quarta-feira, 15 de agosto de 2012


PARA UMA HISTÓRIA DO PROLETARIADO CAXIENSE: A UNIÃO OPERÁRIA



Sociedade Operarias de Garibaldi Foto de 1925.

Os movimentos associacionistas eram comuns entre os imigrantes italianos. Típicas da região são as Caixas de Socorro Mútuo ou uniões operárias. Tais organizações visavam a proteção dos associados e levavam no título sua origem operaria. Mais antigas que os círculos operários as uniões parecem ter relação com as organizações anarquistas.
A primeira organização operaria chamada Vittorio Emanuel II, data de 1877, foi criada em Porto Alegre Outras organizações surgiram na capital a Princesa  Elena (1890)  e  a Giuseppe Mazzini . Algumas das associações não são de operários,como   a  Principi de Napoli de Caxias(1887) que era a maior do estado contando em 1925 com quatrocentos  associados .Havia  ainda outras como  a Conde d’Eu(1883) e a Stella d’Italia(1882) em Garibaldi ,a Regina Margheritta (1882)  e a Umberto I (1908) em Bento Gonçalves;   Sociedade Principe de Piemonte (1893) em Alfredo Chaves; a Giuseppe Garibaldi(1896) e a Cristoforo Colombo( 1910) em Nova Trento.
O fato de existirem duas sociedades numa mesma localidade sugere uma diferença de orientação ideológica entre elas, o que fica evidente pelos nomes adotados. As que que levam nomes da família real italiana é possível que sejam conservadores enquanto as que levam nomes como Giuseppe Garibaldi não sejam.
De qualquer forma  faltam  pesquisas sobre o assunto, o que é uma boa sugestão para os futuros historiadores. Cabe ressaltar que sobre os temas operários,  excluídos ou marginais, o interesse é pequeno. A academia de um modo geral não se interessa pelos pobres, eles não dão visibilidade nem verbas. A pobreza e sua organização são menosprezadas. Estranhas são as coisas de um  Brasil que se julga pensante e esquece a participação da maioria esquecida  da população .

Não há como negar que muitos dos imigrantes eram pobres e que parte deles tinham ideias sociais. De uma forma geral o movimento classista dos tanoeiros retoma a luta operária na região colonial. O estudo desta organização  constitui  a síntese da trajetória do movimento sindical brasileiro, que tem início com os sindicatos livre,que são absorvidos pelo sindicatos institucionalizados.
Sociedade Conde'Eu Garibaldi.Junto as sociedades operárias funcionavam uma   Escola Italiana.(foto de 1904)
            O crescimento da indústria vinícola, que em 1926 atingira 10% do total da produção gaúcha que determinou o aumento da produção de barris, indispensável para a produção, estocagem e transporte do vinho.
 A tanoaria, inicialmente, era parte da indústria de vinhos. Nas cantinas foram instaladas oficinas de onde eram fabricados os barris  indispensáveis para o fabrico do vinho. A fabricação de barris não exigia equipamentos técnicos sofisticados, mas necessitava de técnicos com especialização.A tanoaria  era então  uma industria essencial...

A classe dos tanoeiros era grande e na medida em que aumentava a produção de vinho aumentava a categoria. Assim no dia 15 de junho de 1930, quatro meses antes da eclosão da revolução de 1930, reúnem-se 68 operários tanoeiros e fundam a União dos Operários Tanoeiros de Caxias.  
            A profissão  de tanoeiro era antiga e alguns dos imigrantes italianos tinham essa profissão.. O registro de dois aparece nos Mapas Estatísticos da Colônia Caxias, um deles possuía sua própria oficina na Itália 
            É interessante observar que pelo lançamento de impostos de indústrias e profissões de 1899  não há qualquer registro de tanoarias,o que revela sua  associação com  a indústria vinícola.
            O desenvolvimento da indústria vinícola exigia maior número de tanoeiros. A mão de obra especializada era insuficiente para suprir as necessidades de mercado vinícola. Esta carência foi suprida com a importação de mão de obra europeia.
            A análise do registro dos associados do sindicato dos tanoeiros, de 1937, revela que entre eles havia italianos e portugueses. Como nãoos operários não  estavam naturalizados na época, que maior parte destes participou do movimento operário da década de trinta, é possível deduzir  que tenham chegado ao Brasil durante a década anterior.
            Neste período em Portugal estava em curso à contra revolução portuguesa que levou à ditadura Salazarista. As ideias expressas nas atas da União dos Tanoeiros revela um claro posicionamento socialista. É possível que a necessidade de mão de obra na indústria da tanoaria  na região colônia, tenha correspondido a necessidade do grupo de deixar Portugal.
            O grupo deve ter se organizado no período de sua chegada à região, pois, a reunião de 15 de julho de 1930, realizada na Rua Marques do Erval, nº 672,onde funcionou a primeira sede da entidade - tinha como finalidade o reerguimento da  União dos Tanoeiros. Da organização  sindical anterior há   breve notícia sobre a  greve de 1917. Não foram encontrado registros das atas  anteriores.
            Após a reunião  de 15 de julho a União passou a atuar de forma  constante . No dia 29 do mesmo mês a assembleia geral deliberou que nenhum camarada (este é o termo utilizado para designar o associado) poderia trabalhar sem  a possuir a  caderneta fornecida pela associação.
            Nesta mesma assembleia ficou decidido que a bandeira da União seria branca e vermelha. Esta proposta foi feita por José Rodrigues Vinhas. Ele alertou os tanoeiros a serem unidos, e, guardar sigilo  sobre assuntos tratados nas sessões , especialmente dos patrões. Informou que “agissem dessa maneira os patrões ficarão ao corrente de todos os  interesses de nossa classe”. Por outro lado os  associados deveriam  encaminhar suas  queixas e reivindicações à União que defenderia os seus  interesses. Foi estipulada  uma mensalidade ( valor  montante não está  nas atas). As mensalidades seriam cobradas por uma comissão designada pela Assembleia.
            A primeira diretoria ficou  assim constituída.
Presidente: Manoel da Rocha Moreira
Vice-presidente: Virgílio Frizzo
1º Secretário: Manoel Gonçalves Monteiro
2º Secretário: Sylvestre Cassini,
1º Tesoureiro: Angelo Fazolli
Conselho Fiscal: Manoel Marques Cardão, Gildo Luciano, Joaquim Ferreira Ramos, Euclydes Pasini, João Dalla Rosa, Manoel Marques.
Observa-se que da diretoria faziam parte tanto tanoeiros de origem lusa(54%) quanto de origem italiana.45%).
Os heróicos tanoeiros posam para a posteridade .Foto de 1925

            Foi designada também uma comissão para tratar com os chefes das tanoarias. Tinha como finalidade exigir o cumprimento das determinações da associação (ata n . 3). O presidente concitou os camaradas para “que permanecessem unidos e não trabalhassem mais do que nove horas diárias. A grande bandeira dos operários era então a jornada de 8 horas diárias,que já tinha sido conquistada pelos trabalhadores de outros países. A1ª grande  do Brasil de 1907 tinha como bandeira a jornada de 8 horas m 1907,fora liderada pelos gráficos, pedreiros, chapeleiros, carvoeiros e sapateiros.
Em Caxias , com os tanoeiros eram dados os primeiros passos para da luta operária local.

 As enormes pipas era um dos mais difíceis trabalhos dos tanoeiros( foto de 1925)

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