SUBSÍDIOS PARA
UMA HISTÓRIA ECONÔMICA DE CAXIAS
Nem só de operários
se construiu a indústria caxiense, sem as industria não haveria trabalhadores.
Conhecer como a Associação Comercial se tornou o principal órgão associativos
dos patrões e como os comerciantes foram superados pelos industriais, constitui
parte da formação econômica local.
ASSOCIAÇÃO
COMERCIAL 1901 -1929(1)
Casa de comércio de Vicente Rovea ( 1910) |
Os habitantes do antigo Campo dos Bugres vencidas as dificuldades
iniciais de um núcleo populacional sentiram-se impulsionados à iniciação de
“instituições que proporcionassem amparo, recreio e cultura.Logo foram fundadas
em 1887 a Loja Maçonica(1884) e a Sociedade Operária “Principe di Napoli”(1887),e
a a Sociedade Dramática (1895).
Nem
só de disputas políticas vivia a vila de Santa Tereza. As sociedades então
fundadas tiveram papel importante na comunidade local, mas, não constituíam uma
associação de classe, nem uma organização que se pusesse a defender os
interesses dos proprietários de empresas. A fundação da Associação Comercial
preencheu esta lacuna.
Em
1900 a vila de Caxias possuía de acordo com o Lançamento de Indústrias e
Profissões de 1899, 223 estabelecimentos
industriais e 168 casas comerciais, para uma população de 16.000 habitantes.
Os
estabelecimentos manufatureiros eram familiares, possuindo poucos operários,
situando-se nas várias léguas e travessões da antiga colônia Caxias, poucos estavam no centro.Entre eles havia os moinhos em número de 65, serrarias
em número de 41 e alambiques em número de 35. A maior produção estava no fabrico de farinha de trigo, de destilados, de vinhos e de madeiras.
As
casas comerciais localizavam-se em todas as léguas e travessões do município.
No núcleo urbano localizavam-se mais casas comerciais de que estabelecimentos
industriais, sendo aquelas maiores do que estes.
Ao
que tudo indica, o capital comercial ainda era maior que o capital industrial , era o
comércio que possibilitava não só a
exportação de produtos como a importação de outras regiões e países.
Os moradores
da zona rural por outro lado, diversificaram suas atividades econômicas. Alguns
atuavam tanto no setor primário – com a plantação de produtos agrícolas - como no secundário - com indústria familiar - e terciário, como comerciantes.
Esta diversificação permitia a ampliação de seus ganhos.
A
estrutura fundiária da região – baseada no
módulo do modelo colonial de 25 hectares em média,dificultava a a formação de latifúndios. Os colonos e suas
famílias trabalhavam a terra como produtores pouco auferiam com a renda da
terra, pois a a agricultura carente de técnicas possibilitava em geral apenas a manutenção do
colono e sua família.
A
indústria caseira paulatinamente que vai
desaparecer com o aumento da industrialização, após 1930 pois baixo era,
seu lucros. O colono e sua família ocupavam-se da produção de alguns artigos
manufaturados, utilizando pouca técnica e mão de obra reduzida, esta produção
limitada e primitiva não possibilitava a acumulação de capital.
A
acumulação de capital se deu através das casas comerciais. Foi o capital gerado
pelo comércio que permitiu o desenvolvimento industrial da região
a partir da d década de trinta. Por outro lado, os comerciantes passaram a se
especializar, isto é, a se dedicar exclusivamente a um único tipo de comércio.
Como centro dos negócios locais, as casas comerciais tornaram-se centros de
poder. Os comerciantes construíram os primeiros sobrados de alvenaria e, como os elementos mais
conhecidos da região, passaram a domina-la politicamente. Sendo seu número maior do que o dos industriais e e vivendo nos s nos
núcleos urbanos, puderam se organizar.
Os
industriais caxienses, se é que podem ser assim denominados os produtores
artesanais, não se uniram em associações de classe. Este fato confirma a constatação
de Gorender na obra A Burguesia Brasileira.:” o conservadorismo social dos industriais
era idêntico em todo o país. Paulistas não se distinguiram dos gaúchos ou
cariocas, nem estes dos mineiros e pernambucanos”. De modo geral, durante a Primeira
República e mesmo depois os industriais se vincularam mais estritamente com as
oligarquias estaduais do que com industriais de outras regiões. Para Gorender este fato determina o atraso no
surgimento das entidades organizativas dos industriais.
Na cidade foi
a Associação Comercial que se organizou
em primeiro lugar, da mesma forma que ocorreu no restante do país. No dia 8 de
julho de 1901, no Salão da Sociedade Operária
Príncipe di Napoli foi fundada a Associação dos comerciantes do
município de Caxias .Para sua fundação havia sido organizada uma comissão
provisória composta de quatro membros. Segundo a primeira ata da Associação,
foram 47 os comerciantes e industriais que participaram da sua fundação. Este
número era expressivo, pois representava cerca de 10% de total da categoria.
Os
estatutos foram elaborados pela comissão provisória, tendo
sido transcritos logo após a ata da fundação da Associação dos Comerciantes. De
acordo com o estatuto
O artigo 2º afirmava que :
Compete à
Associação dos Comerciantes de Município de Caxias ser órgão comercial deste
município junto aos poderes municipais, estaduais e federais, ou ainda por
delegação especial de qualquer outra localidade do Estado, constituindo-se
defensor, pelos meios ao seu alcance, de tudo quanto possa concorrer para o desenvolvimento
das classes nela congregadas.
Como
se pode observar a Associação pretendia representar o corpo comercial, não sendo destacada a dupla representação que
na realidade apresentava. Essa
predominância dos comerciantes sobre os industriais é minimizada com a
afirmação final do artigo n.º 2, que se propunha a concorrer para o
desenvolvimento das classes nela
congregadas.
Deve-se
observar que a Associação reunia num mesmo grupo, os elementos que haviam
lutado pela posse da Intendência na última década do século XIX, e que
pertenciam à Maçonaria e aos comitês católicos. A Associação iria se tornar o novo cenário das discórdias dos grupos que
compunham as forças vivas caxienses agora reunidos por seus objetivos comuns.Afinal independente de suas
posições partidárias ou religiosas seus objetivos eram os mesmos.
Com
a nova organização as divergências internas, e estas ocorrem, serão resolvidas
dentro da Associação. A época da mobilização popular, na qual a população era
envolvida pelos conflitos do grupo dominante, parece que estava definitivamente
ultrapassada. Os comerciantes já não necessitavam do apoio popular, pois,
haviam descoberto a força que sua organização de classe propiciava.
Alguns
nomes haviam que liderado as lutas
políticas no século anterior não se fazem presentes na Associação. Os grupos dos ativistas políticos que tendo vindo
da Itália na defesa de seus ideais, não conseguiram um espaço na região para
suas ideias e práticas políticas revolucionárias.
O
poderio dos comerciantes se revela-
também na representação política. Os conselheiros municipais - antiga
denominação dos representantes do poder legislativo. - eleitos pelo voto
popular, nos primeiros anos do século XX, eram em sua maioria absoluta,
comerciantes.
A
ação do Conselho Municipal esvaziou-se com a fundação da Associação comercial.
As lutas políticas por melhores condições de estrdas e de serviços passaram a
ser travadas através na Associação, e
será ela que levará as reivindicações da
classe dominante aos órgãos estaduais.
Não
só as reivindicações da classe que são levados às autoridades competentes. A
Associação vai lutar por governos municipais que sejam compatíveis com os
interesses do grupo. Em dezembro de 1901 o Conselho Municipal aumentou os
impostos que os colonos - produtores rurais - deviam pagar aos cofres municipais.
A Associação encampou a luta contra o
aumento dos impostos. “ A colônia não está organizada. Não possui uma entidade
que tome a peito seus problemas. Todo o mundo econômico de Caxias desemboca,
com suas queixas na Associação”. Gardelin na sua “
História da CIC”, constata a importância que a Associação teve na sociedade
local, as lutas regionais passaram a ser as suas
lutas.
Os
comerciantes sabiam muito bem que da remuneração auferida pela agricultura
dependiam suas vendas e seus lucros. A luta pela redução de impostos defendia
sua própria causa, e atacando o Intendente Municipal.
As
finanças públicas municipais estavam debilitadas, pelas revoltas e pelo não
pagamento das taxas, acrescidas dos problemas próprios de uma administração
municipal que deveria montar uma máquina administrativa e burocrática e, ainda,
construir obras de infraestrutura .
O
Intendente José Cândido de Campos Júnior, que já havia sofrido, perseguições por parte dos
Comitês Católicos do Pe. Nosadini, enfrentou novos problemas, agora, em relação
à Associação Comercial.
O
Intendente Campos Júnior era natural de Santo Antônio da Patrulha, era maçom e amigo
de Júlio de Castilhos. Nomeado para ocupar a Intendência municipal, foi eleito
posteriormente pelo voto popular, após a modificação da Lei Orgânica do
Município, ( Lei nº 9, de 27 de
julho de 1895) que revogou o artigo 6º
daquela lei que determinava que o intendente seria nomeado pelo governo do Esrado.
Em 29 de setembro Campos Júnior foi eleito
como o primeiro intendente,pelo voto popular. Reeleito em 23 de setembro de
1900, após os desentendimentos com a Associação Comercial demitiu-se do cargo. A
Associação Comercial teve papel decisivo na demissão do Intendente. Os delegados
que pretendiam a redução de impostos,da Associação foram mal recebidos pelo Intendente.Teve iniciou entre os associados um clima de
revolta contra o governo municipal. Os comerciantes propunham-se a “promover a
cassação do mandato dos Conselheiros Municipais de Caxias”. Na luta pela
sucessão municipal, os comerciantes demonstraram sua força, num plebiscito
interno que foi contra a reeleição de Campos Júnior.
Os
comerciantes mobilizaram-se, em viagem realizada a Porto Alegre, conseguiram
que o Partido Republicano aceitasse a candidatura de Serafim Terra, cujo nome
merecia a preferência dos associados da Associação Comercial.
Não
só decisões políticas foram tomadas pela Associação, a construção de
estradas e pontes foram conseguidas por
sua ação direta, junto ao governo estadual. A construção da ferrovia ligando
Caxias à Capital foi outra velha aspiração local que a Associação Comercial
lutou pela concretização.A defesa da produção local de vinhos foi outro assunto
que movimentou a Associação que exigiu :
mais fiscalização e mais depósitos satisfatórios para o vinho..
Após
a renúncia de Campos Júnior em 1º de julho de 1902, assumiu a Intendência
Municipal o vice intendente Dr. Alfredo Soares de Abreu. Os comerciantes
lutaram pela eleição do Eng. Serafim
Terra para o quatriênio 1904-1908. O vice intendente Vicente Rovea, designado
por Terra, era o mais rico comerciante local, mas,
mas que não participava ativamente da Associação Comercial.
As
disputas políticas internas haviam enfraquecido a organização, partidários de
Campos Júnior haviam se afastado da Associação Comercial. Por outro lado a
tomada do poder municipal do Conselho e
da Intendência por representantes da Associação esvaziou sua ação política..
Em
12 de agosto de 1908 foi eleito como Intendente Vicente Rovea, então a luta dos comerciantes se tornou a luta municipal. O Intendente Municipal v
assumiu a liderança da comunidade, conseguindo trazer para Caxias as obras que
se faziam necessárias . Desta forma a luta da Associação Comercial deixa de ser
essencial para o município. Não havendo causas a serem defendidas, visto que
estas foram assumidas pelo intendente, o movimento sofre uma paralisação.
A
eleição do Cel. José Penna de Moraes – que era o vice intendente nomeado por Rovea -
em 12 de agosto de 1912 retirou os comerciantes do controle direto do governo
municipal. O Conselho Municipal eleito para o mesmo período de 1912-1916 é era constituído por funcionários públicos e
industriais , havendo apenas dois comerciantes entre os conselheiros. A
Associação agonizava .
Foi
a vinda para Caxias de Destefano Paternó que propiciou condições para o ressurgimento
da Associação Comercial, que deixando de atuar politicamente perdera sua força.Com
seu ressurgimento da Associação
Comercial se tornou vai torna-la menos politicamente, e, mais voltada para os
interesses específicos da categoria.
Paternó
líder do movimento cooperativista estadual, viera da Itália como funcionário
contratado pelo Ministério da Agricultura brasileiro. Organizou a Cooperativa
Agrícola de Caxias, pretendia conseguir
o apoio dos comerciantes, que apoio foi concedido inicialmente.
A
Associação realizou uma campanha para
novos sócios, e para melhoria do funcionamento da Estação Ferroviária da cidade . A Associação em carta dirigida ao vice intendente municipal afirmou
“ que estava longe e fora da política”. A Associação não tinha sede, suas reuniões eram
realizadas em locais diversos,só em abril de 1912 alugou uma sede própria. A
organização se estabilizou economicamente. A luta pela melhoria do transporte
ferroviário continuou, ampliando-se para
a das compras á crédito a serem
concedidas aos fregueses do comércio local . Outra luta foi travada contra o
comércio ambulante, que não pagava impostos municipais, sobre os produtos como o
vinho o queijo. O que levou o comércio local a realizar os contratos com
comerciantes de outros municipais da
região.
A
organização das cooperativas vinícolas realizada por Paternó determinou o
aumento de produção de vinhos no estado. Com o aumento de produção ocorreu um barateamento
dos vinhos gaúchos. Os produtores de vinho da zona urbana vão rebelar se contra
as cooperativas, determinando sua falência, com o apoio do intendente e dos
grandes bancos locais que passaram a negar-lhe crédito.
A
Primeira Junta Governativa determinou modificações profundas na economia local. A
indústria que estivera ligada a empresa familiar e manufatureira, ampliou-se.
Surgiram novos estabelecimentos industriais.
Esse é o caso da Metalúrgica Abramo Eberle que em 1915 comprou um gerador de 8
HP e ampliou seu capital, participando do esforço da Grande Guerra (1914-1918).
No
período da Guerra foram criadas ainda a
Sociedade Vinícola Riograndense e a Industrial Madereira, a indústria de Evaristo de Antoni que produzia
trilhadeiras e a de Luiz Veronese que fabricava produtos químicos.
O
desenvolvimento do parque industrial local
reduziu o número de pequenas empresas.Em 1899 havia 223 estabelecimentos
industriais em 1910 este número é reduzido para 200. O aumento de produção
industrial fez com que surgissem novos lideres empresariais que passam a
participar ativamente da Associação Comercial, esta aos poucos de tornou
pequena para as exigências dos
industriais caxienses.
Durante
a Primeira República (1889-1930) a hegemonia política dos estados do sudeste,
especialmente São Paulo e Minas Gerais se fez sentir através da adoção política
“ café com leite”. Esse acordo de cavalheiros representou a garantia da
manutenção alternada de representantes
mineiros e paulistas no poder executivo brasileiro.
No
estado do Rio Grande do Sul consolidou-se no poder - após a revolução
federalista - o Partido Republicano, seguindo a orientação do governo federal.
Com Borges de Medeiros, ao que tudo indica atento aos interesses e necessidades
da região colonial, realizou governos
satisfatórios ao interesse da Associação Comercial. A situação tornou menos
estável após 1923, quando o presidente estadual reeleito pela quinta vez
consecutiva , em eleição fraudulenta.
Os
preparativos eleitorais para as eleições e a situação nacional foram propícios para o advento de problemas a nível
local.
A
Associação Comercial após seu ressurgimento em 1912 procurou afastar-se da
política municipal e estadual. Nela estavam representantes tanto do partido
federalista como do partido republicano. As disputas partidárias tendiam a
enfraquecer, ainda mais, a situação interna. Enquanto isso o órgão associativo
estava sendo palco da ascensão dos industriais. O confronto pelo poder entre eles
e os comerciantes era inevitável.
.
A
expansão da indústria vinícola local e a criação de um parque industrial
metalúrgico - no período que corresponde ao da primeira Guerra Mundial - faz
com que as indústrias de Caxias necessitam um órgão que a represente. A
Associação passou a ter significativa representação da indústria a partir de
1913 (18)
Enquanto
a situação interna da Associação torna-se tensa, é interessante observar que a
situação internacional no caso a da Itália - reflete-se nas atas das assembleias
da Associação. Na assembleia geral de 17 de maio de 1919, o recém eleito para o
cargo de presidente da Associação, Cel. Miguel Muratore “ convidava defensor da
humanidade, representante de Sua Majestade
Rei Vittório Emanuelle o Sr. Orlando.
Cumpre
observar que nas Atas não há alusões
sobre a revolução de 1923, que
movimentou a região. As reuniões da Associação tornam-se cada vez menos frequentes.
A
Associação deixa de realizar suas reuniões e assembleias regimentais. São os
associados que passam a convocar as assembleias, as diretorias não parecem
estar mais interessada em reunir os associados, de 1923 a 1924.
Enquanto
no Rio Grande do Sul a situação ser normalizava ecom a assinatura de Pacto de
Pedras Altas. No município após três mandatos e consecutivos o Cel. José Penna
de Moraes (1912 a 1924) foi substituído
por Celeste Gobbatto (1924 a 1928).
Gobatto
realizou uma administração voltada para os interesses da indústria vinícola
local. Esta indústria já representava 6% do total das apresentações do Estado.
O Conselho Municipal eleito em 1924 demonstrou o crescimento do poder político
dos industriais, 50% dos conselheiros eram industriais, 25% comerciantes e 25%
funcionários públicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário