O
MOVIMENTO SINDICAL APÓS 1964
Após
a Revolução de 1964 a atuação dos sindicatos atingiu o mesmo nível do período
anterior a 1945. Neste período aconteceu uma acomodação geral do movimento
sindical. A acomodação ocorreu tanto nas bases como nas lideranças.
As
bases deixaram de participar das Assembleias Gerais dos sindicatos. Não houve
renovação de lideranças, nem possibilidade de formação de mais de uma chapa
para concorrer às eleições sindicais. Com exceção do sindicato dos
metalúrgicos, onde sempre houve mais de
uma chapa, os demais tiveram dificuldade em formar uma única chapa
completa.O esvaziamento do movimento
sindical de base foi conseguido pelas
medidas repressoras,entre elas a
intervenção federal nos Sindicatos Reunidos tomadas pela ditadura .
Muitas
das lideranças sindicais que
participavam das diretorias por ocasião da Revolução de 1964, foram presas como o caso dos metalúrgicos ,deixando
assim de haver uma atuação efetiva na
luta dos trabalhadores.
As
diretorias, que assumiram após o movimento de março, preocuparam-se em manter
boas relações como poder. Essas relações
se manifestaram através de brindes, contatos telefônicos e bons ofícios.
Os sindicatos associaram-se ao poder.
Outra
espécie de acomodação ocorre – bem mais
antiga - em relação aos líderes dos sindicatos patronais.Foram estabelecidas
relações recíprocas de boa-vontade, realizaram-se reuniões entre os
representantes dos patrões e dos operários. Os líderes sindicais faziam questão
de demonstrar a integração existente entre eles e os representantes patronais.
É
possível afirmar que os sindicatos tornaram-se de fato, o que eram de direito -
organizações assistências burocráticas. Nelas
os vínculos existentes com o Ministério do Trabalho passaram a ser consideradas como fato normal e até
desejável.
O
tipo de atuação adotada pelos sindicatos pode ser resumida no assistencialismo
- é possível detectar dois grandes grupos entre os líderes sindicais de Caxias
do Sul. Esta divisão torna-se possível não pelo tipo de ação diferente, mas
pela forma como pensam e encaram o movimento sindical. A divisão é mais
ideológica do prática.Os dois grandes
grupos dos sindicatos dos operários na indústria de Caxias do Sul - sob o ponto
de vista das ideias - são: os dos assistencialistas e o dos reivindicatórios.
O grupo dos
assistencialistas era composto pelos líderes dos sindicatos dos metalúrgicos,
da construção e mobiliário, do vestuário, vidros e cristais. Esse grupo
acreditava que a organização sindical
devia funcionar da forma como fora
constituída. Sua ação consistia
em realizar a mediação entre operários e patrões, entre operários e
entidades assistências.O grupo acreditava
que a greve deveria ser a última arma a ser utilizada pelo trabalhador. As
greves só deveriam ser realizadas em última instância e com garantia de vitória.
Só a greve vitoriosa era valida. O motivo do fracasso das greves é atribuída à
infiltração “comunista” que passaram a ser considerados pelo grupo como
elementos altamente perniciosos. Deve-se salientar que eram considerados
“comunistas” tanto sacerdotes das comunidades eclesiais de base - como os sindicalistas
mais atuantes em termos de reivindicações.
O
sindicato passou a ser considerado uma empresa, e, como tal deveria
racionalizar as despesas. A citação dos benefícios concedidos passou a ser considerada como um favor concedido e não como
um direito que os trabalhadores possuíam.
A
política salarial governamental e a de
auxílio aos trabalhadores era bem
aceita. A lei que determinou o desconto previdenciário ao aposentado para a Previdência foi
considerada justa, visto que o
aposentado recebia tantos benefícios que deveria dar contrapartida ao
Ministério . O Fundo de Garantia por tempo de serviço é considerado como uma
das maiores conquistas dos trabalhadores. A única inconveniência que o Fundo na
opinião das lideranças deve-se ao fato que os trabalhadores deveriam deixar de trabalhar para recebê-los .Não
percebiam que a nova política havia retirados velhos direitos e que seria causa da alta rotatividade da mão de obra.
A
longa permanência no poder das diretorias dos sindicatos sempre foi atribuída ao trabalho realizado por elas.Assim
a manutenção de um mesmo grupo no poder sindical seria o reconhecimento de seu trabalho,sendo
garantido pelo voto da maioria das suas
bases.
O
grupo reivindicatório poderia ser subdividido em dois subgrupos:o do polo combativo e o dos
ideologicamente posicionados pró-trabalhadores. Desse grupo fazem parte os
sindicatos dos oficiais gráficos, da alimentação, da fiação e tecelagem, da
joalheria e pedras preciosas. Segundo os líderes desses sindicatos o sindicato
assistencialista estaria de acordo com
os interesses do poder. Julgavam ainda que se os sindicatos fossem realmente
bons os governos não teriam permitido sua manutenção. O grupo tinha consciência
de classe e percebia as contradições do
sistema. Sabiam que na disputa entre patrões e operários os primeiros sempre
levavam vantagem.Acreditavam que a não participação dos operários nas Assembleias
seria devida a ausência de consciência
de classe. Um dos líderes deste grupo que não atua junto à Comunidade, pois
permanecia trabalhando na empresa, julgava que esta permanência permite um maior contato
com as bases,portanto, realizando um
trabalho melhor. Uma posição geral do
grupo era que os sindicatos deveriam ser
livres, desatrelados do Ministério, deveria ser abandonado o assistencialismo e
assumido o papel de órgão classista e reivindicatório.Julgavam que os operários
não tomavam atitudes mais positivas quanto aos movimentos grevistas por medo de
represálias tanto por parte das autoridade, como por parte dos patrões. Porém,
a ação desse grupo não correspondia aos
pontos de vista por eles expressos. Havia assim uma longa distância entre a teoria e a
prática sindicais.
Além
desta divisão ideológica e interna,
existia outra de caráter econômico. A divisão econômica hierarquizada os sindicatos, segundo a qual o
sindicato mais forte é o mais rico. O sindicato “mais rico”, na época, não o
mais forte - pois a expressão utilizada essa- era dos metalúrgicos. Seus
líderes consideravam que mantinham a
Comunidade Sindical. Os Sindicatos da Alimentação e da Construção e do
Mobiliário eram também considerados
ricos – porém menos que o dos metalúrgicos. A seguir vinham os sindicatos
“médios” como o da Fiação e Tecelagem e do Vestuário.
Pobres eram considerados os demais
sindicatos.
A
divisão espacial do prédio da Comunidade Sindical foi realizada de acordo com
essa hierarquia. O Sindicato dos Metalúrgicos construiu - para seu uso
exclusivo um prédio de três pavimentos. Já o Sindicato da Construção e do Mobiliário
ocupava metade de um pavimento do , o mesmo ocorrendo com o da Alimentação e o
do Vestuário. O Sindicato da Tecelagem ocupava três salas, o dos Vidros e dos
oficiais Gráficos duas salas, e os demais possuiam apenas uma sala para cada
um.Foca claro que o sistema capitalista era então a bese da divisão espacial
dos sindicatos no prédio de propriedade comum.Segundo um dos líderes sindicais
o “ sindicato é como uma sociedade e apresenta os mesmos contrastes e
posições”. A divisão espacial a partir da hierarquia econômica vem demonstrar a
validade da afirmação.
As
diferenças ideológicas e as diferenças econômicas distanciaram os líderes das
duas facções. As opiniões de uns sobre os outros revelavam a falta de uma união do grupo.
Os
componentes do grupo assistencialista julgava que os dos grupos reivindicatório
não eram tão combativos” pois estavam distantes das bases e nunca realizavam greves.
Já os componentes do grupo reivindicatório julgava que os assistencialistas
eram “ alienados, distantes das bases e
não representam os interesses da categoria”. Julgavam ainda que eram favoráveis ao poder constituído e completamente
integrados ao sistema ditatorial
Apesar
da diferença de opiniões diferentes , reinava entre os sindicatos uma certa harmonia. Nas atas dos Sindicatos
Reunidos e da Comunidade Assistencial não havia vozes discordantes quando eram propostos brindes para as autoridades ou jantares
com elas ou ainda, na recepção do conhecido líder Ari Campista para fazer
discurso em comemoração do dia 1º de maio.Apesar das diferenças ideológicas dos
líderes sindicais não houve qualquer recusa em participar das viagens
promovidas pelos sindicatos norte-americanos. A única diferença foi que alguns
perceberam o sentido e os objetivos das viagens e outros não.
As
bases de acordo segundo levantamento realizado as bases não estavam satisfeitas
com o trabalho realizado pelas lideranças sindicais. Julgavam que os sindicatos
não tinham força de pressão e que o trabalho realizado pelas diretorias seria apenas regular. Apenas a categoria dos
metalúrgicos julga que o seu sindicato tem sido forte e atuante.
Ao
que tudo indica havia poucas relações
entre os líderes e suas categorias. Os problemas da categoria não eram acompanhados
de forma direta pelos líderes. A falta de contato das lideranças com as bases
permitia que essas fossem envolvidas por
outro tipo de influência mais dinâmica e direta, como a da Igreja e da União
das Associações de Bairros.
Entre
os entrevistados das bases sindicais observou-se que apenas 30% estavam
associados aos respectivos sindicatos, enquanto 70% não estavam. O baixo número
de sindicalizados dentro das várias categorias não preocupava as lideranças,pois julgavam que este fato se
devia a alta rotatividade dq mão de obra, o que não possibilitava a permanência
de operários na mesma categoria pelo prazo exigido em lei.
O
levantamento realizado nas bases não conferou com os dados apresentados pelas
diretorias dos sindicatos, os dados fornecidos por esses revelava que o número de sindicalizados é de 44% no
total das categorias pesquisadas.
A
explicação para o fenômeno dado pelas lideranças parece demasiado simplista, as
causas da não associação aos sindicatos deveriam ser procuradas na ação
desenvolvida pelos respectivos sindicatos e não somente os problemas atuais e
atípicos das bases,que dependiam da ação governamental.
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