quinta-feira, 21 de março de 2013


O MOVIMENTO SINDICAL APÓS 1964



            Após a Revolução de 1964 a atuação dos sindicatos atingiu o mesmo nível do período anterior a 1945. Neste período aconteceu uma acomodação geral do movimento sindical. A acomodação ocorreu tanto nas bases como nas lideranças.
            As bases deixaram de participar das Assembleias Gerais dos sindicatos. Não houve renovação de lideranças, nem possibilidade de formação de mais de uma chapa para concorrer às eleições sindicais. Com exceção do sindicato dos metalúrgicos, onde sempre houve  mais de uma chapa, os demais tiveram dificuldade em formar uma única chapa completa.O  esvaziamento do movimento sindical de base  foi conseguido pelas medidas repressoras,entre elas   a intervenção federal nos Sindicatos Reunidos tomadas pela ditadura .
            Muitas das  lideranças sindicais que participavam das diretorias por ocasião da Revolução de 1964, foram  presas como o caso dos metalúrgicos ,deixando assim de haver  uma atuação efetiva na luta dos trabalhadores.
            As diretorias, que assumiram após o movimento de março, preocuparam-se em manter boas relações como poder. Essas relações  se manifestaram através de brindes, contatos telefônicos e bons ofícios. Os sindicatos associaram-se ao poder.
            Outra espécie de acomodação ocorre – bem  mais antiga - em relação aos líderes dos sindicatos patronais.Foram estabelecidas relações recíprocas de boa-vontade, realizaram-se reuniões entre os representantes dos patrões e dos operários. Os líderes sindicais faziam questão de demonstrar a integração existente entre eles e os representantes patronais.
            É possível afirmar que os sindicatos tornaram-se de fato, o que eram de direito - organizações assistências burocráticas. Nelas  os vínculos existentes com o Ministério do Trabalho passaram a ser  consideradas como fato normal e até desejável.
            O tipo de atuação adotada pelos sindicatos pode ser resumida no assistencialismo - é possível detectar dois grandes grupos entre os líderes sindicais de Caxias do Sul. Esta divisão torna-se possível não pelo tipo de ação diferente, mas pela forma como pensam e encaram o movimento sindical. A divisão é mais ideológica do  prática.Os dois grandes grupos dos sindicatos dos operários na indústria de Caxias do Sul - sob o ponto de vista das ideias - são: os dos assistencialistas e o dos reivindicatórios.
O grupo dos assistencialistas era composto pelos líderes dos sindicatos dos metalúrgicos, da construção e mobiliário, do vestuário, vidros e cristais. Esse grupo acreditava  que a organização sindical devia funcionar da forma como fora  constituída. Sua ação consistia  em realizar a mediação entre operários e patrões, entre operários e entidades assistências.O  grupo acreditava que a greve deveria ser a última arma a ser utilizada pelo trabalhador. As greves só deveriam ser realizadas em última instância e com garantia de vitória. Só a greve vitoriosa era valida. O motivo do fracasso das greves é atribuída à infiltração “comunista” que passaram a ser considerados pelo grupo como elementos altamente perniciosos. Deve-se salientar que eram considerados “comunistas” tanto sacerdotes das comunidades eclesiais de base - como os sindicalistas mais atuantes em termos de reivindicações.
            O sindicato passou a ser considerado uma empresa, e, como tal deveria racionalizar as despesas. A citação dos benefícios concedidos passou a ser  considerada como um favor concedido e não como um direito que os trabalhadores possuíam.
            A política salarial governamental e  a de auxílio aos trabalhadores era  bem aceita. A lei que determinou o desconto previdenciário  ao aposentado para a Previdência foi considerada  justa, visto que o aposentado recebia tantos benefícios que deveria dar contrapartida ao Ministério . O Fundo de Garantia por tempo de serviço é considerado como uma das maiores conquistas dos trabalhadores. A única inconveniência que o Fundo na opinião das lideranças deve-se ao fato que os trabalhadores deveriam  deixar de trabalhar para recebê-los .Não percebiam que a nova política havia retirados velhos direitos e que   seria  causa da alta rotatividade da mão de obra.
            A longa permanência no poder das diretorias dos sindicatos sempre foi  atribuída ao trabalho realizado por elas.Assim a manutenção de um mesmo grupo no poder sindical seria o  reconhecimento de seu trabalho,sendo garantido pelo  voto da maioria das suas bases.
            O grupo reivindicatório poderia ser subdividido em dois  subgrupos:o do polo combativo e o dos ideologicamente posicionados pró-trabalhadores. Desse grupo fazem parte os sindicatos dos oficiais gráficos, da alimentação, da fiação e tecelagem, da joalheria e pedras preciosas. Segundo os líderes desses sindicatos o sindicato assistencialista estaria  de acordo com os interesses do poder. Julgavam ainda que se os sindicatos fossem realmente bons os governos não teriam permitido sua manutenção. O grupo tinha consciência de classe e percebia  as contradições do sistema. Sabiam que na disputa entre patrões e operários os primeiros sempre levavam vantagem.Acreditavam que a não participação dos operários nas Assembleias seria  devida a ausência de consciência de classe. Um dos líderes deste grupo que não atua junto à Comunidade, pois permanecia trabalhando na empresa, julgava  que esta permanência permite um maior contato com as bases,portanto,  realizando um trabalho melhor. Uma posição geral  do grupo  era que os sindicatos deveriam ser livres, desatrelados do Ministério, deveria ser abandonado o assistencialismo e assumido o papel de órgão classista e reivindicatório.Julgavam que os operários não tomavam atitudes mais positivas quanto aos movimentos grevistas por medo de represálias tanto por parte das autoridade, como por parte dos patrões. Porém, a  ação desse grupo não correspondia aos pontos de vista por eles expressos. Havia  assim uma longa distância entre a teoria e a prática sindicais.
            Além desta divisão ideológica  e interna, existia outra de caráter econômico. A divisão econômica  hierarquizada os sindicatos, segundo a qual o sindicato mais forte é o mais rico. O sindicato “mais rico”, na época, não o mais forte - pois a expressão utilizada essa- era dos metalúrgicos. Seus líderes consideravam que mantinham  a Comunidade Sindical. Os Sindicatos da Alimentação e da Construção e do Mobiliário eram  também considerados ricos – porém menos que o dos metalúrgicos. A seguir vinham os sindicatos “médios”  como  o da Fiação e Tecelagem e do Vestuário. Pobres eram considerados  os demais sindicatos.
            A divisão espacial do prédio da Comunidade Sindical foi realizada de acordo com essa hierarquia. O Sindicato dos Metalúrgicos construiu - para seu uso exclusivo um prédio de três pavimentos. Já o Sindicato da Construção e do Mobiliário ocupava metade de um pavimento do , o mesmo ocorrendo com o da Alimentação e o do Vestuário. O Sindicato da Tecelagem ocupava três salas, o dos Vidros e dos oficiais Gráficos duas salas, e os demais possuiam apenas uma sala para cada um.Foca claro que o sistema capitalista era então a bese da divisão espacial dos sindicatos no prédio de propriedade comum.Segundo um dos líderes sindicais o “ sindicato é como uma sociedade e apresenta os mesmos contrastes e posições”. A divisão espacial a partir da hierarquia econômica vem demonstrar a validade da afirmação.
            As diferenças ideológicas e as diferenças econômicas distanciaram os líderes das duas facções. As opiniões de uns sobre os outros revelavam  a falta de  uma união do grupo.
            Os componentes do grupo assistencialista julgava que os dos grupos reivindicatório não eram  tão combativos” pois estavam  distantes das bases e nunca realizavam greves. Já os componentes do grupo reivindicatório julgava que os assistencialistas eram  “ alienados, distantes das bases e não representam os interesses da categoria”. Julgavam ainda que eram  favoráveis ao poder constituído e completamente integrados ao sistema ditatorial
            Apesar da diferença de opiniões diferentes , reinava entre os sindicatos  uma certa harmonia. Nas atas dos Sindicatos Reunidos e da Comunidade Assistencial não havia vozes discordantes quando eram  propostos brindes para as autoridades ou jantares com elas ou ainda, na recepção do conhecido líder Ari Campista para fazer discurso em comemoração do dia 1º de maio.Apesar das diferenças ideológicas dos líderes sindicais não houve qualquer recusa em participar das viagens promovidas pelos sindicatos norte-americanos. A única diferença foi que alguns perceberam o sentido e os objetivos das viagens e outros não.
            As bases de acordo segundo levantamento realizado as bases não estavam satisfeitas com o trabalho realizado pelas lideranças sindicais. Julgavam que os sindicatos não tinham força de pressão e que o trabalho realizado pelas diretorias seria  apenas regular. Apenas a categoria dos metalúrgicos julga que o seu sindicato tem sido forte e atuante.
            Ao que tudo indica havia  poucas relações entre os líderes e suas categorias. Os problemas da categoria não eram acompanhados de forma direta pelos líderes. A falta de contato das lideranças com as bases permitia que essas fossem  envolvidas por outro tipo de influência mais dinâmica e direta, como a da Igreja e da União das  Associações  de Bairros.
            Entre os entrevistados das bases sindicais observou-se que apenas 30% estavam associados aos respectivos sindicatos, enquanto 70% não estavam. O baixo número de sindicalizados dentro das várias categorias não preocupava  as lideranças,pois julgavam que este fato se devia a alta rotatividade dq mão de obra, o que não possibilitava a permanência de operários na mesma categoria pelo prazo exigido em lei.
            O levantamento realizado nas bases não conferou com os dados apresentados pelas diretorias dos sindicatos, os dados fornecidos por esses  revelava  que o número de sindicalizados é de 44% no total das categorias pesquisadas.
            A explicação para o fenômeno dado pelas lideranças parece demasiado simplista, as causas da não associação aos sindicatos deveriam ser procuradas na ação desenvolvida pelos respectivos sindicatos e não somente os problemas atuais e atípicos das bases,que dependiam da ação governamental.






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