sexta-feira, 27 de julho de 2012


SÃO MARCOS LIVRE

Convidada para o encontro Raízes de São Marcos e Criúva em 2005 entrevistei os membros que participaram da Comissão da Emancipação. Foram entrevistados para elaboração desta pesquisa: Luiz Antônio Rizzon, Mário David Vanin, Romeu Rech , Nelson Tomiello  e a viúva do Dr. Raymundo Pessini. Os entrevistados foram unanimes em afirmar que os administradores de Caxias do Sul não criaram qualquer tipo de obstáculo, nem tiveram qualquer ação contrária à libertação do distrito. Consultei a integra das atas do processo de emancipação e o próprio processo que revela as condições de São Marcos.
Causou-me espanto saber do tratamento ameno dado ao caso de São Marcos. Em geral, no decorrer do tempo como tem agido  a administração de Caxias tem agido de   forma  dura  em relação aos processos de emancipação de Nova Trento(1924), Nova Vicenza(1934) e as mais recentes tentativas de emancipação de Ana Rech e de  Forqueta(1992).Em todos os casos a  administração municipal  buscou de todas as formas possíveis impedir  as emancipações  e  penalizando os municípios emancipados. Para justificar a ação tão única de Caxias,no caso de  São Marcos  deveria ter algum tipo particular de  interesse.. Os entrevistados afirmaram que o problema de Caxias era Criúva.   
 A ação da administração municipal contra as emancipações se deu manifestou de várias formas criando comissões, realizando manifestações públicas na imprensa e pressionando políticos. A união entre políticos e empresários garantiu não só a manutenção do território de limites de Caxias do Sul como possibilitou  um significativo aumento de seu território  nos últimos quarenta anos,que passou de cerca de 800 mil km2 em 1934   para 1.644,302 km2 em 2012.

Tudo leva a crer que os administradores de Caxias município de Caxias não haviam desejado  a anexação de São Marcos e Criúva , em 1921 ,pois com ela  dobrara a área do território municipal sem dobrar a   receita. A anexação  do território de Criúva  fora mais um ônus do que um bônus. Pois houve um considerável   aumento da despesa  sem correspondente aumento de receita, pela arrecadação das taxas e dos impostos de industrias e profissões. Caxias bem ou mal administrava a região, mas no inicio da década de sessenta a possibilidade da emancipação foi retomada.
Durante mais de quarenta anos Caxias investira na região, em obras, estradas e em funcionários. Agora o distrito exigia novas obras no setor da energia elétrica e na construção de uma hidráulica, tal exigência não agradou a Prefeitura de Caxias pois  os gastos eram grandes demais.
Alguns dos entrevistados tinham a nítida impressão que Caxias desejava se livrar de Criúva.Em relação a emancipação há  duas hipóteses para explicar o tranquilo processo. A primeira hipótese é que os gastos previstos com os melhoramentos exigidos por São Marcos fossem superiores à sua  arrecadação.A segunda é que ao se emancipar São Marcos levaria consigo Criúva, a mais pobre das regiões municipais ,situada a menos de vinte quilômetros da futura sede municipal .
O distrito de São Marcos que começara como 6º distrito de Caxias se tornou parte do 2º distrito em 1924. Desde então muitos moradores do distrito participaram da administração municipal caxiense  entre os quais Demétrio Niederauer ,  Manoel Ramos de Castilhos e mais tarde  Mario David Vanin que foram eleitos ,vereadores tendo ocupado cargos na administração pública caxiense. Niederauer e  Vanin inclusive foram prefeitos de Caxias.
Como lugar de passagem pela BR116 entre Caxias e Vacaria,São Marcos prestava-se ao transporte de mercadorias entre a região da Serra e a dos Campos de cima da Serra. Muitos são marquenses adotaram a profissão de carreteiros, com o advento dos caminhões,após a abertura da BR116 na década de quarenta muitos moradores de São Marcos se tornaram caminhoneiros, em função disso  surgiu uma indústria ligada ao transporte rodoviário como a de carrocerias , cabinas de caminhões, de peças e de  acessórios automobilísticos.
            Quando ocorre o processo de emancipação há um momento importante  para o distrito, com a criação dos sindicatos dos trabalhadores rurais, da Cooperativa agrícola  e  uma tentativa de formação do sindicato dos motoristas .Os políticos locais  sustentavam os    movimentos de organização da população.
Entre março de 1962  e outubro de 1963  ocorreu o processo  de emancipação .A Comissão foi formada por muitos membros,mas  com o trabalho de poucos.As reuniões e assembleias  foram muitas, mas, nem todas tiveram suas atas lavradas. Algumas foram mais ou menos sigilosas, numa delas foi tratada a questão de Criúva, cuja presença no novo município era temida. Os moradores de Criúva por sua vez sabiam que seriam mal servidos pelo novo município, cuja arrecadação era insuficiente para atender suas necessidades.  Caxias que contava com a emancipação para livrar-se de Criúva ,por outro lado ,São Marcos temia a presença daquele distrito .
Carreteiro de São Marcos Carlos Michelon .década de 30

A partir de 1962 foi  formada a Comissão de emancipação que reuniu  empresários e políticos de todos os partidos.O principal  veiculo usado para a divulgação do movimento  foi jornal O Pioneiro  de Caxias do Sul. A coluna  São Marcos assinada por Mário David Vanin  e ,mais tarde , por Nelson Tomiello dá conta da movimentação  e   os acontecimentos relacionados com a emancipação.
Tais  noticias da movimentação do distrito para se  e tornar  não parecem ter qualquer importância para os caxienses. Não há cartas do leitor ,nem da posições expressas da administração.
            O prefeito de Caxias do Sul Armando Alexandre Biasuz (1960-64)  do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) tinha ligações estreitas com o PTB de São Marcos ,liderado então pelo vereador e médico Raymundo Pessini. Os vínculos entre os dois parece ter facilitado o movimento emancipacionista. Tal fato é considerado fundamental por alguns dos entrevistados.
Primeiros caminhoneiros  de São Marcos ,década 30

            Atribuir tal fato a relações partidárias é minimizar a questão. Na realidade Caxias estava interessada na emancipação, pois, via nela a forma de livrar-se de  Criúva, que até hoje é o maior e o  mais pobre dos distritos caxienses. A não reação era assim uma forma de ação, que revela que  São Marcos   não era parte   essencial do município. Na verdade nunca havia feito parte de Caxias, tinha sido adotado por imposição e sido libertado com alegria. Pela Lei Estadual N º 4576, de nove de outubro de 1963 foi criado o município de São Marcos, sendo a lei   sancionada pelo governador Ildo Menegetti. O município contava então com uma área 303 km 2,(mais tarde passando 256,253 )e uma população de 10 mil habitantes. Sua economia estava centrada na policultura, pequena propriedade e  no trabalho familiar. Sua produção principal era a do  cultivo da uva, plantada em 2000 hectares e na do trigo na zona montanhosa. Possuía ainda indústrias vinícolas, de madeiras, de malhas, e na moagem do trigo.
     A epopeia da abertura das estradas vicinais havia exigido gastos extraordinários. Sua manutenção era cara, tendo necessidade de máquinas e servidores públicos, que os parca arrecadação parecia não compensar. Não foi a só força do movimento emancipacionista que libertou São Marcos, acima de tudo houve o desinteresse de Caxias pela manutenção do  distrito. Caxias agiu como uma mãe que abençoa a independência  de um filho adotivo e pródigo.
    A reação de Caxias à emancipação de São Marcos foi no mínimo intrigante. São vários os motivos que levaram a administração caxiense a apoiar a libertação de São Marcos. Alguns relacionados econômicos e outros sociais, que marcam a organização da população são marquense, e, outros ligados aos interesses da administração municipal caxiense.
 No novo município as intrigas e as disputas políticas começaram ainda antes da emancipação .Logo após a emancipação  não houve acordo para a apresentação de um candidato único ,como havia sido previsto. Realizadas as eleições Em 27 de janeiro de 1964 foi instalado o novo município. O prefeito eleito Manoel Ramos de Castilhos e o vice-prefeito Carlos Michelon.
. A Câmara de vereadores  composta  de sete vereadores estava assim constituída : três vereadores do PTB( Partido Trabalhista Brasileiro )  : Raimundo Pessini,Leôncio Batista de Azevedo,e Victorino Ballardin.;três vereadores do PSD ( Partido Social Democrático) Clito João Doncatto,Rui Nicoletti e Victorio Bertolazzi e um vereador do PL( Partido Libertador) Jocyl Castilhos da Luz.  O primeiro Presidente da Câmara Municipal foi  Ruy Henrique Nicoletti. 


As imagens desta página são da obra de Rizzon& Possamai. História de São Marcos.
Coluna do Jornal O Pioneiro de 1962 .sobre a emancipção de São Marcos.

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