domingo, 10 de março de 2013



MOVIMENTO OPERÁRIO DURANTE O PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇÃO (1946-1964)



            O período da chamada redemocratização, compreendido entre 1946 e 1964, não vai modificar as condições de atrelamento dos sindicatos à estrutura do poder. Mesmo assim, a constituição de 1946 vai permitir uma maior liberdade de expressão e de organização de toda população. Esta abertura política vai permitir a expansão dos sindicatos operários.
            O sindicalismo nesse período vai ganhar novas dimensões. A ampliação da ação sindical deve-se a abertura política garantida pela nova Carta Constitucional, bem como a tomada do poder, nos sindicatos de elementos ideologicamente preparados para levar a frente a luta sindical.
            O grupo que assumiu o poder - no Sindicato da Alimentação e dos Metalúrgicos – estava vinculado à ação do Partido Comunista. Esta organização formou líderes e de suas fileiras nasceu uma nova concepção sindicalista.
            Os Sindicatos Reunidos ganham novo impulso. Reuniões se realizam diariamente entre os líderes de todos os sindicatos que compunham a organização.
            As assembleias gerais reuniam  milhares de associados, em geral , realizavam-se no cinema Apolo visto que o auditório dos sindicatos reunidos tornou-se pequeno para abrigar tão número de associados.
            Para fazer frente ao movimento sindical mobiliza-se a Igreja. A criação do Círculo Operário Caxiense, ocorrida em 1934, que  tinha como objetivo  suprir os trabalhadores de assistência médica, dentária e mesmo judiciária, ao mesmo tempo que concorreria com os sindicatos. Segundo alguns líderes que conviveram com a instituição - que perdura até hoje - esta desejava se apropriar dos sindicatos, colocando  a frente de  suas  diretorias líderes cristãos.Os sace4rdotes que dirigiam a organização eram agressivos com as lideranças sindicais comunistas.  Não foi apenas esta a ação da Igreja.
            Durante o período em que o movimento sindical ganhou maiores proporções, lideres sindical eram atacados por púlpitos das igrejas, sendo acusados de agentes de Moscou.
            Os sindicatos - especialmente o dos Metalúrgicos - deixaram os gabinetes burocráticos e foram às vilas populares. Ouviam   as reivindicações da população, levando as ao executivo e ao legislativo municipais.
            Passeatas seguiam-se aos comícios, que eram  encerradas na frente da Estátua da Liberdade, no lado norte da Praça central de Caxias (  então chamada de Rui Barbosa) logradouro público principal da cidade.
            Muros amanheciam pintados, as reivindicações que não eram atendidas ofereciam nas aos olhos da população. Aos poucos, as resoluções das Assembleias Gerais passaram a ser atendidas pelos patrões. O tempo de obedecer, de reivindicar e  de retroceder,parecia definitivamente morto.
            Líderes sindicais participavam de Congressos Nacionais e Internacionais. A sua participação não era  passiva, agiam  e se congregavam com grupos de outras regiões brasileiras. Derrubaram também líderes sindicais que dominavam a confederação dos Metalúrgicos. Foram  convidados pelo governo da União Soviética e da Alemanha Oriental a visitar aqueles  países.
            A participação no movimento sindical não se restringia só a “negrada”, (1)como a burguesia caracterizava  a liderança sindical,os de origem italiana começaram a participar das diretorias ,o que garantia  novo status a elas ,entre eles Bruno Segalla no Sindicato dos metalúrgicos e Ernesto Bernardi no da Alimentação.
            Apesar disso o movimento não parece ter conseguido modificar as bases, foram necessários dez anos de lutas para que ocorresse a primeira greve geral da categoria dos metalúrgicos. A realização desta greve constitui o máximo resultado da ação sindical operária no período da redemocratização, sendo a última ação antes da revolução de 1964.
            Líderes foram forjados no movimento sindical, sua palavra torna-se decisiva para a categoria que representavam. Formara-se uma verdadeira elite sindical com transito livre junto às autoridades constituintes. As bases, porém, não foram preparadas para agir por suas próprias forças. Quando a Revolução de 64 realizou a intervenção nos Sindicatos Reunidos, foram poupados os líderes mais cordatos com o sistema, os outros mais atuantes foram destituídos de seus cargos.
            As bases abandonadas não conseguiram refazer seu próprio caminho. A ação sindical do período não plantava frutos, apenas ensinava a colhê-los. A ação de sua  liderança formada durante a democratização revelou-se demasiado personalista e, ao que tudo leva a crer, centralizadora. De qualquer forma possibilitaram ao movimento sindical local  que se sobrepunha ação  assistencialista. Os sindicatos ocuparam por quase duas décadas o espaço que lhe cabia junto aos operários locais.
            Alguns de seus líderes começaram a ser eleitos para cargos políticos. Bruno Segalla foi eleito vereador por duas legislaturas, e o mesmo ocorreu com Ernesto Bernardi. O primeiro inclusive foi eleito primeiro suplente de Deputado Estadual pelo PSP
            Após a Revolução de 1964 ficou demonstrada a fragilidade da estrutura sindical que havia sido montada. A ação sindical limitou-se a se fazer presente quando as condições políticas assim o permitiram.

Referências Bibliográficas


1.  Para utilizar a expressão empregada por Segalla ao se referia aos operários sindicalizados, tal como eram considerados na cidade, em depoimento às autoras.
2.  Testemunhas citaram m inclusive o nome dos sacerdotes, (omitidos no texto) eram eles Orestes Valetta,  Ângelo Tronca e Ernesto Brandalise.


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