CHEGA A FERROVIA
Os trilhos à espera do trem.Forqueta 2012 .Foto da autora. |
Uma dos
desejos dos colonos italianos era a ferrovia,que ligasse a colônia Caxias à
capital .As promessas eram muitas e datavam do tempo do império.Julgavam os
imigrantes,de forma acertada, que com a ferrovia haveria mais progresso,com ele
a valorização das terras e o melhor e mais rápido escoamento dos produtos
coloniais .
Em abril de
1874, um ano antes da chegada dos imigrantes italianos nas colônias imperiais da encosta,foi inaugurado o trecho da ferrovia
ligando Porto Alegre à São Leopoldo atingindo o seu distrito
de Novo Hamburgo doi anos mais tarde em 1876. São Leopoldo era um município
próspero,que em 1874 comemorava o cinquentenário de sua fundação. Pentão
assava por grande turbulência ocasionada pela reação do governo ao movimento
dos Muckers (1868-74). São Leopoldo dada sua localização nas margens do rio dos
Sinos tivera facilidade de transporte dos produtos coloniais entre a cidade pelo delta do Jacui à Porto Alegre .O Sinos era navegável
em seu trecho inferior,suportando barcos de 200 TPB (tonelagem de porte bruto).
Não há registros sobre a repercussão econômica da estrada de ferro da região,a
economia cresceu em cerca de 3,4 % em relação ao ano de 1870.
Abertura da estrada de ferro Forqueta 1910 .Foto Mancuso .AHMJSA |
A discussão sobre a construção de estradas de
ferro no Rio Grande do Sul havia
começado em 1866 Mas tudo andava muito
devagar muito devagar .Em 1877 teve
inicio a construção do trecho Porto Alegre e Uruguaiana que foi concluído em 1907
.
Em 1905, a
Compagnie Auxiliaire assumiu a linha
entre Nova Hamburgo e Caxias .Apenas em 1909 a linha teve continuação, partindo de Rio
dos Sinos, 7 km antes de Novo Hamburgo e chegou a Carlos Barbosa.No ano
seguinte chegou a Caxias.
As estações de trem foram importantes para a
economia regional .Muitas cidades surgiram nesses locais.De certo modo as
estações ferroviárias tiveram o mesmo papel das casas de comércio .Não poderia
ser diferente em Forqueta ,que unia à casa de comércio com a estação.
.Mas só em abril de 1874, foi inaugurado o primeiro trecho que
ligava Porto Alegre e São Leopoldo feito pela
Porto Alegre & New Hamburg Brazilian Railway Company .Em 1880 teve início a construção da Estrada
de Ferro do Paraná em Paranaguá Em 1884
foi inaugurado trecho da estrada de ferro Porto Alegre a Cachoeira que ligaria a capital a Uruguaiana até
Cachoeira, no ano seguinte mais um trecho
da estrada de ferro Rio Grande – Bagé. .Em 1887: foi o concluida a
Quaraí - Itaqui, administrada pela The Brazil Great Southern Railway Company
Ltd Em 9 de novembro de 1889, foi iniciada construção da estrada de ferro que
ligaria São Paulo ao Rio Grande.
Em
1898 foi assinado o contrato de arrendamento das ferrovias federais no
Rio Grande do Sul com a Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Bresil
Estação ferroviária Porto Alegre 1884 .Internet |
Foi
com a estrada de ferro que chegaram mais trabalhadores na antiga região
colonial italiana.entre eles muitos negros. Os trabalhos de assentamento de trilhos para a
abertura da estrada de ferro ligando Porto Alegre a Caxias movimentou o estado
propiciando a chegada de trabalhadores
de outras regiões, entre eles antigos escravos. Os negros conseguiam trabalho
nesse tipo de trabalho. Sua presença pode ser constatada pelas fotografias do
trabalho de abertura da estrada de ferro.
Sua construção exigia muitas atividades
complementares como a derrubada de
pinheiros para a fabricação dos dormentes
para assentar os trilhos.Exigia ainda a exploração de pedreiras para acertar o leito da estrada.Os trilhos eram trazidos prontos para a região.
Os pinheirais eram numerosos na região situada
entre Nova Vicenza e Caxias. Na chamada
estação Forqueta (hoje bairro de Caxias do Sul) as serrarias eram a principal atividade econômica, nelas
trabalhavam brancos e negros . Durante muito
tempo na pequena localidade negro e colonos, viveram separados.
Os negros moravam nas proximidades da estrada
que leva à capela de Santos Anjos um
salão funcionava nas proximidades onde se reuniam os negros para beber, jogar cartas
e algumas vezes dançar. Outro salão
estava situado próximo da futura estação era onde se reuniam os colonos com o
mesmo objetivo. espaço comum de entretenimento.
As relações entre brancos e negros não se
resumiam ao trabalho. Os negros
foram importantes para os colonos por
seus conhecimentos de plantas e de
chás Lembra dall’AlbaD “houve curandeiros e curandeiras que eram
procurados para tratamento com “garrafadas” de chás, por eles preparados,
geralmente, com sete, 13, 15 e até 21 ervas diferentes. Muito se recorreu a
benzedores negros, mandingueiros, ou a feiticeiros do campo, conhecedores de
ervas, rezas e orações fortes.”
Com a chegada da estrada de ferro parece
ter havido uma serie de conflitos entre : "brasileiros" e “italianos”. Colonos e “brasiliani” tinham costumes diversos. Os
colonos que haviam comprado as terras
para seus filhos plantavam milho,
videiras ,batatas ,trigo ,verduras sua
subsistência e para a comercialização. Os trabalhadores "brasileiros
"empregados da s serrarias pela
Companhia Belga encarregada da construção da estrada de ferro;, que nas horas de folga
descansavam e jogavam .
Segundo lembranças de
Dalvo Silvestre, os trabalhadores da
serraria Travi (lote 24 e 25 do
Travessão Alencastro) reuniam-se numa “bodega” situada além do acesso atual para Salete e Santos
Anjos, ali jogavam "bocha" e as
cartas. Já os colonos preferiam jogar a
bocha na cancha de Joaquim
Slomp situada na frente da estação férrea. Conta próxima
à casa Entre
“colonos” e
"brasileiros"
estabeleceu-se uma distância
espacial até para o entretenimento. A separação foi conseqüência das brigas entre os dois
grupos.
.As diferenças não eram por causadas pela côr.
Segundo Faustino Perottoni a colônia de
sua pai, situada perto da estação foi invadidas pelos cortadores de mato,empregados
da serraria , e suas plantações roubadas
pelos novos moradores da estação.” Primeiro cortaram os pinheiros sem pedir licença ,depois
roubaram parte da colheita” .Desgostoso Artur Perottoni vendeu sua colônia em
lotes e foi morar longe da estrada de ferro. Os colonos muitas vezes davam
tiros de espingarda para espantar os invasores de suas terras e plantações. A
defesa ainda que violenta, era uma forma de assegurar a integridade da
propriedade.
Os colonos eram
pequenos proprietários, já os trabalhadores eram proletários,visto que
trabalhavam para outros. No Brasil o
trabalho agrícola ,por quatrocentos anos ,foi realizado pelos escravos. Plantar
e cultivar era visto com desprezo pelas elites brasileiras. Plantar era tarefa
de negros e de escravos. Os trabalhadores desprezavam os colonos .Os
colonos se julgavam superiores aos trabalhadores por
plantar e colher em suas próprias terras. Viam com desconfiança os
brasileiros que não tinham propriedade e gastavam tudo o que ganhavam .Os dois
grupos tinham uma ideologia diferente. Os "brasileiros"
gastavam , ou melhor” bebiam tudo o que ganhavam “e os colonos não comiam um
ovo para não jogar a casca fora. O entendimento não poderia ser muito
fácil,como realmente não o foi. As brigas dividiam o povoado .
Outro problema foi
ocasionado pelas cercas de arame farpado,que impediam a passagem das cargas pelas antigas estradas
vicinais,trazendo problemas de transporte .Desastres e até algumas mortes foram
ocasionadas pela estrada de ferro , como a Guilherme Tamanini sempre lembrada
pelos antigos moradores.
A estrada de ferro as
vezes dividia em duas uma propriedade ,
trazendo possíveis posseiros.
Com as
casas de madeira rústica dos colonos ,Forqueta parecia uma vila do Faroeste americano,.
A
estrada de ferro fez surgir coisas “ainda piores” ,como uma pensão mal vista pela comunidade . Os
trabalhadores viviam em ranchos construídos próximos das serrarias e os da
estrada de ferro, acampavam próximo dos trilhos . Comparadas aos ranchos
dos trabalhadores, as pobres casas dos
colonos pareciam ricas
Durante muito tempo na pequena
localidade brasileiros e colonos, viveram separados. Os negri moravam nas proximidades da estrada que leva à capela de Santos Anjos um salão funcionava
nas proximidades onde se reuniam para
beber, jogar cartas e algumas vezes dançar.
O que havia separado os dois grupos não era a cor mas a propriedade. Enquanto os colonos eram
donos da terra, os trabalhadores só tinham seu salário. Mais que uma diferença
de cor o que os separava era uma diferença ideológica proveniente da sua
classe social. Que existe até hoje , no clube jogam os proprietários e
num salão perto da encruzilhada que deu nome ao lugar continuam jogando os
trabalhadores, não da estrada de ferro mas das empresas locais. O mundo do trabalho
capitalista separa os homens muito mais que o mundo medieval. Ainda assim uma nova
época tinha inicio , ocorrendo o que
parecia impensável no final do século
XIX, as uniões interétnicas “apesar da
contrariedade dos pais, sempre havia moças casando com brasileiros, com morenos
e com negros.”
Mesmo trecho da estrada de ferro. Forqueta 2012. Foto da autora |
Resume pra mim pf...
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