quarta-feira, 31 de outubro de 2012


SINDICATO DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA
DA ALIMENTAÇÃO DE CAXIAS DO SUL


Trabalhadores na industria de bebidas ,Fonte :Molon Otavio Rocha ,1950 


            O Sindicato da alimentação teve inicio  em 9 de dezembro de 1945, resultante da junção do sindicato dos trabalhadores na industria da panificação e do sindicato dos trabalhadores nas indústrias de vinho, de cerveja e bebidas em geral. O motivo da união foi a exigência Do decreto  legal   fortalecer duas categorias que tinham poucos associados.No Sindicato de Bebidas teve atuação importante Ernesto 
Bernardi.

   Ernesto Bernardi foi um dos principais líderes sindicais da região . Nasceu em Caxias em 1904 ,mas viveu parte de sua  vida em São Francisco de Paula , Porto Alegre e cidades da fronteira, devido seu trabalho de técnico agrícola (  enólogo) e Minas Gerais(Poços de Caldas). Em 1934 veio para Caxias e durante 46 anos trabalhou na  Companhia  Brasileira de Vinhos.Começou atuar no Partido Comunista Brasileiro  e  no Sindicato dos Operários em Fábricas de Bebidas desde 1928 do qual o primeiro presidente  foi Osvaldo Lentz da Silva. A  participação se Bernardi  pode ser acompanhada pelas atas por ele redigidas.
Foi longa e atribulada  a história da união entre os dois sindicatos ,foi de 1945 a 1954. 

De acordo com  Decreto lei nº 8080, de 11 de novembro de 1945, foi elaborado um projeto de estatuto e escolhida uma junta governativa. O projeto de fusão partiu do STI da Panificação, recebendo o apoio unanime das duas categorias.
            O novo sindicato tinha como base territorial os municípios de Caxias do Sul, Flores da Cunha e Antonio Prado. Sua  primeira diretoria foi composta por Severino Adami, presidente, ligado do Sindicato de Alimentação e como secretário Ernesto Bernardi do Sindicato das Bebidas.

            Em 13 de maio de 1954, na sede situada na Rua Pinheiro Machado, 1952, reúnem-se a Primeira Assembleia Geral Conjunta,is dois sindicatos. Os principais assuntos tratados foram o da criação do Hospital dos Trabalhadores e o da participação da categoria num congresso de Previdência, a ser realizado no Rio de Janeiro.
            Em 26 de março de 1954 é eleita nova diretoria composta pelo presidente Abilio Weber e secretário Ernesto Bernardi, entre outros.  A situação financeira do novo sindicato era bastante boa, havendo superávit nos anos de 1954 e 1955.
            A Assembleia Geral Extraordinária do STI da Alimentação ocorrida em 20 de abril de 1955 propõe de 60% de  aumento  os salários então percebidos por empregados deste sindicato. A decisão de motivar o dissídio coletivo ocorre em assembleia convocada para o dia seguinte. No mês de junho, no dia 11 foi aprovada proposta de conciliação, sendo apresentada a proposta ao juiz da Junta de Conciliação.
            Em 24 de julho de 1955 novamente foi  reeleita a mesma diretoria. Os temas tratados nas atas deste período referem-se apenas a aumentos salariais e de mensalidades.
            A base territorial, em 1962, do sindicato foi  ampliada para  os municípios de Caxias do Sul, Garibaldi, Flores da Cunha, Antonio Prado e Carlos Barbosa.
            O sindicato continuou a discussão sobre a construção do Hospital de Trabalhadores e participando  do segundo de do terceiro  Congresso Nacional de Trabalhadores.
            Em 1957 o sindicato participou do III Congresso Sindical, levando avante as lutas dos trabalhadores, sendo propostas os seguintes itens:
1. Proteção no trabalho da mulher e do menor
2.     Revisão da legislação trabalhista, na questão do dissídio e da estabilidade
3.     O papel da assistência social dos sindicatos
4.     Liberdade democrática, movimento sindical e constituição federal
5.     Problemas econômicos da nação e sua incidência sobre os trabahadores
6.     Soberania Nacional

            Foram enviados como delegados Abilio o.Weber e Ernesto Bernardi. Ernesto Bernardi teve atuação sindical destacada, vinculado ao Partido Comunista, e que juntamente com Bruno Segalla foi o líder mais ativo do período na expansão das lutas operárias no setor sindical.
E
            Durante o período da intervenção nos sindicatos Ernesto Bernardi foi preso, o mesmo aconteceu com Abilio Oswaldo Weber, sendo este logo libertado voltando a ocupar a presidência.
            Em 22 de junho de 1964, as lutas pela expansão do movimento sindical tinham cessado por causa da intervenção e das condições impostas pela nova ordem política, é realizada a primeira Assembleia Geral Extraordinária pós-revolução. Nesta foi instaurada uma revisão de natureza econômica, sendo estudadas as bases para a conciliação.
            No dia 10 de julho deste ano foi  aceita a proposta conciliatória apresentada pelo Sindicato da Indústria do Trigo.
            Em dois de junho de 1966 foi eleita nova diretoria, sendo eleito  presidente Mario José Provensi, secretário Hermenegildo Faraco de Morais e tesoureiro Alcides Ludke.
            Em maio de 1967 foi aceita proposta conciliatória sendo assinado  um acordo coletivo de trabalho, onde reivindicavam direitos dos trabalhadores, quanto a insalubridade,bem como a garantia de  participação de trabalhadores  na administração das  fundações sociais das empresas.
            Em 1969 a Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves doa para o sindicato um terreno para a construção da  sua sede social no município.
            Em dois de julho de 1971 tomou posse nova  diretoria, presidência Mario José Provensi  se manteve  tendo  como secretário Milton Francisco dos Santos.
            Em 1977 Provensi licencia-se para realizar curso nos Estados Unidos, promovido pelo Instituto Americano para o desenvolvimento do Sindicalismo Livre. A influência dos Estados Unidos e de sua organização sindical se fez presente no período revolucionário. Os líderes sindicais realizavam viagens por intermédio desta organização, nela realizavam cursos e treinamentos. Segundo declarações dos líderes que realizaram este tipo de viagens de estudo, ela tinha vínculo com a CIA, e essas  viagens de estudo tinham então um nítido caráter de propaganda anticomunista.
            É incontestável que o Sindicato da Alimentação teve com O Instituto forte ligação, tendo inclusive recebido empréstimos para a construção da nova sede da Comunidade Sindical.
            Em 1977, no dia 16 de março foi  eleito Milton Francisco dos Santos para a presidência e Alcides Ludke para o cargo de secretário e Remy Smiderle para tesoureiro.Como acontecia em geral apenas uma chapa eleita foi apresentada,sendo portanto eleita.          
O atual presidente Alcides Ludke faz parte da diretoria desde 1962, com a ida de Milton Francisco dos Santos para assumir o cargo de secretário da Federação dos STI na Alimentação do RS, Ludke assumiu  a presidência, mantendo-se até o 1982.




Referências Bibliográficas

1.  Livro de atas nº 1 1945, p.1 até nº 1
2.  Idem
3.  Livro de até nº 4, de nº 20
4.  Livro de dia nº 4, até 18
5.  Livro de ata nº 2, até nº 80
6.  Depoimentos da Ernesto Bernardi, Bruno Segalla e Ismael Castilhos
7.  Os demais dados foram retirados do livro de ata nº 3 (14/08/60)
Veja também de Édio Eloy Frizzo .Ernesto Bernardi, a história de um comunista .Educs 2010



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

SINDICATO DOS TRABALHADORES EM TECELAGEM

Trabalhadoras da tecelagem Marisa .1975 .Fonte Álbum do Centenário..

No dia primeiro de maio de 1935, no então arrabalde de Santa Catarina reuniram-se 1/3 dos tecelões da cidade para a instalação solene do sindicato dos operários em fábricas de tecidos em Caxias . Nesta ocasião foi eleito o Primeiro presidente Guido Robinson, secretário João Maino e tesoureiro João Dosso. Presentes a assembleia estavam 29 associados,dos 87 trabalhadores da categoria .

A associação permaneceu sem se reunir até o dia 9 de junho de 1936, pois o presidente abandonou o cargo, visto que mudou de profissão .. Nesta data assume a presidência João Pedron Netto, a assembleia compareceram 47 associados. A diretoria eleita não parece não ter sido muito ativa ,pois nada consta do livro de atas.

Em seis de março de 1938 foi eleita outra diretoria sendo composta por Pedro Machado da Silveira, presidente, Antônio Felipe, secretário e Euclides dos Santos, vice-presidente. As atas posteriores a 8 de junho de 1938 são lavradas na nova sede dos Sindicatos Reunidos ,na rua Pinheiro Machado,nº 1652.

Em 1938 foram constatadas várias irregularidades pelo Conselho Fiscal, a diretoria se excedeu em corridas de carros(taxis) e em hospedagens em hotéis.Nesse mesmo ano o delegado do Ministério do Trabalho participou das reuniões. Inclusive na reunião de seis de agosto de 1939 o delegado de polícia elogiou as leis trabalhistas e a figura de Vargas.

              Em seis de agosto de 1939 foi organizado um sindicato paralelo em Galópolis, nele também esteve presente o delegado de Polícia. Foi organizada uma diretoria formada por Francisco de Morais, presidente, Aquilino Bello, vice-presidente e João Spadari Adami como secretário. Segundo Bernardi, a fundação do sindicato paralelo tinha por objetivo dividir a categoria. O sindicato de Galópolis estava subordinado ao Lanifício São Pedro.A fundação do sindicato ligado a uma empresa deixou perplexos os líderes sindicais entrevistados. Clara manifestação do poder dos empresários no esquema sindical do Estado Novo.O sindicato se responsabilizou pela assistencia à  saude do trabalhadores ,antes responsabilidade da empresa  por meio do Circulo Operário Ismael Chaves Barcellos. Com algumas mudanças em sua orientação em 1945 foi tentado novo tipo de negociação  com a empresa. Segundo Heredia os operários da Tecelagem  tiveram uma posição de subordinação satisfeita ..
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Galópolis funciona até hoje.

Em 1942 o Sindicato tinha 162 associados, destes 55 eram naturais de Caxias do Sul, 4 eram italianos, 1 russo, 1 polonês, 5 eram do Estados de Santa Catarina.

Caxias atraia trabalhadores de várias regiões e cidades : sendo que sete eram de Flores da Cunha;:dois de Antonio Prado;seis de Alfredo Chaves; 15 de S. Francisco de Paula; 17 de Vacaria; oito de São Sebastião do Cai;seis de Montenegro.Os restantes eram de de outros municípios mais distantes como Santa Cruz, Rio Grande e Cruz Alta

O Sindicato de Caxias não funcionou entre 1940 a 1943, sendo desconhecido o motivo de sua desarticulação ,o que pode ser atribuído às fraudes constatadas . Em 25 de janeiro de 1943, com a permissão do delegado do Ministério do Trabalho voltou a funcionar.

Em 1943, no dia 7 de novembro, há uma assembleia cujo objetivo foi o de decidir sobre o Circulo Operário* e o Hospital dos Trabalhadores.**

No dia 31 de maio de 1947 tratou-se da troca do terreno do Sindicato com o Esporte Clube Juventude e da construção da nova sede dos sindicatos.

Em 1949 forma-se a Junta Governativa liderada por Victório Sebben Bálico, sendo que uma mulher ocupa pela primeira vez a secretaria Maria Zeli de Vargas. Em 1951 a diretoria continua acéfala sendo eleito Euclides Piazza e para secretário Altino Gomes. Em 1955 foi eleito para presidente Fioravante de Morais Rosa. No ano seguinte, em 1956, é retomada a discussão sobre o Hospital dos trabalhadores.

Em 25 de maior de 1955 é eleito Victório Bálico, sendo secretário Santo Rodrigues. Victório Bálico foi reeleito em 1959. Em 26 de fevereiro, por ocasião da reeleição de Bálico, Pedro Cassina teceu elogiosas considerações sobre a situação dos trabalhadores que antes tinham suas reivindicações tratadas a patas de cavalo e que hoje tem seus direitos assegurados, o que é uma felicidade. Em 1960 foi cogitada uma paralisação motivada pelo contínuo rejeitar das propostas dos trabalhadores pelos patrões, o que irritou enormemente a categoria. O Tribunal de Justiça contorna a situação obrigando as empresas a pagar o exigido pela categoria. Bálico mereceu uma monografia que louvou seu trabalho a frente do Sindicato


Bálico foi reeleito de forma consecutiva permanece na presidência do sindicato até 19 de junho de 1963 quando assume dirigente Renato Tarcísio Vieiro que por mais de vinte anos dirigiu a entidade de classe

Durante a revolução de 1964 houve uma invasão dos sindicatos reunidos, esta durou pouco mais de uma semana, a necessidade de atender os associados leva o exército a reabrir o sindicato.

Em seis de julho de 1968 quando das novas eleições ocorreu um rompimento na diretoria. Renato Viero encabeçou uma chapa e outra foi encabeçada pelo secretário Santo Rodrigues. Nesta eleição votaram 662 associados; Viero recebe 352 votos e Rodrigues recebe 207 votos. Na reeleição de Viero de 1º de julho de 1981, há 767 votantes e destes 643 votaram na chapa encabeçada por Viero.O presidente do Sindicato por quase vinte anos teve atuação marcante.

Em 1982 o número de associados era de 2000,o que corresponde à 40% da categoria cujo total era de 5000 trabalhadores.


Trabalhadoras da Tecelagem Marisa 1975.Fonte Álbum...

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*O Círculo Operário Caxiense é uma associação civil de caráter filantrópico e de orientação católica  ligado à Ação Católica da Igreja , que visava tirar os sindicatos da influencia do socialismo e do comunismo.Em Caxias foi fundado em 31 de outubro de 1934 pelo padre Orestes Valeta,ligado ao movimento fascista local.


O Círculo Operário de Caxias, tinha por objetivo prestar Auxílio jurídico, médico e material, pelas várias formas de beneficência e mútuo socorro . Com o apoio financeiro de Ari Zatti Oliva e grande grupo de empresários, em 1945 foi comprado o prédio da antiga sede do Recreio da Juventude em 8 de junho de 1947. Também se organizavam retiros espirituais e sessões de cinema e teatro. Em 1966 foi inaugurado um grande anexo.Atualmente o Círculo Operário Caxiense é o mais ativo de todas as instituições brasileiras em seu gênero, com mais de 60.000 associados e um corpo funcional de 1200 pessoas.(internet)

* *Em relação ao Hospital dos trabalhadores o tema merece um reparo, se passariam nada mais nada menos do que 55 anos antes de sua construção. Dezenas de políticos se elegeram prometendo sua concretização, que quando se concretizou se tornou outra coisa. O Hospital Geral de Caxias do Sul foi construído entre 1989 e 1996, equipado de 1996 a 1998 com recursos do Estado do Rio Grande do Sul, passando a funcionar em 19 de março de 1998. Não se destina aos trabalhadores mas ao SUS. Hoje o Hospital Geral atende 48 município que compõe a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, que conta com uma população de mais de 1. 500 mil de habitantes.(Internet|)
Atas da Diretoria do Sindicato da Tecelagem
ver também : HEREDIA , Vania B. M.  .Processo de Industrialização da Zona Colonial Italiana. Educs ,1997



quinta-feira, 18 de outubro de 2012


OS SINDICATOS DA COMUNIDADE ( 1977 )
Instituto Bruno Segalla. Rua Adrade Neves . Foto 2012
 
            A Comunidade Sindical existiu de fato e não de direito entre 1933 e 1977. Sua legalização ocorreu muito tempo depois coma criação de uma comunidade assistencialista. Só em 1977, se torna legal a antiga e legítima união, que reunia os associados sindicatos  da União Operária.
De um modo geral,os sindicatos se espelham no mundo da produção .Na medida  em surgem  novas profissões novos sindicatos se formam e na medida  em que elas são extintas os sindicatos deixam de existir. A relação entre profissão e categoria é histórica, bem como entre produção e trabalho.
           
VELHOS  SINDICATOS
A comunidade assistencial foi composta por nove os  sindicatos na época de sua fundação, três foram fundados na década de trinta, dois na década de quarenta e quatro na década de sessenta. (vide QUADRO Nº 1.) De acordo com a data de fundação pode-se classificar os sindicatos como antigos e novos. Antigos são os sindicatos fundados antes de 1945 e  novos os que foram  fundados após essa data. Os sindicatos antigos participavam da Sociedade União Operária, e os novos iniciaram sua participação já nos Sindicatos Reunidos. Alguns dos antigos sindicatos deixaram de funcionar como é o caso dos tanoeiros, dos curtumes e das cantinas. Outros se separaram. São considerados sindicatos antigos: o dos metalúrgicos, o da construção e mobiliário e o da tecelagem.
 
QUADRO Nº 1
SINDICATOS DA COMUNIDADE SINDICAL 1977
Indicadores
Sindicatos de trab.
Data de fundação
nº. associados
Total da  categoria
% associados
Metalúrgicos
6/3/1933
11.000
25.000
44%
Construção e Mobiliário
6/2/1933
5.500
12.668
43%
Alimentação
9/12/1945
3.000
6.000
50%
Vestuário
7/4/1945
2.200
7.000
31%
Tecelagem
1/5/1935
2.000 (?)
5.000 (?)
40%
Vidros e cristais
31/1/1969
209
400
41%
Oficiais Gráficos
29/11/1969
300
600
50%
Joalheria e Pedras Preciosas
1970
220
350
60%
Fonte: Livro se Atas da Comunidade sindical
 
 
SINDICATO DOS METALÚRGICOS

O Sindicato dos Metalúrgicos foi fundado em seis de março de 1933. Reconstruir a história deste sindicato é bastante difícil, pois, em 1964 ocorreu uma intervenção federal, então muitos livros foram apreendidos, muitos dos quais não foram devolvidos. O registro mais antigo existente no Sindicato data de março de 1934 é o  Livro de  Reunião de Diretoria. Não foi encontrado o Livro de Atas das Assembleias Gerais.

A primeira reunião da diretoria registrada é de  23 de março de 1934.Seu Presidente era  Adelino Lucatelli.  No período foram recebidas muitas propostas de novos associados, a indústria metalúrgica estava em fase de expansão. Era a época da produção em série, o aumento da produção acarretava então aumento no número de operários.

            Em 24 de março de 1934, o Sindicato foi recebido na Federação Operária do Estado do Rio Grande do Sul.

Na reunião da Diretoria, de  19 de julho de 1934 foi  lido um apelo enviado pela União dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio de Janeiro, convidando o Sindicato caxiense  para formar  uma Frente única para reivindicarem juntos (Ata nº. 14). Só ficou o convite, pois, no  período que vai de 1º de setembro de 1934 a 27 de fevereiro de 1937 não foram registradas mais   reuniões da  Diretoria.Ou pelo menos os livros foram extraviados.

            Em 1937 foram a ser aceitos novos sócios, sendo elaboradas sete   cadernetas para os associados. Neste ano foi eleito José Piovan para a presidência. É interessante observar que o assunto sobre o pagamento de joias de $ 3:000 (três mil reis) para menores e mulheres,  que fora discutido dois anos antes,foi  retomado, como se  a reunião  se não houvesse  acabado..O  assunto ficara muito  tempo  esquecido.
    É provável que no período de 1935 a 1937 o sindicato tenha ficado acéfalo, pois em cinco de agosto de 1937, foi concedida anistia para os devedores, pois as mensalidades não haviam sido cobradas.

            Em setembro do mesmo ano  foi concedido pelo Sindicato   um empréstimo  de 50$000 para a construção da sede da União Sindicalista..Em 1º de fevereiro de 1938  foi  eleita uma comissão executiva para dirigir o Sindicato no período de 1938-1940.Um dos eleitos  foi  Francisco Abel.

            Em abril o Sindicato  dos Metalúrgicos emprestou  para a União Sindicalista a quantia de 500$000, o mesmo ocorrendo em agosto.Em dezembro de 1938 foi  eleito presidente Arlindo Zuanazzi. Não há explicação dos motivos da saída de Francisco Abel da presidência.

            A partir de julho de 1939 o sindicato dos metalúrgicos passou a se reunir na  sede da União Sindical, para a qual participara  com 1:050$000  que foram gastos na construção daquela sede.

            Em 1º de agosto de 1940 foi nomeado Clodomiro Batista, para tratar com os demais sindicatos, da dissolução da União Sindicalista, de acordo com o decreto lei nº 1.402.

            As diretorias no período compreendido entre 1934 a 1940 passam a se interessar pelos problemas sindicais dos trabalhadores. A ação passa a se dar diretamente nas empresas .Contatos foram estabelecidos com a Metalúrgica Abramo Eberle & Cia em 22 de agosto de 1939para o cumprimento da convenção de 1º de agosto que previa melhores salários para os trabalhadores .  A reunião não teve o êxito esperado, não resultando dela  um acordo,nem a obediência da empresa á convenção.

            Os operários sindicalizados reivindicavam a dispensa do trabalho, ao serem eleitos para algum cargo na diretoria do sindicato. Os entendimentos com as empresas não chegaram a um acordo. Não havendo dispensa do trabalho ocorreu que os líderes sindicais foram obrigados a fazer uma dupla jornada de trabalho. Durante o dia trabalhavam nas empresas e de noite tratavam dos interesses  da categoria .Era muito difícil então participar da diretoria de  um sindicato.O trabalho cansativo do setor metalúrgico impedia uma maior participação dos trabalhadores no  seu órgão de classe. 

            Em três de outubro de 1940 foi convocada uma assembleia geral para a reformulação dos estatutos e da denominação do sindicato, conforme a exigência da Lei Nº 1.402, de cinco de julho de 1939.

            A ação sindical do período de 1940 a 1964 só pode ser reconstruída através de testemunhos orais. A figura que dominou a cena sindical em Caxias, no período foi  Bruno Segalla, que foi  presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de 1955 a 1964.      Em 1955, segundo Segalla, os sindicatos caxienses, especialmente o dos Metalúrgicos restringiam-se ao assistencialismo e a problemas de ordem salarial. Os sindicatos eram considerados estranhos à sociedade, seus líderes dela  desvinculados. 
                    Entre 1937 e 1945 reinara o Estado Novo e as lideranças sindicais deveriam se submeter as ordens da ditadura .Em geral vinculados ao poder sendo considerados  muitos sindicalistas eram considerados como pelegos da ditadura e cevados pelo governo. Bruno Segalla foi metalúrgico, artista e político nasceu em Caxias,em 1922 sua atividade profissional foi desenvolvida na Metalúrgica Abramo Eberle, onde se aposentou em 1975  

Bruno Segalla (1922-2001) Foto Internet

    Militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro )antes de seu ingresso no Sindicato, Segalla participava  de trabalho de apoio aos colegas. Durante a Segunda Guerra algumas empresas metalúrgicas de Caxias como A Eberle e a Gazola foram consideradas de segurança nacional e envolvidas na produção para o conflito.   A  intervenção militar na empresa Abramo Eberle, na qual trabalhava, houve incidentes com o major interventor. A intervenção na empresa foi devida a Segunda Guerra (1939-1945)  durante a qual a indústria metalúrgica foi considerada de segurança nacional. A administração de cada empresa  ficou sob a direção de um  interventor militar. O interventor da Abramo Eberle  resolveu terminar com os feriados municipais, tendo Segalla tomado uma posição contrária. Foram presos por dez dias alguns operários que se opuseram a ação do interventor.

.Foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos entre 1955 e 1964, período de grande crescimento do movimento operário tanto nacional como local. Após sua aposentadoria passou a produzir em atelier,no andar  térreo de sua casa situada  na esquina da rua Pinheiro Machado com a Andrade Neves.Durante a Ditadura  Militar (1964-1988) foi preso .A entrevista que serve de base para a pesquisa foi realizadas em 1º de novembro de 1982.A entrevista resultou em quatro horas de gravação , que com as bruscas e constantes mudanças da tecnologia acabaram se perdendo.

Morreu no dia 14 de agosto de 2001 deixando vários monumentos que decoram a cidade. Como o Gigia Bandera e o  Jesus do Terceiro Milênio. Hoje há na cidade há uma fundação e o Instituto que levam seu nome. Foi considerado o maior gravador em metal da América Latina, existindo poucos especialistas no mundo com sua habilidade. São os relatos de Segalla que contam a história do período, sobre o qual não existem livros,.
O fato de Segalla ser gravador e artista conceituado deu-lhe condições que os outros líderes sindicais não possuíam

Monumento à Luiza Eberle , a  Gigia Bandera (Luiza Funileira) obra de Segalla de 1996. Foto 2012

 

“Quando a capacidade intelectual das lideranças em geral era reduzida, com raras exceções. Dada seu pouco conhecimento faziam o jogo dos patrões, havendo casos extremos de líderes sindicais que convocavam as assembleias, mas elas não compareciam.

            As  assembleias  dos trabalhadores metalúrgicos eram realizadas em cinemas locais, como o cine Apolo,  das quais participavam representantes dos patrões e até os próprios patrões. Participar dessas assembleias requeria coragem. Pois poderia resultar em punições e demissões nessa época os sindicatos eram mal vistos pela sociedade,só “ dois ou três gatos pingados participavam das manifestações públicas.” Dizia-se então  que era “a negrada” que compunha a categoria sindical.

            A primeira vez que realizei um discurso público foi na comemoração do dia do Trabalho em  primeiro de maio,em suas palavras  ainda não tinha assumido sua “cara de dirigente “sindical” constituindo esse fato “uma traição a raça e aos costumes dos imigrantes” pois, participaria  de uma organização ao lado da “negrada”. Foi sua decisão mais difícil  a de assumir a posição de  dirigente sindical. Havia naquela manhã de primeiro de maio de 1955, mais  pessoas sobre o correto , armado defronte a Estátua da Liberdade,  na Praça Rui Barbosa do que na assistência.

            Na opinião do líder metalúrgico de então o movimento sindical adquiriu um novo caráter, passando a ser levantadas questões políticas e econômicas nacionais e não só aquelas do interesse exclusivo dos trabalhadores. Questões como a reforma agrária e a política salarial passam a ser assuntos das assembleias gerais dos sindicatos.

            Este desdobramento da ação sindical se prolonga até 1964. Após a revolução o movimento sindical voltou apenas para o assistencialismo.

            Foram realizados congressos gigantescos do movimento operário, sendo que a base programática desde os salários até a luta contra os monopólios estrangeiros, reformas de base e a luta pelo nacionalismo.

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            Foram realizadas de 1955 a 1964 vários movimentos paredistas parciais, dentro das empresas metalúrgicas de Caxias do Sul. Paralelamente o dirigente foi eleito duas vezes vereador e uma vez concorreu a deputado estadual,ficando como suplente.

Somava-se ao movimento operário  o político reivindicatório. A atuação na Câmara de Vereadores foi de molde a levar para dentro do legislativo as lutas operárias. Pertencente ao Partido Comunista, estando este na ilegalidade, os partidos pelos quais concorreu representavam apenas uma legenda para a suas lutas.

            O desenvolvimento do movimento sindical em Caxias do sul esteve vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) apesar desta ligação não ser direta, o advogado do sindicato Dr. Percy de Abreu e Lima, Ernesto Bernardi e Bruno Segalla eram  vinculados ao Partido Comunista.

            Os sindicatos reunidos tornaram-se um centro polarizador dos políticos que passavam pela cidade em busca de apoio popular. Políticos como Janio Quadros, Leonel Brizola passaram pelo sindicato. Altas autoridades da administração dos órgãos previdenciários passaram pela sede do sindicalismo, os líderes sindicais reivindicavam e conseguiam que suas exigências fossem atendidas.

 O trabalho conjunto era facilitado pelo fato de estarem os sindicatos reunidos em uma mesma sede. Reuniões diárias  entre as diversas categorias garantia uma linha de ação conjunta. Os sindicatos realizavam trabalhos nos bairros, discutiam os problemas nacionais. Era realizada  campanha permanentes junto aos bairros, sendo esta sistemática, mais tarde, utilizada pelos políticos.

            Quando ocorreu a Revolução de 1964, e  a intervenção federal, Bruno Segalla foi submetido a   inquérito policial militar (IPM). Foi acusado de ter desviado fundos do sindicato, sendo divulgada uma nota oficial que afirmava que Segalla havia desviado Cr$ 800.000,00. Permaneceu preso durante 60 dias, submetido a julgamento,mas  foi absolvido.

            No período em que liderou a categoria  não eram promovidas viagens para líderes sindicais aos Estados Unidos. Segalla participou de Congressos Internacionais na Alemanha Oriental, na Tchecoslováquia, tendo visitado como convidado a URSS.

            O movimento Nacional havia conseguido desalojar do CNTI o pelego, no dizer de Segalla, Diocleciano de Holanda Cavalcanti, que permaneceu no poder desde a época da ditadura de Vargas, tendo assumido seu lugar vultos de expressão nacional, e os líderes caxienses tiveram nesta atuação marcante ação.

            Segundo Segalla “levou dez anos terminando a greve e insuflando-a em cada dissídio coletivo. Tendo conseguido pleno êxito em 1963, agrupando 95% da categoria.”

            Após a Assembleia os metalúrgicos faziam passeatas, deixando a sede do sindicato terminando-as defronte a Estátua da Liberdade. Era uma forma de demonstrar a força do grupo, pois nesta época as assembleias gerais, ao contrário do que ocorre hoje, eram extremamente concorridas.

            Segalla, dessa forma, estabeleceu uma distinção entre os líderes sindicais após 55 e ao anteriores. Esse se prende ao fato de serem tanto ele como Ernesto Bernardi, profissional conceituados de reconhecida competência. De certa forma esta competência constitui-se num elemento distintivo que deu mais força ao movimento.
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            Na época da Revolução e 1964 foram presas cerca de 20 pessoas, destas a maior parte pertencia as diretorias dos sindicatos e que trabalhavam junto a eles. Foram presos o Dr. Percy de Abreu e Lima, advogado dos sindicatos, Dr. Henrique Ordovaz, médico dos sindicatos, Amin Damian, secretário do sindicato dos metalúrgicos e muitos outros.

            Em 9 de abril de 1964 ocorre a intervenção federal nos sindicatos Reunidos. No Sindicato dos Metalúrgicos foram extintos os mandatos de toda a diretoria, de seus delegados e representantes até o término da intervenção, quando seria eleita nova diretoria. A intervenção no Sindicato é realizada pelo General Itacyr da Rosa Cruz, com a finalidade de supervisionar, manter

serviços, ratificar decisões ou afastar servidores.

            O interventor nomeou diretores que eram Alcides Klaus, Martinho Portolan, Etelvino Sachet, Roberto Chust e Olisses Guerra, estes diretores deveriam verificar o caixa, apurar irregularidades e dar continuidade ao serviço. Esta nomeação ocorre em 15 de abril de 1964.

            Foi nesta ocasião que, segundo Bruno Segalla, o interventor lançou uma nota declarando que o líder sindical demitido e preso, teria usurpado a quantia de CR$ 800.000,00 dos fundos do sindicato. Contra Segalla nada foi constatado, tendo inclusive um crédito a receber.A liderança de Segalla não teve contestadores. Sua ação não se limitava ao acerto com os patrões, o movimento sob sua direção ganhou as ruas: pichamentos, passeatas e alto-falantes foram utilizados para conseguir que sua reivindicações fossem atendidas

            Segundo testemunhas que vivenciaram a intervenção a confusão armada foi tamanha que os líderes sindicais, com exceção dos do sindicato dos metalúrgicos, foram instados a retomarem seus postos.

            Assim, a rotina foi reassumida nos diversos sindicatos. A intervenção se mantém até o dia 29 de junho de 1964, quando é suspensa. O sindicato dos metalúrgicos ficará entregue à diretoria nomeada em 15 de abril de 1964.

            O trabalho do sindicato transcorre normalmente. Foi realizado um dissídio coletivo em 19 de outubro, sendo  aceita uma redução de 85% sobre o solicitado pela classe.  Em dezembro foi nomeado um Conselho Fiscal ad referendum para apreciar as contas do exercício.

            A diretoria nomeada permanece até 26 de setembro de 1965. Sobre a atuação dessa diretoria , os depoimentos são unânimes, realizou bem seu trabalho. É interessante observar que os companheiros julgaram natural terem colegas sido nomeados, alguns inclusive julgaram sua atuação digna de elogios.

            A nova diretoria eleita era composta por Antonio Olivo Frigeri, Inácio da Silva e Romeu Pieruccini. Empossada em 12 de outubro de 1965, não realizou o mesmo tipo de trabalho que as anteriores a 1964.O medo faz milagre em prol da pacificação das classes.

            A ação do sindicato, porém, sob o influxo recente de seu dinamismo, anterior a 1964, não termina de foram abrupta. Assim no dia 15 de junho de 1966 foi realizada uma assembléia geral com o objetivo de discutir o dissídio salarial. Cerca de 1.308 associados participaram da assembléia, o pequeno auditório da antiga sede ficou totalmente lotado. Os presente constituíam 1/3 da categoria e decidiram-se pela greve.  Da Assembléia participaram além da diretoria o Dr. Antonio Carlos Bonet Nunes, Promotor Público designado pelo procurador regional do Trabalho, Dr. José Antonio Ponzi, consultor jurídico do sindicato, e um representante do governador do estado Ildo Meneguetti que gestionou para que o movimento grevista não se concretizasse.

            Em 28 de março de 1968 foram escolhidos como vogal e suplente Romeu Pieruccini, Olivio Friegeri e Inácio Silva.    A acomodação se processou com uma precisão milimétrica. As Assembléias se esvaziavam e o poder foi  único elemento que fez com que grupos disputem os cargos nas eleições.
Congraçamento na Eberle  1941.Reunindo patrões eoperários AHMJSA
            Frigeri foi eleito em 1969. Havia na região 25 mil metalúrgicos destes  11 mil (44% )eram sindicalizados.