AÇÃO DOS
SINDICATOS NA ERA DE VARGAS (1930-1945)
Em
1925 o número de empresas industriais era inferior a 300 no município. A maior
parte era constituída por artesãos, possuidores de pequenas oficinas. O número
de operários era reduzido, não sendo superior a 500.
Quadro nº.1
Evolução da População e
empresas comerciais e industriais de Caxias do Sul 1980-1925
|
|||
Indicador/Ano
|
1890
|
1910
|
1925
|
Número de indústrias
|
120
|
200
|
280
|
Número de casas comerciais
|
25
|
98
|
235
|
População
|
10.000
|
18.000
|
32.000
|
Fontes: Recenseamento - Arquivo do Museu
Municipal de Caxias do Sul
Não
há dados sobre o número de operários, mas o estudo realizado nas empresas
revela que as mesmas eram pouco mais do
que oficinas artesanais, , possuindo poucos operários, em geral formados pelo artesão e seus familiares. As empresas maiores
não possuíam mais do que cem operários, e, estas não ultrapassavam o número de
três.
Outro
dado importante é que se localizavam distantes umas das outras. Em cada
distrito havia uma ou outra empresa. O pequeno número de operários e a
dispersão de empresas unido ao fato característico da região de serem os
operários filhos de produtores (donos da terra e do trabalho) impediu a formação de uma
consciência de classe, considerada como poder de organização.
Os
tanoeiros que haviam se organizado em sindicato eram estrangeiros em sua
maioria, não possuindo nem eles nem suas famílias terras na região. Os
habitantes do município que exerciam o trabalho como operários não haviam se
dado conta da mudança da situação, já não eram proprietários, mas apenas
operários.
Levantamentos
realizados junto aos sindicatos da Tecelagem e da Construção e do Mobiliário
demonstra que os associados registrados eram em sua maioria provenientes de
outras regiões do estado e do país. Estes elementos parecem decisivos para a
organização do movimento após 1930.
Outro
dado interessante é que a maioria dos associados tinha idade entre 29 e 52
anos, eram homens com família constituída, e tinham tido experiências
anteriores em outros locais de trabalho, situados em outras regiões.
QUADRO Nº2
PROVENIÊNCIA DOS
ASSOCIADOS DOS SINDICATOS DOS TECELÕES - 1942
Proveniência
|
Número
|
Percentual
|
Caxias
do Sul
|
53
|
36
%
|
Cidades
da região colonial Italiana
|
22
|
16%
|
Região
dos Campos de cima da serra
|
34
|
24%
|
Região
Colonial Alemã
|
19
|
12%
|
Outras
cidades do estado
|
7
|
4,5%
|
Estado
de Santa Catarina
|
5
|
3%
|
Estrangeiros:
|
||
Italianos
|
5
|
|
Russo
|
1
|
4,5%
|
Polonês
|
1
|
|
Total
|
147
|
100%
|
Fonte: Livro registro dos
operários tecelões
A
Sociedade União Operária fundada em 1931 só se tornou possível graças a adesão
do grupo de trabalhadores locais ao movimento de união da classe desencadeado
pelos tanoeiros.
A
criação da Sociedade reunindo trabalhadores de várias categorias demonstra a
fragilidade que estas representavam em termos locais. A manutenção desta união
através dos tempos tem demonstrado que tornou os diversos sindicatos
possuidores não só de maior número de bens, como também de maior poder de
barganha em suas reivindicações.
A
Sociedade União Operária nasceu forte, e a criação dos diversos sindicatos e a
morosidade de sua legalização esvaziou o movimento operário caxiense.
Não
foi apenas a organização da sociedade em sindicatos o fator que ocasionou o
enfraquecimento gradativo do impulso inicial. Este fator é o surgimento da
Legislação Trabalhista da Revolução de 30, mais ter de consolidada na CLT e do
Ministério do Trabalho.
A
legislação trabalhista determinou o esvaziamento do sentido reivindicatório do
movimento local. Sendo asseguradas as condições mínimas legais para os
trabalhadores estes não tiveram a capacidade de ver além do que propunham os
legisladores.
Para
líderes sindicais que vivenciaram a adoção desta legislação o período foi
considerado como plena garantia das necessidades da classe operária.
Observa-se
que o movimento controlado pelos órgãos públicos, que apoiavam as reivindicações
dos operários, garantindo sua submissão ao poder constituído. “Reivindicar
dentro do espírito da lei e da ordem” tornou-se a bandeira dos operários
locais.
À
medida que cresciam as categorias de operários, pelo aumento natural do número
de indústrias ocasionado pelo esforço de guerra, ocorreu uma integração maior
com os movimentos nacionais dos trabalhadores.
A
região colonial, em geral e Caxias em particular tornaram-se
forte em relação à economia estadual. Os trabalhadores locais passaram a ser
percentualmente importantes no contexto regional, como se pode observar no
quadro seguinte:
QUADRO Nº3
PARTICIPAÇÃO DA
REGIÃO COLONIAL ITALIANA
NA ECONOMIA DO RIO
GRANDE DO SUL
1942 - 1946
Indicadores
Þ
|
número de
empresas
|
capital em
CR$
|
nº de
operários
|
|||||||
anoß
|
RS
|
Região
|
%
|
RS
|
Região
|
%
|
RS
|
região
|
%
|
|
1942
|
16.000
|
2.341
|
13,77
|
1.626.131
|
172.121
|
10,58
|
88.925
|
8.898
|
10.000
|
|
1944
|
18.973
|
2.599
|
13,69
|
1.948.514
|
208.103
|
10,68
|
105.476
|
11.526
|
10,92
|
|
1946
|
22.235
|
3.252
|
14,62
|
2.520.987
|
343.678
|
13.63
|
106.707
|
13.126
|
12,30
|
|
Fonte:
A Economia Gaúcha e a Regional
Se
o número de empresas e como conseqüência torna a região mais forte, como
possibilidade de reivindicação as condições nacionais de atrelamento ao
movimento sindical aos organismos estatais, impede qualquer movimento durante o
período analisado.
Os
tanoeiros que tiveram haviam tido maior importância na exigência de melhores condições de trabalho , ao se tornarem
sindicato de classe perderam o impulso reivindicatório
inicial. Ao ser o a união dos tanoeiros absorvido pelo Sindicato da Construção e do Mobiliário o núcleo mais atuante ficou diluído pelo grande grupo de elementos
não posicionados ideologicamente.
Observa-se
que todas as diretorias de sindicatos que se organizarem durante o período de
Vargas, não aguentam as pressões políticas - dentro da própria empresa da qual
são demitidas e do grupo social onde se inserem.
Ao
que tudo indica a pressão do grupo impediu que os líderes sindicais permanecessem
á testa do sindicato de classe, tanto ou mais do que o grupo dos patrões.
Exemplo característico é o de Adelino Tronca (primeiro presidente da Sociedade
União Operária) que permaneceu no cargo de 12 de novembro de 1931 a 17 de julho
de 1932. Pertencendo a uma família “tradicional” (entenda-se como de imigrantes
italianos) essa lhe forneceu capital para que abrisse sua própria oficina,não
sendo exemplo único, a própria leitura da história factual do movimento revela
que o abandono de cargos na direção do sindicato tornou-se fato comum.
O
aumento do número de operários no período da 2º guerra mundial deve-se ao
aumento da produção local. As indústrias metalúrgicas locais como Abramo Eberle
e Gazola aumentaram sua produção para abastecer o mercado de armas e munições
que a Guerra exigia. Com o aumento da produção tornou-se necessário à absorção
de maior número de mão de obra. Essa vem de vários locais, especialmente dos Campos
de Cima da Serra. O advento da nova mão de obra vai mudar a população antes de
origem exclusivamente italiana. Elementos de outras etnias começam a participar
dos sindicatos entre os quais negros e mulatos .
A
população passou a se referir aos participantes do movimento sindical como
“negrada”,o que revela uma dupla
segregação, por parte da população de origem italiana, a segregação de cor e de
origem.Chamados de “brasileiros” o termo utilizado para designar os não
originários italianos de origem. Para os não sindicalizados os movimentos reivindicatórios
eram chamados de “anarquia” .
A
predominância de elementos de outras regiões na condução dos sindicatos e de
origem lusa (brasileiros) pode ser explicada em parte pela pressão do grupo
local de descendentes de imigrantes e pela segregação a qual os líderes
sindicais eram submetidos. Outra explicação possível é a que sendo produtores
de origem, não tinham uma ideologia de classe.
Com
o passar do tempo e a fragmentação das propriedades ocorrendo, (por força de
heranças e partilhas), a situação vai
modificar. As propriedades concedidas aos colonos eram minifúndios, sendo que o
módulo médio era de 25 a 30 hectares. Já na terceira geração as terras não
puderam mais ser divididas e os jovens colonos, após o serviço militar, passaram
a integrar o exército de reserva de mão de obra urbana.
Não
deve ser esquecido o fato de que o movimento sindical do grupo dos tecelões quando
se tornou mais reivindicatório o Lanifício São Pedro no distrito da Galópolis,
iniciou um sindicato paralelo, comandado pela empresa, o que contrariava a
legislação em vigor.
Tanto
a divisão quanto a aglutinação de vários
sindicatos em um só serviu para arrefecer o movimento sindical
durante a Era de Vargas.Quando o Governo através do Ministério do Trabalho vai
legalizar os sindicatos submetendo-os aos poder constituído.
RELAÇÃO
DOS TANOEIROS PORTUGUESES:
- Florindo F. da Silva
- Manoel G. Monteiro
- Domingos G. Rezende
- Joaquim Manoel dos Santos
- Sebastião F. Fonseca
- Antonio L. Soares
- Eudeiro de Souza
- Manoel Marques
- Alfredo dos Santos Neves
- Américo P. de Souza
- João da Silva
- Maneol de Assunção
- Domingos da Costa
- Manoel R. de Oliveira
- Angelo de souza
- Antonio Pinto de Sá
- Joaquim de Oliveira Granja
- Francisco de Sá Ruivo
- Adelino D. Mano
- Valentim R. P. da Silva
- Victorino José Dalmeida
- José Ricardo Fernandes da Silva
- Manoel da Silva Pinto
- Otacílio Alves
- Francisco Marques de Oliveira
- Manoel da Rocha Moreira
- Francisco de Sá Moron
- Manoel R. da Costa
- Antonio Joaquim dos Reis
- Manoe J. M. de Oliveira
- Angelo Pinto Reis
32.
Relação dos
tanoeiros italianos:
- Nicola de Luca
- Victor Scalabrin
- Girolamo Furlan
- Emilio Siminiato
- Pedro Felipini
FONTES
Livro de Registros dos associados dos operários
tecelões 1942
Livro de matriculas dos operários carpinteiros e artes
correlativas -1936GIRON L.S. A Economia Gaúcha e a Regional in Enfoque, Bento
Gonçalves, ano 4 nr. 19 outubro de 1976 - pagina 8
Depoimento de Agenor da Silva, que participou da
fundação da Sociedade.
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