quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ALEMÃES E ITALIANOS NA SERRA GAÚCHA



Antonio Prado em 1925.

Na  historiografia gaúcha em relação á  imigração  há uma lacuna.Nada foi escrito   sobre as  relações entre alemães e italianos na região das antigas colônias  do Nordeste gaúcho,  povoadas por imigrantes europeus ,em sua maioria provenientes do norte Itália.
Os imigrantes italianos não viviam num mundo a parte.O Brasil e o Rio Grande do Sul era a pátria de muitos povos, sendo eles os italianos, os últimos a chegar ,no século XIX. tropeiros lusos os imigrantes italianos  tomaram contato com os alemães, não só  com os do vale do Cai, também com aqueles da Encosta da Serra. As relações entre os alemães que viviam no vale do rio Cai e os imigrantes italianos, na antiga colônia dá-se inicialmente por meio  dos comerciantes alemães, e, mais tarde, dos   jesuitas alemães deotigem  da freguesia de São José do Hortêncio que acompanharam os colonos italianos. nos primeiros tempos da imigração.Nas colônias viviam   lado a lado colonos trentino e tirolezes,  alemães e italianos do Vêneto.As relações sociais são estabelecidas entre os dois grupos, através das trocas comerciais, das compras e familiares
Após 1872 os colonos alemães ocupam o vale dos arroio do Ouro e do Forromeco, terras que depois seriam destinadas pelo governo imperial à  colonia Caxias,em geral vinham da ex-colônia deNova Petrópolis. No final do ano de 1875 chegaram ao vale do Cai, a  maior leva  de imigrantes italianos ,nesta ocasião a quando a Primeira e a Segunda léguas estavam sendo medidas  e abertas as primeiras picadas,foram  informados da demora na demarcação dos lotes .Os imigrantes  foram  obrigados permanecer  muito tempo  na região  do vale do Cai.
Segundo Chiarello  enquanto estavam sendo medidas as novas colônias cerca de 600 imigrantes italianos, ficaram a acampados ao relento,na base do Morro Cristal,então chamado Morro da Torre em Nova Palmira. Ali permaneceram seis meses,abastecendo-se na casa do colono alemão Germano Noll . Cerca de cem anos depois Pedro Carlos Wilibaldo Feter , neto  de Germano Noll ,lembrava-se tanto da casa comercial  como do moinho .Um dia me levou para ver onde  onde haviam  acampado os italianos .Na década de cniquenta  ainda havia o moinho , a casa já  estava abandonada .
.Também os colonos italianos não esqueceram do fato,que reapareceu em muitas das entrevistas realizadas por pesquisadores em Nova Milano. O fato pode parecer sem relevância,mas alimentar tantas pessoas, ainda que estas possuissem os vales do governo,não parece ter sido tarefa pequena  .Crianças com menos de 12  e maiores de 65 anos  não recebiam vales para alimentação. ,nem existiam vales para a saúde, nem  médicos. Tais fatos exigiam tanto a solidariedade quanto o auxílio dos poucos  habitantes de Nova Palmira , que não passavam de vinte famílias.As relações estabelecidas entre os dois grupos permaneceram no tempo e na memória dos mais velhos
 As relações entre italianos e alemães parecem ter continuado boas após o assentamento dos italianos  nos seus lotes,já que não existem registros na documentação oficial de incidentes entre os dois grupos.  Comerciantes alemães mudaram-se  para Nova Vicenza(hoje Farroupilha)após  em 1906,quando teve inicio  o  assentamento de trilhos da estrada de ferro. Com a chegada do trem a partir de 1910, chegam mais comerciantes alemães a Nova Vicenza.Entre eles estão.Carlos Fetter Valdemar Behlong,Gabriel Ruschel ,Frederico Fuhr e Emílio Weissheimer entre muitos outros
Em Nova Vicenza  havia  toda uma comunidade de alemães  como os Fetter,os Fuhr,os Ruschel ,Ao  contrário do aconteceu em Caxias  não havia  negociantes  de origem lusa. Formou-se uma comunidade luterana., com colonos alemães vindos da Forqueta Baixa  e de Alto Feliz que se estabeleceram no núcleo de Nova Vicenza.  
 Não se tratavam de relações transitórias. Os alemães luteranos fixaram-se na comunidade,nela cirando famílias e um  dos primeiros templos  luteranos da região.  Houve vários   casamentos inter étnicos ,e, o que é mais significativo entre católicos e protestantes.
 Outro tipo de relação estabeleceu-se entre os comerciantes italianos e os viajantes das  casas importadoras alemãs,situadas em Porto Alegre, a mais importante das quais  era a Bromberg & Cia Ltda. de Porto Alegre. A empresa  foi lembrada por vários depoentes  entrevistados por mim .Várias  das jovens , receberam como dote  máquinas de costura  alemãs Pfaff ou Singer  importadas pela Bromberg. Através do aprendizado do “corte e costura”,  algumas delas se tornaram  profissionais, aumentando desta forma  a renda familiar,outras costuravam para as necessidades familiares.
Em 1906 , Bucelli  em viagem da  da capital para São Sebastião do Cai no vapor Garibaldi anotou que nele viajavam também  juntos colonos e negociantes da campanha, tipos diferentes, mas em geral fortes e de boa compleição e de ar satisfeito; alemães na maioria e italianos. O que os distinguia era   a cor do cabelo e certas características físicas peculiares as duas raças,que seria bastante para distingui-los a pronúncia com  que uns e outros falavam o português.Segundo observou reinava a mais perfeita harmonia. Para viajar era preciso dinheiro e é possível que ele tivesse visto comerciantes.Entre eles havia voas relações.
O trabalho dos caixeiros viajantes alemães  parece ter sido extraordinário . Em viagem ao  Sul , Vittorio Bucelli ,encontrou-se com alguns deles. Elogiou  seu modo de agir na zona da colônia italiana. A caminho de Alfredo Chaves encontrou o primeiro viajante alemão, que segundo ele   que já havia tomado“as atitudes e os costumes e as tendências dos gaúchos, e como eles usava o laço  instrumento indispensável para aqueles que se ocupam da vida do campo
       Com três viajantes comerciais alemães  viajou durante dias acompanhando o modo como eles tratavm os fregueses”como parentes ou amigos d elonga data”,tal forma de negociar deixou Buccelli maravilhado,visto que  em cada de comércio chegada deles se transformava  em  uma festa. Os negócios eram feitos de forma rápida, mas as festas de alongavam,pelo o resto do dia era um banquete continuo,uma verdadiera festa de família .
Grupo de mulheresAntõnio Prado ,1910
Mas,  nem tudo eram flores,alguns alemães eram contra o casamento com italianas, por  causa da língua o que impedia a boa comunicação entre nora e sogra. Havia uma orientação da Igreja para que não houvesse casamentos entre jovens de etnias diversas e diferentes religiões.No inicio da imigração italiana eram os jesuítas alemãesdo vale do rio dos Sinos que davam assistência espiritual aos colonos.  O maior empecilho  a esse tipo de união foi a dos jesuítas alemães, pois julgavam que os casamentos deveriam ser endongâmicos,pra que não houvesse problemas de relacionamentos nas famílias formadas por grupos étnicos diversos. .  
 Em alguns locais como em Arroio Canoas (perto de Carlos Barbosa) a separação entre alemães e italianos era muito clara. Assim na medida em que chegavam os italianos os alemães iam embora.buscando outras terras.  Tal cuidado estava relacionado ao que tudo indica mais à cultura e menos ao racismo .  Nesse lugar houve casos curiosos, namorados separados pelas famílias,cuja lembrança ficou .
Contam os moradores que  no inicio do ´seculo XX os pais de um jovem alemão foram contra seu casamento com uma moça italiana. O moço que era caminhoneiro, contrariado foi embora sozinho. Vinte anos depois  voltou e  se casou com a já não tão jovem   italiana,que tinha tido uma filha dele. Os pais tinham morrido e os dois viveram  juntos, até o fim de suas vidas.Casos menos trágicos que os de  Romeu e Julieta.
Praça Garibaldi, em Antônio Prado,palco dos acontecimentos.

Um dos incidentes mais sérios envolvendo alemães e italianos(de origem) ocorreu em Antônio Prado, em 26 de maio de 1936..  Os  intendentes nomeados por Borges de Medeiros  alemães de origem , numa região povoada por italianos não prenunciava bons resultados. 
O primeiro Intendente foi Inocêncio de Matos Miller (nascido em Passo Fundo),governou pelo PRR até 1907,sendo substituido pelo vice  Capitão  Cristiano Ziegler. Vistos com desconfiança os aliados do Presidente do Estado, eram associados à maçonaria ,cobravam impostos tratavam os colonos com rigidez  militar.
Em 1935,  mais um alemão é eleito. Oscar Hampe era irmão do médico da cidade Osvaldo Hampe ,ambos do PRL. Logo os problemas começaram  com o aumento de impostos.O que ocasionou não só a revolta dos colonos contra o  prefeito  como também um movimento que partindo do inteiroior invadiu a Praça Principal .Os problemas ao que tudo indica tiveram causas políticas.. No dia 26 de maio houve um tiroteio na frente da Prefeitura ,tendo sido morto ,o genro do prefeito e delegado Armindo Cesa.(genro do Prefeito) O Dr.Osvaldo Hampe  saiu em socorro de seu irmão ,acabou matando dois colonos.Mas as vitimas não foram só essas.,as famílias da região sentiram a morte dos colonos como se fossem seus parente. 
O levante acabou com mortos e  feridos  e com  lembranças dilacerantes,sobre o  peso do poder.. Três  colonos foram assassinados: Pedro Pastore,Vitório Meneguzzi e Antônio Perosa .O delegado mereceu enterro oficial ,com placa em  homenagem à sua  memória.Aos colonos restou o esquecimento.
Sem sombra de dúvida nas relações entre alemães e italianos  há material para muitas pesquisas ,dissertações e teses.
                      Não só em Nova Vicenza mas também em Forqueta Baixa a conviveram alemães  e italianos de forma tranquila guardando seus costumes,suas festas, sua língua e sua 
Antônio Prado em 1906 In:Buccelli.



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 Obras citadas : BUCELLI Vittorio. Un viaggio inRio Grande del Sud,Milano: Pallestreisi, 1908
CHIARELLO, Natal. Breve História de Minha Terra.,Caxias do Sul,. .Universidade de Caxias do Sul ,1985


Um comentário:

  1. Olá, bela postagem. Recentemente descobri que os alemães boêmios fizeram parte dos primeiros moradores da Colônia Caxias. Escrevi um pequeno texto sobre isso (https://familiafey.wordpress.com/2019/02/21/a-colonia-italiana-caxias-e-a-influencia-dos-imigrantes-alemaes/). Grato!

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