domingo, 14 de abril de 2013


SUBSÍDIOS PARA UMA HISTÓRIA  ECONÔMICA DE CAXIAS


Nem só de operários se construiu a indústria caxiense, sem as industria não haveria trabalhadores. Conhecer como a Associação Comercial se tornou o principal órgão associativos dos patrões e como os comerciantes foram superados pelos industriais, constitui parte da  formação econômica local.

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL 1901 -1929(1)
Casa de comércio de Vicente Rovea ( 1910)


Os habitantes do antigo  Campo dos Bugres vencidas as dificuldades iniciais de um núcleo populacional sentiram-se impulsionados à iniciação de “instituições que proporcionassem amparo, recreio e cultura.Logo foram fundadas em 1887 a Loja Maçonica(1884) e a Sociedade Operária “Principe di Napoli”(1887),e a a Sociedade Dramática (1895).
            Nem só de disputas políticas vivia a vila de Santa Tereza. As sociedades então fundadas tiveram papel importante na comunidade local, mas, não constituíam uma associação de classe, nem uma organização que se pusesse a defender os interesses dos proprietários de empresas. A fundação da Associação Comercial preencheu esta lacuna.
            Em 1900 a vila de Caxias possuía de acordo com o Lançamento de Indústrias e Profissões de 1899,  223 estabelecimentos industriais e 168 casas comerciais, para uma população de 16.000 habitantes.
            Os estabelecimentos manufatureiros eram familiares, possuindo poucos operários, situando-se nas várias léguas e travessões da antiga colônia Caxias, poucos estavam  no centro.Entre eles  havia os moinhos em número de 65, serrarias em número de 41 e alambiques em número de 35. A  maior produção estava no  fabrico de farinha de trigo, de destilados,  de vinhos e de madeiras.
            As casas comerciais localizavam-se em todas as léguas e travessões do município. No núcleo urbano localizavam-se mais casas comerciais de que estabelecimentos industriais, sendo  aquelas  maiores do que estes.
            Ao que tudo indica, o capital comercial ainda  era maior que o capital industrial , era o comércio  que possibilitava não só a exportação de produtos como a importação de outras regiões e países.
Os moradores da zona rural por outro lado, diversificaram suas atividades econômicas. Alguns atuavam tanto no setor primário – com a plantação de  produtos agrícolas - como no secundário -  com indústria familiar - e terciário, como comerciantes. Esta diversificação permitia a ampliação de seus  ganhos.
            A estrutura fundiária da região – baseada no  módulo do modelo colonial de 25  hectares em média,dificultava a  a formação de latifúndios. Os colonos e suas famílias trabalhavam a terra como produtores pouco auferiam com a renda da terra, pois a  a agricultura carente de técnicas  possibilitava em geral apenas a manutenção do colono e sua família.
            A indústria caseira paulatinamente  que vai desaparecer com o aumento da  industrialização, após 1930 pois baixo era, seu lucros. O colono e sua família ocupavam-se da produção de alguns artigos manufaturados, utilizando pouca técnica e mão de obra reduzida, esta produção limitada e primitiva não possibilitava a acumulação de capital.
            A acumulação de capital se deu através das casas comerciais. Foi o capital gerado pelo comércio que permitiu o desenvolvimento industrial  da  região a partir da d década de trinta. Por outro lado, os comerciantes passaram a se especializar, isto é, a se dedicar exclusivamente a um único tipo de comércio. Como centro dos negócios locais, as casas comerciais tornaram-se centros de poder. Os comerciantes construíram os primeiros sobrados  de alvenaria e, como os elementos mais conhecidos da região, passaram a domina-la politicamente. Sendo seu  número maior do  que o dos industriais e e vivendo nos s nos núcleos urbanos, puderam  se organizar.
            Os industriais caxienses, se é que podem ser assim denominados os produtores artesanais, não se uniram em associações de classe. Este fato confirma a constatação de Gorender na obra  A Burguesia Brasileira.:” o conservadorismo social dos industriais era idêntico em todo o país. Paulistas não se distinguiram dos gaúchos ou cariocas, nem estes dos mineiros e pernambucanos”. De modo geral, durante a Primeira República e mesmo depois os industriais se vincularam mais estritamente com as oligarquias estaduais do que com industriais de outras regiões.  Para Gorender este fato determina o atraso no surgimento das entidades organizativas dos industriais.
Na cidade foi a  Associação Comercial que se organizou em primeiro lugar, da mesma forma que ocorreu no restante do país. No dia 8 de julho de 1901, no Salão da Sociedade Operária  Príncipe di Napoli foi  fundada a Associação dos comerciantes do município de Caxias .Para sua fundação havia sido organizada uma comissão provisória composta de quatro membros. Segundo a primeira ata da Associação, foram 47 os comerciantes e industriais que participaram da sua fundação. Este número era expressivo, pois representava cerca de 10% de total da categoria.
            Os estatutos   foram  elaborados pela comissão provisória, tendo sido transcritos logo após a ata da fundação da Associação dos Comerciantes. De acordo com o estatuto
 O  artigo 2º afirmava que :  
 Compete à Associação dos Comerciantes de Município de Caxias ser órgão comercial deste município junto aos poderes municipais, estaduais e federais, ou ainda por delegação especial de qualquer outra localidade do Estado, constituindo-se defensor, pelos meios ao seu alcance, de tudo quanto possa concorrer para o desenvolvimento das classes nela congregadas.

            Como se pode observar a Associação pretendia representar o corpo comercial,  não sendo destacada a dupla representação que na realidade  apresentava. Essa predominância dos comerciantes sobre os industriais é minimizada com a afirmação final do artigo n.º 2, que se propunha a concorrer para o desenvolvimento das classes nela congregadas.
            Deve-se observar que a Associação reunia num mesmo grupo, os elementos que haviam lutado pela posse da Intendência na última década do século XIX, e que pertenciam à Maçonaria e aos comitês católicos. A Associação iria se tornar  o novo cenário das discórdias dos grupos que compunham as forças vivas caxienses agora reunidos por seus  objetivos comuns.Afinal independente de suas posições partidárias ou religiosas seus objetivos eram os mesmos.
            Com a nova organização as divergências internas, e estas ocorrem, serão resolvidas dentro da Associação. A época da mobilização popular, na qual a população era envolvida pelos conflitos do grupo dominante, parece que estava definitivamente ultrapassada. Os comerciantes já não necessitavam do apoio popular, pois, haviam descoberto a força que sua  organização de classe propiciava.
            Alguns nomes haviam que  liderado as lutas políticas no século anterior não se fazem presentes na Associação. Os  grupos dos ativistas políticos que tendo vindo da Itália na defesa de seus ideais, não conseguiram um espaço na região para suas ideias e práticas políticas revolucionárias.
            O poderio dos comerciantes se  revela- também na representação política. Os conselheiros municipais - antiga denominação dos representantes do poder legislativo. - eleitos pelo voto popular, nos primeiros anos do século XX, eram em sua maioria absoluta, comerciantes.
            A ação do Conselho Municipal esvaziou-se com a fundação da Associação comercial. As lutas políticas por melhores condições de estrdas e de serviços passaram a ser   travadas através na Associação, e será ela  que levará as reivindicações da classe dominante  aos órgãos estaduais.
            Não só as reivindicações da classe que são levados às autoridades competentes. A Associação vai lutar por governos municipais que sejam compatíveis com os interesses do grupo. Em dezembro de 1901 o Conselho Municipal aumentou os impostos que os colonos - produtores rurais - deviam pagar aos cofres municipais. A Associação  encampou a luta contra o aumento dos impostos. “ A colônia não está organizada. Não possui uma entidade que tome a peito seus problemas. Todo o mundo econômico de Caxias desemboca, com suas queixas  na Associação”.  Gardelin na  sua  “ História da CIC”, constata a importância que a Associação teve na sociedade local, as lutas regionais passaram a ser  as  suas lutas.
            Os comerciantes sabiam muito bem que da remuneração auferida pela agricultura dependiam suas vendas e seus lucros. A luta pela redução de impostos defendia sua própria causa, e atacando o Intendente Municipal.
            As finanças públicas municipais estavam debilitadas, pelas revoltas e pelo não pagamento das taxas, acrescidas dos problemas próprios de uma administração municipal que deveria montar uma máquina administrativa e burocrática e, ainda, construir obras de infraestrutura .
            O Intendente José Cândido de Campos Júnior, que já  havia sofrido, perseguições por parte dos Comitês Católicos do Pe. Nosadini, enfrentou novos problemas, agora, em relação à Associação Comercial.
            O Intendente Campos Júnior era natural de Santo Antônio da Patrulha, era maçom e amigo de Júlio de Castilhos. Nomeado para ocupar a Intendência municipal, foi eleito posteriormente pelo voto popular, após a modificação da Lei Orgânica do Município, ( Lei nº  9, de 27 de julho  de 1895) que revogou o artigo 6º daquela lei que determinava que o intendente seria  nomeado pelo governo do Esrado.
 Em 29 de setembro Campos Júnior foi eleito como o primeiro intendente,pelo voto popular. Reeleito em 23 de setembro de 1900, após os desentendimentos com a Associação Comercial demitiu-se do cargo. A Associação Comercial teve papel decisivo na demissão do Intendente. Os delegados que pretendiam a redução de impostos,da Associação foram  mal recebidos pelo Intendente.Teve  iniciou entre os associados um clima de revolta contra o governo municipal. Os comerciantes propunham-se a “promover a cassação do mandato dos Conselheiros Municipais de Caxias”. Na luta pela sucessão municipal, os comerciantes demonstraram sua força, num plebiscito interno que foi  contra a  reeleição de Campos Júnior.
            Os comerciantes mobilizaram-se, em viagem realizada a Porto Alegre, conseguiram que o Partido Republicano aceitasse a candidatura de Serafim Terra, cujo nome merecia a preferência dos associados da Associação Comercial.
            Não só decisões políticas  foram  tomadas pela Associação, a construção de estradas e pontes foram  conseguidas por sua ação direta, junto ao governo estadual. A construção da ferrovia ligando Caxias à Capital foi outra velha aspiração local que a Associação Comercial lutou pela concretização.A defesa da produção local de vinhos foi outro assunto que movimentou  a Associação que exigiu : mais fiscalização e mais depósitos satisfatórios para o vinho..
            Após a renúncia de Campos Júnior em 1º de julho de 1902, assumiu a Intendência Municipal o vice intendente Dr. Alfredo Soares de Abreu. Os comerciantes lutaram pela eleição  do Eng. Serafim Terra para o quatriênio 1904-1908. O vice intendente Vicente Rovea, designado por   Terra, era o mais rico comerciante local, mas, mas que não participava ativamente da Associação Comercial.
            As disputas políticas internas haviam enfraquecido a organização, partidários de Campos Júnior haviam se afastado da Associação Comercial. Por outro lado a tomada do poder municipal  do Conselho e da Intendência por representantes da Associação esvaziou sua ação política..
            Em 12 de agosto de 1908 foi eleito como Intendente Vicente Rovea, então  a luta dos comerciantes  se tornou  a luta municipal. O Intendente Municipal v assumiu a liderança da comunidade, conseguindo trazer para Caxias as obras que se faziam necessárias . Desta forma a luta da Associação Comercial deixa de ser essencial para o município. Não havendo causas a serem defendidas, visto que estas foram assumidas pelo intendente, o movimento  sofre uma paralisação.
            A eleição do Cel. José Penna de Moraes –  que era o vice intendente nomeado por Rovea - em 12 de agosto de 1912 retirou os comerciantes do controle direto do governo municipal. O Conselho Municipal eleito para o mesmo período de 1912-1916 é  era constituído por funcionários públicos e industriais , havendo apenas dois comerciantes entre os conselheiros. A Associação agonizava .
            Foi a vinda para Caxias de Destefano Paternó que propiciou condições para o ressurgimento da Associação Comercial, que deixando de atuar politicamente perdera sua força.Com seu  ressurgimento da Associação Comercial  se  tornou vai torna-la menos  politicamente, e, mais voltada para os interesses específicos da categoria.
            Paternó líder do movimento cooperativista estadual, viera da Itália como funcionário contratado pelo Ministério da Agricultura brasileiro. Organizou a Cooperativa Agrícola de Caxias, pretendia  conseguir o apoio  dos comerciantes, que  apoio foi concedido inicialmente.
            A Associação realizou uma  campanha para novos sócios, e para melhoria do funcionamento da Estação Ferroviária  da cidade . A Associação em carta  dirigida ao vice intendente municipal afirmou “ que estava longe e fora da política”.  A  Associação não tinha sede, suas reuniões eram realizadas em locais diversos,só em  abril de 1912 alugou uma sede própria. A organização se estabilizou economicamente. A luta pela melhoria do transporte ferroviário continuou, ampliando-se para  a  das compras á crédito a serem concedidas aos fregueses do comércio local . Outra luta foi travada contra o comércio ambulante, que não pagava impostos municipais, sobre os produtos como o vinho o queijo. O que levou o comércio local a realizar os contratos com comerciantes de outros  municipais da região.
            A organização das cooperativas vinícolas realizada por Paternó determinou o aumento de produção de vinhos no estado. Com o aumento de produção ocorreu um barateamento dos vinhos gaúchos. Os produtores de vinho da zona urbana vão rebelar se contra as cooperativas, determinando sua falência, com o apoio do intendente e dos grandes bancos locais que passaram a negar-lhe crédito.
            A Primeira Junta Governativa  determinou  modificações profundas na economia local. A indústria que estivera ligada a empresa familiar e manufatureira, ampliou-se. Surgiram  novos estabelecimentos industriais. Esse é o caso da Metalúrgica Abramo Eberle que em 1915 comprou um gerador de 8 HP e ampliou seu capital, participando do esforço da Grande  Guerra (1914-1918).
            No período da Guerra foram criadas  ainda a Sociedade Vinícola Riograndense e a Industrial Madereira,  a indústria de Evaristo de Antoni que produzia trilhadeiras e a de Luiz Veronese que fabricava produtos químicos.
            O desenvolvimento do parque industrial local  reduziu o número de pequenas empresas.Em 1899 havia 223 estabelecimentos industriais em 1910 este número é reduzido para 200. O aumento de produção industrial fez com que surgissem novos lideres empresariais que passam a participar ativamente da Associação Comercial, esta aos poucos de tornou pequena para  as exigências dos industriais caxienses.
            Durante a Primeira República (1889-1930) a hegemonia política dos estados do sudeste, especialmente São Paulo e Minas Gerais se fez sentir através da adoção política “ café com leite”. Esse acordo de cavalheiros representou a garantia da manutenção alternada de  representantes mineiros e paulistas no poder executivo brasileiro.
            No estado do Rio Grande do Sul consolidou-se no poder - após a revolução federalista - o Partido Republicano, seguindo a orientação do governo federal. Com Borges de Medeiros, ao que tudo indica atento aos interesses e necessidades da região colonial, realizou  governos satisfatórios ao interesse da Associação Comercial. A situação tornou menos estável após 1923, quando o presidente estadual reeleito pela quinta vez consecutiva , em eleição fraudulenta.
            Os preparativos eleitorais para as eleições e a situação nacional foram  propícios para o advento de problemas a nível local.
            A Associação Comercial após seu ressurgimento em 1912 procurou afastar-se da política municipal e estadual. Nela estavam representantes tanto do partido federalista como do partido republicano. As disputas partidárias tendiam a enfraquecer, ainda mais, a situação interna. Enquanto isso o órgão associativo estava sendo palco da ascensão dos industriais. O confronto pelo poder  entre eles  e os comerciantes era inevitável.
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            A expansão da indústria vinícola local e a criação de um parque industrial metalúrgico - no período que corresponde ao da primeira Guerra Mundial - faz com que as indústrias de Caxias necessitam um órgão que a represente. A Associação passou a ter significativa representação da indústria a partir de 1913 (18)
            Enquanto a situação interna da Associação torna-se tensa, é interessante observar que a situação internacional no caso a da Itália - reflete-se nas atas das assembleias da Associação. Na assembleia geral de 17 de maio de 1919, o recém eleito para o cargo de presidente da Associação, Cel. Miguel Muratore “ convidava defensor da humanidade, representante de  Sua Majestade Rei Vittório Emanuelle  o Sr. Orlando.
            Cumpre observar que nas Atas  não há alusões sobre a  revolução de 1923, que movimentou a região. As reuniões da Associação tornam-se cada vez menos frequentes.
            A Associação deixa de realizar suas reuniões e assembleias regimentais. São os associados que passam a convocar as assembleias, as diretorias não parecem estar mais interessada em reunir os associados, de 1923 a 1924.
            Enquanto no Rio Grande do Sul a situação ser normalizava ecom a assinatura de Pacto de Pedras Altas. No município após três mandatos e consecutivos o Cel. José Penna de Moraes (1912 a 1924) foi  substituído por Celeste Gobbatto (1924 a 1928).
            Gobatto realizou uma administração voltada para os interesses da indústria vinícola local. Esta indústria já representava 6% do total das apresentações do Estado. O Conselho Municipal eleito em 1924 demonstrou o crescimento do poder político dos industriais, 50% dos conselheiros eram industriais, 25% comerciantes e 25% funcionários públicos.

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