quarta-feira, 29 de agosto de 2012


 FIM DA UNIÃO OPERÁRIA 

Local onde se refugiaram os grevistas tanoeiros de 1930.Relatório de Celeste Gobatto

Entre 1982 e 1984, a professora Heloisa Bergamaschi e eu desenvolvemos uma pesquisa  na Universidade de Caxias do Sul sobre o poder político regional .A pesquisa acabou se centralizando nas relações patrões e operários  e, portanto nas suas organizações sindicais.si
 Durante dois anos  falamos com os  principais lideres  da região  que haviam encabeçado os movimentos paredistas regionais( então raros ).Ainda hoje, passados tantos , Cada vez que eu passo na frente das casas dos entrevistados  lembro do dia em que com eles falamos e o que foi dito . Infelizmente a grande maioria já morreu. Em geral as pesquisas não deixam marcas tão profundas, mas,  aquelas deixaram
As entrevistas então eram feitas com gravadores com fita cassete.As gravações ,por causa das mudanças tecnológicas foram superadas,por outro lado, naquele tempo não se contava com bolsistas para o trabalho de degravação .Assim, as fitas foram ouvidas e seu conteúdo apenas sintetizado.Passado o tempo,  as fitas ficaram sem proveito e o rico material que continham se perdeu.Por outro lado então não se contava com as máquinas digitais de fotografia ,nem com os recursos hoje existentes para a reprodução de imagem e som. Assim sobra a memória , que nem sempre é fiel , as lembranças reproduzem de forma fiel as palavras  dos entrevistados.
Conseguimos entrevistar dois dos antigos tanoeiros uma deles era  Ernesto Gobato.Ele morava numa confortável residência na Avenida Itália .Já entrado em anos ,tendo mais de oitenta deu um comovido depoimento sobre a União Operária dos Tanoeiros  Quando jovem ,começou como aprendiz,  logo aprendeu a profissão de tanoeiro,foi então que entrou  para a União.Mais tarde abriu apropria tanoaria e se tornou patrão. Mas ao recordar os tempos de União lembrou-se de detalhes que nãoconstam das atas daquele sindicato. Ao lembrar se daqueles tempos da greve falou da amizade que unia o grupo, todos vivendo o  ideal de “sem pátria  e de patrão” dos anarquistas Lembrou  se da ajuda  mútua que entre eles existia  e da beleza que era viver com tais companheiros sob tais princípios.Sob a face do velho industrial apareceram em seus olhos lágrimas de saudade  e de dentro dele surgiu  o jovem tanoeiro  que fizera a sua primeira greve . Disse nos ele “Ai nesse parque disse ele nós nos refugiamos da polícia, que veio da capital para nos atacar.” Contou também que o Parque inaugurado por ocasião do cinquentenário da chegada dos imigrantes italianos na região era o fim da cidade, lugar sem luz e deserto ,pois, era o fim da cidade , atrás dele havia só havia mata e  perau.


Cada vez que eu passo pela Avenida Itália me lembro das palavras de Gobato :”então sim seguíamos os ensinamentos de Cristo..Éramos verdadeiros cristãos e acreditávamos realmente  e vivíamos a igualdade “ Incrível como Cristo serviu a muitos propósitos e  a muitas bandeiras.
Outro entrevistado foi Evangelista Pires,ele fizera parte da União tendo ocupado o cargo de presidente. Depois do fim da União ele ingressou em outro ramo de atividade passando para os metalúrgicos,onde se aposentou .Evangelista não teve a mesma experiência que Gobatto  em relação à União .e era ligado aos patrões  Contou-nos como do medo que  sentiu na noite da greve escondido da Brigada no Parque Cinquentenário.
O Parque Cinquentenário em 1925 marcava o fim da cidade no lado Oeste,Foi construído pelo Intendente Dr. Celeste Gobatto ,para marcar as comemorações dos cinquenta anos da chegada dos imigrantes italianos em Caxias. Foi inclusive construído um monumento para marcar a efeméride.
           
Em cada cantina dos  trinta havia  a obra dos tanoeiros Foto àlbum

            No dia 15 de julho de 1931 a situação era grave, os tanoeiros não podiam pagar o aluguel da casa na qual estava sua sede. Um camarada que estava com as mensalidades atrasadas propõe-se a paga-las e justifica o não pagamento afirmando que “não pagou suas mensalidades, por motivo de uns dizerem que  a associação viria abaixo, e também por ver uns pagar e outros não”
Em  1932,foi comemorada  na União,  o segundo aniversário da greve de 1930.A entidade já  havia sido modificada internamente, devido  a pressões externas. A comemoração contou com a presença de autoridades civis e militares.
            No dia primeiro de maio  o Prefeito Coronel Miguel Muratore quem  presidiu os trabalhos comemorativos. A paz, a ordem e harmonia com as autoridades foram  destacados pelos oradores tanoeiros. Manoel da Rocha Moreira afirmou: “que dentro desta sociedade nunca se pregou num se pregará ideias que arrastem a desgraça aos nossos lares, como estava sendo afixado nos ouvidos das autoridades”. Estas declarações demonstram o temor que os tanoeiros sentiam, obrigados que foram  a ceder seus ideais  ao poder constituído.Nesse mês mês ,foi empossada a nova diretoria  que ficou  composta por:
Presidente: Manoel da Rocha Moreira
Secretário: Eugenio Boff
Tesoureiro: Frederico Tonietto
             No mês de agosto do mesmo ano,  foi  formada uma comissão para tratar com o representante do Ministério do Trabalho. O código do trabalho foi discutido em  Assembleia Os tanoeiros deveriam adequar-se as novas normas do sindicalismo oficial Em setembro de 1932  tentam uma nova paralisação, mas  a   Intendência  interfere e a questão de preços deixa de ser resolvida .
 Em 8 de janeiro de 1933 a União se reúne, nesta data para eleger a  nova diretoria, cujo presidente é Eugenio Boff, secretário Adelino Mano e tesoureiro Alfredo Milani.
            O trabalho da organização do sindicato foi a principal  ação da nova diretoria, que passa a fazer uma campanha para que os associados da União se vinculem  ao novo organismo. No mês de fevereiro os tanoeiros votam favoravelmente ao ingresso no sindicato. (ata nº. 48). Os tanoeiros aplaudem a um companheiro que “mostrou que estamos bastante atrasados e com isto, achava que acarretava prejuízos à classe”
Pipas de todo o tamanho eram obras dos artífices.Foto Álbum

            O primeiro de maio de 1933 já comemorado no Teatro Central, com os demais sindicatos, sendo  nomeado um orador oficial para  a ocasião, este foi  o advogado do sindicato, Dr. Paulo Rache.  Neste mesmo  mês ficou decidida nova mudança de sede que  será a mesma dos demais sindicatos, União Sindicalista. A nova sede estava situada  na rua Pinheiro Machado 1756. No mês de outubro as mensalidades  foram reduzidas de três mil réis para um mil réis, pois, os associados tinham de contribuir para três associações: a União dos Tanoeiros, a Cooperativa da União Sindical e para o Sindicato.
            No ano de 1934 a União não  reúne sua  Assembléia Geral. Só no dia 14 de agosto de 1935 foi  convocada  a eleição de diretoria, sendo a presidência assumida por Gildo Luciano, a secretaria por Marcelino Stalivieri e a tesouraria por Alberto Nichele .No ano de 1936 só ocorre uma reunião no dia 30 de julho e nesta assembleia é decidido que os associados não mais pagariam as mensalidades para a União, a transcrição desta ata é essencial.
Abertos os trabalhos, pelo sr. Presidente, este com a palavra, declarou que convocou  presente reunião, atendendo ao pedido de muitos associados, em vista, de existir agora um sindicato dos operários tanoeiros, já devidamente oficializado e com os seus estatutos registrados no Departamento Nacional do Trabalho, no Rio de Janeiro, tendo portanto plenos e amplos poderes de pessoa jurídica e assim perfeitamente apto para defender os direitos e interesses de seus associados perante a legislação vigente. Considerando que todos os sócios da União dos Tanoeiros são simultaneamente sócios do Sindicato. Considerando que a União dos Tanoeiros, já não tem mais maior utilidade, por não ter faculdade de fazer defesa das questões enquadradas nas leis sociais, que passou a ser exclusividade do Sindicato, considerando mais que foi fundado o consórcio profissional-cooperativa e neste todos os associados  da União e do Sindicato terem ingressado neste Consórcio”.

            A mensalidade da União foi  transferida para o consórcio, mas a União não deverá ser extinta “em vista de ela possuir um patrimônio” (ata nr. 54). A última ata da União data de 8 de janeiro de 1937, a Assembléia foi convocada para decidir sobre a manutenção ou retirada de um empréstimo de um conto de réis, com juros anuais de 6%, à União Sindicalista, “destinado este dinheiro para a compra da sede desta entidade, ficando assim sendo esta a sede comum de todos os sindicatos filiados à União Sindicalista .Até os hoje parte dos antigos sindicatos reunidos ainda   lá se encontram.
           

Nenhum comentário:

Postar um comentário