A GREVE DOS
PRODUTORES
Antes da narração do episódio que
levou os empresários a uma greve geral, torna-se necessário aludir aos novos
elementos que apresentavam a sociedade caxiense. Estes novos elementos tiveram
papel decisivo nos rumos da
organização das classes sociais e
de grupos de produtores São eles: a criação
do Partido Comunista, o renascimento do movimento cooperativista a
expansão da atuação do Circulo Operário no município e a reestruturação da
maçonaria.
O
Partido Comunista foi organizado no município a partir de 1922. As lideranças
formadas nas suas fileiras tiveram
atuação decisiva nas primeiras
lutas sindicais e no período de redemocratização. O Partido Comunista teve importante papel no processo de conscientização
dos trabalhadores, imprimindo ao movimento sindical uma força que antes não
tinha.
O
renascimento do movimento cooperativista foi iniciado com a organização da Cooperativa Viti Vinícola Forqueta, em 1929. É de Caxias que parte o
movimento cooperativista no setor vinícola, que vai se ampliar para toda a
região colonial italiana Nos anos seguintes (1930-1935) surgiram outras
cooperativas em vários municípios que
reuniram os produtores de uva em torno da produção e da comercialização do
vinho. Contra o movimento cooperativista se reuniram a administração municipal,
os bancos que tinham agência na cidade e os produtores vinícolas urbanos. As
empresas de companhia limitada temiam a concorrência da produção das
cooperativas. Com as cooperativas em poucos anos triplicou a produção de vinho
fez baixar perigosamente os preços.
Vargas defendeu a criação das cooperativas através
de uma legislação eficiente. Deve-se a ela o aumento do numero de cooperativas
e de cooperativados. O apoio do governo não foi em vão. Por outro lado o
advento do cooperativismo vinícola vai desestimular o surgimento e a criação de
novos estabelecimentos industriais no setor do vinho. Pois A maior parte da
produção do setor passará a ser feita por elas.
Algumas
cooperativas aproximam-se da Associação Comercial, o caráter diverso das organizações vai levá-las, anos
mais tarde, a se associarem e fundarem a FECOVINHO fundada em 1952 ( congrega
hoje 11 cooperativas e 25 % da produção)..
A união das
cooperativas vai garantir outro tipo de lutas. O cunho social cooperativo não
se coaduna com o lucro privado das empresas de capital particular.
A
maçonaria foi reaberta e reestruturada em
12 de novembro de 1931, com a fundação da Loja Fraternidade Terceira. O grupo
que fundou esta loja era constituído por pessoas recentemente chegadas à região
e que desconheciam a luta e a existência
da da Loja Força e Fraternidade. A maçonaria passou a atuar na comunidade, e,
muitos de seus membros fizeram parte da Associação Comercial.
Os
acontecimentos do final do século envolvendo maçons e católicos, e a grande
contra propaganda realizada pela Igreja Católica local contra a instituição,
provocaram uma violenta reação contra a maçonaria. Neta segunda fase a atuação
da Loja foi discreta não sendo registrados novos incidentes. A combatividade,
e, mesmo o tumulto que marcaram os primeiros anos da Loja no município já não
se repetirão.
A Federação
Operária do Rio Grande do Sul (FORGS) havia sido fundada em 1906, e
reorganizada em 1933. Tendo inicialmente uma orientação anarquista, a instituição
adota na sua reorganização uma linha de ação favorável ao governo vigente. (12)
Para fazer frente à FORGS foram organizados os Círculos Operários, que deveriam
garantir à Igreja Católica o controle e a liderança dos movimentos operários.
Criados em Pelotas
em 1932, os Círculos Operários ampliam seu campo de ação. Ao ser criado o
Círculo Operário Caxiense(COC) em 1934 teve sua atuação orientada para fazer frente aos
sindicatos. Depoimentos de velhos líderes sindicais revelam o boicote realizado
pelo COC contra os sindicatos para impedir a sindicalização. A Igreja Católica
tinha grande força política na região colonial, apesar disto sua atuação local
contra a sindicalização, não conseguiu retardar a organização do movimento
operário local.
O
COC aliou-se aos empresários. A União entre os dois grupos evidenciou-se pela
doação realizada pela Associação de um prédio no valor de CR$ 325.000,00 que
deveria abrigar a sede do COC. Na Assembleia realizada no dia 15 de setembro de
1945 Os empresários chegaram à conclusão que a Indústria e o Comércio de Caxias poderia
comprar e oferecer o referido prédio para as atividades do Círculo.
O
Círculo se propunha a oferecer aos seus associados: gabinete dentário, médico,
creche e outras iniciativas destinadas a proporcionar aos operários toda a assistência
social possível. A ação do Círculo
Operário Caxiense levou alguns operários a se associarem a ele, afastando-se
dos seus sindicatos de classe. Os sindicatos operários das diversas categorias
vinculados aos Sindicatos Reunidos reagirão à ação do COC, passando a oferecer
o mesmo tipo de atendimento que ele dispensava aos trabalhadores.
A
greve contra o fisco constituiu um incidente raro nos anais dos movimentos
grevistas nacionais. O envolvimento dos comerciantes e dos industriais na greve
deve-se ao fato dos mesmos sentirem-se lesados em seus interesses econômicos,
pela ação fiscal dos agentes tributários estaduais e federais.
O
Brasil em 1935 procurava evitar uma rixa econômica com o empresariado adotando uma política ortodoxa de equilíbrio
orçamentário e contenção monetária. Para conseguir o equilíbrio monetário foi
acelerada a cobrança fiscal. Fiscais do imposto de consumo e de imposto de
renda passaram a atuar junto as empresas industriais e comerciais dos diversos
estados da União.
A
chegada dos fiscais ao município de Caxias e sua atuação junto aos
estabelecimentos locais, criou um clima de pânico entre os industriais e
comerciantes . Em três de agosto de 1936
pela Ata nº 194 da Associação dos
Comerciantes pode-se acompanhar a tensão existente.oOfisco do imposto de
consumo e o inspetor do imposto de renda
iniciaram verdadeiro ambiente de terror
fiscal segundo a posição dos empresários . O teor do telegrama enviado pela
Associação ao Presidente Getúlio Vargas demonstra claramente a situação
delicada que a cobrança ocasionara no comércio e na indústria locais.
A
Assembleia do dia três de agosto foi convocada com a finalidade de acertaram medidas
a serem postas em prática diante dos
acontecimentos provocados pela atuação do fisco .para eles a consequência principal foi a morte do benquisto e honrado comerciante Mário
Pezzi. Ele c havia se suicidado ao tomar
conhecimento do montante do imposto que sua empresa devia recolher aos cofres
públicos. Sendo homem conhecido e atuante na comunidade - tendo inclusive sido
vereador em 1935, seu suicídio ocasionou forte reação popular.
À ação dos fiscais foi acusada por sua morte.
Naquala
Assembleia “ficou deliberado que o comércio e a indústria fechariam seus
estabelecimentos, até que as autoridades dessem uma solução ao problema. . Além da greve a Assembleia decidiu enviar
telegramas para as autoridades federais e estaduais e aos órgãos de classe. É
interessante observar que dela participaram mais de 200 associados, além de
autoridades municipais.
A
greve continuou até o dia 5 de agosto.
Na noite deste dia realizou-se nova assembleia
geral reunindo cerca de mil associados, tendo comparecido também o Delegado
Fiscal e o chefe do Imposto de Renda. .Nela ficou decidido manter a greve até o
dia seguinte, às 12 horas. Na manhã do dia 6 de agosto seria realizada uma
reunião na Prefeitura Municipal que deveria chegar a uma solução para o
impasse.
A
reunião não ofereceu as soluções pretendidas, apenas ficou decidido o
afastamento dos dois fiscais do Imposto de Consumo, apesar da afirmação do
Delegado Fiscal que seus atos eram baseados em dispositivos legais, não cabendo,
por isso culpa alguma aos referidos propostos do fisco, sua a missão era executar as leis fiscais, autuando os infratores
para julgamento, das infrações verificadas. Decidido isso não cabia outra ação
do que reabrir os estabelecimentos.
Os
industriais e comerciantes haviam demonstrado sua força pelo movimento grevista,mas não houve vencedores . O governo optou por uma retirada estratégica
dos fiscais, ao mesmo tempo que afirmava que seu o procedimento havia sido correto. A
greve revela o poder de organização do
grupo, demonstrando por outro lado que a
entidade estava alijada das decisões econômicas nacionais.Este episódio foi o último de uma série promovida pela da Associação
dos Comerciantes.
Após este episódio a sua atuação será
dirigida a problemas locais como no caso
do horário dos trens locais e a má qualidade da energia elétrica oferecida à
cidade. A Associação continuou sendo a mediadora entre patrões e empregados,
tanto em questões salariais ou de horário de trabalho, porém a ação política
direta deixa de ser realizada.
Em
26 de setembro de 1939 a Associação mudou sua designação social passando a
denominar-se Associação Comercial de Caxias.
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