terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

NEGROS E BRANCOS: A TERRA OS SEPARA

              
Abertura da estrada de ferro ,1908.
 Foto Mancuso,AHMJSA


Nos primeiros anos do século XX, o trabalho unia brasileiros negros e os brancos imigrantes italianos.No entanto   a propriedade da terra os separava.  Os colonos eram pequenos proprietários enquanto que  trabalhadores afrodescendentes  eram  em sua maioria absoluta proletários, que vendia sua força de trabalho    para outros. 
Abertura da estarda de ferro 1908 Foto Mancuso,AHMJSA




                    No Brasil  o trabalho agrícola ,por quatrocentos anos ,foi realizado pelos escravos. Plantar e cultivar era visto com desprezo pelas elites brasileiras. Plantar era tarefa de negros e de escravos. Os trabalhadores desprezavam os colonos .Os colonos  se julgavam  superiores aos trabalhadores  por   plantar e colher em suas próprias terras. Viam com desconfiança os brasileiros que não tinham propriedade e gastavam tudo o que ganhavam .Os dois grupos tinham  ideologias   diferentes. Os "brasileiros bebiam tudo o que ganhavam  enquanto os  os colonos não comiam  ovo para não jogar a casca fora.. O entendimento entre leses  não foi  muito fácil. Nos lugares em que havia que passava a construção da estrada de ferro os problemas entre colonos e trabalhadores se agravou. A passagem dos trabalhadores colocando dormentes e trilhos pelos lotes coloniais foi decisiva para o surgimento de conflitos. Os colonos plantavam legumes, cereais e frutas já os trabalhadores da estrada de ferro tento brancos como negros ,não podiam plantar pois seus ranchos seguiam  o avanço do traçado da ferrovia.
  Os trabalhadores  viviam em ranchos construídos próximos das serrarias e  da estrada de ferro, ou  acampavam  próximo dos trilhos . Comparadas aos ranchos dos trabalhadores , as  pobres casas dos colonos pareciam ricas.   O que separava  os dois grupos mais do que a cor era a   propriedade.
 Enquanto os colonos eram donos da terra,os trabalhadores só tinham seu salário,sendo muitas vezes apenas jornaleiros  Mais que uma diferença de cor o que os separava era uma diferença ideológica  proveniente da  sua  classe social. Problema que existe ainda  hoje , no clube jogam os proprietários e em  botecos r continuam jogando os trabalhadores, não da estrada de ferro mas das empresas locais. 
O mundo do trabalho capitalista separa os homens muito mais que o mundo do antigo regime do trabalho escravo.  
             Ainda assim uma nova época então tem inicio , ocorrendo  o que parecia impensável  no final do século XIX, as uniões interétnicas  Segundo Dall'Alba imigrantes italianas ou filhas  de imigrantes apesar da contrariedade dos pais,  moças passaram a a   casar  com brasileiros, com morenos e com negros.
A reciproca não era verdadeira.Os imigrantes ou filhos de imigrantes muito raramente casavam com filhas de brasileiros pobres. Já o casamento com filhas de brasileiros ricos era bem aceito.Esse é o caso de Samuel Guazzelli Filho, nascido em   Vacaria em 1895 ,que   casou em 1917  com Virginia Duarte .Ela era filha de rico fazendeiro e ele filho de um imigrante italiano de profissão moleiro .

   Naqueles tempos,em geral  as autoridades eram “brasileiras” e a maioria dos imigrantes sentia-se como cidadão de   segunda categoria, excluídos das alta sociedade, formada pelas oligarquias latifundiárias de origem lusa. Basta lembrar que o primeiro prefeito eleito em 1900   de Caxias    foi Campos Júnior, natural de São Francisco de Paula.Ele  era mulato e venerável maçônico  teve vários enfrentamentos com os imigrantes italianos e católicos.As lutas e os incidentes foram ocasionados  pelo poder que detinha,do qual os imigrantes eram excluídos enão por sua cor. .  Os colonos europeus  sofriam  a diferença cultural entre a  deles e a  dos brasileiros .Ainda assim viviam lado a lado.As diferenças não eram por causadas pela cor.
               Segundo  Faustino Perottoni a colônia de seu pai, foram  invadidas pelos cortadores de mato,empregados da serrariaTravi (lote 24 e 25 do Travessão Alencastro)   suas plantações roubadas pelos novos moradores da estação. Primeiro cortaram  os pinheiros sem pedir licença ,depois roubaram parte da colheita . .Desgostoso Artur Perottoni vendeu sua colônia em lotes e foi morar longe da estrada de ferro. 
Os colonos muitas vezes davam tiros de espingarda para espantar os invasores de suas terras e plantações. A defesa ainda que violenta, era uma forma de assegurar a integridade da propriedade.
Segundo lembranças de Dalvo Silvestre,  os trabalhadores daquela  Travi reuniam-se em Forqueta (distrito de Caxias)  numa “bodega” situada  além do acesso atual para Salete e Santos Anjos, ali jogavam "bocha" e as  cartas. Já os colonos preferiam jogar a  bocha  na cancha de  Joaquim   Slomp situada na frente da estação férrea.   Entre  “colonos” e  "brasileiros"  estabeleceu-se  uma distância espacial  até  para o entretenimento. A separação  foi conseqüência das brigas entre os dois grupos. 
 .
Serraria  ,com trabalhadores negros ca. .1910.Fotógrafo desconhecido.


 Por outro lado,os imigrante italianos sentiam-se  orgulhosos  e racista, comparando-se a outras etnias que vivam no Brasil  Para eles os brasileiros eram “negri”,ou seja,  gente que não sabia trabalhar,que tinham vergonha do trabalho  braçal que para eles era  mais a mais  valorizada de todas as  atividades .
    Como reação à exclusão da sociedade brasileira a que eram submetidos os imigrantes se fecharam dentro de seu grupo, em  o casamentos endogâmicos,costume seguido pelas duas  primeiras gerações. 
Os afro descendentes após a abolição (1888) buscaram as cidades da Serra,sendo empregados na sobras pública como na construção de represas, abertura de ruas  e  seu rebaixamento .Foram ocupados na Brigada Militar e ,mais tarde no exército.Foram os negros das baixas patentes que criaram clubes sociais ,como o Clube Gaúcho em Caxias








quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

COLONOS E ESCRAVOS:O TRABALHO OS UNE


Luigia Grossi  e seus familiares. Dona do Hotel Bela Vista   com seus pais e filhos.
 Maria era  filha de criação.Foto de 1913

Em geral os imigrantes italianos são considerados racistas. No mundo do capital  não é só a cor da pele que separa , o que mais separa é  a diferença do bolso. Os miseráveis de qualquer cor ou raça são excluídos.Parece 'natural'  se afastar dos sem teto, dos sem terra, dos sem capital.Os despossuídos  são perigosos pois tudo lhes falta.    
 Assim aconteceu com os escravos imigrantes forçados, trazidos dos lugares mais distantes do continente africano.Para agravar sua miséria (se é que a miséria pode ser agravada) não tinham liberdade. Nada há mais ignóbil que a ausência da liberdade.Durante muitos anos continuaram estrangeiros em terra estranha. Assim aconteceu com os imigrantes 'espontâneos,pressionados pela falta de terra, ' em geral pobres,que sobreviviam com o seu trabalho braçal.
Na sociedade hierarquizada colonial brasileira na qual os senhores eram  donos das terras e da política, os estrangeiros donos de seu trabalho e de uma pequena propriedade rural ainda não pagas e distinguiam dos escravos apenas  por não terem donos,pois eram 'livres'.Mas como os escravos não tinham direitos políticos eram proibidos de ir e vir sem licença , só podiam   circular    com documentos  que provassem  a sua condição de trabalhadores .
Para eles( escravos e estrangeiros)  era  proibida tanto a participação política como o desemprego e o descanso ,considerads  vadiagem .Não ter trabalho fixo era ser vadio ,não ter dono era ser' negro fugido' Foi por esta  experiência  de ausência de liberdade e de controle severo que passaram  tanto os negros ,como  imigrantes,  livre e forçados .
O  Brasil era o mundo  do outro.Seu lugar era outro lugar .Ambos eram exilados de sua terra natal, ambos  proibidos de participar na política,da vida social do novo país . 
Em 1836 em plena Regência,o governo imperial  informa ao governador do Rio Grande do Sul  que os estrangeiros estariam protegendo os  rebeldes farroupilhas  e por esse motivo ordena  toda a atenção e vigilância  sobre sua conduta ,usando de todos os meios para mantê-los  no seu dever, de obedecer o país que os acolheu.Os imigrantes alemães foram usados pelas forças imperiais e pelos farrapos, muitas vezes contra sua vontade.Escravos e colonos foram obrigados a lutar em uma Revolução  que não era deles.A revolução Farroupilha( 1835-1845) destruiu lavouras e imigrantes. 
Muitos são os testemunhos de roubo de comida , dos poucos bens dos colonos italianos durante outras revoltas como a Revolução Federalista  gaúcha (1892-1895) Republicanos e Federalistas n~]ao tinham dó ,roubavam mesmo a colheita e os raros animais dos colonos.
Nos relatos  de época, nos testemunhos colhidos ao longo do tempo e nas histórias de família  dos imigrantes italianos do Nordeste Gaúcho fica evidente a relação que se estabeleceu   entre imigrantes e negros.Há entre eles uma certa solidariedade e um certo reconhecimento de sua condição subalterna,unidos pelo trabalho braçal, separados pela liberdade .Para os colonos  negro  é a palavra usada para designar  de trabalho duro,  trabalho de negro ou  trabalho de escravo.  Em geral  era usada  para explicar o  trabalho exaustivo executado pelos colonos,as condições difíceis de trabalho ,ou  trabalho mal pago.Eram  unidos pelo sofrimento e trabalho sem recompensa.  Reconheciam-se como iguais na exclusão dos bens e das regalias do sistema escravista. Enfim,ambos eram  os usuários  da cama    Procusto
Africanos e nativos, negros e caboclos foram para os imigrantes europeus meios seguros   para o conhecimento da fauna, da flora da nova terra.Na derrubada de árvores no conhecimento de  seus  nomes e suas utilidades.
Apesar da semelhança entre do trabalho do agricultor e o do escravo , havia uma clara diferença   não apenas  na cor ,  língua ,costumes e  religião.Eram semelhantes no sofrimento do duro trabalho,mas as diferenças eram maiores.Os colonos se sentiam  mais próximos dos escravos do que dos fazendeiros,donos de gelbas imensas, e que não faziam trabalhos braçais..Em compensação como escravos  não tinham terras  e eram  ainda muito mais pobres do que  eles..  Como pequenos proprietários donos de sua produção fruto de seu trabalho ,desprezava os que nada tinham. .Algumas vezes o   pertencimento pode ser confundido com racismo.
         Os colonos como os negros eram discriminados e estigmatizados . Assim fechados em seus grupos o ,mantiveram crenças, valores e costumes por duas ou mais  gerações.. .
Para os imigrantes italianos todo e qualquer brasileiro  eram chamados de   'negri' pessoas ,desprezavam o trabalho.Com os quais era impensável   casar   seus filhos ou filhas .   Casar com um negro, com negra? "nem pensar"   :” da mesma forma casar com colono?" Nem pensar. "Da mesma forma, os oligarcas só admitiam casamentos com os 'gringos'quando empobrecidos.Eles também preferiam casamentos endogâmicos ,para preservar a riqueza.Os imigrantes  sentiam-se orgulhosos em comparação aos italianos que não imigraram , pois aqui possuíam mais que terra que os seus antigos senhores lá. 
            As relações entre colonos e escravos se estreitaram  com o passar do tempo e  pela vizinhança nos campos onde lidavam de um lado  da cerca em seu  lote colonial lidava  na terra como trabalhador livre e do outro lado nos campos do latifúndio labutava o escravo.O emblemático caso  de Ana Rech que acolheu em sua casa uma criança  filha de uma escrava ,deixada   durante a noite  na porta de sua casa pobre.Batizada com o nome de Maria Joana,que morreu meses depois.  O fato não é isolado, mas foi o único registrado nos requerimentos da colônia Caxias.
Família no parreiral ,2ª légua ,Caxias 1910
Nas fotos dos imigrantes é comum   meninas negras criadas em famílias brancas .Ao que tudo indica não eram raros os casos de mães escravas que procuravam livrar seus da escravidão. Muitas crianças negras  aparecem nas  fotos do fim do século XIX e inicio do XX  aos lado das crianças imigrantes no mesmo trabalho e nas  escolas,  sendo as educadas lado a lado. Da mesma forma que  muitos adultos negros e brancos  aparecem em fotos junto aos brancos em seu ambiente de trabalho.
Trabalhadores da estrada de ferro ,1910.Foto Mancuso.
 Em 1888 quando ocorre a abolição dos escravos novas  oportunidades de trabalho se abrem na zona colonial  italiana “para os ex- escravos..Especialmente o das serrarias ,derrubada de mato e da estrada de ferro.Trabalham imigrantes e negros na estrada de ferro ,nas serrarias, na polícia, na Brigada Militar,salvo melhor juízo, corporação que sempre acolheu os antigos escravos .Nas intendências municipais,nas abertura de ruas,na construção de estradas e de represas está presente o negro  e o branco.
E o racismo? Veio depois e não foi nada bonito.

Escola Municipal masculina ,Caxias 1906.  Fonte Buccelli
Tropeiros .Negros e brancos realizavam o transporte de carga ,dos campos para a colônia.CC 1910
escravo.
Característico é o caso de Ana Rech que acolheu em sua casa uma criança  filha de uma escrava  que foi deixada   durante a noite  na porta de sua casa pobre, chamando-a de Maria Joana. Tal caso não deve ser o único, mas foi o único registrado no requerimentos da colônia Caxias, através da qual Ana informa que vai criar a menina 
Ao que tudo indica não eram raros os casos de mães escravas que procuravam livrar seus filhos. Muitas crianças negras  aparecem nas  fotos do fim do século XIX e inicio do XX  aos lado das crianças imigrantes no mesmo trabalho e nas mesmas escolas escolas,  sendo as educadas lado a lado. Da mesma forma muitos adultos negros e negras aparecem em fotos junto aos brancos em seu ambiente de trabalho tanto na empresa metalúrgica de  Abramo Eberle como na industria vinícola de Luiz Antunes,na Tecelagem  Gianella.
Nas fotos aparecem juntos ,no lar , na escola eno trabalho.Discriminação não será exclusão ?

 Ofício de 27 de outubro de 1882,de Ana Rech para diretoria da Comissão de Terras.Arquivo Municipal João Spadari Adami.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ALEMÃES E ITALIANOS NA SERRA GAÚCHA



Antonio Prado em 1925.

Na  historiografia gaúcha em relação á  imigração  há uma lacuna.Nada foi escrito   sobre as  relações entre alemães e italianos na região das antigas colônias  do Nordeste gaúcho,  povoadas por imigrantes europeus ,em sua maioria provenientes do norte Itália.
Os imigrantes italianos não viviam num mundo a parte.O Brasil e o Rio Grande do Sul era a pátria de muitos povos, sendo eles os italianos, os últimos a chegar ,no século XIX. tropeiros lusos os imigrantes italianos  tomaram contato com os alemães, não só  com os do vale do Cai, também com aqueles da Encosta da Serra. As relações entre os alemães que viviam no vale do rio Cai e os imigrantes italianos, na antiga colônia dá-se inicialmente por meio  dos comerciantes alemães, e, mais tarde, dos   jesuitas alemães deotigem  da freguesia de São José do Hortêncio que acompanharam os colonos italianos. nos primeiros tempos da imigração.Nas colônias viviam   lado a lado colonos trentino e tirolezes,  alemães e italianos do Vêneto.As relações sociais são estabelecidas entre os dois grupos, através das trocas comerciais, das compras e familiares
Após 1872 os colonos alemães ocupam o vale dos arroio do Ouro e do Forromeco, terras que depois seriam destinadas pelo governo imperial à  colonia Caxias,em geral vinham da ex-colônia deNova Petrópolis. No final do ano de 1875 chegaram ao vale do Cai, a  maior leva  de imigrantes italianos ,nesta ocasião a quando a Primeira e a Segunda léguas estavam sendo medidas  e abertas as primeiras picadas,foram  informados da demora na demarcação dos lotes .Os imigrantes  foram  obrigados permanecer  muito tempo  na região  do vale do Cai.
Segundo Chiarello  enquanto estavam sendo medidas as novas colônias cerca de 600 imigrantes italianos, ficaram a acampados ao relento,na base do Morro Cristal,então chamado Morro da Torre em Nova Palmira. Ali permaneceram seis meses,abastecendo-se na casa do colono alemão Germano Noll . Cerca de cem anos depois Pedro Carlos Wilibaldo Feter , neto  de Germano Noll ,lembrava-se tanto da casa comercial  como do moinho .Um dia me levou para ver onde  onde haviam  acampado os italianos .Na década de cniquenta  ainda havia o moinho , a casa já  estava abandonada .
.Também os colonos italianos não esqueceram do fato,que reapareceu em muitas das entrevistas realizadas por pesquisadores em Nova Milano. O fato pode parecer sem relevância,mas alimentar tantas pessoas, ainda que estas possuissem os vales do governo,não parece ter sido tarefa pequena  .Crianças com menos de 12  e maiores de 65 anos  não recebiam vales para alimentação. ,nem existiam vales para a saúde, nem  médicos. Tais fatos exigiam tanto a solidariedade quanto o auxílio dos poucos  habitantes de Nova Palmira , que não passavam de vinte famílias.As relações estabelecidas entre os dois grupos permaneceram no tempo e na memória dos mais velhos
 As relações entre italianos e alemães parecem ter continuado boas após o assentamento dos italianos  nos seus lotes,já que não existem registros na documentação oficial de incidentes entre os dois grupos.  Comerciantes alemães mudaram-se  para Nova Vicenza(hoje Farroupilha)após  em 1906,quando teve inicio  o  assentamento de trilhos da estrada de ferro. Com a chegada do trem a partir de 1910, chegam mais comerciantes alemães a Nova Vicenza.Entre eles estão.Carlos Fetter Valdemar Behlong,Gabriel Ruschel ,Frederico Fuhr e Emílio Weissheimer entre muitos outros
Em Nova Vicenza  havia  toda uma comunidade de alemães  como os Fetter,os Fuhr,os Ruschel ,Ao  contrário do aconteceu em Caxias  não havia  negociantes  de origem lusa. Formou-se uma comunidade luterana., com colonos alemães vindos da Forqueta Baixa  e de Alto Feliz que se estabeleceram no núcleo de Nova Vicenza.  
 Não se tratavam de relações transitórias. Os alemães luteranos fixaram-se na comunidade,nela cirando famílias e um  dos primeiros templos  luteranos da região.  Houve vários   casamentos inter étnicos ,e, o que é mais significativo entre católicos e protestantes.
 Outro tipo de relação estabeleceu-se entre os comerciantes italianos e os viajantes das  casas importadoras alemãs,situadas em Porto Alegre, a mais importante das quais  era a Bromberg & Cia Ltda. de Porto Alegre. A empresa  foi lembrada por vários depoentes  entrevistados por mim .Várias  das jovens , receberam como dote  máquinas de costura  alemãs Pfaff ou Singer  importadas pela Bromberg. Através do aprendizado do “corte e costura”,  algumas delas se tornaram  profissionais, aumentando desta forma  a renda familiar,outras costuravam para as necessidades familiares.
Em 1906 , Bucelli  em viagem da  da capital para São Sebastião do Cai no vapor Garibaldi anotou que nele viajavam também  juntos colonos e negociantes da campanha, tipos diferentes, mas em geral fortes e de boa compleição e de ar satisfeito; alemães na maioria e italianos. O que os distinguia era   a cor do cabelo e certas características físicas peculiares as duas raças,que seria bastante para distingui-los a pronúncia com  que uns e outros falavam o português.Segundo observou reinava a mais perfeita harmonia. Para viajar era preciso dinheiro e é possível que ele tivesse visto comerciantes.Entre eles havia voas relações.
O trabalho dos caixeiros viajantes alemães  parece ter sido extraordinário . Em viagem ao  Sul , Vittorio Bucelli ,encontrou-se com alguns deles. Elogiou  seu modo de agir na zona da colônia italiana. A caminho de Alfredo Chaves encontrou o primeiro viajante alemão, que segundo ele   que já havia tomado“as atitudes e os costumes e as tendências dos gaúchos, e como eles usava o laço  instrumento indispensável para aqueles que se ocupam da vida do campo
       Com três viajantes comerciais alemães  viajou durante dias acompanhando o modo como eles tratavm os fregueses”como parentes ou amigos d elonga data”,tal forma de negociar deixou Buccelli maravilhado,visto que  em cada de comércio chegada deles se transformava  em  uma festa. Os negócios eram feitos de forma rápida, mas as festas de alongavam,pelo o resto do dia era um banquete continuo,uma verdadiera festa de família .
Grupo de mulheresAntõnio Prado ,1910
Mas,  nem tudo eram flores,alguns alemães eram contra o casamento com italianas, por  causa da língua o que impedia a boa comunicação entre nora e sogra. Havia uma orientação da Igreja para que não houvesse casamentos entre jovens de etnias diversas e diferentes religiões.No inicio da imigração italiana eram os jesuítas alemãesdo vale do rio dos Sinos que davam assistência espiritual aos colonos.  O maior empecilho  a esse tipo de união foi a dos jesuítas alemães, pois julgavam que os casamentos deveriam ser endongâmicos,pra que não houvesse problemas de relacionamentos nas famílias formadas por grupos étnicos diversos. .  
 Em alguns locais como em Arroio Canoas (perto de Carlos Barbosa) a separação entre alemães e italianos era muito clara. Assim na medida em que chegavam os italianos os alemães iam embora.buscando outras terras.  Tal cuidado estava relacionado ao que tudo indica mais à cultura e menos ao racismo .  Nesse lugar houve casos curiosos, namorados separados pelas famílias,cuja lembrança ficou .
Contam os moradores que  no inicio do ´seculo XX os pais de um jovem alemão foram contra seu casamento com uma moça italiana. O moço que era caminhoneiro, contrariado foi embora sozinho. Vinte anos depois  voltou e  se casou com a já não tão jovem   italiana,que tinha tido uma filha dele. Os pais tinham morrido e os dois viveram  juntos, até o fim de suas vidas.Casos menos trágicos que os de  Romeu e Julieta.
Praça Garibaldi, em Antônio Prado,palco dos acontecimentos.

Um dos incidentes mais sérios envolvendo alemães e italianos(de origem) ocorreu em Antônio Prado, em 26 de maio de 1936..  Os  intendentes nomeados por Borges de Medeiros  alemães de origem , numa região povoada por italianos não prenunciava bons resultados. 
O primeiro Intendente foi Inocêncio de Matos Miller (nascido em Passo Fundo),governou pelo PRR até 1907,sendo substituido pelo vice  Capitão  Cristiano Ziegler. Vistos com desconfiança os aliados do Presidente do Estado, eram associados à maçonaria ,cobravam impostos tratavam os colonos com rigidez  militar.
Em 1935,  mais um alemão é eleito. Oscar Hampe era irmão do médico da cidade Osvaldo Hampe ,ambos do PRL. Logo os problemas começaram  com o aumento de impostos.O que ocasionou não só a revolta dos colonos contra o  prefeito  como também um movimento que partindo do inteiroior invadiu a Praça Principal .Os problemas ao que tudo indica tiveram causas políticas.. No dia 26 de maio houve um tiroteio na frente da Prefeitura ,tendo sido morto ,o genro do prefeito e delegado Armindo Cesa.(genro do Prefeito) O Dr.Osvaldo Hampe  saiu em socorro de seu irmão ,acabou matando dois colonos.Mas as vitimas não foram só essas.,as famílias da região sentiram a morte dos colonos como se fossem seus parente. 
O levante acabou com mortos e  feridos  e com  lembranças dilacerantes,sobre o  peso do poder.. Três  colonos foram assassinados: Pedro Pastore,Vitório Meneguzzi e Antônio Perosa .O delegado mereceu enterro oficial ,com placa em  homenagem à sua  memória.Aos colonos restou o esquecimento.
Sem sombra de dúvida nas relações entre alemães e italianos  há material para muitas pesquisas ,dissertações e teses.
                      Não só em Nova Vicenza mas também em Forqueta Baixa a conviveram alemães  e italianos de forma tranquila guardando seus costumes,suas festas, sua língua e sua 
Antônio Prado em 1906 In:Buccelli.



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 Obras citadas : BUCELLI Vittorio. Un viaggio inRio Grande del Sud,Milano: Pallestreisi, 1908
CHIARELLO, Natal. Breve História de Minha Terra.,Caxias do Sul,. .Universidade de Caxias do Sul ,1985


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

FLORES DA CUNHA: ESPERANDO O TREM

  Outro episódio  fato que serviu de chacota em relação à Flores da Cunha foi o do trem:.A  estrada de ferro,que nunca chegou!  A história do trem não é uma lenda urbana,mas uma distorsão  histórica, por  motivos exclusivamente  políticos .
    Um dos anseios da comunidade era a estrada de ferro ,que chegara a Bento Gonçalves em 1919.  Em 1931 ,começou a luta pela vinda da ferrovia.O Intendente  Dr. Adalberto Pio Souto entrou  contato com o Interventor pedindo a construção de um prolongamento da estrada de ferro que terminava em Caxias.
   Nessa  ocasião foi  aconselhado a elaborar um requerimento por escrito ,que foi   encaminhado em 25 de outubro. Em 7 de novembro   veio a resposta pela Viação Ferrea do Rio Grande do Sul ,um projeto preliminar para a construção  solicitada , com os do custo dos recursos humanos.
        Para agilizar as despesas , foi iniciada  a subscrição da compra de  ações no  valor de 1:000$000( um mil réis) A comunidade se movimentou endo sido  colhidas   assinaturas de 124 pessoasinteressadas na compra das ações. 
     Quando ocorreu a Revolução de 1930, Nova Trento progredia apesar da emancipação ou por causa dela.  Enquanto isso ocorria,  no Rio Grande do Sul  houve grandes  mudanças políticas. Com a Revolução Consitucionalista de São Paulo , o PRR  gaúcho se  dividiu .  Em 1932, Interventor Flores da Cunha,por divergências com Borges de Medeiros, fundou o  Partido Republicano Liberal(PRL).
    Em  Nova Trento, o lider da nova  agremiação  era Heitor Curra,motivo pelo qual  em  193 foi nomeado prefeito por Flores da Cunha,homenagem ao governador recém eleito.  Como prefeito nomeado Curra governou até 1935 ,quando foi eleito para o cargo. .
      Pouco depois de eleito O Prefeito  enviou para a Camara um  projeto para a mudança do nome de Nova Trento para Flores da Cunha. No final do ano a mudança foi aprovada.  O projeto e ssua execução tiveram fins políticos,pois, pretendima garantir a construção da extensão da ferrovia, por meio da conquista das simpatias do Governador  Flores da Cunha. . Tal ação segundo Boscatto ,não teve apoio da  da população,. Mas estranhamente  o nome permaneceu até hoje ,sem qualquer tipo de reação popular. .Por outro lado od vereadores representante legais da população   aprovaram a mudança.

Mudança do cemitério Municipal de Flores da Cunha ,uma obra de Curra
        Logo após as eleições foi  aprovada pela  RFRS a extensão da ferrovia de Caxias até Flores da Cunha. Foram feitos estudos, e por fim ,  em 21 de dezembro de 1936, publicado o Edital de concorrência para sua  a construção ,cujo fim estava previsto para 1939.      Mas as coisas da política nem sempre são como se espera.Basta ver o caso da Rota do Sol cuja construção levou setenta anos  e o do Hospital Geral que levou mais de quarenta. A estrada de ferro teria sido prolongada até Flores da Cunha se seu  interesse  tivesse durado  
           Flores da Cunha foi deposto  em 1937.Após sua eleição para governador em 1935 começou a se afastar de Varga,  com a implantação do  Estado Novo foi deposto  e a estrada de ferro virou letra morta.
 O deboche e a  chacota sobre a estrada de ferro   ficou por conta do pessoal ligado ao movimento integralista de Plinio Salgado e inimigos políticos de Curra,centrados em Nova Pádua.
       Na verdade serviu como estigma não só para Flores da Cunha ,mase especificamente a  Heitor Curra cuja única responsabilidade  foi a do  acaso politico. 
          Sobre a ação política de Curra as opiniões divergem.  Mas poucos retaram dos quye o realmente conheceram.Homem culto e idealista deixou não só a política como a cidade de  Flores da Cunha.Suas obras ficaram e não foram poucas
       Segundo Boscatto não houve a promessa de Flores da Cunha, mas de acordo com a documentação houve não só promessa como Edital para a construção.  Opinião   que parece ter sido a mesma de outro cronista florense Raymundo Paviani,

       Mas a história   regional é ingrata, guarda o que interessa a alguns, e muitas esquece a verdade. Muitas vezes são os falastrões ou  os que  viveram mais tempo que ibnevnetam as verdades que são lembradas.Não é por acaso que traição e tradição tem a mesma origem!Traição (do latim tradicione,entrega)  é o mesmo de tradição que é a entrega de lenadas e costumes  de uma geração para outra .O elo que une passado é presente pode ser bem enganoso !
     
 
Desfile cívico em Flores da Cunha,1941


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Ponte coberta, Nova Pádua, uma das obras de Heitor Curra



Ata da mudança de nome da cidade de Nova Trento Para Flores da Cunha

Autorização para o prolongamento da ferrovia de Caxias A Flores da Cunha.
   Os documentos e algumas das fotos aqui reproduzidas são do livro Heitor Curra-Um cidadão florense (Vida e Obra) de Lourdes Curra e  :rra e Evadro L de Oliveira .      



   

!Desenho de Bocatto sobre o trem