quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

COLONOS E ESCRAVOS:O TRABALHO OS UNE


Luigia Grossi  e seus familiares. Dona do Hotel Bela Vista   com seus pais e filhos.
 Maria era  filha de criação.Foto de 1913

Em geral os imigrantes italianos são considerados racistas. No mundo do capital  não é só a cor da pele que separa , o que mais separa é  a diferença do bolso. Os miseráveis de qualquer cor ou raça são excluídos.Parece 'natural'  se afastar dos sem teto, dos sem terra, dos sem capital.Os despossuídos  são perigosos pois tudo lhes falta.    
 Assim aconteceu com os escravos imigrantes forçados, trazidos dos lugares mais distantes do continente africano.Para agravar sua miséria (se é que a miséria pode ser agravada) não tinham liberdade. Nada há mais ignóbil que a ausência da liberdade.Durante muitos anos continuaram estrangeiros em terra estranha. Assim aconteceu com os imigrantes 'espontâneos,pressionados pela falta de terra, ' em geral pobres,que sobreviviam com o seu trabalho braçal.
Na sociedade hierarquizada colonial brasileira na qual os senhores eram  donos das terras e da política, os estrangeiros donos de seu trabalho e de uma pequena propriedade rural ainda não pagas e distinguiam dos escravos apenas  por não terem donos,pois eram 'livres'.Mas como os escravos não tinham direitos políticos eram proibidos de ir e vir sem licença , só podiam   circular    com documentos  que provassem  a sua condição de trabalhadores .
Para eles( escravos e estrangeiros)  era  proibida tanto a participação política como o desemprego e o descanso ,considerads  vadiagem .Não ter trabalho fixo era ser vadio ,não ter dono era ser' negro fugido' Foi por esta  experiência  de ausência de liberdade e de controle severo que passaram  tanto os negros ,como  imigrantes,  livre e forçados .
O  Brasil era o mundo  do outro.Seu lugar era outro lugar .Ambos eram exilados de sua terra natal, ambos  proibidos de participar na política,da vida social do novo país . 
Em 1836 em plena Regência,o governo imperial  informa ao governador do Rio Grande do Sul  que os estrangeiros estariam protegendo os  rebeldes farroupilhas  e por esse motivo ordena  toda a atenção e vigilância  sobre sua conduta ,usando de todos os meios para mantê-los  no seu dever, de obedecer o país que os acolheu.Os imigrantes alemães foram usados pelas forças imperiais e pelos farrapos, muitas vezes contra sua vontade.Escravos e colonos foram obrigados a lutar em uma Revolução  que não era deles.A revolução Farroupilha( 1835-1845) destruiu lavouras e imigrantes. 
Muitos são os testemunhos de roubo de comida , dos poucos bens dos colonos italianos durante outras revoltas como a Revolução Federalista  gaúcha (1892-1895) Republicanos e Federalistas n~]ao tinham dó ,roubavam mesmo a colheita e os raros animais dos colonos.
Nos relatos  de época, nos testemunhos colhidos ao longo do tempo e nas histórias de família  dos imigrantes italianos do Nordeste Gaúcho fica evidente a relação que se estabeleceu   entre imigrantes e negros.Há entre eles uma certa solidariedade e um certo reconhecimento de sua condição subalterna,unidos pelo trabalho braçal, separados pela liberdade .Para os colonos  negro  é a palavra usada para designar  de trabalho duro,  trabalho de negro ou  trabalho de escravo.  Em geral  era usada  para explicar o  trabalho exaustivo executado pelos colonos,as condições difíceis de trabalho ,ou  trabalho mal pago.Eram  unidos pelo sofrimento e trabalho sem recompensa.  Reconheciam-se como iguais na exclusão dos bens e das regalias do sistema escravista. Enfim,ambos eram  os usuários  da cama    Procusto
Africanos e nativos, negros e caboclos foram para os imigrantes europeus meios seguros   para o conhecimento da fauna, da flora da nova terra.Na derrubada de árvores no conhecimento de  seus  nomes e suas utilidades.
Apesar da semelhança entre do trabalho do agricultor e o do escravo , havia uma clara diferença   não apenas  na cor ,  língua ,costumes e  religião.Eram semelhantes no sofrimento do duro trabalho,mas as diferenças eram maiores.Os colonos se sentiam  mais próximos dos escravos do que dos fazendeiros,donos de gelbas imensas, e que não faziam trabalhos braçais..Em compensação como escravos  não tinham terras  e eram  ainda muito mais pobres do que  eles..  Como pequenos proprietários donos de sua produção fruto de seu trabalho ,desprezava os que nada tinham. .Algumas vezes o   pertencimento pode ser confundido com racismo.
         Os colonos como os negros eram discriminados e estigmatizados . Assim fechados em seus grupos o ,mantiveram crenças, valores e costumes por duas ou mais  gerações.. .
Para os imigrantes italianos todo e qualquer brasileiro  eram chamados de   'negri' pessoas ,desprezavam o trabalho.Com os quais era impensável   casar   seus filhos ou filhas .   Casar com um negro, com negra? "nem pensar"   :” da mesma forma casar com colono?" Nem pensar. "Da mesma forma, os oligarcas só admitiam casamentos com os 'gringos'quando empobrecidos.Eles também preferiam casamentos endogâmicos ,para preservar a riqueza.Os imigrantes  sentiam-se orgulhosos em comparação aos italianos que não imigraram , pois aqui possuíam mais que terra que os seus antigos senhores lá. 
            As relações entre colonos e escravos se estreitaram  com o passar do tempo e  pela vizinhança nos campos onde lidavam de um lado  da cerca em seu  lote colonial lidava  na terra como trabalhador livre e do outro lado nos campos do latifúndio labutava o escravo.O emblemático caso  de Ana Rech que acolheu em sua casa uma criança  filha de uma escrava ,deixada   durante a noite  na porta de sua casa pobre.Batizada com o nome de Maria Joana,que morreu meses depois.  O fato não é isolado, mas foi o único registrado nos requerimentos da colônia Caxias.
Família no parreiral ,2ª légua ,Caxias 1910
Nas fotos dos imigrantes é comum   meninas negras criadas em famílias brancas .Ao que tudo indica não eram raros os casos de mães escravas que procuravam livrar seus da escravidão. Muitas crianças negras  aparecem nas  fotos do fim do século XIX e inicio do XX  aos lado das crianças imigrantes no mesmo trabalho e nas  escolas,  sendo as educadas lado a lado. Da mesma forma que  muitos adultos negros e brancos  aparecem em fotos junto aos brancos em seu ambiente de trabalho.
Trabalhadores da estrada de ferro ,1910.Foto Mancuso.
 Em 1888 quando ocorre a abolição dos escravos novas  oportunidades de trabalho se abrem na zona colonial  italiana “para os ex- escravos..Especialmente o das serrarias ,derrubada de mato e da estrada de ferro.Trabalham imigrantes e negros na estrada de ferro ,nas serrarias, na polícia, na Brigada Militar,salvo melhor juízo, corporação que sempre acolheu os antigos escravos .Nas intendências municipais,nas abertura de ruas,na construção de estradas e de represas está presente o negro  e o branco.
E o racismo? Veio depois e não foi nada bonito.

Escola Municipal masculina ,Caxias 1906.  Fonte Buccelli
Tropeiros .Negros e brancos realizavam o transporte de carga ,dos campos para a colônia.CC 1910
escravo.
Característico é o caso de Ana Rech que acolheu em sua casa uma criança  filha de uma escrava  que foi deixada   durante a noite  na porta de sua casa pobre, chamando-a de Maria Joana. Tal caso não deve ser o único, mas foi o único registrado no requerimentos da colônia Caxias, através da qual Ana informa que vai criar a menina 
Ao que tudo indica não eram raros os casos de mães escravas que procuravam livrar seus filhos. Muitas crianças negras  aparecem nas  fotos do fim do século XIX e inicio do XX  aos lado das crianças imigrantes no mesmo trabalho e nas mesmas escolas escolas,  sendo as educadas lado a lado. Da mesma forma muitos adultos negros e negras aparecem em fotos junto aos brancos em seu ambiente de trabalho tanto na empresa metalúrgica de  Abramo Eberle como na industria vinícola de Luiz Antunes,na Tecelagem  Gianella.
Nas fotos aparecem juntos ,no lar , na escola eno trabalho.Discriminação não será exclusão ?

 Ofício de 27 de outubro de 1882,de Ana Rech para diretoria da Comissão de Terras.Arquivo Municipal João Spadari Adami.

Um comentário:

  1. Tive a felicidade de ser aluno da Professora Loraine. Ela era professora de história no Colégio Cristóvão de Mendoza e sempre apresentava as matérias de uma forma instigante, procurando - sempre que possível - relacionar o que nos era apresentado com a nossa região. Na época, a maior parte dos afrodescendentes caxienses viviam no Burgo, no início da Rua 13 de maio.De forma geral, eles eram muito pobres e, embora a boa vontade de alguns, como meu tio-avô Jardelino Ramos, que construiu lá a "Casa da Criança", os moradores do Burgo estavam de fato completamente à margem. Sempre fiquei curioso sobre a origem deles; de onde eles vieram, já que para os colonos que se instalaram por lá no século XIX erra proibido ter escravos. Verdade que havia algumas feitorias por perto, como a de Feijó Júnior. Mas acho que talvez só isto não explique muito. Minha mãe, que também era professora, dizia que muitos teriam vindo da região de Santo Antônio da Patrulha, núcleo de um dos mais antigos assentamentos colonizadores açorianos (veja-se Saint-Hilaire). Mas, de qualquer forma, a curiosidade continua e o artigo da Professora Loraine ajuda a esclarecer muita coisa, pelo que, mais uma vez, lhe sou grato.
    Henrique Ramos Finco.

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