O DOMÍNIO DOS INDUSTRIAIS
No fim da década de vinte a indústria
começa a ameaçar a hegemonia dos comerciantes. Gorender observa que:
somente em 1928, precisamente quando a
contradição de interesses entre o comércio de importação e a industria chegava
a um ponto crítico, foi que os industriais paulistas se retiraram da Associação
Comercial e fundaram o Centro das Indústrias
do Estado de São Paulo.
No
caso caxiense os industriais não se retiraram da Associação, estes passaram a
dirigi-la. É interessante observar que o caso local repete a mesma situação do
caso paulista. A expansão do domínio dos industriais é demonstrada no período
seguinte.
Em outubro de 1928, Alberto Bins (1869-1957 ) prefeito de Porto
Alegre reúne na capital um
comitê industrial onde haviam 67
delegados de estabelecimentos industriais.Diante da situação econômica crítica
industrial (determinada pelo
prenuncio da grande depressão 1929) propõe uma série de medidas destinadas
a evitar uma crise maior no setor. A ideia de uma organização classista foi
levada adiante por A.J. Renner que, em 7
de novembro de 1930, concretizou a fundação do Centro da Indústria Fabril do
Rio Grande do Sul(CIFRGS).
No
final da República Velha as outras categorias patronais já haviam se organizado
no estado. Os agropecuaristas estavam
reunidos na União dos Criadores e na Federação das Associações Rurais do Rio
Grande do Sul (FARSUL) e os comerciantes na Federação das Associações
Comerciais do Rio Grande do Sul.
Com
a criação do CIFRGS a atuação dos industriais tornou-se mais eficiente, e por meio de objetivos comuns conseguiram maiores linhas de financiamento ao setor e maior participação política da
categoria.Os industriais de Estado chegaram inclusive a estudar a possibilidade
da criação de um partido econômico, que se encarregaria de defender os
interesses de classe.
A classe
patronal caxiense ventilava a hipótese da eleição de um representante econômico
para o Conselho Municipal. A existência de diversas correntes partidárias entre
os empresários demonstrou que tanto a criação do partido econômico, como a da
eleição de um representante econômico eram inexequíveis.
A
situação econômica de Caxias do Sul nesse período apresentava condições
diferentes das do Estado. Na região, apesar de agrícola não tinha um
organização forte. Foram os comerciantes
que dominaram o cenário político local até o rompimento da 1º Grande
Guerra(1939-1945).
Em
relação à estrutura econômica do Estado o município apresentava então uma
indústria mais moderna. A indústria metalúrgica se expandira durante a República Velha, haviam
sido criadas indústrias químicas e de maquinas agrícolas. Ao lado destas
indústrias modernas o setor industrial mantinha as indústrias tradicionais como:
a tritícola, a dos vinhos e bebidas e a da madeira.
Em
1930 o município possuía cerca de 32.000 habitantes, o número dos operários era
de 3.000, existindo 280 estabelecimentos comerciais e 235 casas comerciais.
O
setor vinícola representava até 1926 a base das exportações municipais, após
essa data o setor perde gradativamente o
predomínio local, para as outras indústrias que passam a dominar
percentualmente as exportações. Um dos líderes da produção vinícola era Antônio Pieruccini .Dada a situação econômica local seria de se
esperar que a organização dos industriais no âmbito estadual tivesse
repercussões imediatas e favoráveis no município. Na Associação dos
Comerciantes de Caxias do Sul a criação da CIF não teve qualquer repercussão.
Os
industriais locais não se organizaram em órgão classista próprio. A Associação
dos Comerciantes de há muito passara de defender os interesses dos industriais.
Quando foi criada a CIF, os industriais já dominavam a Associação. As
diretorias apresentavam um maior número de indústriais do que de comerciantes e
a própria ação da Associação já era realizada
em benefício daqueles. A não criação de uma órgão associativo exclusivo para os
industrias, revela que ele já existia de
fato. Esse órgão era a própria Associação dos Comerciantes.
Vários
fatos demonstram que a Associação dos comerciantes de fato representava o
órgão dos industriais; Entre estes podem
ser destacados a organização da Festa da Uva, a criação dos sindicatos de
classe patronais e a sua maior aproximação com poder público.
Em
1931 - período em que o setor vinícola deixa de dominar a produção local -
passam a serem organizadas as Festas da Uva. As Festas da Uva ao contrário do
que pode parecer tiveram desde o início um caráter industrial. A segunda Festa
da Uva em 1932 apresentava já uma seção industrial, segundo Gardelin “ em resumo
a segunda Festa da Uva englobava também a indústria”. A organização destas
feiras partiu da Associação dos Comerciantes, mas, os maiores beneficiários do
evento foram os industriais, visto que as Festas da Uva serviram como mostra de
produção da indústria local.
Toda
a economia se beneficiava com a Festa com a vinda de visitantes. Os
comerciantes venderiam mais produtos, da mesma forma que os agricultores com a comercialização da uva.Os maiores beneficiários
seriam os industriais com contatos para negócios que seriam proporcionados aos industriais.
A
discussão da legislação trabalhista e sindical vai se travar na Associação que
parte a organização deu uma “comissão mista das classes patronais e operárias
destinadas a estudar a questão. Em 16 de março de 1933 a assembleia
autorizou a diretoria a dar todos os passos necessários, afim de organizar o
sindicato dos industrialistas ou comerciantes de Caxias do Sul.
Na
composição desta comissão mista predominavam os industriais. As medidas para
formar os sindicatos locais com três anos de atraso com relação a vigência da lei partiu da Associação
dos Comerciantes. Observa-se que desde o início os sindicatos patronais
estiveram vinculados à Associação dos Comerciantes, foi esta a matriz da
organização patronal em Caxias do Sul. O duplo papel da Associação: defesa dos
interesses dos comerciantes e dos industriais garantiu não só sua manutenção,
como também a união dos dois segmentos da classe dominante municipal.
Com
a Revolução de 30 os intendentes passam a ser nomeados. A nomeação do executivo
municipal vai impedir a participação direta dos empresários no destinos
políticos da cidade. A forma de ação política dos membros da Associação
adaptou-se à nova situação.
A
aproximação entre a associação e os interventores foi realizada a partir da mediação em questões
trabalhistas - como no caso da greve dos tanoeiros e através de convites para
que os mesmos participassem das reuniões e assembleias da associação. A
presença constante dos prefeitos nestas reuniões garantiu para a classe
patronal uma aliança segura com o poder político nacional. Na impossibilidade
de eleger seus representantes os patrões atraíram os prefeitos para a defesa de
suas causas.
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