FIM DA
UNIÃO OPERÁRIA
Local onde se refugiaram os grevistas tanoeiros de 1930.Relatório de Celeste Gobatto |
Entre
1982 e 1984, a professora Heloisa Bergamaschi e eu desenvolvemos uma
pesquisa na Universidade de Caxias do
Sul sobre o poder político regional .A pesquisa acabou se centralizando nas
relações patrões e operários e, portanto
nas suas organizações sindicais.si
Durante dois anos falamos com os principais lideres da região
que haviam encabeçado os movimentos paredistas regionais( então raros ).Ainda
hoje, passados tantos , Cada vez que eu passo na frente das casas dos
entrevistados lembro do dia em que com
eles falamos e o que foi dito . Infelizmente a grande maioria já morreu. Em
geral as pesquisas não deixam marcas tão profundas, mas, aquelas deixaram
As
entrevistas então eram feitas com gravadores com fita cassete.As gravações ,por
causa das mudanças tecnológicas foram superadas,por outro lado, naquele tempo
não se contava com bolsistas para o trabalho de degravação .Assim, as fitas
foram ouvidas e seu conteúdo apenas sintetizado.Passado o tempo, as fitas ficaram sem proveito e o rico
material que continham se perdeu.Por outro lado então não se contava com as
máquinas digitais de fotografia ,nem com os recursos hoje existentes para a reprodução
de imagem e som. Assim sobra a memória , que nem sempre é fiel , as lembranças
reproduzem de forma fiel as palavras dos
entrevistados.
Conseguimos
entrevistar dois dos antigos tanoeiros uma deles era Ernesto Gobato.Ele morava numa confortável
residência na Avenida Itália .Já entrado em anos ,tendo mais de oitenta deu um
comovido depoimento sobre a União Operária dos Tanoeiros Quando jovem ,começou como aprendiz, logo aprendeu a profissão de tanoeiro,foi então
que entrou para a União.Mais tarde abriu
apropria tanoaria e se tornou patrão. Mas ao recordar os tempos de União
lembrou-se de detalhes que nãoconstam das atas daquele sindicato. Ao lembrar se
daqueles tempos da greve falou da amizade que unia o grupo, todos vivendo
o ideal de “sem pátria e de patrão” dos anarquistas Lembrou se da ajuda mútua que entre eles existia e da beleza que era viver com tais
companheiros sob tais princípios.Sob a face do velho industrial apareceram em
seus olhos lágrimas de saudade e de
dentro dele surgiu o jovem tanoeiro que fizera a sua primeira greve . Disse nos
ele “Ai nesse parque disse ele nós nos refugiamos da polícia, que veio da
capital para nos atacar.” Contou também que o Parque inaugurado por ocasião do
cinquentenário da chegada dos imigrantes italianos na região era o fim da
cidade, lugar sem luz e deserto ,pois, era o fim da cidade , atrás dele havia
só havia mata e perau.
Cada vez que eu passo
pela Avenida Itália me lembro das palavras de Gobato :”então sim seguíamos os
ensinamentos de Cristo..Éramos verdadeiros cristãos e acreditávamos
realmente e vivíamos a igualdade “
Incrível como Cristo serviu a muitos propósitos e a muitas bandeiras.
Outro
entrevistado foi Evangelista Pires,ele fizera parte da União tendo ocupado o
cargo de presidente. Depois do fim da União ele ingressou em outro ramo de atividade
passando para os metalúrgicos,onde se aposentou .Evangelista não teve a mesma
experiência que Gobatto em relação à
União .e era ligado aos patrões Contou-nos como do medo que sentiu na noite da greve escondido da Brigada
no Parque Cinquentenário.
O
Parque Cinquentenário em 1925 marcava o fim da cidade no lado Oeste,Foi construído
pelo Intendente Dr. Celeste Gobatto ,para marcar as comemorações dos cinquenta
anos da chegada dos imigrantes italianos em Caxias. Foi inclusive construído um
monumento para marcar a efeméride.
Em cada cantina dos trinta havia a obra dos tanoeiros Foto àlbum |
No dia 15 de julho de
1931 a situação era grave, os tanoeiros não podiam pagar o aluguel da casa na
qual estava sua sede. Um camarada que estava com as mensalidades atrasadas
propõe-se a paga-las e justifica o não pagamento afirmando que “não pagou suas
mensalidades, por motivo de uns dizerem que
a associação viria abaixo, e também por ver uns pagar e outros não”
Em 1932,foi comemorada na União, o segundo aniversário da greve de 1930.A
entidade já havia sido modificada
internamente, devido a pressões
externas. A comemoração contou com a presença de autoridades civis e militares.
No dia primeiro de
maio o Prefeito Coronel Miguel Muratore
quem presidiu os trabalhos
comemorativos. A paz, a ordem e harmonia com as autoridades foram destacados pelos oradores tanoeiros. Manoel da
Rocha Moreira afirmou: “que dentro desta sociedade nunca se pregou num se
pregará ideias que arrastem a desgraça aos nossos lares, como estava sendo
afixado nos ouvidos das autoridades”. Estas declarações demonstram o temor que os
tanoeiros sentiam, obrigados que foram a
ceder seus ideais ao poder constituído.Nesse
mês mês ,foi empossada a nova diretoria que ficou composta por:
Presidente: Manoel da Rocha Moreira
Secretário: Eugenio Boff
Tesoureiro: Frederico Tonietto
No mês de agosto do mesmo ano, foi formada uma comissão para tratar com o representante
do Ministério do Trabalho. O código do trabalho foi discutido em Assembleia Os tanoeiros deveriam adequar-se as
novas normas do sindicalismo oficial Em setembro de 1932 tentam uma nova paralisação, mas a Intendência interfere e a questão de preços deixa de ser
resolvida .
Em 8 de janeiro de 1933 a União
se reúne, nesta data para eleger a nova
diretoria, cujo presidente é Eugenio Boff, secretário Adelino Mano e tesoureiro
Alfredo Milani.
O trabalho da
organização do sindicato foi a principal ação da nova diretoria, que passa a fazer uma
campanha para que os associados da União se vinculem ao novo organismo. No mês de fevereiro os
tanoeiros votam favoravelmente ao ingresso no sindicato. (ata nº. 48). Os
tanoeiros aplaudem a um companheiro que “mostrou que estamos bastante atrasados
e com isto, achava que acarretava prejuízos à classe”
Pipas de todo o tamanho eram obras dos artífices.Foto Álbum |
O primeiro de maio de
1933 já comemorado no Teatro Central, com os demais sindicatos, sendo nomeado um orador oficial para a ocasião, este foi o advogado do sindicato, Dr. Paulo Rache. Neste mesmo
mês ficou decidida nova mudança de sede que será a mesma dos demais sindicatos, União
Sindicalista. A nova sede estava situada na rua Pinheiro Machado 1756. No mês de
outubro as mensalidades foram reduzidas
de três mil réis para um mil réis, pois, os associados tinham de contribuir
para três associações: a União dos Tanoeiros, a Cooperativa da União Sindical e
para o Sindicato.
No ano de 1934 a
União não reúne sua Assembléia Geral. Só no dia 14 de agosto de
1935 foi convocada a eleição de diretoria, sendo a presidência
assumida por Gildo Luciano, a secretaria por Marcelino Stalivieri e a tesouraria
por Alberto Nichele .No ano de 1936 só ocorre uma reunião no dia 30 de julho e
nesta assembleia é decidido que os associados não mais pagariam as mensalidades
para a União, a transcrição desta ata é essencial.
“Abertos os trabalhos, pelo sr. Presidente, este com a palavra,
declarou que convocou presente reunião,
atendendo ao pedido de muitos associados, em vista, de existir agora um
sindicato dos operários tanoeiros, já devidamente oficializado e com os seus
estatutos registrados no Departamento Nacional do Trabalho, no Rio de Janeiro,
tendo portanto plenos e amplos poderes de pessoa jurídica e assim perfeitamente
apto para defender os direitos e interesses de seus associados perante a
legislação vigente. Considerando que todos os sócios da União dos Tanoeiros são
simultaneamente sócios do Sindicato. Considerando que a União dos Tanoeiros, já
não tem mais maior utilidade, por não ter faculdade de fazer defesa das
questões enquadradas nas leis sociais, que passou a ser exclusividade do
Sindicato, considerando mais que foi fundado o consórcio
profissional-cooperativa e neste todos os associados da União e do Sindicato terem ingressado
neste Consórcio”.
A mensalidade da União
foi transferida para o consórcio, mas a
União não deverá ser extinta “em vista de ela possuir um patrimônio” (ata nr.
54). A última ata da União data de 8 de janeiro de 1937, a Assembléia foi
convocada para decidir sobre a manutenção ou retirada de um empréstimo de um
conto de réis, com juros anuais de 6%, à União Sindicalista, “destinado este
dinheiro para a compra da sede desta entidade, ficando assim sendo esta a sede
comum de todos os sindicatos filiados à União Sindicalista .Até os hoje parte
dos antigos sindicatos reunidos ainda lá se encontram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário