Aqueles que não conhecem a Itália do Norte ,em sua zona rural podem imaginar que a região colonial italiana do Rio Grande do Sul seja uma cópia. Ao contrário, nada é mais diverso. Começa com a paisagem. A paisagem pré alpina e alpina é inigualável. Dura,majestosa e distante lembra um cartão postal lunar. O viajante se sente aplastado pela sua beleza e agressividade.Nada parecido com a amena paisagem da Serra cujos vales e matas são próximos e agrestes.
Um cortile na atualidade. Situado próximo de Pedavena .Itália |
As diferenças não se restringem às paisagens. Elas se repetem nas pequenas vilas e cidades e ainda nas casas e construções.As povoações povoadas por camponeses italianos constituem um habitat aglomerado ,onde os campos lavrados cercam as povoações que se estendem ao longo das estradas ,em ocupação histórica .Resultam das relações engendradas entre servos da terra e seus senhores ( que os imigrantes chamavam de condes) Dada sua condição servil viviam próximos ,suas casas eram encostadas umas nas outras. Na região de Feltre e no Val Belluna há um tipo de construção original chamado de cortile (ou cortivo).Os cortile reuniam famílias extensas,avós, pais, filhos e netos vivendo juntos no mesmo lugar.Cada grupo nuclear de familia ocupava uma só peça. Cada comodo tinha uma porta que dva acesso a escadas externas. A longa construção de alvenaria de um a três pavimentos tinha apenas uma cozinha, comum a todos os membros do cortile. Na cozinha comum, em seu grande larin(lareira ) as mulheres da família extensa disputavam o lugar hegemônico .Nada mais sério do que a disputa pelo poder na cozinha.Dele depende a melhor alimentação dos próprios filhos e o controle dos gastos .O treinamento das noras se dava na cozinha com receitas e modos de preparar os alimentos.A entrada de um novo membro da família era assim um exercício de dominação e de subordinação. A terra era pouca, a comida escassa e o espaço ínfimo. Animais e homens disputavam o calor da cozinha,ou ,pior ainda se aqueciam apenascom o calor dos animais.
No Brasil, nas colônias da Serra outra era a situação. As casas em seu habitat disperso tinham espaço, as terras eram do tamanho dos condados italianos e o domínio da sogra limitava-se a um curto período de convivência comum,nos primeiros meses de casados.O confinamento acabara, e, cada família poderia ter sua própria casa e fogão.O fogão no período imperial era tão importante que o imposto sobre a propriedade era calculado pelo número de fogoões existentes na propriedade .Era o chamado imposto focolar. Para algumas noras o tempo de convivência com as sogras era maior.O filho escolhido para dar assistência aos pais idosos ficava morando com eles até a sua morte, quando, em compensação herdaria a terra .As casas com seus porões frescos e amplos garantiam alimentação. Até os animais domésticos passaram a ter melhores acomodações. A simbiose entre homens e animais definitivamente acabara .
Hoje os cortile na Itália servem de residências, restaurantes de luxo e pousadas.Os tempos são outros e outros são os usos das casas Na Europa as coisas antigas são respeitadas e valorizadas .Já na colônia atual as casas antigas viram estábulo ,silo ou depósito de trastes velhos. Destruidas as casas antigas são construídas réplicas novinhas para representar as casas destruídas.Infelizmente ,O simulacro nunca poderá substituir o real.
Arsié .Italia .1965 |
As imagens usadas no texto são do livro Coscienza e conoscenza dell’habitare ieri e domani organizado por Daniela Perco e outros Publicação da Província de Belluno s/d.
Desenho de Corrado Bosco, 1963.Cortile em Arsié |
Como é bom ouvir (ou ler) histórias (reais) contadas por quem gosta da História.
ResponderExcluirBom te reencontrar, Loraine.
Maria Nair