SÃO
MARCOS LIVRE
Convidada para o
encontro Raízes de São Marcos e Criúva em 2005 entrevistei os membros que
participaram da Comissão da Emancipação. Foram entrevistados para elaboração desta pesquisa: Luiz Antônio
Rizzon, Mário David Vanin, Romeu Rech , Nelson Tomiello e a viúva do Dr. Raymundo Pessini.
Os entrevistados foram unanimes em afirmar que os administradores de Caxias do
Sul não criaram qualquer tipo de obstáculo, nem tiveram qualquer ação contrária
à libertação do distrito. Consultei a integra das atas do processo de
emancipação e o próprio processo que revela as condições de São Marcos.
Causou-me espanto saber
do tratamento ameno dado ao caso de São Marcos. Em geral, no decorrer do tempo como
tem agido a administração de Caxias tem
agido de forma
dura em relação aos processos de
emancipação de Nova Trento(1924), Nova Vicenza(1934) e as mais recentes tentativas
de emancipação de Ana Rech e de Forqueta(1992).Em
todos os casos a administração municipal
buscou de todas as formas possíveis
impedir as emancipações e penalizando os municípios emancipados. Para
justificar a ação tão única de Caxias,no caso de São Marcos
deveria ter algum tipo particular de
interesse.. Os entrevistados afirmaram que o problema de Caxias era
Criúva.
A ação da administração municipal contra as emancipações se deu
manifestou de várias formas criando comissões, realizando manifestações
públicas na imprensa e pressionando políticos. A união entre políticos e
empresários garantiu não só a manutenção do território de limites de Caxias do
Sul como possibilitou um significativo
aumento de seu território nos últimos
quarenta anos,que passou de cerca de 800 mil km2 em 1934 para 1.644,302 km2 em 2012.
Tudo leva a crer que os
administradores de Caxias município de Caxias não haviam desejado a anexação de São Marcos e Criúva , em 1921 ,pois
com ela dobrara a área do território
municipal sem dobrar a receita. A anexação do território de Criúva fora mais um ônus do que um bônus. Pois houve
um considerável aumento da despesa sem correspondente aumento de receita, pela
arrecadação das taxas e dos impostos de industrias e profissões. Caxias bem ou mal administrava a região, mas
no inicio da década de sessenta a possibilidade da emancipação foi retomada.
Durante mais de quarenta anos Caxias investira na região, em obras, estradas
e em funcionários. Agora o distrito exigia novas obras no setor da energia
elétrica e na construção de uma hidráulica, tal exigência não agradou a Prefeitura
de Caxias pois os gastos eram grandes
demais.
Alguns dos entrevistados
tinham a nítida impressão que Caxias desejava se livrar de Criúva.Em relação a
emancipação há duas hipóteses para
explicar o tranquilo processo. A primeira hipótese é que os gastos previstos
com os melhoramentos exigidos por São Marcos fossem superiores à sua arrecadação.A segunda é que ao se emancipar
São Marcos levaria consigo Criúva, a mais pobre das regiões municipais ,situada
a menos de vinte quilômetros da futura sede municipal .
O distrito de São
Marcos que começara como 6º distrito de Caxias se tornou parte do 2º distrito
em 1924. Desde então muitos moradores do distrito participaram da administração
municipal caxiense entre os quais
Demétrio Niederauer , Manoel Ramos de
Castilhos e mais tarde Mario David Vanin
que foram eleitos ,vereadores tendo ocupado cargos na administração pública
caxiense. Niederauer e Vanin inclusive foram
prefeitos de Caxias.
Como lugar de passagem pela BR116 entre Caxias e Vacaria,São Marcos
prestava-se ao transporte de mercadorias entre a região da Serra e a dos Campos
de cima da Serra. Muitos são marquenses adotaram a profissão de carreteiros, com
o advento dos caminhões,após a abertura da BR116 na década de quarenta muitos
moradores de São Marcos se tornaram caminhoneiros, em função disso surgiu uma indústria ligada ao transporte
rodoviário como a de carrocerias , cabinas de caminhões, de peças e de acessórios automobilísticos.
Quando ocorre o processo de emancipação
há um momento importante para o
distrito, com a criação dos sindicatos dos trabalhadores rurais, da Cooperativa
agrícola e uma tentativa de formação do sindicato dos
motoristas .Os políticos locais sustentavam
os movimentos de organização da população.
Entre março de 1962 e outubro
de 1963 ocorreu o processo de emancipação .A Comissão foi formada por muitos
membros,mas com o trabalho de poucos.As reuniões
e assembleias foram muitas, mas, nem
todas tiveram suas atas lavradas. Algumas foram mais ou menos sigilosas, numa
delas foi tratada a questão de Criúva, cuja presença no novo município era temida.
Os moradores de Criúva por sua vez sabiam que seriam mal servidos pelo novo município,
cuja arrecadação era insuficiente para atender suas necessidades. Caxias que contava com a emancipação para
livrar-se de Criúva ,por outro lado ,São Marcos temia a presença daquele
distrito .
Carreteiro de São Marcos Carlos Michelon .década de 30 |
A partir de 1962 foi formada a
Comissão de emancipação que reuniu empresários e políticos de todos os partidos.O
principal veiculo usado para a
divulgação do movimento foi jornal O Pioneiro
de Caxias do Sul. A coluna São Marcos assinada por Mário David Vanin e ,mais tarde , por Nelson Tomiello dá conta
da movimentação e os acontecimentos
relacionados com a emancipação.
Tais noticias da movimentação do distrito para
se e tornar não parecem ter qualquer importância para os
caxienses. Não há cartas do leitor ,nem da posições expressas da administração.
O prefeito de Caxias do Sul Armando
Alexandre Biasuz (1960-64) do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) tinha ligações estreitas com o PTB de São Marcos
,liderado então pelo vereador e médico Raymundo Pessini. Os vínculos entre os
dois parece ter facilitado o movimento emancipacionista. Tal fato é considerado
fundamental por alguns dos entrevistados.
Primeiros caminhoneiros de São Marcos ,década 30 |
Atribuir tal fato a
relações partidárias é minimizar a questão. Na realidade Caxias estava
interessada na emancipação, pois, via nela a forma de livrar-se de Criúva, que até hoje é o maior e o mais pobre dos distritos caxienses. A não reação
era assim uma forma de ação, que revela que
São Marcos não era parte essencial do município. Na verdade nunca
havia feito parte de Caxias, tinha sido adotado por imposição e sido libertado
com alegria. Pela Lei Estadual N º 4576, de nove de outubro de 1963 foi criado
o município de São Marcos, sendo a lei sancionada pelo governador Ildo Menegetti. O município
contava então com uma área 303 km 2,(mais tarde passando 256,253 )e uma população de 10 mil habitantes. Sua economia estava centrada na policultura,
pequena propriedade e no trabalho familiar.
Sua produção principal era a do cultivo
da uva, plantada em 2000 hectares e na do trigo na zona montanhosa. Possuía ainda
indústrias vinícolas, de madeiras, de malhas, e na moagem do trigo.
A epopeia da abertura das estradas
vicinais havia exigido gastos extraordinários. Sua manutenção era cara, tendo
necessidade de máquinas e servidores públicos, que os parca arrecadação parecia
não compensar. Não foi a só força do movimento emancipacionista que libertou
São Marcos, acima de tudo houve o desinteresse de Caxias pela manutenção do distrito. Caxias agiu como uma mãe que abençoa
a independência de um filho adotivo e
pródigo.
A reação de Caxias à emancipação de São
Marcos foi no mínimo intrigante. São vários os motivos que levaram a
administração caxiense a apoiar a libertação de São Marcos. Alguns relacionados
econômicos e outros sociais, que marcam a organização da população são marquense,
e, outros ligados aos interesses da administração municipal caxiense.
No novo município as intrigas e as disputas
políticas começaram ainda antes da emancipação .Logo após a emancipação não houve acordo para a apresentação de um
candidato único ,como havia sido previsto. Realizadas as eleições Em 27 de
janeiro de 1964 foi instalado o novo município. O prefeito eleito Manoel Ramos
de Castilhos e o vice-prefeito Carlos Michelon.
. A Câmara de vereadores composta
de sete vereadores estava assim constituída : três vereadores do PTB(
Partido Trabalhista Brasileiro ) :
Raimundo Pessini,Leôncio Batista de Azevedo,e Victorino Ballardin.;três
vereadores do PSD ( Partido Social Democrático) Clito João Doncatto,Rui
Nicoletti e Victorio Bertolazzi e um vereador do PL( Partido Libertador) Jocyl
Castilhos da Luz. O primeiro Presidente
da Câmara Municipal foi Ruy Henrique
Nicoletti.
As imagens desta página são da obra de Rizzon& Possamai. História de São Marcos.
Coluna do Jornal O Pioneiro de 1962 .sobre a emancipção de São Marcos. |
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