Caxias no fim do século XIX ,por ocasião dos acontecimentos políticos entre maçons e católicos. |
Entre 1875 e 1883 a chamada colônia italiana mantém o cordão umbilical com a pátria de origem. Os imigrantes permanecem ligados aos interesses do outro lado do mundo como se o novo fosse só um lugar de passagem. Não há ações coletivas, salvo melhor juízo. O caráter individual das ações se expressa nos requerimentos enviados à Comissão de Terras e mais tarde às intendências municipais São pedidos reiterados pela busca de bagagens ou auxílios para retornar à Itália.Está longe o tempo dos periódicos regionais e da busca de nova identidade .
Uma das primeiras organizações dos imigrantes foram as caixas de auxílio mútuo ou sociedades operárias. Tais organizações surgidas nos últimos anos do século XIX foram fundamentais para a sobrevivência do grupo em terra estranha e sem condições econômicas. Auxílios para enterros, pequenos empréstimos apenas as Caixas propiciavam .
A Igreja que seguiu a Imigração tinha seus vínculos com o poder imperial, os colonos eram apenas mais uma de suas obrigações. A organização das capelas foi de iniciativa privada dos colonos sem a interferência da Igreja. As capela e os cemitérios e as bodegas foram os primeiros espaços sociais das colônias,muitos anos mais tarde seguidos pelos salões de festa.è possível afirmar que os colonos serviam mais a Igreja do que ela os servia, pois todos os sacramentos eram pagos .Não havia trabalho de apoio aos pobres ,tal serviço cabia ( como sempre ) ao Estado.
Outra organização que veio apoiar os imigração foi a Maçonaria. A Loja Maçônica Força e Fraternidade foi a primeira a ser criada na região. Suas atividades tiveram inicio em Caxias em 28 de janeiro de 1886. Anos mais tarde, em 1894, em Bento Gonçalves foi fundada a Loja Concórdia.” Em Caxias o número de irmãos chegou a 152, no período entre 1886 e 1903. Nos primeiros tempos, segundo Colussi , em Caxias havia 103 e em Bento Gonçalves, 69 membros.
Campos Júnior venerável da Loja Maçônica Força e Fraternidade e primeiro Intendente eleito de Caxias , 1902. |
A Igreja e Maçonaria tiveram papel importante na política regional. Na região, os párocos e os maçons suas marcaram posições absolutamente divergentes . Não houve na região, salvo melhor juízo, sacerdotes maçons. A chegada tardia dos imigrantes, após Unificação Italiana, quando já havia sido rompido qualquer laço entre irmãos e fiéis..Na região , muitos foram os enfrentamentos e as agressões entre os membros das duas instituições.Apesar da violência e da intransigência das autoridades eclesiásticas locais algumas das iniciativas da Maçonaria mudaram a cena da colônia. As lojas prestavam ainda auxílios aos familiares dos irmãos em caso de morte ou de invalidez .
A proclamação da república, em 15 de novembro de 1889 , deslocou o centro do poder . A Igreja perdera sua força política com a consequente separação da Igreja do Estado.Os padres deixaram sua função pública e a função cartorial passou da Igreja à iniciativa privada. Enquanto que as Lojas ganharam poder político definindo muitas vezes os rumos políticos dos municípios derivados das antigas colônias, quando da transição entre o império a república. As mudanças da legislação e do sistema burocrático republicano causaram impasses nos municípios recém-emancipados, cujas leis orgânicas ainda deveriam ser definidas.
. A constituição castilhista promulgada em 14 de julho de 1891 outorgava ao Presidente do Estado a prerrogativa de editar as leis,ou seja o executivo subsumia o legislativo que passava a cuidar apenas do orçamento do Estado e de seus tributos, terminando com qualquer traços de democracia.Tal fato repercutiu no Estado ,já que os administradores dos novos municípios seriam nomeados pelo governo, era o caso de Caxias e Bento Gonçalves, cujos intendentes eram lusos e maçons.
A Loja Força e Fraternidade recomendava prudência e moderação aos seus associados. Os párocos locais destituídos de seu poder antes assegurado pelas freguesias lutam para garantir pela hegemonia .A desordem se instala.
Muitos imigrantes eram maçons, entre eles Felice Laner, próspero comerciante. e Francisco Salerno, delegado de polícia e ainda Belisário Batista Soares fazendeiro e maragato.. Os maçons como os imigrantes estavam divididos entre republicanos, monarquistas. Havia ainda os carbonários( membros de uma organização específica com fins políticos com semelhanças com a Maçonaria ) que foram responsabilizados pelos conflitos regionais. Entre 1890 e 1894 a Loja Força e Fraternidade foi adormecida, há um relação entre as lutas políticas estaduais e seu fechamento.
Após 1890, na capital do Estado ocorre o enfrentamento entre os republicanos e os antigos monarquistas ,agora chamados de liberais .. Os primeiros liderados por Júlio de Castilhos , os segundos pelo General Câmara As lutas dos dois grupos pelo poder estadual ocasionam a instabilidade políticas .Em menos de dois anos o governo do Estado mudou de mãos dezenove vezes. A política estadual repercutiu profundamente nas antigas colônias. .A reação contra a posição do governador eleito Júlio de Castilhos que apoiou o golpe do Presidente contra a Constituinte Afonso Amabile e Cesare Porta com trezentos homens armados, em sua maioria colonos, católicos e maragatos depõem a Junta Municipal , em 26 de novembro de 1891. O delegado Salerno impediu a posse do Conselho Municipal. Poucos dias depois, em dezembro a Junta caxiense reassume o poder e empossa o Conselho Municipal.
Outra revolta dá-se no dia 25 de junho de 1892, quando o Conselho mais uma vez é deposto por Amabile e seus homens que exigem o poder municipal em nome do Vice Governador General Joca. Tavares. As intervenções municipais correspondem às estaduais
. Em 1893 irrompe a Revolução federalista contra o governo republicano .A região sofreu com os combates, cercada pelos campos de cima da serra era ponto de passagem e de abastecimento das tropas litigantes.. Grande foram os prejuízos dos colonos , alguns dos quais haviam aderido à luta devido os altos impostos municipais e às dividas coloniais
Os federalistas tomaram a Vila de Caxias com duas colunas uma liderada por Belizário Batista ,proveniente da fazenda do Raposo e outra por José Nicoletti , de São Marcos, da qual faziam parte dezenas de “polacos”.A defesa da Vila foi feita pelo 44º Batalhão da Guarda Nacional com meia centena de homens, menor que as forças federalistas que ocuparam a Vila .Os federalistas invadiram, saquearam e incendiaram algumas casas de republicanos , lutando nas ruas À tardinha as tropas rebeldes se retiram., pois era esperada uma tropa legalista, o que não aconteceu.
O total do prejuízo sofrido é desconhecido bem como o número de mortos. Em Nova Trento em 6 de dezembro de 1893, Giovanni Piazza encontrou dois corpos, amarrados e degolados, na estrada de Alfredo Chaves houve mortes nas famílias Bacin, Pegoraro e Dalponte. Segundo o coveiro de Caxias Felice Rossi no no mês de julho foram recolhidos nove cadáveres nos arredores da povoação e enterrados no cemitério público municipal.Outros corpos foram atirados em charcos próximos da vila. Entre eles estariam os polacos que segundo populares foram jogados na várzea,no atual estádio do Juventude.
Foto de Caxias de 1910 , vendo-se ao fundo o hotel de Luigia Grossi, no qual eram desfraldadas as bandeiras tanto de maragatos como de periquitos. |
Da luta restaram na cidade sobraram 20 cadáveres, sendo um capitão, um tenente, um alferes, um sargento e dois cabo e de Miguel Antônio Dutra Neto, apunhalado e massacrado covardemente pelos miseráveis. Morreram ainda Afonso Amabile, enfermeiro, e Cesare Porta, seleiro, ambos imigrantes italianos, domiciliados em Caxias As autoridades brasileiras ao serem questionadas pelas italianas sobre a morte dos dois italianos imigrantes declaram que ambos eram brasileiros,já que tinham título de eleitores
O governo italiano promete ajudar os que não tivessem vinculação política,ou seja nenhum . A maior parte dos colonos tinha posições políticas, ou eram maragatos ou pica paus. .Neutra era parece ter sido a hoteleira Luigia Grossi, dona do melhor hotel da Vila., que usava duas bandeiras. As bandeiras eram hasteadas de acordo com as cores políticas do grupo que vinha comer ou se hospedar no seu estabelecimento. Para o bom andamento dos negócios muitas vezes era conveniente servir a dois senhores.
Entre 1888 a 1893 vários incidentes ocorrem entre maçons e católico. Em 1889 os maçons organizaram uma festa abrilhantada pelo disparo de foguetes. O pároco de Santa Teresa “com a cooperação de fiéis frustra a festa maçônica roubando os morteiros e o canhão jogando-os em uma valeta .O mesmo padre instava para que os católicos não comprassem nas lojas dos maçons. Os pequenos incidentes que escondiam grandes diferenças entre os dois grupos.São pequenas coisas com grandes efeitos !
Em 1894 quando da reabertura da Loja, Salerno, Delegado de Polícia. Salerno informou aos irmãos na Loja que escondeu muitos profanos ameaçados de morte em sua casa, salvando suas vidas. Os incidentes entre Paróquia e e Loja com passar do tempo tendem a se agravar.
Grande parte do texto é baseado no Livro nº 1 de Atas da Loja Força e Fraternidade de 1886
Ao centro da foto de 1910 , Luigia Grossi com a sombrinha ,famosa por sua "neutralidade "política AHMJSA |
Leitura recomendada
ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul – I tomo: 1864 – 1970. Caxias do Sul: Edições Paulinas, 1971,
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