sábado, 27 de abril de 2013


A GREVE DOS PRODUTORES



Antes da narração do episódio que levou os empresários a uma greve geral, torna-se necessário aludir aos novos elementos que apresentavam a sociedade caxiense. Estes novos elementos tiveram papel decisivo nos rumos da  organização  das classes sociais e de grupos de produtores São eles: a criação  do Partido Comunista, o renascimento do movimento cooperativista a expansão da atuação do Circulo Operário no município e a reestruturação da maçonaria.
            O Partido Comunista foi organizado no município a partir de 1922. As lideranças formadas nas suas fileiras tiveram  atuação decisiva nas  primeiras lutas sindicais e no período de redemocratização. O Partido Comunista teve  importante papel no processo de conscientização dos trabalhadores, imprimindo ao movimento sindical uma força que antes não tinha. 
            O renascimento do movimento cooperativista foi iniciado com a organização da  Cooperativa Viti Vinícola  Forqueta, em 1929. É de Caxias que parte o movimento cooperativista no setor vinícola, que vai se ampliar para toda a região colonial italiana Nos anos seguintes (1930-1935) surgiram outras cooperativas  em vários municípios que reuniram os produtores de uva em torno da produção e da comercialização do vinho. Contra o movimento cooperativista se reuniram a administração municipal, os bancos que tinham agência na cidade e os produtores vinícolas urbanos. As empresas de companhia limitada temiam a concorrência da produção das cooperativas. Com as cooperativas em poucos anos triplicou a produção de vinho fez baixar perigosamente os preços.
            Vargas  defendeu a criação das cooperativas através de uma legislação eficiente. Deve-se a ela o aumento do numero de cooperativas e de cooperativados. O apoio do governo não foi em vão. Por outro lado o advento do cooperativismo vinícola vai desestimular o surgimento e a criação de novos estabelecimentos industriais no setor do vinho. Pois A maior parte da produção do setor passará a ser feita por elas.  
Algumas cooperativas aproximam-se da Associação Comercial, o caráter  diverso das organizações vai levá-las, anos mais tarde, a se associarem e fundarem a FECOVINHO fundada em 1952 ( congrega hoje 11 cooperativas e 25 % da produção)..
A união das cooperativas vai garantir outro tipo de lutas. O cunho social cooperativo não se coaduna com o lucro privado das empresas de capital particular.
A maçonaria  foi reaberta e reestruturada em 12 de novembro de 1931, com a fundação da Loja Fraternidade Terceira. O grupo que fundou esta loja era constituído por pessoas recentemente chegadas à região e que desconheciam a luta e a  existência da da Loja Força e Fraternidade. A maçonaria passou a atuar na comunidade, e, muitos de seus membros fizeram parte da Associação Comercial.
Os acontecimentos do final do século envolvendo maçons e católicos, e a grande contra propaganda realizada pela Igreja Católica local contra a instituição, provocaram uma violenta reação contra a maçonaria. Neta segunda fase a atuação da Loja foi discreta não sendo registrados novos incidentes. A combatividade, e, mesmo o tumulto que marcaram os primeiros anos da Loja no município já não se repetirão.
A Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS) havia sido fundada em 1906, e reorganizada em 1933. Tendo inicialmente uma orientação anarquista, a instituição adota na sua reorganização uma linha de ação favorável ao governo vigente. (12) Para fazer frente à FORGS foram organizados os Círculos Operários, que deveriam garantir à Igreja Católica o controle e a liderança dos movimentos operários.
Criados em Pelotas em 1932, os Círculos Operários ampliam seu campo de ação. Ao ser criado o Círculo Operário Caxiense(COC) em 1934 teve sua  atuação orientada para fazer frente aos sindicatos. Depoimentos de velhos líderes sindicais revelam o boicote realizado pelo COC contra os sindicatos para impedir a sindicalização. A Igreja Católica tinha grande força política na região colonial, apesar disto sua atuação local contra a sindicalização, não conseguiu retardar a organização do movimento operário local.
            O COC aliou-se aos empresários. A União entre os dois grupos evidenciou-se pela doação realizada pela Associação de um prédio no valor de CR$ 325.000,00 que deveria abrigar a sede do COC. Na Assembleia realizada no dia 15 de setembro de 1945 Os empresários chegaram à conclusão  que a Indústria e o Comércio de Caxias poderia comprar e oferecer o referido prédio para as atividades do Círculo.
            O Círculo se propunha a oferecer aos seus associados: gabinete dentário, médico, creche e outras iniciativas destinadas a proporcionar aos operários toda a assistência social possível.  A ação do Círculo Operário Caxiense levou alguns operários a se associarem a ele, afastando-se dos seus sindicatos de classe. Os sindicatos operários das diversas categorias vinculados aos Sindicatos Reunidos reagirão à ação do COC, passando a oferecer o mesmo tipo de atendimento que ele dispensava aos trabalhadores.
            A greve contra o fisco constituiu um incidente raro nos anais dos movimentos grevistas nacionais. O envolvimento dos comerciantes e dos industriais na greve deve-se ao fato dos mesmos sentirem-se lesados em seus interesses econômicos, pela ação fiscal dos agentes tributários estaduais e federais.
            O Brasil em 1935 procurava evitar uma rixa econômica com o empresariado  adotando uma política ortodoxa de equilíbrio orçamentário e contenção monetária. Para conseguir o equilíbrio monetário foi acelerada a cobrança fiscal. Fiscais do imposto de consumo e de imposto de renda passaram a atuar junto as empresas industriais e comerciais dos diversos estados da União.
            A chegada dos fiscais ao município de Caxias e sua atuação junto aos estabelecimentos locais, criou um clima de pânico entre os industriais e comerciantes . Em três  de agosto de 1936 pela Ata nº 194 da  Associação dos Comerciantes pode-se acompanhar a tensão existente.oOfisco do imposto de consumo e o  inspetor do imposto de renda iniciaram  verdadeiro ambiente de terror fiscal segundo a posição dos empresários . O teor do telegrama enviado pela Associação ao Presidente Getúlio Vargas demonstra claramente a situação delicada que a cobrança ocasionara no comércio e na indústria locais.
            A Assembleia do dia três de agosto foi convocada com a finalidade de acertaram medidas a serem postas em prática diante  dos acontecimentos provocados pela atuação do fisco .para eles  a consequência principal  foi a morte  do benquisto e honrado comerciante Mário Pezzi. Ele  c havia se suicidado ao tomar conhecimento do montante do imposto que sua empresa devia recolher aos cofres públicos. Sendo homem conhecido e atuante na comunidade - tendo inclusive sido vereador  em 1935,  seu suicídio ocasionou forte reação popular. À ação dos fiscais foi acusada  por  sua morte.
            Naquala Assembleia “ficou deliberado que o comércio e a indústria fechariam seus estabelecimentos, até que as autoridades dessem uma  solução ao problema.  . Além da greve a Assembleia decidiu enviar telegramas para as autoridades federais e estaduais e aos órgãos de classe. É interessante observar que dela participaram mais de 200 associados, além de autoridades municipais.
            A greve continuou até  o dia 5 de agosto. Na noite deste dia realizou-se nova  assembleia geral reunindo cerca de mil associados, tendo comparecido também o Delegado Fiscal e o chefe do Imposto de Renda. .Nela ficou decidido manter a greve até o dia seguinte, às 12 horas. Na manhã do dia 6 de agosto seria realizada uma reunião na Prefeitura Municipal que deveria chegar a uma solução para o impasse.
            A reunião não ofereceu as soluções pretendidas, apenas ficou decidido o afastamento dos dois fiscais do Imposto de Consumo, apesar da afirmação do Delegado Fiscal que  seus atos eram  baseados em dispositivos legais, não cabendo, por isso culpa alguma aos referidos propostos do fisco, sua a missão era  executar as leis fiscais, autuando os infratores para  julgamento, das infrações  verificadas. Decidido isso não cabia outra ação do que reabrir os  estabelecimentos.
            Os industriais e comerciantes haviam demonstrado sua força pelo   movimento grevista,mas não houve vencedores  . O governo optou por uma retirada estratégica dos fiscais, ao mesmo tempo que afirmava  que seu o procedimento havia sido correto. A greve  revela o poder de organização do grupo, demonstrando por outro lado  que a entidade estava alijada das decisões econômicas nacionais.Este episódio foi o  último de uma série promovida pela da Associação dos Comerciantes.

Após este episódio a sua atuação será  dirigida a problemas locais como no caso do horário dos trens locais e a má qualidade da energia elétrica oferecida à cidade. A Associação continuou sendo a mediadora entre patrões e empregados, tanto em questões salariais ou de horário de trabalho, porém a ação política direta deixa de ser realizada.
            Em 26 de setembro de 1939 a Associação mudou sua designação social passando a denominar-se Associação Comercial de Caxias.

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