EMPRESÁRIOS APÓS A REVOLUÇÃO DE 1964
Prestes em Caxias do Sul ,1961 |
Os
problemas econômicos,políticos e sociais
do período da redemocratização (1946-1964) geraram condições para o surgimento do movimento
contra revolucionário de 31 de março de 1964.
A O golpe de 1964 recebeu várias denominações
amais extraordinária foi o Revolução
Gloriosa .O movimento teve como objetivo deter os avanços sociais e modificar o
modelo econômico brasileiro ,buscando
maior integração com o
capitalismo internacional.
Passados
tantos anos, uma das melhores análises do golpe continua sendo a de
Fernando Henrique Cardoso, na obra O
Modelo Político Brasileiro .Ele afirma que
o que permitiu uma estabilidade relativa na aliança
entre militares, burguesia e classes médias foi a formulação de um modelo de
desenvolvimento e um regime político que, sem eliminar as contradições entre as
diversas facções que, claro está, não eram antagônicas, tornando-as compatíveis em face de inimigos maiores,
estes sim, antagônicos, representados pela ameaça de uma política favorável às
classes populares.
Que em palavras mais simples
significa que os conservadores se uniram contra o povo e seus direitos.
O
novo modelo político-econômico procurou dinamizar e ampliar os diversos setores
da produção industrial, estabelecendo novas relações entre o governo e as
classes empresariais, que propiciaram a aproximação entre estas e os setores
financeiros internacionais. O movimento revolucionário de março,segundo Cardoso
“ Pôs a burguesia nacional em compasso
com o desenvolvimento do capitalismo internacional e subordinou a economia
nacional a formas mais modernas de dominação econômica”
A
ação política do novo regime procurou silenciar de forma progressiva os setores
políticos liberais, pela adoção de atos institucionais repressores. Uma das
principias medidas adotadas pelo novo governo foi a decretação do Ato
Institucional Nº. Dois, de 27 de outubro
de 1965, que extinguiu os antigos partidos políticos.
A
situação local refletiu a situação nacional, foi marcada pela reorganização dos empresários
e pela ampliação dos setores de produção industrial.
A
separação ocorrida entre a Associação Comercial e o Centro Industrial Fabril
havia enfraquecido a força de pressão da classe patronal. O CIF de Caxias do
Sul procurou tornar-se o órgão reivindicador que a Associação havia sido em
períodos anteriores. A Associação Comercial tornou-se menos atuante e até certo ponto inexpressiva durante
o período pós-revolucionário.A industria avançou de tal modo que o comércio se
tornou pouco importante diante dela.
Como
outros eventos importantes a Revolução de 1964 passou sem registros tanto nas
atas da Associação e nas do Centro. Logo
após o movimento militar de março o CIF começou a ter uma atuação bem mais dinâmica
do que no período anterior a 1964. Não há registros da participação de empresários locais na
Revolução de 1964, ao contrário do que ocorreu em 1930. Se os empresários nacionais
tomaram parte ou não na preparação do
movimentos não existem registros, o mesmo não pode ser dito sobre os políticos
locais. Dreyfus na sua obra 1964: a tomada do poder relaciona alguns
políticos locais pertencentes ao PTB e PDC que teriam participado da propagação
do movimento de março.
A
eleição da nova diretoria do CIF em junho de 1964 determinou um intenso
trabalho, tanto na organização de Departamentos, como na elaboração de um
cadastro geral das empresas existentes no município. O cadastro e notícias de interesse geral dos empresários
passaram a ser divulgados sistematicamente na imprensa local a partir de 29
de maio de 1965.
Pelo
cadastro publicado é possível concluir alguns fatos significativos,deve-se destacar
que deste cadastro não fizeram parte
todas as empresas existentes só as associadas , ainda assim, os dados são
interessantes.
EMPRESAS INDUSTRIAIS
DE CAXIAS DO SUL - 1965
ASSOCIADAS E NÃO
ASSOCIADAS AO CIF
Título de empresas\
associados
|
Nº de empresas existentes
|
Nº de empresas associadas
|
% de associadas
|
Material de Transporte
|
13
|
4
|
30%
|
Material elétrico
|
24
|
2
|
8%
|
Couro
|
4
|
1
|
25%
|
Madeireira
|
118
|
21
|
18%
|
Vestuário
|
85
|
24
|
28%
|
Metalúrgicos
|
31
|
5
|
16%
|
Diversas
|
24
|
8
|
33%
|
Alimentação
|
56
|
7
|
12%
|
Total
|
355
|
72
|
20%
|
Fonte: Cadastro das empresas CIF (
Pelos
dados apresentados no quadro acima é
possível constatar que apenas 20% do total das empresas cadastradas pelo CIF
local, faziam parte da entidade. Estes dados revelam o pequeno grau de
interesse que os empresários locais tinham e então com o CIF. Um órgão que congrega a minoria das
empresas não pode ter a força de pressão de outro que congregasse a maioria delas.
A
campanha realizada pelo CIF para conseguir
novos associados estava baseada não na divulgação de assuntos do
interesse da classe, mas pelo empenho demonstrado na organização da entidade no
município e os vários contatos mantidos com as autoridades nacionais e com órgãos do sistema
financeiro.
Para
conseguir maior adesão da classe patronal foram organizados vários
departamentos, além de uma secretaria executiva. Passaram a funcionar: o
Departamento Jurídico, o de Imposto de Consumo o de Estatística, o Econômico e
uma Carteira de Seguros.
A
Associação Comercial de Caxias do Sul passava pelos mesmos problemas que o CIF.
A entidade que congregava a maior parte dos empresários locais, sofrera um
esvaziamento com a criação do CIF. Alguns industriais ainda se mantinham
associados a entidade, mas o problemas financeiros eram sérios. Em 12 de
dezembro de 1967 ocorre a primeira tentativa de fusão entre as duas entidades. Esta fusão não ocorre imediatamente, mas as
tentativas para ocorra são levadas avante. Em 9 de Abril de 1968 a Associação e o CIF passaram a
ocupara a mesma sede social. Esta fusão espacial tinha como objetivo a redução
das despesas com o aluguel,que as duas entidades pagavam.
Tanto
na Associação Comercial como no CIF participaram da construção da sede social, reivindicação
antiga dos associados e sempre adiada. A fusão entre as duas entidades poderia
levar a realização da construção da sede própria e ao fortalecimento geral da
categoria.
A leitura das atas
das assembleias gerais do CIF demonstra que os empresários pareciam mais
interessados em incentivar autoridades do que resolver seus problemas. Os assuntos
tratados não revelam consciência crítica
do processo de transformação que a empresa nacional atravessava. Deve-se
recordar que o período em questão marcou a expansão máxima da indústria local,
que recebeu financiamentos internos e externos, pode ampliar o parque
industrial municipal A euforia econômica aparente fez com que os empresários
não se unissem em torno de órgãos
classistas e não tomassem medidas adequadas para planejar de foram racional a
expansão dos vários setores industriais.
Enquanto os
empresários procuravam reorganizar-se, a cidade passava por um período de
intensa perseguição aos comunistas locais.
Poucos
dias antes da eclosão do movimento de março, foi realizada uma grande marcha em
defesa da família cristã. Milhares de caxienses saíram as ruas em “procissão”
organizada pelo clero católico. A síndrome anticomunista atingiu seu ponto
máximo após a vitória da revolução de março de 1964.
Em
quatro de abril de 1964 a manchete de um jornal local afirmava que a Marcha
pela Vitória havia obtido adesão de toda
a população e que se realizara missa na Igreja dos Capuchinhos. Com a vitória da Revolução passou ser
realizada uma devassa total em diversas instituições locais. Os Sindicatos
Reunidos e vários outros locais públicos e residências particulares foram
invadidos pelos militares. Por meio da Operação Limpeza rezava o mesmo jornal “as
forças armadas iniciam o desmonte da traição comunista “. Várias pessoas foram presas e enviadas para o DOPS de Porto Alegre. Foram os seguintes os presos pela
“operação limpeza”:
1. Percy
de Abreu e Lima - advogado
2. Bruno
Segalla - líder sindical
3. Ernesto
Bernardi - líder sindical
4. Armin
Damian - operário
5. Darwin
Corsetti - empresário
6. Leovegildo
Neri de Campos - funcionário público
7. Romulo
Segalla - contador
8. Walter
Casara - economista
9. Júlio
Furlan
10. Antonio Lisboa da Silva
11. Walter Tonini
12. João Rodrigues Barcellos Filho
13. Rui Gonçalves Moura
14. Luiz Pizzetti
15. Antonio Carlos Rosa - operário
16. Heran Paulo Damin
17. Darwin Gazzana médico
No dia 18 de abril do mesmo ano foram
presos também
1. Pe.
Dalcy Fontanive
2. Remi
João Rigo- Professor
3. Gercy
Antonio Aguzzoli
4. Regis
Arnoldo Ferreti- advogado
5. Enio
Fávaro Industrial
Bruno Segalla,o maior lider sindical não foi preso nessa ocasião ,pois ocupava um acadeira na Assembleia Legislativa. Entre presos estavam o então diretor da
Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul, Pe. Dalcy Fontanive e seu tesoureiro Remi
João Rigo.Alguns dos presos eram líderes dos Sindicatos dos Metalúrgicos e, alguns dos quais membros do Partido
Comunista. A “Operação Limpeza” não se preocupou em prender apenas comunistas,
mas qualquer pessoa que fosse indicada como tal.
O
período foi pródigo em delações. Colegas entregavam colegas, vereadores
cassavam vereadores. Toda a síndrome anticomunista veio a tona. Boatos corriam
de boca em boca pela cidade, tratando dos planos dos comunistas, traçados antes
da Revolução, destinados a executar os empresários locais. Cartasforam enviadas para os mesmos empresários alertando-os
dos perigos que correram. São desconhecidos os autores e os
remetentes destas mensagens. Alguns focos destes boatos são conhecidos, porém,
o nome dos envolvidos no momento ainda não podem ser revelados.
Na
Câmara de Vereadores,de Caxias do Sul vários incidentes ocorreram, a discussão
sobre a ideologia dos vereadores atingiu
seu ponto culminante quando foi cassado o mandato do vereador Percy de
Abreu Lima. A cassação foi feita por
meio da aprovação da indicação do presidente da Câmara. Percy de Abreu e Lima
foi durante vários anos responsável pela
Assessoria Jurídica do Sindicato Reunidos, tendo no decorrer dos anos, marcado
sua passagem pela cidade, por sua atuação correta e pelo desassombro de suas
posições políticas.
A
cassação efetuada pela Câmara Municipal e aprovada por unanimidade pelos
vereadores presentes, demonstrou o grau de poder que o órgão representativo se auto-outorgou.
Ao mesmo tempo em que cassou o mandato
do vereador pela ARS, o ato do legislativo municipal impediu a posse do seu suplente da mesma legenda.
A
reação contra o ato da Câmara se fez sentir, dois vereadores que não se encontravam presentes no dia da
cassação, começavam a procurar formas de cassar o mandato do Presidente do Legislativo
Municipal, responsável pela cassação do mandato de Percy. Segundo o jornal O
Pioneiro os vereadores que
procuravam cassar o mandato do prof. Enrico Emilio Mondin (PRP) foram Nadyr
Rosseti (PTB) e Vitor Faccioni (PDC).
Em meados de 1965
foi julgada ilegal pelo poder judiciário, a cassação do mandato da ARS, realizada pela
Câmara tendo assumido o suplente Leovegildo de Campos. Neste mesmo dia a
revolta do presidente da Câmara foi demonstrada através de um discurso, que
poderia ser considerado como verdadeiro ato de fé anticomunista.
Enquanto
ocorriam os incidentes há Câmara de Vereadores local, no legislativo estadual,
foram cassados os mandatos de deputado Bruno Segalla (ARS) e Guilherme do Valle
(PTB) que haviam sido eleitos na região, e que tinham conseguido apenas a
suplência.
Nas
eleições para a Prefeitura de 1963 a vitória tinha sido conseguida pela Frente
Democrática. Com a extinção dos partidos políticos pelo AI2, se manteve a mesma
coligação. Em 1967 o MDB conseguiu a maioria dos votos tanto para a Prefeitura
como para a Câmara de Vereadores, já nas eleições de 1972 a vitória foi da
ARENA.
A
vitória da ARENA em 1972 poderia levar a crer que seria mantida a alternância
no poder, que caracterizava o período anterior à Revolução de 1964. Nas
eleições de 1976, e nas eleições de 1982 a situação alternou-se profundamente,
passando a dominar os partidos oposicionistas.
O MDB que em
1968 recebeu 51,55% do total dos votos válidos em 1982 (como PMDB) teve seu
percentual reduzido para 45,39%, mas o total percentual da oposição atingiu
aproximadamente 67% dos votos válidos.
A retração da
atuação política dos empresários torna-se mais evidente após 1964, raros são os
patrões que se dispõem a participar de cargos políticos. A complexidade das
relações econômicas levou os industriais e os comerciantes a abandonarem as
lides políticas diretas. A sua
representação se fez através
de seus representantes, das forças conservadoras locais.
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