terça-feira, 14 de maio de 2013


CENTRO DE INDÚSTRIAS DE CAXIAS: OS SINDICATOS PATRONAIS
1946 - 1964



Em Porto Alegre a união dos industriais  apesar de ser uma ideia antiga,apenas em 1930  se concretizou a fundação do Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul(CIF),liderado por um de seus  maiores industrias  A.J. Renner . Demonstrando seu  caráter agrícola no Rio Grande do Sul a primeira associação dos agropecuaristas    a ser fundada   foi a União dos Criadores e na Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul (FARSUL) e  a dos comerciantes a Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul.
            Com a criação do CIF a atuação dos industriais tornou-se eficiente, e através de objetivos comuns visavam conseguir maiores linhas de financiamento  ao setor e maior participação política da categoria.

            Durante o Estado Novo (1937-1945) o governo federal começara a interferir diretamente na economia brasileira, especialmente, no setor industrial. Com a  A criação de institutos que regulavam a produção, da criação de empresas estatais e de órgãos de incentivo à produção nacional,  que propiciaram juntamente com a Segunda Guerra (1935-1945) considerável aumento no setor industrial.
O esforço de guerra e as medidas governamentais  possibilitaram um aumento do setor secundário estadual e regional  . Este aumento pode ser constatado no quadro seguinte:

INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL E A REGIÃO COLONIAL ITALIANA
1942 - 1946

Ano
Número de empresas
Capital empregado (CR$)
Operários empregados

RS
RCI
RS
RCI
RS
RCI
1942
16.999
2.341
1.626.131
172.121
88.925
8.898
1946
22.235
3.252
2.520.587
343.678
106.707
13.126
Fonte: Mem de Sá. Aspectos Econômicos da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul (1)

            De acordo com estes dados houve um aumento percentual da participação regional na economia gaúcha. Em 1942 a região colonial participou com 13,77% das empresas, 10,58% do capital e 10,80% dos operários do total da economia rio-grandense. Em 1946 a região aumentou sua participação percentual na economia estadual, contendo 14,62% das empresas, 13,63% do capital e 12, 32% dos operários.
            O crescimento do setor industrial, em termos locais, foi devido entre outros fatores a apropriação da produção metalúrgica e siderúrgica realizada pelo governo federal. Tanto a Metalúrgica Gazola como a Eberle que  tiveram sua produção dirigida para a produção bélica ficando  sob controle dos agentes do governo federal.O esforço de guerra aumentou o rendimento das empresas . Dessa forma, o Estado Novo propiciou condições para a modificação da estrutura da produção industrial local, modernizando e ampliando o setor.
            A redemocratização (1946-1964) vai ampliar os movimentos operários e permitindo ,por outro lado  a participação dos políticos nos rumos da política nacional.Ao meso tempo ocorre o enfraquecimento da Associação Comercial de Caxias do Sul.Enquanto a produção industrial aumentava não  ocorria  na mesma proporção o crescimento comercial. O comércio custou a se modernizar, centrado ainda  nas grandes casas de negócio anteriores à Guerra.
            O enfraquecimento da Associação Comercial será determinado por dois fatores: a criação dos sindicatos patronais e a do Centro das Indústrias  de Caxias do Sul.
            Os sindicatos patronais foram  organizados a partir de 1948. Antes desta data já existiam algumas associações de classes patronais, que funcionavam junto a Associação Comercial. Imediatamente após a organização das associações patronais não houve mudança visível na forma da atuação da Associação.
                        Em 17 de julho de 1951  foi instalada uma Delegacia Regional do Centro de Indústria Fabril do Rio Grande do Sul.  Do ato de  sua instalação participaram cerca de cem caxienses industrias, muitos dos quais  vinculados à Associação Comercial.
A situação começa a delinear-se quando em 30 de abril de 1953, ,quando  a Associação Comercial  teve seus estatutos reformulados. Para a modificação dos estatutos contribuíram  o aumento do poder dos industriais ,passando a se denominar Associação Comercial e Industria lde Caxias do Sul. Mas jpá era tarde e a cisão entre comerciantes e industriais era inevitável,
            Os fins da Delegacia Regional eram os mesmos do Centro de Indústria Fabril no RGS., ou seja  a defesa dos interesses legítimos de classe, onde quer que se manifestassem, especialmente perante os órgãos do poder público, bem como promover o aperfeiçoamento, a expansão da indústria fabril e a união dos industriais deste município e de outras regiões.
            A Delegacia Regional  organizou-se por meio  da escolha  de delegados e  do aumento do número de associados,levando em conta  rigorosa seleção . A Delegacia propunha-se também a não intervenção em questões político partidárias, de religião e do nacionalismo.Seguindo assim os princípios do liberalismo .
            Entre os objetivos da Delegacia, destinados a levar a consecução de seus fins,  estavam ainda a busca da harmonia entre patrões e operários, facilitando a terminação rápida e conciliatória das questões que entre eles possa ocorrer e a assistência aos sócios  nos sindicatos profissionais.
            No ano seguinte, ligada à Delegacia Regional do CIF foi fundada a Associação Profissional da Indústria da Fiação e Tecidos; em  30 de abril de 1957 , foi  criada a Associação das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul; em 26 de agosto de 1963, o Sindicato das Indústrias de calçados, alfaiataria, confecções de roupas de homens, camisas para homens, de guarda-chuvas, bengalas e chapéus de Caxias do Sul.
            Em 30 de maio de 1954 foi constituído o Centro da Indústria Fabril de Caxias do Sul, conseguindo autonomia em relação ao CIF do RGS. Os fins do CIF de Caxias eram os mesmos do Centro etadual , ou seja,  de defender os interesses dos industriais e congrega-los a fim de facilitar o intercâmbio com outros Centros do país e do exterior, manter relações com entidades de classe, propiciar o aperfeiçoamento e a expansão da indústria fabril e representar as indústrias associadas perante os poderes públicos.
            Os sindicatos que antes atuavam junto à Associação passaram a ser  assessorados pelo CIF local. Como esse era o papel anteriormente desempenhado pela Associação Comercial perdeu assim  uma de suas mais importantes atribuições.
            Os industriais passaram a ter dois órgãos de classe: a Associação Comercial e Industrial e o Centro das Indústrias de Caxias do Sul. É interessante observar que a existência de dois órgãos representativos da classe patronal, longe de fortifica-las reduziu  a força de pressão da Associação Comercial e Industrial que até então assumira o papel de  um sindicato patronal. A fundação do Centro das Indústrias de Caxias do Sul é o ponto de ruptura do poder da Associação Comercial.
            A criação dos sindicatos patronais por outro lado tornou-se necessária visto que o movimento reivindicatório dos operários desses setores fazia-se sentir com grande intensidade. De certa forma são os operários que induzem os patrões a se sindicalizarem.
            Esvaziada de seu caráter sindical e de sua força de pressão a Associação Comercial e Industrial de Caxias do Sul perdeu seu lugar para os sindicatos patronais e para o o Centro das Industrias.
            Os industriais tomaram o comando das ações político-econômicas da  comunidade local. Ao mesmo tempo em que ocorreram as modificações na atuação da Associação, começou também  o processo de reorganização política local.
            Com a reorganização dos partidos políticos novas forças  sentir , de  tal reorganização participaram tanto os industriais quanto os comerciantes.Sua atuação e torna  menos direta do que no fim da República Velha. São os “políticos” que passam a representar tanto os interesses da classe patronal como dos trabalhadores.
            O surgimento de “políticos” - isto é pessoas que se dedicavam as lides  partidárias é um elemento novo na organização política local. Os “políticos”, em geral, tem algum curso superior ou trabalharam longos anos como “contadores” das empresas, ou prestavam serviços jurídicos aos sindicatos de classe. Is novos políticos ,em geral passam a ser  de certa forma parte  da elite intelectual da cidade.
            Além dos “políticos” que passaram a ser os representantes tanto das classes patronais quanto da classe trabalhadora, novos elementos afloraram na sociedade caxiense.Um dos novos elementos foi a ação direta da Igreja na direção da política local. A atuação da Igreja havia sido direta nos primeiros tempos da colonização. Na República Velha sua atuação tinha sido menos evidente, e durante o Estado Novo houve certa acomodação a estrutura política vigente. A criação dos COC foi sua mais marcante atuação no período, bem como a luta contra os sindicatos oficiais.
            Na década de cinquenta a Igreja passa a atuar de forma direta, tanto na orientação do voto dos católicos, como na Liga Eleitoral Católica. A Igreja não faz política partidária, mas a ação dos sacerdotes em prol do PDC é decisiva na arregimentação partidária.
            No púlpito da Igreja local são os eleitores aconselhados a votarem nos candidatos católicos, sendo lidos e repudiados os nomes dos políticos “divorcistas” e “comunistas”.
            A campanha anticomunista é outro elemento novo que ocorre no período. Nas escolas, nos templos e  nos jornais a campanha  contra o comunismo se faz sentir. Não é só a Igreja que participa dessa  luta contra o comunismo, a campanha contra os socialistas ganha as ruas, envolvendo parte da população. Vários incidentes que ocorreram e provam a “síndrome vermelha” que passou a  assolar a cidade. A mesma Igreja que defendeu a ditadura fascista se arvora em defensora da democracia.

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