quarta-feira, 7 de março de 2012

O RACISMO SE APRENDE!

Nos primeiros tempos da imigração, no final do século XIX. , os colonos se identificavam com os negros pelo trabalho e deles se separavam pela ideologia. Não parece  haver então graves conflitos entre os dois grupos. Os colonos italianos nunca foram donos de escravos e entre eles havia, nos primeiros tempos de Brasil  a discriminação era feita em relação a todos os brasileiros . Os brasileiros brancos ou negros eram chamados de neri (negri) pelos colonos italianos .
Negros e brancos  na Banda de Ana Rech
.Fim do século XIXI; IN:Dall'Alba
     
  Os abolicionistas propagandistas principais da imigração europeia acreditavam na superioridade de seu trabalho. Os colonos brancos segundo eles eram trabalhadores assíduos, industriosos, empreendedores e pacientes, amigos do lar doméstico e afeiçoados ao sossego da vida em família; enfim, respeitadores das leis, trabalhadores pacíficos e moralizados  Em outras palavra os europeus portadores das qualidades que faltariam aos africanos.
                                                                                                                                           Madame van Langendonk era belga e viveu no Brasil entre 1857 e 1875  na colônia  Santa Maria da Soledade( hoje  município de São Vendelino ) .Em seu livro de memórias apresenta as mesmas posições semelhantes às dos abolicionistas . Os escravos para ela tinham “maus instintos” não possuindo “probidade, pudor e moral” concluindo que  “ a escravidão é menos funesta aos negros do que aos brancos .
            Os imigrantes tinham   as mesmas posições que os demais europeus, que colonizaram a África e destruíram culturas e civilizações. Por outro a sua grande maioria desconheciam até a existência dos negros. São muitas as expressões de surpresa e de repúdio  pela existência de negros escravos no Brasil Desconhecer não significa discriminar. Os imigrantes europeus desconheciam o Brasil e seus habitantes, sua política, sua natureza, seus animais, seus nativos. O Brasil parecia aos imigrantes  a negação do mundo civilizado europeus.. Os negros e os indígenas faziam parte desse mundo não civilizado e desconhecido.
Não é de estranhar que os colonos. ainda que pequenos produtores  tenham adotado a  ideologia da classe dominante      A classe dominante impunha seu modo de ver aos dominados, enquanto os dominados ao que tudo indica  pareciam se entender.  A classe dominante era racista seguindo as teorias da época que acreditavam na superioridade racial. Até a própria imigração europeia era uma decorrência do racismo visto que acreditavam na superioridade  dos brancos ,pensamento adotado até  pelos aboliconistas.

Segundo Dall’Alba No século XIX  todas as autoridades eram “brasileiras” e a maioria dos imigrantes sentia-se cidadãos de segunda categoria,sem direitos civis e  trabalhadores braçais Por outro lado, Os imigrantes se reconheciam superiores , comparados  a outras raças ou nacionalidades. Para eles”Todos os brasileiros eram “negri”, gente que não sabia trabalhar, gente que nem podia pensar em casar com filhos ou filhas de outras raças. Estamos falando dos brancos. Nem é preciso dizer dos negros de verdade. Casar com um negro, com negra? Impensável.”
Mesmo com a chegada dos imigrantes  os trabalhos pesados da charqueadas e no serviços domésticos ainda dominava o trabalho servil. Negros e brancos imigrantes trabalharam lado a lado muitos anos, conviveram ,unindo-se em uniões estáveis e separando-se em conflitos  decorrentes de prejulgamento ou  de preconceito .Segundo Rovílio Costa :a” ideia de que o negro não trabalha ou de que não tem organização perpassa  a cultura dos imigrantes italianos. Fica evidente na obra de Bernardi(1937) Nanetto Pipetta que retrata a vida e o pensar dos primeiros imigrantes italianos. A situação de escravidão tornou o negro sujeito a outra experiência cultural para a qual o conceito de trabalho e de economia difere do italiano. Nesta diferença cultural, os descendentes italianos fundamentam seus preconceitos em relação ao negro  (COSTA,1982, p.108)
Negros brancos imagens de Bernardi ,1937.

    Em Nanetto Pipetta  a  saga do anti herói imigrante  a figura do negro é uma constante que se relaciona tanto  com os imigrantes  como com os brasileiros. O primeiro negro que aparece na aventura é descrito como bel negro de nariz achatado, olhos brancos armado de faca e pistola.Mas é eles que   mata  a fome de Nanetto,dando-lhe de comer  pinhão  e insistindo para que tome  chimarrão.. “Nanetto passa a noite no casebre da família na manhã seguinte vai embora como diz Beranrdi ” el ze  scampá de tuta carrera” Apesar do convite feito pela família para que viva com eles  e trance os cestos de vime. .Seguem-se outros encontros,quando perdido no mato encontra um moreno o convida para beber, e outro lhe  pede dinheiro. Há ainda o sonho com um negro armado que o olha fixo para o desprotegido imigrante.E a benzedeira  que faz uma série de rezas e simpatias, benze as sua pernas ,mas quando pede pagamento é expulsa à pancada.
            As relações entre imigrantes e negros encontram Nanetto  sua imagem especular .  Na ficção são focalizados os mesmos tipos de relações que são estabelecidas que nos testemunhos e nas histórias de família. As relações em geral amistosas  podem  acabar em briga sob  ação do álcool,  da mesma maneira o uso do conhecimento das ervas e das curas que é aproveitado em momentos de necessidade. È importante destacar que a igreja católica através de suas congregações desestimulou a união matrimonial  entre imigrantes italianos e outros grupos. Colbacchini informa mais de uma vez que vê  ‘ que sempre vejo com  muito desprazer os matrimônios mistos,já que seriam meio seguro  de  acabar  com a língua e os costumes do grupo.
Os imigrantes italianos repetem o modo de pensar dos nacionais  e apresentam os preconceitos que os outros brasileiros. Os imigrantes afinal de contas estavam se tornando brasileiros.
Brancos e negros em escola Pública em Antônio Prado.Buccelli, 1906
       

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