quarta-feira, 14 de março de 2012

MAÇONARIA X IGREJA :LUTA PELA HEGEMONIA


Caxias no fim do século XIX ,por ocasião dos acontecimentos políticos  entre maçons e católicos.
Entre 1875 e 1883 a chamada   colônia italiana mantém o cordão umbilical com a pátria de origem. Os imigrantes permanecem ligados  aos interesses do outro lado do mundo como se o novo fosse só um lugar de  passagem.  Não há  ações coletivas, salvo melhor juízo. O caráter individual das ações  se expressa nos requerimentos enviados à Comissão de Terras e mais tarde às intendências municipais  São pedidos reiterados pela  busca de bagagens ou auxílios para  retornar  à Itália.Está longe o tempo dos periódicos regionais e da busca de nova  identidade .
Uma das primeiras organizações dos imigrantes foram as caixas de auxílio mútuo ou sociedades operárias. Tais organizações surgidas nos últimos anos do século XIX foram fundamentais para a sobrevivência do grupo em terra estranha e sem condições econômicas. Auxílios para enterros, pequenos empréstimos apenas as Caixas  propiciavam .
           A Igreja que seguiu a Imigração tinha seus vínculos com o poder imperial, os colonos eram apenas mais uma de suas obrigações. A organização das capelas foi de iniciativa privada dos colonos sem a interferência da Igreja. As capela e os cemitérios  e as bodegas foram os primeiros espaços sociais das colônias,muitos anos mais tarde seguidos pelos salões de festa.è possível afirmar que os colonos serviam mais a Igreja do que ela os servia, pois todos os  sacramentos eram pagos .Não havia trabalho de apoio aos pobres ,tal serviço cabia ( como sempre ) ao Estado.
Outra  organização que veio apoiar os  imigração foi a Maçonaria.  A Loja Maçônica Força e Fraternidade foi a primeira a ser criada na  região. Suas atividades tiveram inicio em Caxias  em 28 de janeiro de 1886. Anos mais tarde, em 1894, em Bento Gonçalves foi fundada a Loja Concórdia.” Em Caxias o número de irmãos  chegou  a 152, no período entre 1886 e 1903. Nos primeiros tempos, segundo Colussi , em Caxias havia 103 e em Bento Gonçalves, 69 membros.
Campos Júnior venerável da Loja Maçônica Força e Fraternidade
 e primeiro Intendente eleito de Caxias , 1902. 
 As lojas eram espaços democráticos nelas se reuniam  fazendeiros lusos, funcionários públicos, comerciantes e colonos italianos e alemães.Entre os companheiros não havia diferença de classe ou de cor. O mais notável dos mulatos foi o  venerável José Cândido de Campos Júnior ,mais tarde primeiro intendente eleito de Caxias.
A Igreja e Maçonaria tiveram papel importante  na política  regional. Na região,  os párocos    e os maçons suas  marcaram posições absolutamente divergentes . Não houve na região, salvo melhor juízo, sacerdotes maçons. A chegada tardia dos imigrantes, após Unificação Italiana, quando já  havia sido   rompido qualquer laço entre irmãos e fiéis..Na região , muitos foram os enfrentamentos  e as agressões entre os membros das duas instituições.Apesar da violência e da intransigência  das autoridades eclesiásticas locais  algumas das  iniciativas da Maçonaria  mudaram a cena da colônia. As lojas  prestavam ainda  auxílios aos familiares dos  irmãos em caso de morte ou de invalidez .

A  proclamação da república, em 15 de novembro de 1889 , deslocou o centro do poder . A Igreja perdera sua força política com a consequente separação da Igreja do Estado.Os padres deixaram sua função pública e  a  função cartorial passou da Igreja  à iniciativa privada. Enquanto que as Lojas ganharam poder político definindo muitas vezes  os rumos políticos  dos municípios derivados das antigas  colônias, quando da transição entre o império a república. As mudanças da legislação e do sistema burocrático republicano causaram impasses nos municípios recém-emancipados, cujas leis orgânicas ainda deveriam ser definidas.
. A constituição castilhista promulgada em 14 de julho de 1891 outorgava  ao Presidente do Estado a prerrogativa de editar as leis,ou seja o executivo subsumia o legislativo que passava a cuidar apenas do orçamento do Estado e de seus  tributos, terminando com qualquer traços  de democracia.Tal fato repercutiu no Estado ,já que os administradores dos  novos municípios seriam nomeados pelo governo, era o caso de Caxias e Bento Gonçalves, cujos  intendentes eram lusos e maçons.
 A Loja Força e Fraternidade recomendava  prudência e moderação aos seus associados. Os párocos locais destituídos de seu poder antes assegurado pelas freguesias   lutam para garantir pela  hegemonia .A desordem se instala.
 Muitos imigrantes eram maçons, entre eles Felice Laner, próspero comerciante. e Francisco Salerno,  delegado de polícia  e ainda  Belisário Batista Soares fazendeiro e maragato.. Os maçons como os imigrantes estavam divididos entre republicanos, monarquistas. Havia ainda os carbonários( membros de uma organização específica com fins políticos com semelhanças com a Maçonaria ) que foram  responsabilizados  pelos   conflitos regionais. Entre 1890 e 1894  a Loja Força e Fraternidade foi adormecida, há um relação entre as lutas políticas estaduais e seu fechamento.

Após 1890, na capital do Estado ocorre o  enfrentamento entre os republicanos e os antigos monarquistas ,agora chamados de liberais .. Os primeiros liderados por Júlio de Castilhos , os segundos pelo General Câmara As lutas dos dois grupos pelo poder estadual ocasionam a instabilidade políticas .Em  menos de dois anos o governo  do Estado mudou de mãos dezenove vezes. A política estadual repercutiu profundamente nas antigas  colônias. .A reação contra a posição do governador eleito Júlio de Castilhos que  apoiou o golpe do Presidente contra a Constituinte Afonso Amabile e Cesare Porta  com trezentos homens  armados, em sua maioria colonos, católicos e  maragatos depõem a Junta Municipal , em 26 de novembro de 1891. O  delegado Salerno  impediu  a posse do Conselho Municipal. Poucos dias depois, em dezembro a Junta caxiense reassume o poder e empossa o Conselho Municipal.
Outra revolta dá-se no dia 25 de junho de 1892, quando o Conselho mais uma vez é deposto por Amabile   e seus homens   que exigem   o poder municipal  em nome do Vice Governador General Joca. Tavares. As intervenções municipais correspondem às estaduais
.  Em 1893 irrompe a Revolução federalista  contra o governo republicano .A região  sofreu com os combates, cercada pelos campos de cima da serra era ponto de passagem e de abastecimento das tropas litigantes.. Grande foram os prejuízos dos colonos , alguns dos quais  haviam aderido à luta devido os altos impostos municipais e às dividas coloniais
Os federalistas tomaram a Vila  de Caxias com duas colunas uma  liderada por   Belizário Batista ,proveniente da fazenda do Raposo e outra por   José Nicoletti , de São Marcos, da qual faziam parte dezenas de “polacos”.A defesa da Vila foi feita pelo 44º Batalhão da Guarda Nacional com meia centena de homens, menor  que  as forças federalistas que ocuparam a Vila .Os federalistas invadiram, saquearam e incendiaram algumas casas de republicanos , lutando nas ruas À tardinha as tropas rebeldes se retiram., pois era esperada uma tropa legalista, o que não  aconteceu.
O total do prejuízo  sofrido é   desconhecido bem como  o número  de mortos. Em Nova Trento em 6 de dezembro de 1893, Giovanni Piazza  encontrou dois corpos, amarrados e degolados, na estrada de  Alfredo Chaves houve mortes nas famílias Bacin, Pegoraro e Dalponte. Segundo o coveiro de Caxias Felice Rossi no no mês de julho foram recolhidos nove cadáveres nos arredores  da povoação e  enterrados no cemitério público municipal.Outros corpos  foram atirados em  charcos próximos da  vila. Entre eles estariam os polacos  que segundo populares foram jogados na  várzea,no atual estádio do Juventude.
Foto de Caxias de 1910 , vendo-se ao fundo o hotel de Luigia Grossi, no qual eram desfraldadas as bandeiras tanto de maragatos como de periquitos. 
Da luta restaram na cidade sobraram  20 cadáveres, sendo um capitão, um tenente, um alferes, um sargento e dois cabo e de Miguel Antônio Dutra Neto, apunhalado e massacrado covardemente pelos miseráveis. Morreram ainda  Afonso Amabile, enfermeiro, e Cesare Porta, seleiro, ambos imigrantes italianos, domiciliados em Caxias As autoridades brasileiras ao serem questionadas pelas italianas sobre a morte dos dois italianos imigrantes  declaram  que ambos eram  brasileiros,já que tinham título de  eleitores
O governo italiano promete ajudar os que não tivessem  vinculação política,ou seja nenhum . A maior parte dos colonos tinha posições políticas, ou eram maragatos ou    pica paus. .Neutra era parece ter sido  a hoteleira Luigia Grossi, dona do melhor hotel da Vila., que usava  duas bandeiras. As bandeiras eram hasteadas de acordo com as cores políticas do grupo que vinha comer ou se hospedar no seu estabelecimento. Para o bom andamento dos negócios muitas vezes era conveniente servir a dois senhores.
Entre 1888 a 1893 vários incidentes ocorrem  entre maçons e católico. Em 1889 os maçons organizaram uma festa abrilhantada pelo disparo de foguetes.  O pároco de Santa Teresa “com a cooperação de fiéis frustra a festa maçônica  roubando  os morteiros e o canhão jogando-os em uma valeta .O mesmo padre instava  para que os católicos não comprassem  nas  lojas dos maçons. Os pequenos incidentes que escondiam  grandes diferenças entre os dois grupos.São pequenas coisas com grandes efeitos !
 Em 1894 quando da reabertura da Loja, Salerno,  Delegado de Polícia. Salerno informou aos irmãos na Loja  que escondeu muitos profanos ameaçados de morte em sua casa, salvando suas  vidas.  Os incidentes entre Paróquia e  e Loja com passar do tempo  tendem a se agravar.
Grande parte do texto é baseado no Livro nº 1 de  Atas da Loja  Força e Fraternidade de 1886 
Ao centro da foto de 1910 ,  Luigia Grossi com a sombrinha  ,famosa por sua "neutralidade "política AHMJSA

 Leitura recomendada 
ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 – 1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971,

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