quinta-feira, 18 de agosto de 2011

AS CASAS TÊM HISTÓRIA



Casa de negócio De Lazzer, inicio do século XX

Os homens têm uma ideia estranha sobre a história. Durante séculos encheram suas cabeças de nomes e datas de personagens pífios e descartáveis. Durante séculos, falaram de reis e guerreiros que nada mais eram que serial killers. Assim os homens passaram a detestar a história, pois não passava de uma forma de culto ao poder. Então veio Karl Marx, e a história virou de cabeça para baixo os homens são o que produzem. Mais tarde apareceu Michel Foucault, e, curiosamente, mais uma vez os historiadores enlouqueceram. Depois os renovadores tornaram a história um reles discurso literário. Como dizia há milênios Aristóteles a história virou arte menor.
Contudo, a história não se compõe apenas de historiadores. Eles detêm apenas o discurso dominante na academia, como alerta Foucault. A história é maior do que seus escrevinhadores: a história somos todos nós. Homens que nascemos crescemos, morremos e cumprimos uma forma de história pessoal. A história está nos objetos, nas obras de arte, nas construções que são todas elas frutos de uma época. Assim como os homens cada casa tem uma forma de história única e intransferível. Em outras palavras, a história está em nós e no mundo que nos cerca. A história está no real. Como dizia o Mestre  Hegel, “só o real é racional” - o resto é o resto. O resto é discurso.
As casas de madeira da chamada colônia Italiana tem uma história. Com seus porões de pedra, onde se fazia o alimento vinho, salame, queijo e neles eram depositados, silos improvisados onde ficavam as pipas, as “moscarolas“ (armário para guardar salames) e os tonéis e vidros cheios de banha onde eram conservadas as carnes de animais abatidos. Em tempos sem eletricidade e sem freezer a subsistência tinha outro modo de ser. Essa é a história real das casas, das pessoas que nelas viveram, das coisas que foram produzidas, dos restos que sobraram de uma fase.
Mas a história não está apenas nas antigas casas. E está também nas fábricas abandonadas, nas casas de negócio, nas igrejas, nas capelas e escolas. Está presente ainda  em todos espaços públicos estádios, campos, praças e jardins. Enfim, está em cada lugar que passamos: nas ruas e nas calçadas. Basta olhar em redor e buscar as fontes e escrever. A história do mundo que nos cerca pede para ser escrita. 

Propriedade rural em São Vigilio, Caxias do Sul
 

Um comentário:

  1. As casas são testemunho e fragmento de um tempo. Os historiógrafos podem escrver a história formal, de acordo com os preceitos acadêmicos. Cada um de nós, porém, escreve e se inscreve na história. Parabéns pelo texto.

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