PARA UMA HISTÓRIA DO PROLETARIADO CAXIENSE: A
UNIÃO OPERÁRIA
Os movimentos associacionistas eram comuns
entre os imigrantes italianos. Típicas da região são as Caixas de Socorro Mútuo
ou uniões operárias. Tais organizações visavam a proteção dos associados e
levavam no título sua origem operaria. Mais antigas que os círculos operários
as uniões parecem ter relação com as organizações anarquistas.
A primeira organização operaria chamada
Vittorio Emanuel II, data de 1877, foi criada em Porto Alegre Outras organizações
surgiram na capital a Princesa Elena (1890)
e
a Giuseppe Mazzini . Algumas das associações não são de operários,como a
Principi de Napoli de Caxias(1887) que era a maior do estado contando em
1925 com quatrocentos associados .Havia ainda outras como a Conde d’Eu(1883) e a Stella d’Italia(1882)
em Garibaldi ,a Regina Margheritta (1882) e a Umberto I (1908) em Bento Gonçalves; Sociedade Principe de Piemonte (1893) em
Alfredo Chaves; a Giuseppe Garibaldi(1896) e a Cristoforo Colombo( 1910) em
Nova Trento.
O fato de existirem duas sociedades numa
mesma localidade sugere uma diferença de orientação ideológica entre elas, o
que fica evidente pelos nomes adotados. As que que levam nomes da família real
italiana é possível que sejam conservadores enquanto as que levam nomes como
Giuseppe Garibaldi não sejam.
De qualquer forma faltam pesquisas sobre o assunto, o que é uma boa
sugestão para os futuros historiadores. Cabe ressaltar que sobre os temas
operários, excluídos ou marginais, o
interesse é pequeno. A academia de um modo geral não se interessa pelos pobres,
eles não dão visibilidade nem verbas. A pobreza e sua organização são
menosprezadas. Estranhas são as coisas de um
Brasil que se julga pensante e esquece a participação da maioria
esquecida da população .
Não há como negar que muitos dos imigrantes
eram pobres e que parte deles tinham ideias sociais. De uma forma geral o
movimento classista dos tanoeiros retoma a luta operária na região colonial. O
estudo desta organização constitui a síntese da trajetória do movimento sindical
brasileiro, que tem início com os sindicatos livre,que são absorvidos pelo
sindicatos institucionalizados.
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Sociedade Conde'Eu Garibaldi.Junto as sociedades operárias funcionavam uma Escola Italiana.(foto de 1904) |
A
tanoaria, inicialmente, era parte da indústria de vinhos. Nas cantinas foram
instaladas oficinas de onde eram fabricados os barris indispensáveis para o fabrico do vinho. A
fabricação de barris não exigia equipamentos técnicos sofisticados, mas
necessitava de técnicos com especialização.A tanoaria era então
uma industria essencial...
A classe dos tanoeiros era grande e na medida
em que aumentava a produção de vinho aumentava a categoria. Assim no dia 15 de
junho de 1930, quatro meses antes da eclosão da revolução de 1930, reúnem-se 68
operários tanoeiros e fundam a União dos Operários Tanoeiros de Caxias.
A profissão de tanoeiro era antiga e alguns dos imigrantes
italianos tinham essa profissão.. O registro de dois aparece nos Mapas
Estatísticos da Colônia Caxias, um deles possuía sua própria oficina na
Itália
É interessante observar
que pelo lançamento de impostos de indústrias e profissões de 1899 não há qualquer registro de tanoarias,o que
revela sua associação com a indústria vinícola.
O desenvolvimento da
indústria vinícola exigia maior número de tanoeiros. A mão de obra especializada
era insuficiente para suprir as necessidades de mercado vinícola. Esta carência
foi suprida com a importação de mão de obra europeia.
A análise do registro
dos associados do sindicato dos tanoeiros, de 1937, revela que entre eles havia
italianos e portugueses. Como nãoos operários não estavam naturalizados na época, que maior
parte destes participou do movimento operário da década de trinta, é possível
deduzir que tenham chegado ao Brasil
durante a década anterior.
Neste período em
Portugal estava em curso à contra revolução portuguesa que levou à ditadura
Salazarista. As ideias expressas nas atas da União dos Tanoeiros revela um
claro posicionamento socialista. É possível que a necessidade de mão de obra na
indústria da tanoaria na região colônia,
tenha correspondido a necessidade do grupo de deixar Portugal.
O grupo deve ter se
organizado no período de sua chegada à região, pois, a reunião de 15 de julho
de 1930, realizada na Rua Marques do Erval, nº 672,onde funcionou a primeira
sede da entidade - tinha como finalidade o reerguimento da União dos Tanoeiros. Da organização sindical anterior há breve
notícia sobre a greve de 1917. Não foram
encontrado registros das atas anteriores.
Após a reunião de 15 de julho a União passou a atuar de
forma constante . No dia 29 do mesmo mês
a assembleia geral deliberou que nenhum camarada (este é o termo utilizado para
designar o associado) poderia trabalhar sem
a possuir a caderneta fornecida pela
associação.
Nesta mesma assembleia
ficou decidido que a bandeira da União seria branca e vermelha. Esta proposta
foi feita por José Rodrigues Vinhas. Ele alertou os tanoeiros a serem unidos,
e, guardar sigilo sobre assuntos tratados
nas sessões , especialmente dos patrões. Informou que “agissem dessa maneira os
patrões ficarão ao corrente de todos os
interesses de nossa classe”. Por outro lado os associados deveriam encaminhar suas queixas e reivindicações à União que
defenderia os seus interesses. Foi
estipulada uma mensalidade ( valor montante não está nas atas). As mensalidades seriam cobradas por
uma comissão designada pela Assembleia.
A primeira diretoria
ficou assim constituída.
Presidente: Manoel da Rocha Moreira
Vice-presidente: Virgílio Frizzo
1º Secretário: Manoel Gonçalves Monteiro
2º Secretário: Sylvestre Cassini,
1º Tesoureiro: Angelo Fazolli
Conselho Fiscal: Manoel Marques Cardão, Gildo Luciano, Joaquim Ferreira
Ramos, Euclydes Pasini, João Dalla Rosa, Manoel Marques.
Observa-se que da diretoria faziam parte tanto tanoeiros de origem lusa(54%)
quanto de origem italiana.45%).
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Os heróicos tanoeiros posam para a posteridade .Foto de 1925 |
Foi
designada também uma comissão para tratar com os chefes das tanoarias. Tinha
como finalidade exigir o cumprimento das determinações da associação (ata n .
3). O presidente concitou os camaradas para “que permanecessem unidos e não
trabalhassem mais do que nove horas diárias. A grande bandeira dos operários era
então a jornada de 8 horas diárias,que já tinha sido conquistada pelos
trabalhadores de outros países. A1ª grande do Brasil de 1907 tinha como bandeira a
jornada de 8 horas m 1907,fora liderada pelos gráficos, pedreiros, chapeleiros,
carvoeiros e sapateiros.
Em Caxias , com os tanoeiros
eram dados os primeiros passos para da luta operária local.
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