domingo, 30 de outubro de 2011

HISTÓRIA NA PRAÇA (2)




Palacete Andreazza
.O local do episódio e a sacada doprimeiro andar  

                      Na Praça Dante Alighieri aconteceu de tudo um pouco: tragédias, farsas e  agressões .
Uma das tragédias ocorreu em 1943,quando  morreu o filho de uma ilustre família.A data precisa desconheço .O prédio até hoje  resiste,ainda que  coberto de forma indigna por propaganda. O palacete era da família  Andreazza. Palacete era o nome aos prédios requintados de estilo neoclássico, decorados  com sacadas e pinhas  de cimento.Os Andreazza eram muito ricos e conceituados na cidade Creio que a senhora desesperada era  a mãe do futuro Ministro dos Transportes   do governo Costa e Silva ,Coronel Mario Andreazza.a
Na sacada do palacete uma mulher aos berros ,vestida de preto  , gritava contra a injustiça da morte “Por que meu filho”?”Por que meu Deus”? Enquanto isto o enterro passava lentamente.  Naquele tempo os mortos eram velados em casa,os cortejos fúnebres   saiam da  casa enlutada ( era o nome que se usava para o local onde alguém morria)para a Igreja e desta para o cemitério.


 A mãe do jovem morto não acompanhou a cerimônia fúnebre.Ficou na  sacada lançando  aos quatro ventos seu desespero. Não falaram então qual era a doença  do jovem. , Tenho a precisa lembrança da cena que se fixou em minha memória, sendo  das cenas mais fortes que já vi.
.. Hoje não se fazem mais enterros e velórios como antigamente. Hoje as pessoas escondem sua tristeza, como se sofrer fosse politicamente incorreto. Os tempos são outros os mortos são queimados e os cemitérios esquecidos. As pessoas tem medo da morte e medo dos ritos fúnebres.
Então,o trajeto era feito à pé , apenas o féretro era transportado em um carro fúnebre,preto e engalanado com plumas ou coroas.No cemitério,os túmulos luxuosos  revelavam a riqueza dos defuntos. Mortos, ricos e pobres eram enterrados em sepulturas  com a marca de sua classe social. Muito típico.
Durante décadas o papa-defuntos local foi Virgilio Curtolo.Contou uma testemunha da época que ele fazia sua cesta nos caixões. Eu nunca vi.  A casa funerária ficava na Rua Sinimbu e exibia os últimos modelos de caixões e de coroas fúnebres. Os caixões eram de várias cores e tipos e, como os túmulos, demarcavam a posição social.  A funerária começou na Rua Dr.Montaury ,defronte da casa Magnabosco,no fim  da década de trinta a loja se mudou para rua Simimbu nº1892 ,onde funcionava também uma fábrica de velas.As coisas em relação aos mortos mudam na década de setenta com o inicio das capelas funerárias.
Os ritos mudam como  a sociedade. Os ritos funebres foram expurgados da pompa e de uma certa forma  de   dor. Inacreditável ! Até  a dor .como a tecnologia muda com o tempo..Coisas do consumo!


funerária Curtolo.Década de quarenta, vendo-se defronte do prédio os carros fúnebres de então.

A praça na década de quarenta data do episódio .


Outra imagem dao Palacete Andreazza ,vendo-se a sacada  do primeiro pavimento
na qual  ocorreu o episódio



O Palacete em 2011.Escondido pelos anúncios.
  

terça-feira, 25 de outubro de 2011

HISTÓRIA NA PRAÇA



A praça e as procissões.Isso é história  .!
 
 Muitos pensam que a história está no passado ,ou em lugares distantes como Grécia, Egito ou Roma. Ou, pior ainda,  escondida sob toneladas de entulhos de demolição .
Bobagem!  A história  não está  morta ou enterrada. Ao contrário, está diante de nossos olhos,e,mais do que isto, está entranhada em nossa memória. A  história está em nós,assim se pode  afirmar que "somos a história" e que cada um de nós é uma parte dela. Só uma visão eurocêntrica ou  autocrática pode pensar  diferente. Só se vive  no presente  ? Perfeito, mas ainda assim o homem é  produto de um processo de passagem pelo tempo.Há um tempo residual solidificado dentro de cada um. Ou não há?
Em cada lugar ,por mais remoto e pequeno que seja a história está presente.Sem querer ser historicista ,é  impossível escapar do tempo.Já dizia Hegel :"Aqui é Rodes, aqui se deve dançar" (rodoz em grego significa tanto 'rosa',como a Ilha) . Em cada um de nós é e está em Rodes Assim,.não é  preciso 'viajar'  ,nem 'surfar' no tempo para encontrar  a história

  Na praça de cada cidade tem história.Algumas  vezes petrificada  em monumentos,outras escondida em uma planta. Mentira? Veja a oliveira da praça Dante, tem uma fatia da história mundial  em suas raízes.
Em tempos republicanos,em 1889, Caxias se organiza para a  emancipação.  Desde 1884 era distrito do município de São Sebastião do Cai  e em 1890, se emancipa. As festas foram  grandes ,Caxias se engalanava  e tudo parecia estar  bem. .Em 1891, foi eleito  o primeiro  Conselho Municipal e o Intendente  nomeado pelo governador. .Até que ocorre a Revolução federalista de 1893-1895.

A luta entre o delegado da Vila e os conselheiros movimentou a  cidade.Era a luta entre federalistas do conselho liderados por Ernesto Marsiaj e  o  delegado republicano Francisco Salerno As disputas municipais  eram reflexo das lutas estaduais,travadas  entre os  partidários de Júlio de Castilhos e o General Câmara,ou seja monarquistas (federalistas ou maragatos)  e republicanos (pica-paus) A Intendência localizada na praça foi palco da disputa, entre os dois grupos. o mesmo ocorrendo com toda a cidade envolvida no conflito.  
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Em 1910 foi a festa da elevação da Vila  à cidade ,no mesmo  no dia da chegada do trem .As grandes manifestações ocorreram  na Praça na frente da Intendência .Em 1919  a Intendência foi transferida para a Rua Visconde de Pelotas onde permaneceu até 1975. A Praça então ficou 'pop'!


Revolução de 1923, o povo vai à Praça!
  Na Praça os episódios a partir  de então são de outra ordem.As manifestações políticas vão se realizar  na frente ou dentro da Intendência.Na década de quarenta, foi inaugurado um sistema alto falantes que funcionou na  Avenida Júlio defronte a Praça . era uma” tribuna espírito maçônica” ,segundo o pároco. Na verdade era  um serviço de utilidade pública com músicas e informações enfim uma rádio profana  em frente ao espaço sagrado da Catedral .O pároco odiava  com o mesmo fervor a música e a democracia!


As sepimternas Festas da Uva ,do outro lado da Praça.1950
  No fim da II Guerra (1939-1945)  Praça presenciou tanto atos cívicos como de rebeldia , e ainda,  manifestações de regozijo  pela vitória dos Aliados.Em comemoração ao fim do conflito , foi plantada uma oliveira hoje maltratada pelas podas  e esquecida de quase todos. 
Há ainda muitas histórias e história na Praça .Só faltam historiadores!
 
Igreja e casa canônica de onde o padre foi expulso

 
Festa pela emancipação de São Sebastião do Cai, 1890

Guarda Municipal na nova  Intendência (1919-1974). Rua Visconde de Pelotas (hoje Museu Municipal )1923?
 
Antiga Intendência(1895-1919),
 sempre em obras e  atos.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

AS MUITAS FACES DA PRAÇA

No tempo das mulas e dos quiosques

Nos tempos da feira :sem muros ou árvores
A praça central de Caxias  nem sempre foi a mesma. No decorrer do tempo teve vários nomes e várias funções. Mudou  de função e de forma  de acordo com as mudanças da cidade.
Tudo começou como um espaço central aberto, onde aos domingos eram realizadas as grandes feiras .Os agricultores  traziam os produtos da estação Os artesãos os artigos  que produziam Todos procuravam comprar e todos procuravam vender.Para  Fourier o comércio é forma de engano ,ou  seja “ a arte  comprar por três francos o que vale seis, e vender por seis francos o que vale três." Até os fins do século XIX não tinha nome , era apenas a  feira .No   começo do século XX foram construídos quiosques que a Intendência  alugava para particulares. Neles funcionavam moradias e casas de comércio. Nos domingos vinham os feirantes e o espaço era um  só movimento  comercial. Vendia-se de tudo:  produtos agrícolas; ferramentas,: doces, frutas ;verduras,móveis utensílios domésticos, Tudo o que era produzido na região era colocado a venda na Praça.


Em 1905 os primeiros quiosques
Em 1910 a Intendência promove na praça  festa pela chegada do trem e pela elevação da Vila à cidade.  Em 1915 ,com Penna de Moraes, ganhou nome e a estátua do Poeta.Foi cercada e nela plantadas casuarinas .Aos poucos os contratos com os comerciantes que exploravam os quiosques se vencem  e não são renovados. Apenas um café continua funcionando para a alegria dos funcionários públicos (lembrem a Intendência era na Praça)
Movimento contra a emancipação de Nova Trento
.Em 1922 há festas pelo Centenário da Independência do Brasil ,o monumento da Estátua da Liberdade é erigido e inaugurado.No ano seguinte   um movimento de repúdio pela  emancipação de Nova Trento reúne as figuras mais importantes de então.Ainda assim Nova Trento com o nome de Flores da Cunha se liberta  .
A Praça murada 1912-1924
 Em 1924 , com Celeste Gobbato a Praça deixa de ser murada e ganha novo traçado : maçônico sagrado. (vide planta  neste blog .)

Em 1932 a Praça Dante sedia a Festa da Uva,antes realizada no Quartel .

Nacionalistas mudam o nome da Praça 1943
 Em 1943 a cidade ganha movimento  dos nacionalistas caxienses contra os italianos e o fascismo .A parte da  população num assomo nacionalismo, p  toma de assalto a Praça ,retira as placas  e  lhe dá o nome de   Rui Barbosa.São mudados os nomes das ruas e roubadas as placas que homenageavam  o poeta Dante.
Enfim a praça vai  se transformando.São   mudanças econômicas e políticas..  A Praça tem muitas histórias e muitos os fatos históricos que nela se passaram.

Mudanças na Praça .O fim da feira

Década de 20 Praça sem muros . Novidades: os carros


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

CAXIAS 1925:NO CINQUENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO ITALIANA



”Pois a arquitetura é dentre todas as artes a que mais ousadamente busca reproduzir em seu ritmo a ordem do universo,que os antigos chamavam de Kosmos “ (Umberto Eco). Hoje se poderia dizer que a arquitetura busca imitar o desastre do universo,ou seja o Kaos. Em Caxias é assim , a desordem humana só é  batida pela desordem social. Felizmente,  nem sempre foi assim.
Em 1925 os caxienses viviam num mundo de fantasia. Era festas sobre festas. O motivo?  Comemoravam-se os cinquenta anos da chegada dos primeiros colonos que ocuparam os lotes da colônia Caxias.  A festa envolveu a Itália Fascista , governada pelo primeiro ministro Benito Mussolini,que fazia uma campanha notável de integração dos italiano no mundo.Os colonos expulsos da Itália pela fome e pela falta de terras,passaram a ser  a ela associados quando conseguiram certo progresso. Um álbum comemorativo foi publicado. A foto de Mussolini ilustrava uma das primeiras páginas.Caxias e as outras cidades que se originaram das antigas colônias refulgiam  na publicação. Um prato cheio para os historiadores famintos de dados e um marco na montagem da mitologia da imigração italiana .Uma olhada em 1925 pode inspirar até os arquitetos locais  imunes à história e adeptos do kaos
O intendente de Caxias era o italiano Dr.Celeste Gobbato (1924-1928) doutor em ciências agrárias.Eleito ao arrepio da lei ,(sempre tão violada na cidade)o Intendente agrônomo tinha planos para cidade. Introduziu os inefáveis pardais ,inimigos dos colonos e devoradores  das sementes . Sendo um liberal conseguiu aderir ao fascismo..Enfim, um exemplo para os futuros prefeitos

1925: Caxias em obra desde então.
sde rebaixamento das ruas
  
Capa  do Album de onde as fotos da matéria
foram copiadas.

Mandou derrubar os plátanos que decoravam o centro e em seu lugar plantou os deletérios   Ligustrum lucidum. A árvore  da China podia agravar as  doenças respiratórias,principal causa da mortalidade regional.Chamada localmente de lecustro  ou  legustos  (tem outros nomes   como alfeneiro,).é uma das causas das alergias lque afetam os moradores da cidade. Mandou calçar a Júlio de Castilhos e reformar a Praça Dante segundo a ordem sagrada da maçonaria.
Caxias tinha então vinte e oito mil habitantes,na zona urbana viviam seis mil e quinhentos  235 casas comerciais e mais de 3oo industrias ,sendo a principal os alambiques. Onze advogados garantiam a lei; dois hospitais a saúde; 76 escolas municipaispara  o ensino,e  sete particulares o ganho das congregações. A cidade respirava Itália seus cinemas eram belos, tanto o  Central como o Apolo. Os prédios eram neoclássicos. Peninha,o Intendente anterior  já proibira as casas de madeira  e assim os” palacetes “se sucediam na cidade ,assinados pelos arquitetos vindo da Itália como Silvio Toigo, Luis Valiera entre outros dos quais poderá se  falar outro dia  . Para alegria dos leitores algumas imagens de época valem mais do que palavras.Que tal estudar  a flora importada de alhures , os pássaros exòticos e os exòticos dirigentes do município?












 
Banco Pelotense Júlio com Marques do Erval

Planos para a Igreja de São pelegrino

Casa Salatino.Casa comercial
.Júlio de Castilhos com Visconde de Pelotas





Rua Marques do Erval: om Sinimbu  Cantina Pezzi
Antigas casas de madeira resistiam.
  


Rua Montaury ´(Praça).Outrora havia a arquitetura neóclássica
 
Marcando presença  no Album

Casa Sassi ,desde 1924 .resiste

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CASAS DE MADEIRA (4)




Hoje ..Mantendo a tradição .Casa Rech

Não é por acaso que o Brasil tem esse nome ,derivado  que é do pau-brasil. Madeira que os  guaranis a chamavam de  ibira pitanga(madeira vermelha).Os  cientistas pródigos em inventar nomes exóticos  deram-lhe o nome de Caesalpinia echinata.O vulgo a chamou de pau-brasil(de brasa, mora?) O Brasil  com nome de árvore,passou de  imagem  de paraiso perdido à sinônimo de destruição florestal.
Até a  história econômica  do Brasil  tem inicio com a exploração da fabulosa resina que tingiu de rubro os tecidos ingleses. Maravilha! Na empreitada brancos e índios se unem na derrubada das matas nativas de pau-brasil.. O que sobrou os canavierios terminaram queimando.A Mata Atlantica do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro acabou.
Quando os imigrantes italianos chegaram ao Brasil  suas madeiras eram exploradas a  mais 375 anos ( desde 1500 ou antes).  Em São Paulo ,em 1838 ,as havia 53 serrarias.Em Minas Gerais,em 1850,  a  siderúrgica de Monlevade  já fabricava lâminas para serrarias. Já então fruto da Revolução Industrial as serrarias à vapor ,há muito havia substituído as  mecânicas para movimentar as  suas serras.
Mas, em 1875 , as matas que cobriam as  encostas do planalto meridional eram virgens. Nas maiores altitudes (cota de 600 m)  havia pinheirais  em profusão. Mas havia outras madeira nobres ( ditas delei) como : a canela, o cedro, o ângico, a péroba entre outras.  .Quando os colonos ocuparam as terras das colônias imperiais da chamada Serra Gaúcha, não tinham serrarias.  A serra e o facão foram os utensílios usados para cortar as árvores .Ao que tudo indica,  as  serrarias começaram a ser instaladas  na década de 1890, e,as primeiras serrarias à vapor após 1916.  Foi a partir desta data  que o desmatamento em massa  começou.
 Os troncos   derrubados  e as tabuas serradas eram  transportados pelo rio das Antas- Taquari abaixo ,na época das cheias.A madeira  era levada para Porto Alegre e dai para Buenos Aires.Com a chegada dos trens aumentou a exportação de madeiras. Diziam os antigos que metade das casas( barrotes e assoalhos ) de Buenos Aires eram provenientes das matas serranas. Verdade? Diziam,  que sim.
 As casas de madeira que caracterizaram a região colonial italiana das encostas do planalto meridional mudaram com o tempo. Ou melhor,  mudaram com o avanço tecnológico na produção da madeira.  Pelo uso da tecnologia é possível buscar  uma classificação  das casas de madeiras da região em quatro  tipos

Casas elaboradas do inicio do século XX

Casas rurais tomadas pela cidade



1.Casas  de madeira falquejada  de 1875 a 1884;com telhas de cerne de madeira de pinheiro ,já que telhas não havia na região.2.Casa de madeira serrada  de forma manual ou mecânica( ou locomóvel) de  1884-1916,com telhas de zinco ou de barro ,já que as olarias começaram a produzir  tijolos  e telhas.3. Casas de madeira  industrial  (à vapor e elétrica ) 1916-1970.4. Casa pré fabricadas , de  1970  em diante ,das quais a Madezatti foi a pioneira   , ou seja, no fabrico   em massa em casas populares.
Tais casas têm características próprias, tanto nos telhados , como nas aberturas e nos acabamentos. Os frisos dos telhados e as sacadas com balaustradas trabalhadas  são do segundo período.Os telhados e o acabamento das casas pré fabricadas são menos trabalhados e adotam um padrão comum. Seria um belo estudo : a evolução técnica e a destruição das matas,das quais hoje sobram apenas 4% .

 



Empresa Giacomet, hoje,
 mantendo o patrimônio regional