quarta-feira, 22 de maio de 2013



EMPRESÁRIOS APÓS A REVOLUÇÃO DE 1964



 Prestes em Caxias do Sul ,1961


            Os problemas econômicos,políticos  e sociais do período da redemocratização (1946-1964) geraram  condições para o surgimento do movimento contra revolucionário de 31 de março de 1964.
             A O golpe de 1964 recebeu várias denominações amais extraordinária foi o  Revolução Gloriosa .O movimento teve como objetivo deter os avanços sociais e modificar o modelo econômico brasileiro ,buscando  maior integração com o  capitalismo internacional.
Passados tantos anos, uma das melhores análises do golpe continua sendo a   de Fernando Henrique Cardoso, na obra O Modelo Político Brasileiro .Ele afirma que  o  que  permitiu uma estabilidade relativa na aliança entre militares, burguesia e classes médias foi a formulação de um modelo de desenvolvimento e um regime político que, sem eliminar as contradições entre as diversas facções que, claro está, não eram antagônicas, tornando-as  compatíveis em face de inimigos maiores, estes sim, antagônicos, representados pela ameaça de uma política favorável às classes populares.
Que em palavras mais simples significa que os conservadores se uniram contra o povo e seus direitos.
            O novo modelo político-econômico procurou dinamizar e ampliar os diversos setores da produção industrial, estabelecendo novas relações entre o governo e as classes empresariais, que propiciaram a aproximação entre estas e os setores financeiros internacionais. O movimento revolucionário de março,segundo Cardoso  “ Pôs a burguesia nacional em compasso com o desenvolvimento do capitalismo internacional e subordinou a economia nacional a formas mais modernas de dominação econômica”
            A ação política do novo regime procurou silenciar de forma progressiva os setores políticos liberais, pela adoção de atos institucionais repressores. Uma das principias medidas adotadas pelo novo governo foi a decretação do Ato Institucional Nº. Dois, de  27 de outubro de 1965, que extinguiu os antigos partidos políticos.
            A situação local refletiu a situação nacional,  foi marcada pela reorganização dos empresários e pela ampliação dos setores de produção industrial.
            A separação ocorrida entre a Associação Comercial e o Centro Industrial Fabril havia enfraquecido a força de pressão da classe patronal. O CIF de Caxias do Sul procurou tornar-se o órgão reivindicador que a Associação havia sido em períodos anteriores. A Associação Comercial tornou-se menos  atuante e até certo ponto inexpressiva durante o período pós-revolucionário.A industria avançou de tal modo que o comércio se tornou  pouco importante diante dela.
            Como outros eventos importantes a Revolução de 1964 passou sem registros tanto nas atas da Associação e nas do  Centro. Logo após o movimento militar de março o CIF começou a ter uma atuação bem mais dinâmica do que no período anterior a 1964. Não há registros da  participação de empresários locais na Revolução de 1964, ao contrário do que ocorreu em 1930. Se os empresários nacionais tomaram parte ou não  na preparação do movimentos não existem registros, o mesmo não pode ser dito sobre os políticos locais. Dreyfus  na sua obra 1964: a tomada do poder relaciona alguns políticos locais pertencentes ao PTB e PDC que teriam participado da propagação do movimento de março.
            A eleição da nova diretoria do CIF em junho de 1964 determinou um intenso trabalho, tanto na organização de Departamentos, como na elaboração de um cadastro geral das empresas existentes no município. O cadastro e  notícias de interesse geral dos empresários passaram a ser divulgados sistematicamente na imprensa local a partir de 29 de  maio de 1965.
            Pelo cadastro publicado é possível concluir alguns fatos significativos,deve-se destacar que deste cadastro não fizeram  parte todas as empresas existentes só as associadas , ainda assim, os dados são interessantes.

EMPRESAS INDUSTRIAIS DE CAXIAS DO SUL - 1965
ASSOCIADAS E NÃO ASSOCIADAS AO CIF

Título de empresas\ associados
Nº de empresas existentes
Nº de empresas associadas
% de associadas
Material de Transporte
13
4
30%
Material elétrico
24
2
8%
Couro
4
1
25%
Madeireira
118
21
18%
Vestuário
85
24
28%
Metalúrgicos
31
5
16%
Diversas
24
8
33%
Alimentação
56
7
12%
Total
355
72
20%
Fonte: Cadastro das empresas CIF (

           
            Pelos dados apresentados no quadro acima  é possível constatar que apenas 20% do total das empresas cadastradas pelo CIF local, faziam parte da entidade. Estes dados revelam o pequeno grau de interesse que os empresários locais tinham e então com  o CIF. Um órgão que congrega a minoria das empresas não pode ter a força de pressão de outro que congregasse a maioria delas.
            A campanha realizada pelo CIF para conseguir  novos associados estava baseada não na divulgação de assuntos do interesse da classe, mas pelo empenho demonstrado na organização da entidade no município e os vários contatos mantidos com as  autoridades nacionais e com órgãos do sistema financeiro.
            Para conseguir maior adesão da classe patronal foram organizados vários departamentos, além de uma secretaria executiva. Passaram a funcionar: o Departamento Jurídico, o de Imposto de Consumo o de Estatística, o Econômico e uma Carteira de Seguros.
            A Associação Comercial de Caxias do Sul passava pelos mesmos problemas que o CIF. A entidade que congregava a maior parte dos empresários locais, sofrera um esvaziamento com a criação do CIF. Alguns industriais ainda se mantinham associados a entidade, mas o problemas financeiros eram sérios. Em 12 de dezembro de 1967 ocorre a primeira tentativa de fusão entre as duas entidades.  Esta fusão não ocorre imediatamente, mas as tentativas para ocorra são levadas avante. Em 9 de  Abril de 1968 a Associação e o CIF passaram a ocupara a mesma sede social. Esta fusão espacial tinha como objetivo a redução das despesas com o aluguel,que as duas entidades pagavam.
            Tanto na Associação Comercial como no CIF participaram da construção da sede social, reivindicação antiga dos associados e sempre adiada. A fusão entre as duas entidades poderia levar a realização da construção da sede própria e ao fortalecimento geral da categoria.
            A leitura das atas das assembleias gerais do CIF demonstra que os empresários pareciam mais interessados em incentivar autoridades do que resolver seus problemas. Os assuntos tratados não revelam  consciência crítica do processo de transformação que a empresa nacional atravessava. Deve-se recordar que o período em questão marcou a expansão máxima da indústria local, que recebeu financiamentos internos e externos, pode ampliar o parque industrial municipal A euforia econômica aparente fez com que os empresários não se  unissem em torno de órgãos classistas e não tomassem medidas adequadas para planejar de foram racional a expansão dos vários setores industriais.
            Enquanto os empresários procuravam reorganizar-se, a cidade passava por um período de intensa perseguição aos comunistas locais.
            Poucos dias antes da eclosão do movimento de março, foi realizada uma grande marcha em defesa da família cristã. Milhares de caxienses saíram as ruas em “procissão” organizada pelo clero católico. A síndrome anticomunista atingiu seu ponto máximo após a vitória da revolução de março de 1964.
            Em quatro de abril de 1964 a manchete de um jornal local afirmava que a Marcha pela Vitória havia obtido adesão de toda a população e que se realizara missa na Igreja dos Capuchinhos.  Com a vitória da Revolução passou ser realizada uma devassa total em diversas instituições locais. Os Sindicatos Reunidos e vários outros locais públicos e residências particulares foram invadidos  pelos militares. Por meio da Operação Limpeza rezava o mesmo jornal “as forças armadas iniciam o desmonte da traição comunista “.  Várias pessoas foram presas  e enviadas para o DOPS de Porto Alegre. Foram os seguintes os presos pela “operação limpeza”:

1.   Percy de Abreu e Lima - advogado
2.   Bruno Segalla - líder sindical
3.   Ernesto Bernardi - líder sindical
4.   Armin Damian - operário
5.   Darwin Corsetti - empresário
6.   Leovegildo Neri de Campos - funcionário público
7.   Romulo Segalla - contador
8.   Walter Casara - economista
9.   Júlio Furlan
10. Antonio Lisboa da Silva
11. Walter Tonini
12. João Rodrigues Barcellos Filho
13. Rui Gonçalves Moura
14. Luiz Pizzetti
15. Antonio Carlos Rosa - operário
16. Heran Paulo Damin
17. Darwin Gazzana médico

No dia 18 de abril do mesmo ano foram presos também

1.   Pe. Dalcy Fontanive
2.   Remi João Rigo- Professor
3.   Gercy Antonio Aguzzoli
4.   Regis Arnoldo Ferreti- advogado
5.   Enio Fávaro Industrial

     Bruno Segalla,o maior  lider sindical  não foi preso nessa ocasião ,pois ocupava um acadeira na Assembleia Legislativa.  Entre presos estavam o então diretor da Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul, Pe. Dalcy Fontanive e    seu tesoureiro Remi João Rigo.Alguns dos presos eram   líderes dos Sindicatos dos Metalúrgicos e,  alguns dos quais membros do Partido Comunista. A “Operação Limpeza” não se preocupou em prender apenas comunistas, mas qualquer pessoa que fosse indicada como tal.
            O período foi pródigo em delações. Colegas entregavam colegas, vereadores cassavam vereadores. Toda a síndrome anticomunista veio a tona. Boatos corriam de boca em boca pela cidade, tratando dos planos dos comunistas, traçados antes da Revolução, destinados a executar os empresários locais. Cartasforam  enviadas para os mesmos empresários alertando-os dos perigos  que  correram. São desconhecidos os autores e os remetentes destas mensagens. Alguns focos destes boatos são conhecidos, porém, o nome dos envolvidos no momento ainda não podem ser revelados.
            Na Câmara de Vereadores,de Caxias do Sul vários incidentes ocorreram, a discussão sobre a ideologia dos vereadores atingiu seu ponto culminante quando foi cassado o mandato do vereador Percy de Abreu Lima. A cassação foi feita  por meio da aprovação da indicação do presidente da Câmara. Percy de Abreu e Lima foi durante  vários anos responsável pela Assessoria Jurídica do Sindicato Reunidos, tendo no decorrer dos anos, marcado sua passagem pela cidade, por sua atuação correta e pelo desassombro de suas posições políticas.
            A cassação efetuada pela Câmara Municipal e aprovada por unanimidade pelos vereadores presentes, demonstrou o grau de poder que o órgão representativo se auto-outorgou. Ao mesmo tempo em  que cassou o mandato do vereador pela ARS, o ato do legislativo municipal impediu  a posse do  seu suplente da mesma legenda.
            A reação contra o ato da Câmara se fez sentir, dois vereadores  que não se encontravam presentes no dia da cassação, começavam a procurar formas de cassar  o mandato do Presidente do Legislativo Municipal, responsável pela cassação do mandato de Percy. Segundo o jornal  O Pioneiro  os vereadores que procuravam cassar o mandato do prof. Enrico Emilio Mondin (PRP) foram Nadyr Rosseti (PTB) e Vitor Faccioni (PDC).

            Em meados de 1965 foi julgada ilegal pelo poder judiciário,  a cassação do mandato da ARS, realizada pela Câmara tendo assumido o suplente Leovegildo de Campos. Neste mesmo dia a revolta do presidente da Câmara foi demonstrada através de um discurso, que poderia ser considerado como verdadeiro ato de fé anticomunista.

            Enquanto ocorriam os incidentes há Câmara de Vereadores local, no legislativo estadual, foram cassados os mandatos de deputado Bruno Segalla (ARS) e Guilherme do Valle (PTB) que haviam sido eleitos na região, e que tinham conseguido apenas a suplência.
            Nas eleições para a Prefeitura de 1963 a vitória tinha sido conseguida pela Frente Democrática. Com a extinção dos partidos políticos pelo AI2, se manteve a mesma coligação. Em 1967 o MDB conseguiu a maioria dos votos tanto para a Prefeitura como para a Câmara de Vereadores, já nas eleições de 1972 a vitória foi da ARENA.
            A vitória da ARENA em 1972 poderia levar a crer que seria mantida a alternância no poder, que caracterizava o período anterior à Revolução de 1964. Nas eleições de 1976, e nas eleições de 1982 a situação alternou-se profundamente, passando a dominar os partidos oposicionistas.
           
O MDB que em 1968 recebeu 51,55% do total dos votos válidos em 1982 (como PMDB) teve seu percentual reduzido para 45,39%, mas o total percentual da oposição atingiu aproximadamente 67% dos votos válidos.
A retração da atuação política dos empresários torna-se mais evidente após 1964, raros são os patrões que se dispõem a participar de cargos políticos. A complexidade das relações econômicas levou os industriais e os comerciantes a abandonarem as lides políticas diretas. A  sua representação  se fez através de seus representantes, das forças conservadoras locais.



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