A BARREIRA INTRANSPONÍVEL
Os homens da montanha conhecem a importância
das águas. Sabem as dificuldades para a abertura de poços, sabem da importância
da água corrente e próximas .Os
imigrantes italianos, em sua maioria, eram homens da montanha, amavam as
águas e julgavam que de seu curso
brotava o fruto da terra e a riqueza almejada
Nas plantas das colônias
elaboradas pela Diretoria de Terras
o Rio das Antas parece ser o caminho natural
para o progresso ,via de acesso a capital, via de transporte para os
produtos.
Os imigrantes que escolheram
seus lotes próximos do rio viveram o fim de
suas esperanças .O vale em garganta mais do que um caminho revelou-se barreira
intransponível . O rio com suas escarpas ,.torrentes e desfiladeiros mais separava que unia os colonos .Ao rio somava-se a floresta úmida e cerrada ,o lodo tornava intransitável
as picadas abertas .O vale das Antas foi cenário da desilusão, da morte e
da fuga de muitos colonos .A história do vale está para
ser escrita .As sedes municipais e seu sucesso econômico encontrou seus escribas , a dos vales espera para ser reconstruída.
A imigração italiana não foi
obra do acaso, para nortea-la havia um projeto de colonização O plano traçado
pela Diretoria de Terras era clora . O centro das colônias não seria o rio das
Antas ou qualquer outro rio. O centro da colonização se localizava na Sede
Dante , situada na colônia Caxias .
A política imigratória e de
colonização , a fundação das colônias e a chegada dos colonos italianos nas
antigas colônias e o projeto de colônia
traçado pela administração constituem o
objeto do presente trabalho que não esgota questão , mas encaminha algumas novas questões ,que
merecem ser estudadas .
UM PROJETO À BRASILEIRA
A vinda dos imigrantes dos imigrantes italianos para trabalhar na agricultura faz parte do projeto
de colonização do Império para povoar o Brasil .O projeto que visava substituir a mão de obra escrava pela livre sem ônus
para o tesouro nacional, propunha também
colocar a venda terras das quais não
tinha sido provada a posses.
A mudança da política de
terras e a de mão de obra eram complementares e
deveriam modificar profundamente a
fisionomia do país .A Lei de Terras de 1850 introduz a terra no mercado. Pela Lei 608 as terras são sujeitas a compra e venda .
As concessões imperiais são mantidas, o imperador pode oferecer as terras do
Império aos brasileiros que as mereçam .Pobres, escravos mesmo libertos , mulatos e mestiços não
merecem a concessão de terras ,para eles
não vigorava a lei do mercado.
A vinda de europeus pobres,
agricultores e casados de preferência
para habitar e comprar as terras devolutas era uma necessidade do mercado de
terras .Os italianos buscavam terra para si e seus filhos .Eram brancos .Os
europeus pobres serão os compradores das terras que os brasileiros ricos não querem e que não foram postas a
venda para os brasileiros pobres. A opção pelo
europeu em detrimento dos brasileiros não brancos revela o preconceito que o Império tinha
contra seus súditos desvalidos.
A vinda dos italianos pobres
faz parte do projeto .A grande empresa imigratória brasileira, que contrata
companhias comerciais para importar estrangeiros .São os imigrantes ao
comprarem as terras que não foram legalizadas por seus antigos proprietários,
que vão fornecer os meios monetários para movimentar a empresa
colonizadora. As terras destinadas aos imigrantes são as refutadas pelas
elites brasileiras.
AS TERRAS RECUSADAS
Os viajantes que percorreram
o RS nos primeiros séculos após o povoamento ,não se atreviam a visitar
a zona das matas. Ocupadas as Missões ,a Campanha e o Litoral a zona da
então chamada Serra Geral continuava a espera de povoadores .A zona das
matas continuava a ser um perfil distante, de belo e irregular a recorte que fechava os limites do horizonte
conhecido. São os contornos da Serra Geral que Saint Hilaire avista e cita nove
vezes[1],
“a esquerda vêem-se ao longe ,as montanhas da Serra geral
,começando, já ,a serem mais altas.”[2]
Em 1858 [3]a
observação arguta de Avé-Lallemant ,percebe
a região “mais como planalto do que como
serra”. Com ele a encosta do planalto
recebe sua primeira descrição . A
Província para ele não é “aquela terra uniforme ,de planícies imensas
,como algumas vezes se tem tentado descrever. Possui belas serras, magníficas, por vezes de um selvagem
romantismo ,com ásperos desfiladeiros
,sombrias encostas, torrentes impetuosas e imponentes cascatas...”[4]
A Serra Geral não era bem conhecida no final
do século XIX ,não fora habitada pelos sesmeiros que tinham recebido
terras dos monarcas .A posse da terra
não se efetivara
.As matas despertam terror, são supostos domínios dos perigosos
selvagens. Nas matas não se cria o gado. Aos poucos as lendas substituem a ocupação. Muitos são os mortos conhecidos
pelos atrevimento de correr as matas.
Os jesuítas mais afeitos
aos índios e as matas conhecem antes de todos a região, que é percorrida a partir de
1717 no caminho que leva o gado
das Missões para as Vacarias do Pinhais
.Nas matas perdem alguns jesuítas morrem .Mas o gado deixado livre nos campos
se reproduz e se torna atrativo aos
lagunistas e bandeirantes que ocupam o Planalto meridional em busca de
terras férteis e de lucro fácil..
A região serrana que
propiciou de forma indireta a ocupação do planalto foi a última a ser
explorada , .a última a ser
conhecida e a última a ser ocupada. A província tinha outras preocupações do
que a ocupação da Serra.
A PROVÍNCIA E
SEUS PROBLEMAS
No início do século XIX a
Província apresenta um período de
prosperidade econômica, ligada especialmente às atividades agropecuárias e
charqueadoras. O cultivo do trigo é uma de suas maiores riquezas ,a sua
produção está ligada a colonização
realizada pela política pombalina que trouxe os açorianos para a capitania a
partir de 1747.
A produção do trigo aumenta
até 1814 , a partir desta data a produção entra em declínio devido ao
abandono das lavouras, motivada pelas guerras e pela pragas que dizimam as plantações.
As
charqueadas gaúchas que durante décadas fornecem a alimentação para os
escravos paulistas , não conseguem de enfrentar a concorrência das charqueadas
do Prata A produção platina é de melhor qualidade e tem melhor preço que a gaúcha ,devido a adoção de
técnicas modernas na produção. Os produtores tinham pesados impostos a pagar na
compra do sal, que não ocorre com seus concorrentes.
Alem dos problemas econômicos
ocasionados pela redução da produção tritícola e a crise da produção do
charque a Província enfrenta ainda graves problemas políticos .As
guerras platinas e a Revolução Farroupilha (1835-1845) demonstram a fragilidade
dos laços que unem a província ao
governo imperial .A
fragilidade é constatada tanto
pela possibilidade de invasão da Província pelas repúblicas do Prata, como
pela possibilidade da província
tornar-se independente cansada de esperar soluções de seus problemas pelo omisso governo imperial.
Após o término da Revolução a população é
de cerca de 180.000 habitantes,
insuficiente para aumentar a produtividade agrícola. A população de 1820 é composta de 32.000 brancos, 5.399 homens de
cor livres, 20.611 homens de cor escravizados e 8.655 índios ,segundo Saint
Hilaire.[5]
A partir de 1824 a população é acrescida
dos imigrantes alemães que são
localizados nos vales dos rios dos Sinos e Caí são poucos colonos que chegados
nas véspera da Revolução. A imigração
de alemães é sustada entre 1827 a 1846.
O governo toma providências
para a defesa do território sulino , adoção do sistema de colonização e a
introdução de imigrantes ,especialmente
italianos, são parte da solução. A
colonização deve garantir a posse do
território gaúcho para o Império e ainda
aumentar a produção agrícola ,através
do cultivo das terras
desocupadas.
Em 1872, quando é reiniciado o movimento imigratório, a
população da Província era de 446.926, dos quais 41.406 eram estrangeiros, 1/6
do território era ocupado por germânicos.[6]
O
Governo Imperial em 9 de fevereiro de 1870, o Governo Imperial concede à Província dois
territórios de quatro léguas em quadro, cada um, em terras devolutas entre o
rio Caí, os campos de Vacaria e o município de Triunfo, para serem
convenientemente colonizados."[7]
Com a concessão da gleba tem início então a última etapa do povoamento da
Província, que se inicia no século
XVIII, com a criação das primeiras fortificações militares.
Aos italianos cabe a zona das matas, a zona da Serra Geral ,que
havia sido relegada pelos campos nos quais os portugueses podem
criar gado. A região se situa estrategicamente entre a
região dos Campos de Cima da Serra, onde habitam os lusos ocupados na pecuária, e a Depressão Central, onde os alemães se
ocupam da agricultura. A colônia
separa os gaúchos da Campanha e os dos
Campos de Cima da Serra, colocando um anteparo estrangeiro entre os gaúchos
rebeldes das duas regiões.
Selecionada a
terra para a colonização trata-se de buscar imigrantes para compra-las e
m 1872, pela Lei n.º 749, de 29 de abril,39 são contratadas as companhias
Caetano Pinto e Irmão e Holtzweissig e Caetano Pinto para
a introdução dos colonos. O governo para receber os colonos europeus,
monta a infra-estrutura a terra e a
administração colonial.
.
UMA TERRA DE
COLONOS
O Rio Grande tem longa
tradição em sediar colônias, tem pouca em administra-las. Dada a sua posição
estratégica situada, na região de disputa entre Espanha e Portugal, foi a região que mais colônias imperiais abrigou
imperiais .A razão para as formação de colônias imperiais em território
gaúcho deve-se de um lado ao histórico
litígio entre os países do Prata e o Império brasileiro pela posse das
fronteiras sulinas e de outro lado a
rebeldia sulina.
Mais
de 160 colônias oficiais e particulares
são criadas no período compreendido
entre 1822 e 1914. Do total das colônias
oficiais criadas pelo império em todo o Brasil ,cerca de 48 % do total situa-se no Rio Grande do Sul.[9]
A criação de colônias particulares apresenta
percentuais semelhantes as oficiais ,aproximadamente 34 % do
total estão no RS .Os proprietários
particulares reproduzem o sistema colonial do império redesenham o mapa
provincial fragmentando-o em colônias agrícolas .
Colonos em busca de terras
para o cultivo aumentam a demanda por lotes, tornando a província o centro da
especulação imobiliária brasileira. Se o número de colônias do RS é o mais elevado do Brasil os dados não
se repetem em relação ao número de imigrantes entrados na província meridional.
Ao que tudo indica cerca de 16 % do total de imigrantes italianos chegados no
Brasil fixaram-se no Rio Grande.[10]
O Governo imperial vendo que a província não agiliza a colonização retoma as
terras que havia cedido dando inicio a
colonização.
O MERCADO DE
TERRAS
A
organização de uma grande empresa colonial envolve gastos. Necessita ainda de
um sistema complexo de adminstração
regionalizada sob a coordenação geral do Ministério da Agricultura e das
Inspetoria Geral de Terras. Todo o trabalho deve ser planejado .Todos os passos
devem ser medidos.
Numa
época em que o planejamento até como
palavra era inexistente o projeto
imperial para vender terras e importar compradores de terras
é extraordinário. Exige um complexo de medidas envolvendo a iniciativa
privada e a pública.
São necessários contratos com companhias particulares para buscar colonos na Europa .São elas
que vão se responsabilizar pelo seu
transporte dos colonos europeus até o
local da colônia. Os vultosos contratos prevêem no inicio o pagamento das
passagens pelo Império.
No plano
público são formadas comissões para gerenciar as Colônias e nomeados os
responsáveis pelo empreendimento a nível nacional e regional. .No Rio Grande do
Sul são nomeadas comissões de terras ,compostas de número variável de
integrantes. Geralmente tem um diretor nomeado pelo governo e ainda e
.engenheiros ,topógrafos e oficiais administrativos ,completam o pessoal
técnico e administrativo.
São
construídas barracas para abrigar os colonos nas regiões desabitadas e
aproveitados antigos quartéis nas zonas
urbanas. são medidos os lotes e contratados comerciantes para receber os vales
para alimentação que os imigrantes tinham direito até colher a primeira safra. São
organizados os registros nos portos e os livros de registro de assentamentos das dívidas dos colono para
cada colônia criada. Há a necessidade
de escriturários competentes par acompanhar a operação de venda das terras e do
pagamento das dívidas.
Há a necessidade de
agrimensores para a demarcação de lotes, há
a necessidade de engenheiros para a elaboração das plantas coloniais. Há
a necessidade de administradores para as colônias ,que servem de ligação entre
os imigrantes e o Ministério da Agricultura .São eles responsáveis pela receita
das colônias e pela aplicação das verbas
geradas pela venda das terras.
Enquanto de estrutura a
empresa começam a chegar os imigrantes. Os que chegaram nas primeiras levas
passaram a ser empregados pela comissão local
na abertura das picadas e na limpeza
de parte dos lotes .Na demarcação das terras e no transporte dos outros
imigrantes. Trabalho era o que não faltava nas colônias , as vezes faltava o
pagamento do trabalho realizado.
Os imigrantes são essenciais
para a empresa , tanto como
trabalhadores braçais para as tarefas de abertura de picadas e queima da
mata ,
como os compradores da mercadoria
que devem ser vendida : a terra.
Sem os colonos não há possibilidade de
venda das terras para as quais não há outros compradores.
COMPRADORES DAS TERRAS
A maior parte dos
imigrantes veio do Norte da Itália, da
Venécia, da Lombardia e de Trento, com eles vieram em número menores imigrantes
das regiões da Europa Poucos eram
da Itália meridional.
Na
realidade, se o norte da Itália foi um corredor por onde transitaram todos os e
povos e tribos desde a antigüidade. Os imigrantes que vieram como súditos italianos ou austríacos, tanto
poderiam ser eslavos, germanos ou judeus.
Os italianos eram súditos de um reino
recém criado. Eram camponeses que viviam
em pequenas povoações com
características e línguas próprias
Unificação foi traumática para os moradores do norte da Itália .Guerras continuas assolam a região do Vêneto a partir de 1860 . A
convocação de jovens para ao
exército faziam tremer a família
de agricultores que precisavam de todos braços para a lavoura.
O
novo Reino ,por outra lado exige impostos sobre a terra ,o que torna
insustentável a situação dos pequenos
agricultores .Safras insuficientes e
fome endêmica empurraram os agricultores para fora de sua pátria. Pequenas
vilas ficaram despovoadas e os melhores
agricultores da Itália vieram para a América.
Não é de estranhar que o
maior contingente de imigrantes entrados no Brasil , no último quartel do
século XIX e primeira década do XX , seja
o de italianos Segundo dados oficiais dos 2 633 460 imigrantes entrados
no Brasil entre 1884 e 1913 , nada menos que 1 272 989 ou seja 48,3% do total eram provenientes do
reino da Itália[11]
No Rio Grande do Sul no citado período entraram cerca de 100 000
imigrantes ,destes 55 217 eram
italianos, ou seja 54,7% do total ,conforme pode ser observado na tabela .O número corresponde a pouco mais de 4,35 do
total de imigrantes italianos entrados no Brasil ,entre 1885 e
1906.O baixo percentual é enganoso já que a o Rio Grande do Sul era parcamente povoado .A
região da Serra Geral desconhecida e desabitada foi tomada de assalto pelos
imigrantes ,que isolados criam uma nova cultura e uma nova economia regionais.
IMIGRANTES ENTRADOS NO RS 1885-1906
Ano
|
Imigrantes italianos
|
total imigrantes
|
percentual de italianos
|
1885
|
7 260
|
8 296
|
87,5
|
1886
|
2 352
|
3 354
|
70,1
|
1887
|
4 360
|
5 328
|
81,9
|
1888
|
4 241
|
4 927
|
86,0
|
1889
|
7 578
|
9 187
|
82,4
|
1890
|
2 701
|
19 485
|
13,9
|
1891
|
9 440
|
20 739
|
45,5
|
1892
|
8 496
|
7 525
|
88,5
|
1893
|
1 503
|
2 795
|
53,7
|
1894
|
4 240
|
855
|
49,5
|
1895
|
1 978
|
2 469
|
39,6
|
1896
|
917
|
3 095
|
29,6
|
1897
|
690
|
1 451
|
47,5
|
1898
|
980
|
1 606
|
61,0
|
1899
|
1 070
|
1 956
|
54,7
|
1900
|
745
|
1 503
|
49,5
|
1901
|
631
|
1 255
|
50,2
|
1902
|
359
|
847
|
42,3
|
1903
|
305
|
743
|
41,0
|
1904
|
293
|
834
|
35,1
|
1905
|
247
|
963
|
25,6
|
1906
|
316
|
685
|
46,1
|
total
|
55 217
|
100 869
|
54,7
|
Fonte :Pesciolini ,Ranieri Venerosi.
AS COLÔNIAS DAS ANTAS
A região colonial italiana no Rio Grande do Sul é estabelecida na encosta superior do Planalto,
entre os vales do rio Caí e do rio das Antas . A área destinada à
colonização era de cerca de 337 440 hectares ,o que pressupõe a
disponibilidade de
13 500 lotes rurais ,de 25 hectares cada .[12]
Os seus limites naturais são a Leste e Norte os Campos de Cima da Serra , Oeste a continuação da então chamada Serra Geral e ao Sul o
vale do rio Caí e a Depressão Central. Os colonos italianos sob o
ponto de vista de etnias estão cercados
ao Sul pelos alemães, ao Norte , Oeste e
Leste pelas brasileiros de origem lusa.
A região faz parte das terras devolutas que o Império
possuía na Província , terras cuja posse não havia sido reclamada e legalizada
pelos antigos sesmeiros
A divisão de terras, nas colônias, obedece ao
sistema de glebas contínuas denominadas léguas. Cada légua era formada por um
quadrilátero de 5.500 metros de lado. As léguas esão divididas no sentido
longitudinal por linhas denominadas de travessões, em algumas léguas são demarcados
dois ou três travessões, no sentido vertical. A partir do travessão em ambos os
lados são demarcados os lotes. O número de lotes por travessão não era fixo, em
média, havia 32 lotes por travessão. O número médio de lotes por légua era de
132.[13]
.Entre as seis colônias demarcadas ao longo das Antas são
concedidas terras à particulares
pelo governo imperial e provincial .As glebas de terras doadas pelo governo a
nacionais,servem de anteparo entre as colônias povoadas por estrangeiros.Tal
sistema faz parte da política imperial
de colonização.Os ricos recebem as terras enquanto os pobres as compram. Para
os legisladores do império os proprietários particulares representam uma salvaguarda da paz e da
nacionalidade diante dos colonos
estrangeiros ,que somam sua a pobreza
a ignorância .
Correspondem a 9
sesmarias as terras dadas pelo governo aos particulares em áreas
limítrofes àquelas destinadas a colonização.Os
proprietários tem para si e suas famílias tantas terras disponíveis
quanto as destinadas aos mais de
cinquenta mil colonos e suas famílias
Proprietários de terras particulares na
zona colonial-1897
Proprietários
|
localização
|
Eduardo Palassim
|
Rio Guaporé
|
Trajano V. de Medeiros
|
Rio Carreiro
|
Antônio Fialho deVargas
|
Rio Carreiro
|
Amália Fialho e Dutra
|
Margem direita do rio.das Antas
|
Trajano Medeiros
|
Martgem esquerda do rio das Antas
|
Silvero de Araújo
|
Norte da C. de Alfredo Cahves
|
Luís Antônio Feijó Jr
|
Entre a C. Caxias e a D.Isabel
|
Dr. Coutinho
|
Arroio Jaboticabal
|
José Baptista
|
Rio Carreiro
|
Fonte :Diretoria de Obras
públicas
No perído compreendido entre
1875 e 1908 foram demarcadas e vendid os de 11 colônias :Conde D’Eu , Dona
Isabel, Caxias ,Silveira Martins,
Encantado ,Antônio Prado ,AlfredoChaves, Jaguarí, Guaraní,Guaporé e Erechim.
Conforme tabela abaixo
Colônias
oficiais do RS 1875-1908
Colônia
|
fundação
|
tipo
|
Conde’Eu
|
1875
|
oficial
|
Dona
Isabel
|
1875
|
oficial
|
Caxias
|
1875
|
oficial
|
Silveira
Martins
|
1877
|
oficial
|
Encantado
|
1878
|
oficial
|
Alfredo
Chaves
|
1885
|
oficial
|
Antônio
Prado
|
1886
|
oficial
|
Jaguarí
|
1889
|
oficial
|
Guaraní
|
1890
|
oficial
|
Guaporé
|
1898
|
oficial
|
Erechim
|
1908
|
oficial
|
Fonte:Pesciolini,Ranieri
Venerosi.p.38
Le colonie italiane
nel Brasile Meridionale
As colônias criadas nas
décadas de setenta e oitenta são povoadas por italianos .As criadas na década
de noventa são formadas por europeus de várias
origens, já não se pode falar em colônias italianas após 1890 .A
república por precaução prefere misturar os imigrantes o que acelera a aculturação e a adoção da língua nacional como única para a
comunicação entre os vários falares dos
vários povos.
LEITURAS DA
PLANTA
São 5 as colônias e um
núcleo colonial que tem o vale do
rio das Antas como centro geográfico
.Criadas entre 1875 e 1886 são povoadas por italianos,que constituem maioria
absoluta Trentinos e brasileiros completam o total dos colonos.
A planta das colônias
italianas elaborada pela Diretoria de
Obras em 1897 oferece dados importantes para o conhecimento da situação sócio
econômica regional.A primeira constatação é que as colônias correspondem a um
retângulo com pouco mais de 100 km de
largura, na direção Leste-Oeste e pouco
mais de 90 km de altura,na direção Sul-Norte.
A leitura da planta
demonstra que ainda o traçado das colônias lembra a forma de ocupação do Oeste
dos Estados Unidos, onde a divisão dos territórios e das propriedades, não
segue a linha tradicional das fronteiras naturais,como as utlizadas no
continente europeu.. São traçados
colônias e lotes a partir dos
paralelos e meridianos.[14]
O mesmo traçado geométrico
é usado na demarcação dos futuros
sítios urbanos das colônias. Quadras de
90m de lado, ladeiam a rua principal,
que corta a povoação no sentido Leste-Oeste. A escolha dos sítios urbanos não
previa condições para o crescimento demográfico.Os engenheiros parecem desenhar para o presente. O
local escolhido para os núcleos
urbanos é o centro geográfico da de cada uma das colônias .A
escolha geográfica segue o projeto
governamental .Tal escolha acarreta problemas para as
cidades colonias como : terrenos impróprios para a expansão urbana , falta de água potável e dificuldade da instalação de esgotos cloacais .
A semelhança
existente entre as cidades da região colonial é devida ao modelo
comum utilizado na colonização oficial
..
.A localização das sedes colonias da região é simétrica .Marcadas
nos vértices de um paralelogramo
No lado Sul os vértices são ocupados
pelas sedes das colônias Caxias e Dona Isabel
distantes uma da outra 48 quilômetros . No lado Norte os vértices são
ocupados pelas sedes de Alfredo Chaves e Antõnio Prado separadas por 43
quilômetros. Os lados do paralegramo
tem cerca de 45 km .
As sedes não se situam nas
margens do rio das Antas . O rio das Antas corta o quadrângulo em diagonal em cerca de 100 km ,O centro
gográfico da região colonial ao
que tudo situa-se no meandro que
marca confluência dos rio Turvo e Antas.
Os vales dos rios ,pelo
Regulamento de 1854[15]
da Lei de Terras ,são considerados reservas florestais .Os engenheiros do império tem conhecimentos para
entender a importância da preservação
florestal ,em época que nem a palavra ecologia havia sido criada. O vale
rio das Antas no coração da região
colonial tem seu destino traçado para
se tornar a zona mais despovoada e pobre de todas.
O fator que leva ao o Vale a
se tornar pouco povoado não está ligado nem a suas margens altas e escarapadas
nem a preservação das matas previstas na legislação.O seu
esvaziamento é devido ao papel que os núcleos urbanos desempenham na
zona colonial
As sedes colonias são o centro administrativo regional
.O centro geográfico da colônia é o
centro do controle do estado brasileiro sobre os estrangeiros è o
local para opnde afluem os colonos para o pagamento de impostos e de suas
dívidas .É o onde se estabelece o comércio .O comércio que gera o capital para
a industrialização, e com ela ocorre a urbanização.
.A CRIAÇÃO DAS
COLÔNIAS
Por Ato de 24 de maio de
1870, foram criadas as colônias de Dona Isabel e Conde D'Eu, situadas nos
atuais municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi. Em 1871, havia apenas 37
lotes ocupados; para acelerar o processo, que se mostrava muito lento, foram
assinados contratos, com companhias colonizadoras, pelo governo da província , para a introdução de 4.000
colonos por ano, pelo espaço de dez
anos. Tendo a província se mostrado incapaz de conduzir o processo o Império
passa a dirigi-lo .
A
Colônia Caxias, com o nome de “Colônia
situada aos fundos de Nova Palmira”,
o aviso do governo, datado de 09 de fevereiro de 1870, que cede à Província as
terras devolutas situadas na região das matas. A partir deste aviso do governo
imperial é iniciada a demarcação das terras. É a região colonial que surge.
A
Colônia aos fundos de Nova Palmira
tem seu início ao norte da Picada Feliz, indo até a margem do rio das Antas,
ocupando 144.000,00 braças quadradas o
que equivale a 16 léguas quadradas.
Alfredo Chaves é criada em 1885 ,distante 42
km. de Dona Isabel pela via Buarque de Macedo .Seus limites são : a Leste o rio
Turvo a separa de de Antonio Prado,ao Sul o Rio das Antas a separa de Bento a
Oeste o rio Carreiro o separa de
Guaporé .A àrea é de 112 600 hectares e os lotes coloniais são 2 100 .
Antônio Prado situado a noroeste de Caxias é
fundada em 1886 O território é de 40000 hectares, a populaçãoq uase todos italiano.Outrora havia pequeno número
de poloneses,hoje são poucos estão indo embora vendendo seus lotes aos
italianos.A vila está situada a 770 metros acima do nível do mar, em vale fechado
entre montes ,numa localidade muito
distante dos outros povoados. Duas estradas
a unem aos centros de comércio ,uma que vai a Caxias, passando por Nova
Trento e outra que vai Nova Vicenza.,A estrada Júlio de Castilhos é boa .
As
estradas são péssimas, o rio das Antas é atravessado por uma balsa, pagando 100
reis a pé e 200 réis a cavalo As condições do município são más por se
encontrar no extremo Norte da zona de colonização. è a colônia mais próxima das
zona dos Campos da Vacaria, vasto altiplano onde os estancieiros criam gado. Em Antônio Prado há 2 pequenoas
povoações Nova Treviso e Nova Roma. Na primeira há poucas casas e na segunda há
uma dúzia de casas de madeira, dista trinta quilômetros e vivem 250 famílias.São locais pobres e
isolados onde a população se conservou
tal como veio da Itália,poucos falam português.
Alfredo Chaves distante 43
km de Antônio Prado criada em1885 ,tem uma área de 93.500 hectares .A Colônia está dividida em 53 linhas ,com um total de 3644
lotes. Está situada a 856 m. acima do nível do mar.[16]
O mais novo núcleo é Guaporé dista 50 km
,de Alfredo Chaves o caminho é
péssimo , tão barrento que só pode ser percorrido por mulas .Criada pelo
engenheiro José Montaury , em 1892 ,Só começou a ser povoada em 1898 depois do
fim da revolução Federalista.[17]
BALANÇO PARCIAL
Poucos anos após o inicio da
colonização a região colonial havia progredido, em 1897 os 337.154 hestares de
lotes havia sido vendido,nel viviam então cerca de 83 552 habitantes .Os
italianos haviam construido uma nova região para o Rio Grande, próspera e
produtiva.
COLÔNIAS DAS
ANTAS-1897
Colônia
|
área/hectares
|
população
|
altitude
|
distância do
porto/km
|
latitude S
/em graus
|
Alfredo Chaves
|
93 500
|
19 449
|
858
|
118
|
28 58 10
|
Antônio Prado
|
38 780
|
6 550
|
770
|
161
|
28 54 30
|
Caxias
|
100 000
|
21 927
|
920
|
110
|
29 10 15
|
Conde D’Eu
|
50 000
|
13 054
|
580
|
64
|
29 17 05
|
Dona Isabel
|
50 000
|
19 983
|
540
|
78
|
29 10 15
|
N.São
Marcos
|
4 874
|
2 589
|
830
|
81
|
28 59 00
|
total /média
|
337 154
|
83 552
|
750
|
102
|
28,5 34 11
|
Fonte:Pesciolini,Ranieri
Venerosi. Le colonie italiane nel Brasile Meridionale
A população do estado do Rio Grande do Sul crescera
sob o impacto da imigração,as terras através da colonização estavam habitadas
e parte delas cultivadas.
“A população
encontra-se em continuo crescimento,mas não tenhodados
para precisar a quanto monta
atualmente.Em 1819 habitavam o Rio
Grande do Sul 29 .000 pessoas,em
1863 392 .720 ,em 1872 652 .231
,e em 1894 1.075 000
“ .[18]
Os dados apresentados em 1899 pelo
Ministro Real Conde P. Antonelli
revelam mais do que as palavras.Em 22 anos,
de 1872 e 1894 ,a população
gaúcha praticamente dobrou entre 1872 e 1894 .Em 75 anos
aumentou 137 000%. Tal aumento se deve fundamentalmente a imigração italiana.
As condições para o povoamento das colônias oficiais
situadas no Vale não poderiam ser mais
desfavoráveis as distâcias aos portos mais próximos de rios navegáveis era
enorme dadas as condições da estradas e dos meios de transportes.Conde D’Eu
estava a 64 km de distância e é a região
mais próxima do vale do rio Cai estava no mínimo a 3 dias de viagem .Para Alfredo Chaves situada a 161 km a viagem levaria no mínimo 8 dias .
O
rio das Antas com suas margens
escarpadas é mais um obstáculo dificil de transpor. A distância é somada a dificuldade
da natureza não domada pelo homem. O rio assim
divide mais do que une os colonos da região.
A
construção da estrada de ferro a aprtir de
1907 ligando as antigas os
então municípios de Caxias ,Bento
Gonçalves e Garibaldi à capital do estado teve influências funestas nas antigas
colônias de Antônio Prado e São Marcos e emoutras regiões Houve um claro
deslocamento da rota das mercadorias da
região que deixam o vale do rio Cai passando a embarca-las nas estações de
Carlos Barbosa ,Nova Vicenza e Caxias.
Muitos dos colonos das montanhas que sabiam da importância dos cursos d’água para
a produção, tiveram de procurar outros lugares para viver e produzir , Nem os
passos do rio, onde cruzavam as balsas para o transporte salvaram-se do
abandono.
Por outro lado o processo de imigração trouxe
para o nordeste gaúcho um inegável progresso econômico e profundas mudanças políticas.A criação de
novos povoados que dão origem a novos munícipios redividiram a fisonomía
administrativa do Rio Grande.Cada uma
das colônias dá origem a 4 ou 5 novos
munícipios.
UMA HISTÓRIA A
ESCREVER
A história do vale das Antes
está para ser escrita . As povoações abandonadas ,o destino dos novos migrantes
, a ocupação primitiva dos lotes situados nas barrancas do rio , as invasões
pelos colonos das terras públicas nas
áreas de reserva florestal são temas
que buscam seu historiador.
São as grandes lacunas para o estudo da ocupação
inicial do Vale da Desilusão e seu
desenvolvimento econômico .
[1]
SAINT-HILAIRE,Auguste. Viagem ao Rio Grande do Sul .Belo
Horizonte : USP/Itatiaia,1974 . p. 24,25,40,41,55,158,184,187,188.
[2] Idem p.
187
[3]
AVÉ-LALLEMANT, Robert.Viagem pela
Província do Rio Grande do Sul . Belo Horizonte : USP/Itatiaia,1980 . p.
351.
[4] Idem
p,352
[5]
SAINT-HILAIRE ... p.46
[6] SAINT
HILAIRE.auguste Viagem ao rio Grande do Sul...p.23
[7]
ADAMI,João Spadari.História de Caxias do
Sul.Caxias do Sul :São Miguel ,1972.p. 129
[8]
GARDELIN,Mário e COSTA,Rovílio.Colônia Caxias:origens.Porto Alegre:EST1993
p.117
[9] GIIRON,Loraine
Slomp eBERGAMASCHI,Heloìsa.Colônia:um
conceito controverso..Caxias do Sul:EDUCS,1996.p.51
[10]
COSTA,emìlia Viotti.Da Monarquia a Repùblica.São Paulo: Grijalbo ,1977p.69
[11] Dados
do IBGE
[12] Planta
da Antigas colônias ,elaborado pela Diretoria de Obras Públicas do Estado do
Rio Grande do Sul de 1897
[13]
GIRON,Loraine Slomp .Caxias do Sul:Evolução hsitórica.Caxias do
Sul:EDUCS/EST,1977 p.23 e seguintes
[14] Idem
[15]
FREITAS,Augusto T.Terras e colonização. Rio
de Janeiro : Garnier,1882.p.54
[16]
ANTONELLI,Pedro.O Estado do Rio Grande do
Sul e a imigração italiana in:A Itália
eo Rio grande do Sul,org.DE BONi,Luís Caxais do Sul:EST?EDUCS .1983 p.12
[17] Idem
p.13
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