estava no mínimo a 3 dias de viagem  .Para Alfredo Chaves situada a 161 km  a viagem levaria no mínimo 8 dias .
           O  rio   das Antas com suas margens escarpadas é  mais um obstáculo dificil  de transpor. A distância é somada a dificuldade da natureza não domada pelo homem. O rio assim  divide mais do que une os colonos da região.
          A construção da estrada de ferro a aprtir de  1907  ligando as antigas  os  então municípios de  Caxias ,Bento Gonçalves e Garibaldi à capital do estado teve influências funestas nas antigas colônias de Antônio Prado e São Marcos e emoutras regiões Houve um claro deslocamento da   rota das mercadorias da região que deixam o vale do rio Cai passando a embarca-las nas estações de Carlos Barbosa ,Nova Vicenza e Caxias.
          Muitos dos colonos das montanhas que  sabiam da importância dos cursos d’água para a produção, tiveram de procurar outros lugares para viver e produzir , Nem os passos do rio, onde cruzavam as balsas para o transporte salvaram-se do abandono.
 Por outro lado o processo de imigração trouxe para o nordeste gaúcho um inegável progresso econômico e  profundas mudanças políticas.A criação de novos povoados que dão origem a novos munícipios redividiram a fisonomía administrativa  do Rio Grande.Cada uma das colônias dá  origem a 4 ou 5 novos munícipios.

UMA HISTÓRIA A ESCREVER

A história do vale das Antes está para ser escrita . As povoações abandonadas ,o destino dos novos migrantes , a ocupação primitiva dos lotes situados nas barrancas do rio , as invasões pelos colonos  das terras públicas nas áreas de reserva florestal   são temas que buscam seu historiador.
São as  grandes lacunas para o estudo da ocupação inicial  do Vale da Desilusão e seu  desenvolvimento econômico .













[1] SAINT-HILAIRE,Auguste.  Viagem ao Rio Grande do Sul .Belo Horizonte : USP/Itatiaia,1974 . p. 24,25,40,41,55,158,184,187,188.
[2] Idem p. 187
[3] AVÉ-LALLEMANT, Robert.Viagem pela Província do Rio Grande do Sul . Belo Horizonte : USP/Itatiaia,1980 . p. 351.

[4] Idem p,352
[5] SAINT-HILAIRE ... p.46
[6] SAINT HILAIRE.auguste Viagem ao rio Grande do Sul...p.23
[7] ADAMI,João Spadari.História de Caxias do Sul.Caxias do Sul :São Miguel ,1972.p. 129
[8] GARDELIN,Mário e COSTA,Rovílio.Colônia Caxias:origens.Porto Alegre:EST1993 p.117
[9] GIIRON,Loraine Slomp eBERGAMASCHI,Heloìsa.Colônia:um conceito controverso..Caxias do Sul:EDUCS,1996.p.51
[10] COSTA,emìlia Viotti.Da Monarquia a Repùblica.São Paulo: Grijalbo ,1977p.69
[11] Dados do IBGE
[12] Planta da Antigas colônias ,elaborado pela Diretoria de Obras Públicas do Estado do Rio Grande do Sul de 1897
[13] GIRON,Loraine Slomp .Caxias do Sul:Evolução hsitórica.Caxias do Sul:EDUCS/EST,1977 p.23 e seguintes
[14] Idem
[15] FREITAS,Augusto T.Terras e colonização. Rio de Janeiro : Garnier,1882.p.54
[16] ANTONELLI,Pedro.O Estado do Rio Grande do Sul e a imigração italiana in:A Itália  eo Rio grande do Sul,org.DE BONi,Luís Caxais do Sul:EST?EDUCS .1983 p.12
[17] Idem p.13
[18] Idem  p.15

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