quinta-feira, 18 de abril de 2013



                                      O DOMÍNIO DOS INDUSTRIAIS



No fim da década de vinte a indústria começa a ameaçar a hegemonia dos comerciantes. Gorender observa que:

somente em 1928, precisamente quando a contradição de interesses entre o comércio de importação e a industria chegava a um ponto crítico, foi que os industriais paulistas se retiraram da Associação Comercial e fundaram o  Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

            No caso caxiense os industriais não se retiraram da Associação, estes passaram a dirigi-la. É interessante observar que o caso local repete a mesma situação do caso paulista. A expansão do domínio dos industriais é demonstrada no período seguinte.
Em outubro de 1928,  Alberto Bins (1869-1957 ) prefeito de Porto Alegre  reúne na capital um comitê  industrial onde haviam 67 delegados de estabelecimentos industriais.Diante da situação econômica crítica industrial (determinada pelo prenuncio da  grande depressão  1929) propõe uma série de medidas destinadas a evitar uma crise maior no setor. A ideia de uma organização classista foi levada adiante por  A.J. Renner que, em 7 de novembro de 1930, concretizou a fundação do Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul(CIFRGS).
            No final da República Velha as outras categorias patronais já haviam se organizado no estado. Os agropecuaristas  estavam reunidos na União dos Criadores e na Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul (FARSUL) e os comerciantes na Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul.
            Com a criação do CIFRGS a atuação dos industriais tornou-se mais  eficiente, e por meio  de objetivos comuns conseguiram  maiores linhas de financiamento  ao setor e maior participação política da categoria.Os industriais de Estado chegaram inclusive a estudar a possibilidade da criação de um partido econômico, que se encarregaria de defender os interesses de classe.
A classe patronal caxiense ventilava a hipótese da eleição de um representante econômico para o Conselho Municipal. A existência de diversas correntes partidárias entre os empresários demonstrou que tanto a criação do partido econômico, como a da eleição de um representante econômico eram inexequíveis.
            A situação econômica de Caxias do Sul nesse período apresentava condições diferentes das do Estado. Na região, apesar de agrícola não tinha um organização forte. Foram os comerciantes  que dominaram o cenário político local até o rompimento da 1º Grande Guerra(1939-1945).
            Em relação à estrutura econômica do Estado o município apresentava então uma indústria mais moderna. A indústria metalúrgica  se expandira durante a República Velha, haviam sido criadas indústrias químicas e de maquinas agrícolas. Ao lado destas indústrias modernas o setor industrial mantinha as indústrias tradicionais como: a tritícola, a dos vinhos e bebidas e a da madeira.
            Em 1930 o município possuía cerca de 32.000 habitantes, o número dos operários era de 3.000, existindo 280 estabelecimentos comerciais e 235 casas comerciais.
            O setor vinícola representava até 1926 a base das exportações municipais, após essa data o setor perde  gradativamente o predomínio local, para as outras indústrias que passam a dominar percentualmente as exportações. Um dos líderes da produção vinícola era Antônio Pieruccini .Dada a situação econômica local seria de se esperar que a organização dos industriais no âmbito estadual tivesse repercussões imediatas e favoráveis no município. Na Associação dos Comerciantes de Caxias do Sul a criação da CIF não teve qualquer repercussão.
            Os industriais locais não se organizaram em órgão classista próprio. A Associação dos Comerciantes de há muito passara de defender os interesses dos industriais. Quando foi criada a CIF, os industriais já dominavam a Associação. As diretorias apresentavam um maior número de indústriais do que de comerciantes e a própria ação da Associação já  era realizada em benefício daqueles. A não criação de uma órgão associativo exclusivo para os industrias, revela  que ele já existia de fato.  Esse órgão era  a própria Associação dos Comerciantes.
            Vários fatos demonstram que a Associação dos comerciantes de fato representava o órgão  dos industriais; Entre estes podem ser destacados a organização da Festa da Uva, a criação dos sindicatos de classe patronais e a  sua maior  aproximação com poder público.
            Em 1931 - período em que o setor vinícola deixa de dominar a produção local - passam a serem organizadas as Festas da Uva. As Festas da Uva ao contrário do que pode parecer tiveram desde o início um caráter industrial. A segunda Festa da Uva em 1932 apresentava já uma seção industrial, segundo Gardelin “ em resumo a segunda Festa da Uva englobava também a indústria”. A organização destas feiras partiu da Associação dos Comerciantes, mas, os maiores beneficiários do evento foram os industriais, visto que as Festas da Uva serviram como mostra de produção da indústria local.
            Toda a economia se beneficiava com a Festa com a vinda de visitantes. Os comerciantes venderiam mais produtos, da mesma forma que os agricultores  com a comercialização da uva.Os maiores beneficiários seriam os industriais com contatos para negócios  que seriam proporcionados aos industriais.
            A discussão da legislação trabalhista e sindical vai se travar na Associação que parte a organização deu uma “comissão mista das classes patronais e operárias destinadas a estudar a questão. Em 16 de março de 1933  a  assembleia autorizou a diretoria a dar todos os passos necessários, afim de organizar o sindicato dos industrialistas ou comerciantes de Caxias do Sul.
            Na composição desta comissão mista predominavam os industriais. As medidas para formar os sindicatos locais com três anos de atraso com  relação a vigência da lei partiu da Associação dos Comerciantes. Observa-se que desde o início os sindicatos patronais estiveram vinculados à Associação dos Comerciantes, foi esta a matriz da organização patronal em Caxias do Sul. O duplo papel da Associação: defesa dos interesses dos comerciantes e dos industriais garantiu não só sua manutenção, como também a união dos dois segmentos da classe dominante municipal.
            Com a Revolução de 30 os intendentes passam a ser nomeados. A nomeação do executivo municipal vai impedir a participação direta dos empresários no destinos políticos da cidade. A forma de ação política dos membros da Associação adaptou-se à nova situação.
            A aproximação entre a associação e os interventores  foi  realizada a partir da mediação em questões trabalhistas - como no caso da greve dos tanoeiros e através de convites para que os mesmos participassem das reuniões e assembleias da associação. A presença constante dos prefeitos nestas reuniões garantiu para a classe patronal uma aliança segura com o poder político nacional. Na impossibilidade de eleger seus representantes os patrões atraíram os prefeitos para a defesa de suas causas.
           



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