quinta-feira, 7 de março de 2013



AÇÃO DOS SINDICATOS NA ERA DE VARGAS (1930-1945)  




            Em 1925 o número de empresas industriais era inferior a 300 no município. A maior parte era constituída por artesãos, possuidores de pequenas oficinas. O número de operários era reduzido, não sendo superior a 500.
           
Quadro nº.1


Evolução da População e empresas comerciais e industriais de Caxias do Sul 1980-1925
Indicador/Ano
1890
1910
1925
Número de indústrias
120
200
280
Número de casas comerciais
25
98
235
População
10.000
18.000
32.000
                                Fontes: Recenseamento - Arquivo do Museu Municipal de Caxias do Sul

            Não há dados sobre o número de operários, mas o estudo realizado nas empresas revela que as mesmas eram  pouco mais do que oficinas artesanais, , possuindo poucos operários, em geral formados pelo  artesão e seus familiares. As empresas maiores não possuíam mais do que cem operários, e, estas não ultrapassavam o número de três.
            Outro dado importante é que se localizavam distantes umas das outras. Em cada distrito havia uma ou outra empresa. O pequeno número de operários e a dispersão de empresas unido ao fato característico da região de serem os operários filhos de produtores (donos da terra e do  trabalho) impediu a formação de uma consciência de classe, considerada como poder de organização.
            Os tanoeiros que haviam se organizado em sindicato eram estrangeiros em sua maioria, não possuindo nem eles nem suas famílias terras na região. Os habitantes do município que exerciam o trabalho como operários não haviam se dado conta da mudança da situação, já não eram proprietários, mas apenas operários.
            Levantamentos realizados junto aos sindicatos da Tecelagem e da Construção e do Mobiliário demonstra que os associados registrados eram em sua maioria provenientes de outras regiões do estado e do país. Estes elementos parecem decisivos para a organização do movimento após 1930.
            Outro dado interessante é que a maioria dos associados tinha idade entre 29 e 52 anos, eram homens com família constituída, e tinham tido experiências anteriores em outros locais de trabalho, situados em outras regiões.



QUADRO Nº2

PROVENIÊNCIA DOS ASSOCIADOS DOS SINDICATOS DOS TECELÕES - 1942

Proveniência
Número
Percentual
Caxias do Sul
53
36 %
Cidades da região colonial Italiana
22
16%
Região dos Campos de cima da serra
34
24%
Região Colonial Alemã
19
12%
Outras cidades do estado
7
4,5%
Estado de Santa Catarina
5
3%
Estrangeiros:


Italianos
5

Russo
1
4,5%
Polonês
1

Total
147
100%
Fonte: Livro registro dos operários tecelões

            A Sociedade União Operária fundada em 1931 só se tornou possível graças a adesão do grupo de trabalhadores locais ao movimento de união da classe desencadeado pelos tanoeiros.
            A criação da Sociedade reunindo trabalhadores de várias categorias demonstra a fragilidade que estas representavam em termos locais. A manutenção desta união através dos tempos tem demonstrado que tornou os diversos sindicatos possuidores não só de maior número de bens, como também de maior poder de barganha em suas reivindicações.
            A Sociedade União Operária nasceu forte, e a criação dos diversos sindicatos e a morosidade de sua legalização esvaziou o movimento operário caxiense.
            Não foi apenas a organização da sociedade em sindicatos o fator que ocasionou o enfraquecimento gradativo do impulso inicial. Este fator é o surgimento da Legislação Trabalhista da Revolução de 30, mais ter de consolidada na CLT e do Ministério do Trabalho.
            A legislação trabalhista determinou o esvaziamento do sentido reivindicatório do movimento local. Sendo asseguradas as condições mínimas legais para os trabalhadores estes não tiveram a capacidade de ver além do que propunham os legisladores.
            Para líderes sindicais que vivenciaram a adoção desta legislação o período foi considerado como plena garantia das necessidades da classe operária.
            Observa-se que o movimento controlado pelos órgãos públicos, que apoiavam as reivindicações dos operários, garantindo sua submissão ao poder constituído. “Reivindicar dentro do espírito da lei e da ordem” tornou-se a bandeira dos operários locais.
            À medida que cresciam as categorias de operários, pelo aumento natural do número de indústrias ocasionado pelo esforço de guerra, ocorreu uma integração maior com os movimentos nacionais dos trabalhadores.
            A região colonial, em geral e Caxias em particular   tornaram-se forte em relação à economia estadual. Os trabalhadores locais passaram a ser percentualmente importantes no contexto regional, como se pode observar no quadro seguinte:



QUADRO Nº3

PARTICIPAÇÃO DA REGIÃO COLONIAL ITALIANA
NA ECONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL
1942 - 1946


Indicadores
Þ
número de empresas
capital em CR$
nº de operários
anoß
RS
Região
%
RS
Região
%
RS
região
%
1942
16.000
2.341
13,77
1.626.131
172.121
10,58
88.925
8.898
10.000
1944
18.973
2.599
13,69
1.948.514
208.103
10,68
105.476
11.526
10,92
1946
22.235
3.252
14,62
2.520.987
343.678
13.63
106.707
13.126
12,30
Fonte: A Economia Gaúcha e a Regional

            Se o número de empresas e como conseqüência torna a região mais forte, como possibilidade de reivindicação as condições nacionais de atrelamento ao movimento sindical aos organismos estatais, impede qualquer movimento durante o período analisado.
            Os tanoeiros que tiveram haviam tido maior importância na exigência de  melhores condições de trabalho , ao se tornarem  sindicato de classe perderam o impulso reivindicatório inicial. Ao ser o a união dos tanoeiros absorvido pelo   Sindicato da Construção e  do Mobiliário o núcleo  mais atuante  ficou diluído pelo grande grupo de elementos não posicionados ideologicamente.
            Observa-se que todas as diretorias de sindicatos que se organizarem durante o período de Vargas, não aguentam as pressões políticas - dentro da própria empresa da qual são demitidas e do grupo social onde se inserem.
            Ao que tudo indica a pressão do grupo impediu que os líderes sindicais permanecessem á testa do sindicato de classe, tanto ou mais do que o grupo dos patrões. Exemplo característico é o de Adelino Tronca (primeiro presidente da Sociedade União Operária) que permaneceu no cargo de 12 de novembro de 1931 a 17 de julho de 1932. Pertencendo a uma família “tradicional” (entenda-se como de imigrantes italianos) essa lhe forneceu capital para que abrisse sua própria oficina,não sendo exemplo único, a própria leitura da história factual do movimento revela que o abandono de cargos na direção do sindicato tornou-se  fato comum.
            O aumento do número de operários no período da 2º guerra mundial deve-se ao aumento da produção local. As indústrias metalúrgicas locais como Abramo Eberle e Gazola aumentaram sua produção para abastecer o mercado de armas e munições que a Guerra exigia. Com o aumento da produção tornou-se necessário à absorção de maior número de mão de obra. Essa vem de vários locais, especialmente dos Campos de Cima da Serra. O advento da nova mão de obra vai mudar a população antes de origem exclusivamente italiana. Elementos de outras etnias começam a participar dos sindicatos entre os quais negros e mulatos .
            A população passou a se referir aos participantes do movimento sindical como “negrada”,o que  revela uma dupla segregação, por parte da população de origem italiana, a segregação de cor e de origem.Chamados de  “brasileiros”  o termo utilizado para designar os não originários italianos de origem. Para os não sindicalizados os movimentos reivindicatórios eram chamados de “anarquia” .
            A predominância de elementos de outras regiões na condução dos sindicatos e de origem lusa (brasileiros) pode ser explicada em parte pela pressão do grupo local de descendentes de imigrantes e pela segregação a qual os líderes sindicais eram submetidos. Outra explicação possível é a que sendo produtores de origem, não tinham uma ideologia de classe.
            Com o passar do tempo e a fragmentação das propriedades ocorrendo, (por força de heranças e partilhas), a situação  vai modificar. As propriedades concedidas aos colonos eram minifúndios, sendo que o módulo médio era de 25 a 30 hectares. Já na terceira geração as terras não puderam mais ser divididas e os jovens colonos, após o serviço militar, passaram a integrar o exército de reserva de mão de obra urbana.
            Não deve ser esquecido o fato de que o movimento sindical do grupo dos tecelões quando se tornou mais reivindicatório o Lanifício São Pedro no distrito da Galópolis, iniciou um sindicato paralelo, comandado pela empresa, o que contrariava a legislação em vigor.
            Tanto a divisão quanto a aglutinação de vários  sindicatos  em um  só serviu para arrefecer o movimento sindical durante a Era de Vargas.Quando o Governo através do Ministério do Trabalho vai legalizar os sindicatos submetendo-os aos poder constituído.

RELAÇÃO DOS TANOEIROS PORTUGUESES:

  1. Florindo F. da Silva
  2. Manoel G. Monteiro
  3. Domingos G. Rezende
  4. Joaquim Manoel dos Santos
  5. Sebastião F. Fonseca
  6. Antonio L. Soares
  7. Eudeiro de Souza
  8. Manoel Marques
  9. Alfredo dos Santos Neves
  10. Américo P. de Souza
  11. João da Silva
  12. Maneol de Assunção
  13. Domingos da Costa
  14. Manoel R. de Oliveira
  15. Angelo de souza
  16. Antonio Pinto de Sá
  17. Joaquim de Oliveira Granja
  18. Francisco de Sá Ruivo
  19. Adelino D. Mano
  20. Valentim R. P. da Silva
  21. Victorino José Dalmeida
  22. José Ricardo Fernandes da Silva
  23. Manoel da Silva Pinto
  24. Otacílio Alves
  25. Francisco Marques de Oliveira
  26. Manoel da Rocha Moreira
  27. Francisco de Sá Moron
  28. Manoel R. da Costa
  29. Antonio Joaquim dos Reis
  30. Manoe J. M. de Oliveira
  31. Angelo Pinto Reis

32.   Relação dos tanoeiros italianos:

  1. Nicola de Luca
  2. Victor Scalabrin
  3. Girolamo Furlan
  4. Emilio Siminiato
  5. Pedro Felipini
                  FONTES
Livro de Registros dos associados dos operários tecelões 1942
Livro de matriculas dos operários carpinteiros e artes correlativas -1936GIRON L.S. A Economia Gaúcha e a Regional in Enfoque, Bento Gonçalves, ano 4 nr. 19 outubro de 1976 - pagina 8
Depoimento de Agenor da Silva, que participou da fundação da Sociedade.





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